Quem ainda não sabe vai ficar sabendo logo logo do vídeo sobre a polícia francesa maltratando imigrantes. Googlem aí porque eu vi o vídeo no Twitter e não peguei o link. Aí começaram logo os comentários sobre os horrores da polícia, de estado controlador, de direitos humanos e aquela lenga-lenga de sempre. E aí eu comecei a pensar mais seriamente sobre o assunto e acho que a coisa merece ser discutida.
Eu sinceramente não vi violência absurda e voluntária no vídeo. Sim, houve arrastamento de crianças que estavam amarradas às costas das mães naquelas faixas coloridonas maneiras que as africanas usam muito – e que europeus não usam muito, o que pra mim significa que os policiais podem perfeitamente simplesmente não ter visto as crianças. O que eu vi foram policiais fazendo o papel deles, ou seja, removendo à força os protestantes (ou squatters, sinceramente não entendi direito a situação; só sei que essas pessoas estavam onde não deveriam estar e resistiram aos pedidos de sair dali, motivo pelo qual estavam sendo arrastadas embora). Não vi ninguém batendo em ninguém, ninguém jogando pedra nem bomba de gás em ninguém, ninguém dando porretada em ninguém. Não sei o que essas pessoas estavam fazendo ali, mas o fato é que não deveriam estar ali, e ponto final. Se você estaciona o carro onde sabe que não se pode estacionar, perde totalmente o direito de reclamar quando o rebocam, ou não?
Olha, eu detesto o Sarkozy. Acho-o ridículo, antipático, casado com uma mulher ridícula, e sobretudo parecido demais com o Berlusconi pro meu gosto. Detesto a direitona fanática xenófoba. Mas concordo com ele em muitas coisas (principalmente com a ideia maravilhosa de abolir essa palhaçada da burka no país inteiro. LIBERDADE RELIGIOSA MY ASS) e em alguns casos inclusive em termos de política de imigração. Acho de verdade que o direito à cidadania deve ser condicionado por váaaarias coisas. Totalmente de acordo com o sistema holandês: não fala a língua? Não pode pedir cidadania. Como é possível que uma pessoa que vive anos em um país e nunca se preocupa em aprender a língua local um dia se integre? E se não se integra, se não participa ativamente de nada no país porque não entende a língua, por que diabos quer a cidadania então, senão pela óbvia delícia de ter um passaporte europeu? E por que diabos mereceria a cidadania então, se a motivação está toda errada?
Não vou entrar no mérito da questão da pobreza dos imigrantes, as causas da imigração etc, porque todo mundo sabe mais ou menos o que rola, o lance das ex-colônias no caso da França, o lance da facilidade de acesso via mar no caso da Itália, o tipo de gente que imigra por causa da pobreza dos seus países e coisa e tal. O fato é que assim como os marroquinos de hoje não têm culpa do país ter sido explorado e fodido pelos franceses de antão, os franceses de hoje também não têm culpa pela exploração e fodição causadas pelos seus antepassados. De modo que estamos todos quites, ou não? E aí vem essa cambada toda de gente que não sabe fazer nada porque não teve formação nenhuma de nada se mudar pras banlieux e ficar jogando lixo na rua, traficando drogas e botando fogo em carros quando cortam a luz do prédio caindo aos pedaços onde moram. De novo: não vou entrar no mérito do por que essas pessoas não conseguem acesso a educação pra que possam ser alguém na vida e, talvez, se integrarem. Mas sei por experiência própria que muitas vezes elas simplesmente não querem nada com a Hora do Brasil.
Nenhum dos muitos marroquinos que já passaram pela oficina do Mirco tinha o seguro obrigatório do carro, apesar de serem todos legais aqui, e todos com a família também em situação legal. Isso significa que se eles batessem em alguém ou atropelassem uma pessoa que precisasse de cuidados médicos especiais e caros não cobertos pelo sistema público de saúde ou se matassem alguém em um acidente, a família da vítima receberia ZERO euros de compensação. Eu pago uma fortuna de seguro do carro todo ano, mesmo tendo um carro bunda e velho, mas se eu matar alguém num acidente o meu seguro paga uma grana pra família da vítima. É o mínimo, né não? Normalmente eles não têm absolutamente nada no nome deles, o que significa que eles podem praticamente fazer o que quiserem, pois literalmente não têm nada a perder. Uma vez achamos uma conta de luz de um dos marroquinos do Mirco jogada no chão toda amassada. O cara simplesmente não pagava as contas, que aqui chegam de 2 em 2 meses ou de 3 em 3, dependendo do serviço, e quando cortavam o serviço ele se mudava. Simples assim. Não pagam dívidas, pois a justiça não tem como correr atrás deles, penhorar bens, nada, pois bens não têm. Um marroquino pegou dinheiro emprestado do Mirco anos atrás (adiantamento de salário), tudo assinado, com documentos válidos legalmente e tal, e simplesmente parou de pagar a dívida na metade. Se o cara trabalha com carteira assinada, a justiça determina que uma percentual do salário seja automaticamente passada pro credor todos os meses. O que o fulano fez quando saiu a sentença favorável ao Mirco? Parou de trabalhar de carteira assinada, lógico. De modo que ele agora não só sonega impostos, porque trabalha por baixo dos panos (o chamado “in nero”), como também não paga a dívida com o Mirco. E isso porque estamos falando dos marroquinos, que de modo geral se comportam melhor do que os romenos, por exemplo.
Por isso que concordo pRenamente com o Sarkozy. Fez merda, cometeu crime, não pagou imposto, é inadimplente com o credor? Cidadania revogada. Ora bolas, vai tomar no cu! Quer ter o privilégio de ter passaporte cor de vinho? Comporte-se civilizadamente, como a maioria dos europeus se comportam. E digo privilégio não necessariamente porque passaporte europeu é uma coisa ótima de se ter, mas porque qualquer país do mundo no qual você não tenha nascido e que esteja disposto a dar a você os mesmos direitos de quem nasceu está te dando um presente, sim senhor. E fazer mau uso de presentes é uma parada muito desagradável, sabe.