Estava lendo o post da Lu sobre a festa de aniversário da Julia na escola e me deu uma tristeza imensa essa maluquice calórica dos americanos. Mas também me deu uma tristeza imensa pensar em como as festas infantis são chatas por aqui.
Na escola da Carol vela pode, mas também é proibido levar comidas feitas em casa, não só por causa de alergias mas também porque se rolar alguma intoxicação alimentar, a comida tem que ser rastreada pra poder alertar o fornecedor e a Saúde Pública. Esse ano eu mandei fazer um bolo numa padaria aqui perto e colei a nota fiscal na caixa; foi o suficiente. Ninguém aconselha nada, cada um leva o que quiser. Na escola da Carol, que é meio “exótica”, todo mundo leva bolo de chocolate. Mas não é a norma.
A norma é assim: quem tem espaço em casa faz festa em casa, quem não tem faz em algum restaurante, de preferência com bem pouco espaço pras crianças brincarem. O cardápio é INEVITAVELMENTE de adultos; estranhamente, os italianos, que têm sobremesas específicas de carnaval, de Natal, de Finados, do cacete a quatro, não têm nenhuma comidinha específica pra festa de criança. Tudo bem que aqui a criançada come de tudo, mas puxa vida, um cardapiozinho especial não custaria nada, né não? Então nas festas tem pizza (normalmente margherita, cogumelos, branca – sem tomate – de alecrim e de cebola), torta al testo (uma espécie de pão achatado que só fazem aqui na nossa província, recheada com presunto cru e/ou linguiça e espinafre), linguiça e outras carnes grelhadas pra comer com o pão sem sal MALDITO que eles adoram por aqui, às vezes sanduíches com recheios bizarros tipo atum com alcachofra ou omelete, abobrinha grelhada (adoro, mas quer coisa menos festiva do que isso?), omelete de abobrinha (ou de outras verduras da estação), tomates recheados, salada de trigo com rúcula e tomates-cereja se for no verão, bruschetta de creme de cogumelos e/ou patê de fígado de galinha, uma especialidade da Itália central. Dependendo do horário tem gente que serve – tcham tcham tcham tcham – macarrão com molho de tomate. Vejam bem, não estou dizendo que isso tudo é ruim, muito pelo contrário – eles aqui são paranóicos com os ingredientes e costumam desprezar comidas industrializadas – mas fica faltando aquele tcham especial de festa, sabe. Pra mim, ocasiões especiais requerem comidas especiais. Da mesma forma que quando como fora nunca peço comidas que costumo fazer em casa. Se é pra comer macarrão com molho de tomate eu como em casa, ora bolas.
De doce temos bolos horrorosos cheios de chantilly, SEMPRE SEMPRE SEMPRE brancos com algum recheio bem bunda tipo crema pasticcera e docinhos de padaria (mini-bombas ou éclairs) com frutas e gelatina incolor em cima. Quase sempre tem refrigerante, mas sempreeeeeeeeeee em temperatura ambiente. Sempre. Tem onze anos que estou aqui e nunca fui a um evento social que tivesse servido refrigerante gelado. Normalmente a água mineral acaba cedo demais, e sempre tem mais água com gás (nojo!) do que sem.
Canta-se parabéns e tem velinha, mas quase ninguém faz decoração; normalmente o “tema” da festa se vê só no bolo de padaria e nos pratos de papel. Não sou particularmente fã de festas temáticas, mas acho que se é pra fazer, então que se faça direito. Brindes pras crianças, nem pensar; nunca ninguém ouviu falar disso. Convite também não rola, é tudo no boca-a-boca. Música? Como assim?
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Por isso que a festa de aniversário do Ettore, filhinho da Fabiola, foi especial. Também foi num restaurante, mas com mesas a céu aberto também e espaço atrás pras crianças brincarem. Se as comidas comidas mesmo foram de adulto, os doces, todos feitos por ela, eram infantilíssimos. Tinha brigadeiro, docinho de coco, bala de coco enrolada naquele papel com franjas (que comprei pra ela na SAARA), mousse de maracujá, brownie, cupcake; teve brinde pras criança tudo (M&M’s, balinha de paçoca também diretamente da SAARA, brinquedinho), teve faixa escrito parabéns, teve parabéns em português e em italiano, e teve música brasileira ao vivo. Carol se esbaldou de dançar. O aniversariante curtiu pouco, tadinho; acabou de fazer um aninho e estava saindo de uns dias de febre, mas todo mundo aqui de casa saiu de lá um pouquinho mais feliz.
