Foi só eu falar que nunca tinha sido multada e pronto, fui.
Hoje foi uma manhã atarefadíssima: deixei a Carol na escola, fui aos correios pagar uma conta pro Mirco, fui à acupuntura em Perugia, de lá fui direto pra Assis pro Commissariato pedir informações sobre a renovação do meu permesso di soggiorno, passei na livraria pra pegar a primeira impressão-teste (não sei como se chama isso em português) de um livro que eu traduzi pra fazer as últimas correções e estava voltando pra casa, apertadíssima pra fazer xixi, quando fui parada pela polícia. Me pegaram com o radar a laser.
Eu estava vindo pela Via Campiglione, “il Campiglione” para os íntimos, uma estrada que sai lá do meio do monte onde fica Assis e vai direto pra Bastia sem passar por Santa Maria. Saindo daqui pra Assis a vista da Basílica é linda, dos fundos, que normalmente não é a parte mais fotografada. Vindo de Assis pra Bastia, primeiro tem uma ladeira em descida (lógico, porque Assis fica no alto e Bastia na fundo do vale) em meio a oliveiras e vinhedos, que depois vira um retão, e só lá pra frente é que aparecem algumas casas e hotéis. Não entendo o limite de velocidade de 50 km/h, porque apesar de ter casas e hotéis eu NUNCA vi ninguém andando a pé por ali, porque não tem comércio nenhum a não ser uma loja de material de construção. Mas sempre respeitei. Hoje, apertadíssima e com pressa de começar a preparar o almoço antes de sair de novo, dali a 20 minutos, pra pegar a Carol, peguei meio pesado. A guarda fez sinal com aquela plaquinha vermelha, dei a seta e encostei.
– Bom dia.
– Documentos, por favor.
– Aqui estão.
– A senhora estava indo a 74, o limite é 50.
– Ui. Peço desculpas.
Ela ficou desconcertada.
– Infelizmente vou ter que multá-la.
– Claro!
– São 150 euros e três pontos da carteira.
– Paciência, quem mandou superar o limite.
Ela ficou parada olhando pra minha cara.
– Eu achei que o limite de 50 começasse um pouco mais à frente, mais perto dos hotéis.
– Não, é lá atrás, tem placa.
– Não vi, estava concentrada em chegar logo em casa pra fazer xixi.
– Bom, vou ali com o meu colega preencher a notificação, ok?
– Ok.
Lembrei que o endereço na minha carteira ainda é aquele antigo, de Cipresso, e fui lá avisar a eles.
– O boleto pra pagar chega em casa?
– Não, senhora, vou preencher agora pra senhora.
– Ok.
– A senhora tem 30 dias pra reclamar.
– Reclamar do quê? Era eu quem estava dirigindo, a placa está lá, fui eu que não vi. Errei, fazer o quê. Pago hoje mesmo pela Internet.
O policial começou a rir.
– Esse bom senso da senhora anda em falta na Itália…
– Ahá, mas eu não sou italiana, seu pulissa… Aliás, falando em bom senso, cês podiam dar uma apertada no pessoal que estaciona igual à cara deles, que tal?
– Pra multar todo mundo que estaciona errado a gente precisaria praticamente de um policial pra cada cidadão…
E foi assim que ganhei a minha primeira multa por infração de verdade desde que comecei a dirigir. Paciência.
HAHAHA “Pra multar todo mundo que estaciona errado a gente precisaria praticamente de um policial pra cada cidadão…” ADOREI! E voce deve ter virado assunto na delegacia no final do expediente.
Mas que merda ter que pagar essa multa.
Vem cá. Se encostasse o carro e fizesse xixi atrás de alguma cerca, tinha multa? :)
:P
Poderá ser que o limite de 50 seja em razão da possibilidade de uma vítima emergir das oliveiras e vinhedos? O maqui mediterrâneo é tightly packed, né; um camponês poderia entrar na frente do carro, requerendo tempo de frear…
Ou viajei?
Viajou. Campos de oliveiras têm muito espaço entre as árvores. O limite é baixo porque é zona urbana habitada.
Aliás acho que o nome é plural: “provas”. Você foi buscar as provas do livro. A confirmar.
Newlands poderia dizer?…
1 – O nome da primeira impressão é “prova”.
2 – “Radar a laser”. Entendi o que você quis dizer, mas isso é uma contradição em termos. Ou bem é radar (microondas) ou bem é laser (infravermelho ou luz visível). Os dois não dá.
3 – Como se diz “pulissa” em italiano? “Caraba”? :)
4 – Ficou desconcertada porque, seguindo a linha de recente postagem, você não começou a reclamar e se achar na razão, é isso?
5 – Ainda que o xixi fosse verdade, a desculpa é excelente. Aliás, é a única com potencial para ser verdade.
6 – A guarda só voltou ao normal quando você pseudo-argumentou que o limite ali ainda não era o de 50. Porque com isto ela sabe lidar: gente errada que se acha com razão. Embora não tenha feito exatamente isso.
O xixi ERA verdade!
Deixa eu te perguntar uma coisa; o que é a impressão-teste?
Pergunto isso porque também sou tradutora (português/francês), mas desde que estou aqui não imprimi nada :D
Então, tudo o que pode melhorar meu trabalho me interessa.
Se vc não quiser responder aqui, pode me mandar um email, por favor?
bjs
Renara
E que grossa que fui: adorei sua atitude… Mas que a multa é cara, isso eu achei. bjs
Cara pra cacete!
Eu traduzi um livro pra eles. Eles me mandaram um .doc, eu traduzi e mandei de volta em .doc, eles fizeram uma primeira impressão pra testar a formatação das páginas, eu corrigi de caneta vermelha nessa impressão, eles imprimiram a última versão, já com as ilustrações e tal, igualzinho ao livro final só que em A4, eu revisei essa também e dali foi direto pra gráfica. Não entendo NADA desse assunto de produção de livros, não sei o nome de nada :P
Acho que, como o João falou, são as provas mesmo…Entendi. Eu acabo não imprimindo porque normalmente quando eu traduzo, não faço a revisão ortográfica (claro que reviso tudo direitinho, mas mesmo assim é regra deles que outra pessoa revise) e quando pego revisão, não sou eu que traduzo. ;) Normalmente onde pego freela, há três revisores e é o terceiro que revisa a prova.
Tô pensando em tirar carta aqui (a preguiçosa não tirou no Brasil), já estou até pensando nas multas que terei que pagar, rsrsrs.
Eu também não imprimo nada, foram eles.
Eu não sei como é aí, mas aqui na Itália a carteira brasileira não vale; só a internacional, que só dura um ano, e depois você tem que tirar a carteira italiana e pronto. Foi o que eu fiz.