Além do terremoto sísmico, há outras notícias de mesmas dimensões sacudindo o país. Comecemos pela mais chata: o escândalo dos jogadores de futebol que recebiam dinheiro pra perder jogos importantes, alimentando uma máfia de agências de apostas que vocês não podem imaginar. Tem gente de todas as walks of life envolvidas e a quantidade de dinheiro é MUITO grande; máfias de outros países estão no meio dessa história também. Mas pergunta se alguém já foi preso ou se algum jogo foi cancelado. Escândalos desse tipo volta e meia vêm à tona, mas neguinho não aprende e continua apostando, continua indo aos estádios, continua comprando partidas no pay-per-view, continua comprando álbum de figurinha dos times, camisetas, cachecóis, bandeiras. Só uma greve de torcedores resolveria o problema, mas fanatismo futebolístico é tão horrível quanto o religioso, de modo que vai acabar tudo em pizza, como sempre.
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Meu escândalo preferido da semana foi o roubo de documentos confidenciais do Papa, que como vocês bem sabem é uma das pessoas que mais desprezo no mundo. Ficou-se sabendo sobre o vazamento dessa papelada quando saiu o novo livro do Nuzzi, jornalista que já tinha escrito Vaticano SpA (SpA é um acrônimo que descreve um tipo de empresa italiana, como o Ltda ou S.A. no Brasil, definindo portanto o Vaticano como uma empresa). Eu, que não sou besta, já comprei o livro, com medo que seja retirado das livrarias, hipótese muito provável considerando a capacidade de mandar e desmandar que os padres têm aqui. Ainda não chegou, mas quando ler podem deixar que boto um review aqui.
Bom, por semanas e semanas rolou esse semi-escândalo na televisão, falava-se do roubo destes documentos e da culpa do jornalista por ter receptado os papéis pra escrever o livro (católico é assim, né, você aponta pra lua e eles olham pro dedo), falava-se abstratamente de “corvos”, que seriam os responsáveis por vazar os documentos, mas não se sabia quem era. Pois bem, descobriu-se o culpado, e adivinha quem é? O mordomo do papa. Juro que eu ri de chorar quando vi a notícia na televisão. Pra logo depois querer jogar a televisão pela janela de ódio quando soube que 1) o mordomo foi PRESO, 2) estão mesmo procurando meios legais pra recolher o livro das lojas, 3) NINGUÉM toca no assunto do conteúdo dos documentos, obviamente escabrosos como tudo o que se refere a esses marginais da Igreja Católica Apostólica Romana, falando somente do grande crime de receptação cometido pelo jornalista. Mas hein?
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Como se não bastasse toda essa podridão, dois escândalos antigos, relacionados entre si ou não, não se sabe direito, insistem em voltar à tona. Um é o caso do desaparecimento de Emanuela Orlandi, em 1983. Filha de um funcionário do Vaticano, a garota simplesmente sumiu no nada, quando tinha 15 anos, e nunca mais soube-se nada dela. Volta e meia o irmão aparece na imprensa implorando que o caso seja investigado direito, mas a Igreja se cala, desde sempre. O desaparecimento da Orlandi talvez tenha alguma coisa a ver com De Pedis, o chefe de uma gangue muito violenta que, pasmem, tinha sido enterrado na basílica de Santo Apolinário, em Roma, com tanto de aprovação de cardeais e sei lá quem mais (esse é escândalo número dois). Não lembro mais como começou o bafafá na rede, mas a UAAR teve muito a ver com isso, e o fato é que finalmente começou-se a falar do absurdo que era ter um criminoso enterrado em uma das maiores igrejas de Roma, e resolveram exumar os ossos e tirá-los de lá. Acha-se que De Pedis tenha tido algum envolvimento na quebra do Banco Ambrosiano do IOR (um ramo do Vaticano, digamos assim), que incluiu algumas mortes suspeitas e desaparecimento de documentos, e por isso tenha sido enterrado na igreja. Vamos combinar que a podridão é tanta que parece tudo inventado, né não? Quem precisa daquele horror do Dan Brown pra inventar histórias sem sentido quando a realidade é tão mais divertida.
