natal, breve retrospectiva do ano, gordura e obrigados

2018 foi um ano especial, de verdade. Muita coisa diferente aconteceu, mas tudo o que rolou de legal foi graças às pessoas muito ótimas que conheci depois que passei a ouvir podcast.

Foi um ano de muitas primeiras vezes, boas e ruins. Hoje só vou falar das boas.

Gravei um monte de podcasts com um monte de gente sensacional.

Foi nesse ano que eu comecei meu próprio podcast, uma coisa que eu nem sabia que queria até a ideia surgir. E o Pistolando é a coisa mais legal que eu já fiz, depois da Carol – falo com tranquilidade.

Foi nesse ano que eu conheci pessoalmente, abracei, beijei, apertei tanta gente querida que não tenho nem palavras pra explicar.

Em 2018 eu tirei minha primeira foto com a minha filha.

Comecei a usar batom vermelho e gostar. E foda-se quem não gosta.

Descobri que a minha cara de pau, minhas habilidades sociais e minha síndrome de confessionário (sempre fico chocada com a quantidade de gente que vem me contar coisas superpessoais assim do nada) são bem acima da média, sendo que sempre me achei super normalzinha.

Comecei uma nova pós, sobre um assunto que realmente me interessa.

Viajei sozinha pela primeira vez desde que a Carol nasceu. Deitei no gramado do Green Park e dormi. Nunca tinha dormido em local público assim antes, despreocupada, sem precisar tomar conta de ninguém, sem hora pra ir embora, sem ter nenhuma responsabilidade por outra pessoa, menor de idade ou não.

Foi um ano em que recebi muitas demonstrações espontâneas de carinho e admiração, online e offline – amigos ou conhecidos que vieram pessoalmente falar comigo só pra me dizer coisas legais, sabe? Adultos e crianças também. Foi um ano em que eu mesma dei demonstrações espontâneas de carinho e admiração. Afinal de contas, gentileza gera gentileza, do unto others etc etc. Pra mim não tem nada mais legal nesse mundo do que saber que as pessoas gostam da minha presença. É uma parada mágica, de verdade. Se você tem alguém cuja presença te alegra, vai lá e diz isso a essa pessoa. Não tenha vergonha não.

Também foi o ano em que mandei à merda lindamente um ex-amigo que se tornou uma pessoa odiosa, e preciso dizer que foi um dos pontos altos de 2018 porque aquilo tava entalado há muito tempo e eu cheguei na fase de expor filho da puta mesmo, falar na cara, apontar o dedo na frente de todo mundo. Zero tolerância com intolerantes e filhos da puta.

Não li tanto quanto deveria, mas só li coisas boas. Se tiver paciência, publico aqui a lista das leituras do ano nos próximos dias.

Fui bastante ao cinema, sozinha (coisa que eu amo fazer) e acompanhada.

Voltei a escrever, embora com frequência bem reduzida ainda, e o feedback foi ótimo.

Aprendi a fazer umas coisas que não sabia, o que é sempre bom.

Conheci online muita gente ótima através do podcast e espero conseguir conhecer pessoalmente pelo menos algumas dessas pessoas ano que vem.

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Cês tão carecas de saber que eu sou ateia e desprezo horizontalmente e democraticamente todas as religiões. Acho Natal um saco, essa forçação de barra pra dar presente, as decorações cafonas, nem das comidas eu gosto, pra não falar da historinha pra boi dormir que dá o contexto à coisa. Pra piorar, aqui na Itália dia 26 é feriado também, o que significa dois dias iguais seguidos, comendo as mesmas coisas com as mesmas pessoas e tendo as mesmas conversas. Como já dizia o adesivo de carro que andou muito na moda nos anos 90 (#velha), I’d rather be surfing – e olha que nem surfar eu sei. Mas como parece que é falta de educação não desejar feliz whatever nessa época do ano, fica aqui o meu boas festas pra quem comemora, um vaitomanocu pra quem votou no Bozo, e um 2019 menos pior do que está parecendo que vai ser.

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Mas eu queria mesmo era falar de uma coisa que me veio em mente ontem.

Acho significativo que o último episódio que eu gravei esse ano tenha sido um EPEP sobre gordofobia. Falei um monte de coisas que todo mundo que me conhece um pouco melhor já sabia, mas talvez não conhecesse os detalhes. Foi bom falar sobre isso de maneira tão crua e espero que isso ajude outras pessoas a entender como é a vida da pessoa gorda.

Anteontem eu ouvi o episódio pronto, antes de ser publicado. Chorei tudo de novo, obviamente, mas fiquei na dúvida se ficou claro o que eu disse sobre não curtir 100% as coisas porque o fantasma da gordice tá sempre ali do lado abocanhando um pedaço da felicidade. Ontem antes de dormir pensei numa maneira talvez melhor de ilustrar esse fenômeno – lembrando que estou falando por mim, e não por todos os gordos do mundo. O lance não é exatamente não curtir 100% as coisas, é não estar 100% presente, por um motivo muito simples:

Em TODOS OS MOMENTOS da minha vida eu sempre desejei estar dentro de outro corpo.