Também não gostei do pão sem sal daí. Mas esse cardápio italiano de festa infantil italiana me deu água na boca! Festa de porcariada de UK também não me apetecia ( quem inventou feijão enlatado com molho de tomate deveria ser fuziado em praça pública). Vamos combinar que quem dá festa boa é brasileiro, para qualquer ocasião. Só não estou gostando de uma moda recente que apareceu lá, o parabéns evangélico, Eles mudaram a letra do parabéns! Affff…
Hohoho eu adoro feijão, enlatado ou não, embora dispense o tomate ;) Parabéns evangélico dá um certo medo, não quero nem conhecer…
Concordo com a Luciana, eh tudo 8 ou 80, poxa vida! Essa festa sem decoracao nem nada parece meio trsite, mas o cardapio eh um sonho para quem mora no UK. Ingles nao come esses vegetais todos em um ano inteiro…
Voce acredita que na creche do filho da minha amiga eles dao spaggethi on toast para as criancas? Como re-fei-cao? E eu que achava que baked beans na batata assada ja era uma loucura.
Baked beans com batata já é melhor, proteína e carboidrato, falta só uma verdurinha. Mas spaghetti on toast é foda mesmo. Que essa notícia não chegue na Itália, senão vai ter gente chorando de tristeza na rua.
-Já fui a aniversários de crianças no eixo Rio-Niterói onde havia todos os enfeites infantis possíveis, docinhos maravilhosos, bolo bacanérrimo, cachorro-quente, pipoca, salgadinhos diversos (tudo frito, um horror!), refrigerantes, mas também muuuuuuuuuuiiiiiiiita cerveja, vodka, chopp, whisky, enfim, uma mistureba só. Nada contra que se ofereça tudo isto numa comemoração de aniversário, mas vamos combinar: ou é PARA crianças ou PARA adultos. Por isso, já disse à minha filha, que está pretendendo engravidar: pelo-amor-de-Deus, não seja cafona e não imite seus conterrâneos tupiniquins. Seu filhinho(a) lhe será eternamente grato(a).
Não tenho nada contra ter bebidas e comidas pros pais não, afinal de contas isso 1) não é um problema pras crianças, que estão ocupadas demais brincando e de qualquer maneira se lixariam pra isso; e 2) por que a festa não pode ser pra pais e filhos? Se as crianças estão brincando significa que os pais podem conversar com calma, ocasião que deve ser festejada pois não acontece frequentemente. Eu bebo muito pouco, mas tem dias que uma birita com os amigos é tudo de bom :)
-Crianças, normalmente, querem atenção e mais atenção. Se numa festa de aniversário infantil não tiver um recreador, alguém que as distraia e brinque com elas, vão ficar entediadas e querendo atenção dos pais (estes quase sempre estão se “distraindo” com as bebidas e conversas com seus pares). Birita com amigos é ótimo, concordo com você, Letícia, pois em casa todos somos fãs dela+papear até de madrugada, mas, acho que não dá para misturar com as festas infantis. Já presenciei cenas chocantes aqui em NikitiCity.
Claro que tem animador! Nunca fui a nenhuma festa no Brasil que não tivesse animador. Que é exatamente a vantagem, pois assim os adultos podem conversar sem ter que ficar o tempo todo de olho nas crianças. Não vejo nenhum problema em ter birita, se for assim (como é; pelo menos eu nunca vi festa sem animação).
Ai ai, por que tem que ser tudo tão 8 ou 80 eu não sei viu. Os americanos são os reis das porcarias, e os italianos não conseguem sair da tradição por nada, ô gente difícil! Eu gosto das festas brasileiras, mas hoje em dia elas viraram umas super produções bizarras e caríssimas, tem gente pagando em festa de criança o que eu gastei no meu casamento…
rsrsr não é exatamente que a gente “adora” o pão sem sal, é que (ou conta-se que) a gente ficou sob o domínio do Estado da Igreja, que criou um imposto sobre o sal, e o pão com sal ficou caro demais… Daí a tradição…
Leia se quiser:
http://www.tipicamente.it/index.php/perugia-e-il-pane-sciapo/
Se não tivessem gostado teriam voltado ao pão com sal quando os impostos baixaram :P O fato é que quando eu trabalhava numa loja de produtos típicos umbros no centro de Assis vinham clientes da Itália inteira IMPLORANDO pelamordedeus pra gente arrumar um pão com sal pra eles porque ninguém gostava daquele tarugo cascudo com gosto de nada ;) Eu gosto só quando é fresquinho, com azeite e sal por cima. De resto, tô dispensando.
O unico jeito eh “abrasileirar” um pouco essas festas daqui !
Sou do time da tua amiga Fabiola ! Sempre que vou ao Brasil, uma mala eh so com essas coisas de festa ou entao me mandam pelo correio e ate pela internet ja encomendei…rs
Pelo correio não quero nada porque as taxas alfandegárias são altíssimas e não vale a pena. Mas uma mala pelo menos vem cheinha da silva ;)