Dali a dois dias o satélite espião subiu, parou sobre a Amazônia, e, com os cheiros de Edmundo, Bolachão, Berenice, Pituca e Hugo Ciência computados no cérebro eletrônico, começou a cheirar.
O primeiro cheiro que chegou foi o do Redimir, dez dias sem tomar banho e cortando cebola: o satélite vomitou.
O cheiro de um prefeito, gesticulante, fazendo discurso num palanque, em Alagoas, foi descomputado, mas fez o satélite ter engulho.
“Como fede esse Brasil” pensou o satélite espião.
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O gordo tirou o tênis do pé direito e colocou na cabeça.
Ninguém queira saber o que é chulé de pé de gordo, entranhado num tênis que levou suor de pé de gordo durante 27 dias, na floresta mais quente do mundo. Edmundo, Berenice, Pituca e Hugo Ciência taparam o nariz, saíram correndo, dois gambás desmaiaram, uma jaguatirica teve um troço. Para o coitado do satélite cheirador, de centros olfativos supra-sensíveis, foi um fuá: a catinga do chulé do pé do gordo queimou os transistores, queimou as resistências, queimou os fusíveis, queimou os sensores, o chulé entrando lá dentro, o chulé chulezando tudo, o chulé esculhambando tudo, o satélite começou a fungar, o satélite começou a tossir, começou a sair uma fumacinha o satélite explodiu.
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– Você é muito bonita, minha paulista. Qual destes heróis é teu namorado?
– É o gordo.
– Ah! Este gordo é um corisco disse o frade. Explode satélites, conquista mulheres, o único defeito é que demora muito pra tomar banho.
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O frade chegou na margem, e Tum-Tum, era braçadada de cruz em cada lancha, as lanchas quebravam ao meio, pulavam baços, rins, fígados, olhos, dentes, maxilares, omoplatas, pâncreas, orelhas, joelhos, bexigas, dedos do pé, dedos da mão, pomos de Adão, artelhos, aortas. Michael Pat se atirou n’água, quando fez que ia nadar, reparou que estava sem pulmão, afundou e morreu.
Sangue Fresco, João Carlos Marinho.