Novamente tivemos gente pra jantar aqui em casa, ontem à noite. Não sei se deu pra perceber, mas estamos meio de saco cheio do nosso atual círculo de amizades, e estamos tentando partir pra outra, mudar de ares, expandir os horizontes. Eu já meio que perdi a esperança de encontrar vida inteligente aqui no interior da Papua Nova Guiné, mas fazer o quê, né, a gente vai tentando, pra ver que bicho que dá.
Bela surpresa, então: vieram Gianni, amigo de escola do Mirco, e a mulher, Chiara, filha do dono do maior concessionário aqui da zona. Os dois são altíssimos e bonitos, apesar dos hediondos dentes de fumante do Gianni. Chiara é loura, magra mas não excessivamente, sorriso belíssimo (coisa rara por aqui, quem mora fora sabe que brasileiro é que tem mania de cuidar dos dentes, o resto do planeta tá se lixando), chegou vestida de preto, com um foulard colorido no pescoço. Menina simples, engraçada, sem cerimônia, repetiu meu strogonoff com arroz branco e batatas coradas, deixou o vinho de lado, comeu os quadradinhos de laranja e pediu gelo pra botar no copinho de Baileys. Ofereceu-se pra secar a louça, trocamos receitas e histórias de viagem, e começamos a discutir a hipótese de irmos todos juntos à Austrália ano que vem. Sentados no sofá da sala, os pescoços esticados e os olhinhos forçando pra ler os nomes no mapa-mundi na parede, fomos traçando roteiros imaginários e contando histórias de viagens a outras paragens. A irmã dela está morando em Dublin (que aqui se diz Dublino) e ela gostou muito da cidade. A avó tem quase 90 anos e também adora viajar, imaginem que figura que deve ser. Gianni é mais bobinho, como todos os camponeses daqui, mas é muito educado e, apesar de não me conhecer, nem sequer pensou em pedir um cinzeiro: foi direto pra varanda fumar, fechando as portas atrás dele. Maravilha. Vimos as 5.975,43 fotos da Austrália que o Mirco tem espalhadas em vários álbuns, e no final das contas ficamos de nos encontrar outra vez, pra ir ao cinema, e pra jantar na casa deles e ver as fotos do casamento e da lua-de-mel. Será que finalmente vou conseguir ter uma amiguinha normal com quem conversar? Ou vou ter que ir periodicamente ao Brasil renovar meus neurônios com Huňka, Newlands, japa e Uni-Rio people, pra não correr o risco de emburrecer e virar camponesa também?