Hoje foi um dia quase histórico. Três coisas importantíssimas aconteceram e outra importantíssima deixou de acontecer.
1) O governo provisório do Mario Monti, totalmente filocatólico, decidiu (com certeza muito a contragosto e só porque a União Europeia ameaçou multar o país se não o fizesse) obrigar a Igreja Católica a pagar IPTU. Gente, cês tão entendendo a magnitude desse negócio? A Igreja vai pagar IPTU! Logicamente só relativo aos imóveis de uso comercial (e mesmo assim já tem gente achando que as escolas católicas devem ser isentadas, embora cobrem como qualquer outra escola particular), e logicamente, como se diz em italiano, fatta la legge, trovato l’inganno – literalmente “feita a lei, encontrado o modo de driblá-la – porque eles não vão dar esse mole. Prevejo uma multiplicação de capelinhas em todos os imóveis comerciais deles, pra justificar um uso como lugar de culto, excluindo assim a necessidade de pagar o imposto. Não importa; é uma coisa colossal isso que aconteceu hoje, porque há cinco anos atrás ninguém jamais sequer pensaria em dizer que eles também têm que pagar. O movimento que se criou na internet pra forçar o fim desse benefício absurdo cresceu de uma maneira quase assustadora; assustador também é o conteúdo dos comentários, que no início eram educados, “acho que eles também deveriam pagar, sabe, é pro bem do país…” e agora são “PEDÓFILOS VAGABUNDOS FILHOS DA PUTA, MORRA, PAPA, MORRA, VÃO PEGAR UMA ENXADA E TRABALHAR NA TERRA PRA VER O QUE É RALAR!”. Me divirto horrores. Não precisa nem dizer que muita gente vai ficar de olho pra reduzir o “inganno” ao máximo. Força, UAAR!
2) Outra novidade: vai ser possível adicionar o sobrenome da mãe aos filhos! Quase chorei quando vi a notícia na televisão. Na verdade já é meio que possível atualmente, porque há precedentes legais, mas nem todo mundo que entra com o pedido consegue, e quando consegue leva em média três anos. Parece que a coisa agora vai ficar muito mais simples, bastando mandar o pedido ao Prefetto (que não corresponde ao prefeito no Brasil), que depois vai decidir se pode ou não mudar. Não vou comentar sobre o poder do Prefetto porque ficar com raiva dá rugas; quem tem que decidir os sobrenomes dos meus filhos sou eu e o pai deles, mas estamos chegando lá. A Itália é quase um país civilizado agora, pelo menos nesse quesito. Baby steps. Eu ainda não tinha mandado o pedido pra dar o meu sobrenome pra Carol porque assim que comecei a me informar melhor apareceram os primeiros boatos de que as províncias seriam abolidas, e como o pedido tinha que ser mandado pra província de residência, achei melhor esperar pra ver no que dava. Semana que vem vou ligar pra Prefettura e pedir mais detalhes.
3) Parece que vai mesmo sair o divórcio breve. Porque atualmente um divórcio leva anos em meio aos labirintos burocráticos. A esquerda radical pede uma versão de divórcio relâmpago, que obviamente não vai colar, mas reduzir o prazo pra um ano é uma coisa linda. Não consigo imaginar o que deve ser querer se separar de uma pessoa, conhecer outra, querer casar de novo e não poder porque a merda do processo leva séculos rolando pra lá e pra cá! Nos fóruns católicos tem gente arrancando os cabelos, gritando aos quatro ventos que trata-se de mais uma ameaça à família tradicional. Ô gente chata que não tem nada melhor pra fazer… Não quer divorciar? Então não divorcia, porra!
Essas três decisões do governo ainda não foram aprovadas pelo Senado (ou Parlamento, sei lá), mas como os noticiários já estão dando a coisa como certa, resolvi ser otimista e acreditar.
4) O que deveria ter sido e não foi: um dos trocentos processos nos quais o Berlusconi está envolvido prescreveu, e o desgraçado não foi condenado (a acusa estava pedindo 5 anos). Esse, na verdade, é um processo de um processo: basicamente ele estava sendo acusado de subornar um fulano pra que mentisse a favor dele em um outro processo que tá rolando há um tempo (não me peçam detalhes que eu já perdi o fio da meada em meio a tantos processos). O tal fulano, que no início parecia que ia mesmo ajudar a condenar o Berlusca, estranhamente deu pra trás e agora afirma que inventou tudo. Haja saco, viu. Agora o pseudonano ainda anda por aí se declarando mártir, pobre perseguido, vítima e coisa e tal. Por que é que não morre logo, puta que o pariu.
Fico feliz que voltou! Adoro ler o que você escreve.
Como disse o Pfaender aí em cima, vamos ver quantas capelas vão aparecer nos edifícios comerciais da igreja.
Pelo menos no Brasil, o divórcio está bem adiantado, minha amiga separou em 3 meses… acho que foi tempo recorde!
Vi sua foto de capa no facebook, imagino que seja sua filha, ela é linda!
Bjs
Obrigada, Vivian :)
Eu tenho um professor que, numa viagem recente à capital da Espanha, tirou uma foto de um muro que dizia “SE OS HACEIS LOS SUECOS, NOS HAREMOS LOS GRIEGOS!”. Sinceramente, eu acho essa frase de um brilhantismo estapafúrdico! Coisa que eu não sabia (e ele explicou bem): fazer “los suecos” significa “não fazer”, ou aquela coisa manjada de “tapar o sol com a peneira”. Do outro lado, claro, fazer como “los griegos” é jogar a merda pro ventilador. Taí na nossa cara e pra de quem quiser ver. Seu post de hoje sobre a Itália, Leticia, é meio isso aí. Bom domingo.
Realmente em cada prédio comercial vai ter agora uma capelinha, pode acreditar.
Quais dos 5 sobrenomes a Carol vai ganhar? rsrsrs
Se depender de mim, todos!
É inexplicável esse fetiche que religiosos fundamentalistas tem por controlar a vida alheia.
Os não fundamentalistas também.