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E ainda misturando política e religião, porque são inseparáveis aqui na Itália, outro lindo escândalo vem ocupando as manchetes por aqui: o envolvimento de Formigoni, presidente da Região Lombardia, em uma história de corrupção muito feia. Formigoni é um, um, um… Não tenho palavras pra descrever o que é esse homem. Primeiro que é uma bicha enrustida, e odeio gente enrustida – bicha, Trekker, fã do Justin Bieber, fanático por programas de auditório, viciado em corrida, comedor compulsivo, não importa. Não entendo por qual motivo alguém tenta esconder uma coisa que 1) não incomoda ninguém, e 2) todo mundo tá vendo e tá careca de saber. Segundo que ele é um “ciellino” (pronuncia-se “tchiellíno”; vem de CL – tchi elle – que significa Comunione e Liberazione, um ramo “laico” da Igreja Católica famoso pelo fanatismo, principalmente de caráter sexual, e que obviamente poucos deles seguem mas adoram impor aos outros). Os ciellini são uma máfia católica; segundo muitos depoimentos que já li online, não se consegue NADA no norte do país se você não fizer parte dessa panelinha. Emprego público, subir na carreira, licitações, só pra quem tem pistolão ciellino. Os caras monopolizaram a saúde pública lombarda (não estamos falando de Passa Quatro; a capital da Lombardia é Milão e trata-se da região mais rica da Itália, com uma quantidade imensa de indústrias e sedes de empresas) de tal maneira que o negócio virou uma espécie de Ipanema, onde todo mundo conhece todo mundo. Trocam-se favores pra lá e pra cá e o poder de veto deles é imenso; é praticamente impossível fazer um aborto, que, lembro-vos, é legal na Itália, nos hospitais da rede pública, porque os ginecologistas são todos “obiettori di coscienza” (já falei sobre isso aqui) e se recusam a realizar abortos porque vai contra a religião deles. Hello, Irã?
Pois o Formigoni, cujo apelido é “Celeste” de tão religioso e certinho, foi denunciado por um empresário, atualmente preso, por ter aceitado muita, muita grana em troca de favores administrativos (licitações, autorizações e coisa e tal). O cara passava férias no Caribe com tudo pago pelo empresário, mas obviamente nega tudo. Só que aí alguém acaba sempre abrindo a boca, como o comandante do iate do empresário, que afirma que o presidente aparecia no iate toda semana. Já apareceram várias fotos dele no bendito iate. A explicação dele: nós fizemos como todos os italianos que viajam em grupo, alguém paga a hospedagem, outro alguém as passagens, outro alguém o aluguel do carro, e depois fazemos as contas e acertamos, foi só isso. Resposta do empresário: ba-le-la, eu paguei tudo. A réplica de Formigoni: não falo com presidiários. Gente, é de chorar de rir. Pra não chorar.
oi leticia, viu que saiu o bando para “ccompagnatore turistico” em Umbria?
Vi não, tô totalmente fora do ar! Cadê?
De pato pra ganso… esse comentário não tem nada haver com esse post.
Você já ouviu falar em Dermatitis Herpetiformis? Tem muito a cara da sua psoriasis. Dê uma olhada: http://en.wikipedia.org/wiki/Dermatitis_herpetiformis li sobre isso numa revista sueca especializada em celiaki (gluten intolerância) e lembrei-me imediatamente de você. Se você já ouviu dizer e/ou sabe que não é esse seu diagnóstico, desculpe-me a intrusão. Enquanto escrevia lembrei-me que você é médica. Porém considerando que no Brasil até há pouco tempo não existia teste e que você mora no Interior do Zaire, não custa nada enviar o comentário, certo?
Não, nunca ninguém teve dúvidas sobre o diagnóstico, é bater o olho e sacar que é psoríase. Mas vou dar uma olhada assim mesmo, obrigada :)
Eu adoro seu blog,já li quase todo!