Meus queridos, meu dia chegou. Saí da reduzidíssima elite de indivíduos totalmente desprovidos de cáries desde o nascimento e entrei pra gigantesca torcida do Flamengo que é maioria cariada.
Eu não percebi nada. A coisa estranha é que não percebi nada. Quando vi, estava cariada. Fui percebendo uma sensação desagradável em algum dente inferior esquerdo, mas juro que não me toquei. Cansaço, estresse, sono atrasado, pegar no sono na cama ao lado da Carolina, com a mão dentro do berço pra ela deitar em cima e beliscar até dormir, ficando portanto várias horas depois do jantar sem escovar os dentes, you name it. O fato é que quando finalmente fui olhar dentro da boca com calma achei não uma cárie, mas uma CRATERA entre os dois últimos dentes (não sei nome de dente nenhum e nem pretendo pesquisar sobre o assunto, thank you). Dei um ataque: comé que eu não vi isso, gente? Cega! Anta! Desleixada! Sujona! Ca-ri-a-da!
Meu dentista, que tem agenesia de dois dentes da frente e portanto parece desleixado, sujão e desdentado, inspirando muito pouca confiança em quem não sabe da história, disse pra eu relaxar porque a maldita começou entre os dentes e por baixo, ou seja, ninguém, nem ele nem nenhum outro dentista e muito menos eu, teria notado a bichinha antes dela criar o dano gigante que causou. Porque, queridos, a minha estreia no mundo dos cariados não foi pra menos: a cratera quase chegou no nervo e havia risco de ter que desvitalizar o dente (!!!!!!!!!!!!!!!), e, pasmem, a cratera não estava sozinha! Havia outra cárie, praticamente gêmea, exatamente na mesma posição, mas na arcada superior. Essa era a irmã menor, digamos assim, felizmente.
Sei é que estou horrorizada. Toda vez que mastigo tenho a impressão que há buracos em todos os outros dentes da boca que a obturação vai explodir ou se desintegrar, que vou precisar de coisas cujos nomes sempre foram misteriosos pra mim – ponte, coroa, implante. Coisas de odontoplebe, sabe como é.
Não nasci pra ter doença nenhuma não, vou te contar.