Ou seja, sempre desejo não estar ali, daquela maneira, daquele jeito gordo, com aquele aspecto. A minha situação presente nunca, jamais é o que eu quero, mesmo quando tudo tá correndo às mil maravilhas, porque sempre tem uma coisa errada no cenário: eu mesma. Talvez venha daí, então, a sensação de nunca aproveitar plenamente a vida. Como é possível aproveitar plenamente um momento quando eu SEMPRE gostaria de estar num corpo que não é o meu? Esse desejo é perene, incansável, onipresente, e incrivelmente doloroso.

Por isso o único presente de Natal que eu peço é o meu pedido final no EPEP:

PAREM DE FALAR DE GORDURA, DE PESO, DE ASPECTO FÍSICO, NA FRENTE DE CRIANÇAS.

Acreditem, vocês não querem que seus filhos se transformem em mim. Parem. Só parem. Eu não tenho mais conserto, mas é possível ajudar a diminuir a probabilidade da existência de futuros eus. Parem.

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E por fim, meus agradecimentos em ordem totalmente aleatória:

à Craco, pelo incentivo a fazer o Pistolando, pelo feedback, pela diversão, pelo aprendizado, pelos ombros amigos, pelas discussões profundas e pelas superficiais também, pelos convites pra gravar outros podcasts, pelas amizades sinceras que brotaram

à panelinha, vocês sabem quem são e eu amo vocês todos. Obrigada por deixarem a minha vida tão melhor

à Mamilândia, e mais especificamente pelo Vários Assuntos Ovariados. Meninas, vocês são exemplos pra mim de mais maneiras do que eu tenho palavras pra expressar. Amigas, irmãs, professoras, rede de apoio, vocês são TUDO

às mães feministas de Curitiba, suas lindas, pelas risadas e por todo o resto

à minha mãe, por ficar com a Carol pra eu poder fazer todas as coisas legais que fiz esse ano

ao Thiago, por ser o melhor parceiro de podcast do mundo, e apesar de ser ranzinza só me traz coisas boas, direta e indiretamente. Obrigada pelos papos, pela amizade e pela parceria

ao grupo das mulheres podcasters no Telegram, onde conheci um monte de mulher foda e tive conversas ótimas e sempre enriquecedoras transbordando de sororidade

aos nossos catárticos – a gente jamais poderia imaginar que iria ter tanta gente legal nos apoiando em tão pouco tempo

às pessoas chatas que me ensinam como não me comportar, coisa muito valiosa.

Beijos especiais pro Danilo, pra mim a definição perfeita de pessoa exquisite; pra Bia, que conheci aos 45 do segundo tempo mas já amo; pra Vevila, sua maravilhosa; pros nossos convidados todos do Pistolando; pra Fer e pro Rafa, pra Malu e pro Benjoca, por tornar nossas vidas curitibanas mais sociáveis e interessantes e únicas pessoas da minha esfera social offline que vão ler isso aqui; pra Ana, uma amizade que também começou por causa de podcast e que só me dá alegria.

Tenham um bom 2019, tirem os sapatos antes de entrar em casa, não se esqueçam de beber água quando forem encher a cara pra não terem ressaca no dia seguinte, crase: na dúvida, não usem.

Beijo.

2 ideias sobre “natal, breve retrospectiva do ano, gordura e obrigados

  1. Obrigado por este texto, foi um bom balanço de ano e me fez pensar muita coisa.

    Bom, de um ateu chato para uma atéia sincera: mesmo que Natal seja uma data forçada, para mim ela é mais social do que religiosa, mesmo porque já existia antes desses adoradores do nazareno. Então tento aproveitar isso porque me aproximar das pessoas que quero ao meu redor é importante para mim. E fiquei devendo nesse quesito este ano.

    Queria ter ficado mais com o meu pai, coisa que me culpo. Mas fico feliz que você se descubra a cada ano, se reinvente e pegue forças e armas não sei daonde. Isso é bom.

    Feliz Ano Novo e tudo aquilo…

    • O lance é que pra mim a parte da família que importa é minha mãe e meu irmão, no Brasil, e meu marido e minha filha, aqui na Itália. E eu já convivo o tempo todo com todo mundo, então não vejo nada de especial nessa data, entende? Tenho dificuldade em compreender por que diabos as pessoas simplesmente não marcam eventos e se encontram quando querem e quando todo mundo pode, em vez de esperar uma data totalmente arbitrária ditada por uma instituição religiosa asquerosa. Faz um churrascão nas férias, pronto, ora bolas. Assim como meus amigos fazem – marca-se uma data em que todo mundo possa, um lugar em que todos possam ir, e beleza, rola o encontrão. Sem precisar de jesus, de chester, de uva passa no arroz (uva passa é coisa do demônio).

      De qualquer forma, feliz ano novo and all the rest of it pra você também, querido :)

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