A neblina pesada não vai embora há 48 horas. O dia INTEIROOOO perdidos no meio da névoa.
Já falei aqui que o único fenômeno meteorológico que eu abomino é o vento. A neblina não me incomoda; fora um pouquinho de melancolia, não me irrita nem me dá medo. As roupas secam numa boa é só botar o varal pra dentro à noite, quando ligamos o aquecimento. Também não sou sensível à umidade, por isso não reclamo. Mas esses últimos dias realmente têm sido de matar. Não dá pra ver NADA lá fora! Nem os pinheiros imensos que crescem nos jardins aqui atrás, nada. Só os globos de luz dos postes, que parecem flutuar num mar de gotículas de água gelada.
Pra dirigir à noite é um parto. De dia ainda dou um jeito, porque bem ou mal dá pra ver pelo menos um pouco pra que lado a estrada curva, e além disso todo mundo está com a mesma deficiência visual que eu. À noite a coisa muda de figura: eu já sou naturalmente fotofóbica, e odeio dirigir à noite porque não vejo bulhufas. Com névoa, então, fico mais cega que uma toupeira, e sou obrigada a dirigir em velocidade velhinho-em-calhambeque porque realmente não sou capaz de distinguir nem mesmo se estou na pista certa. A sinalização horizontal nessas estradas di campagna recebe pouca manutenção e a maior parte já se apagou com o tempo. Sem as faixas no asfalto, não sei se estou indo na direção certa, ou na pista certa, ou se estou pra cair no barranco ou se estou entrando no quintal de alguém em vez de estar virando na rua onde eu tenho que virar. Cada carro que passa com os faróis acesos me cega momentaneamente, e reduzo a marcha, com medo de ir parar sei lá onde. Levei meia hora pra voltar pra casa da escola hoje o dobro do tempo regulamentar. Vim em terceira marcha, como uma velha gagá cuja carteira de habilitação não poderá mais ser renovada porque os reflexos já perderam a validade. Mesmo o percurso mais conhecido, que já virou instintivo, torna-se difícil nessas condições. Os faróis dos carros que passam na superstrada, paralela a essa estrada por onde passo sempre, não ajudam. Não sei onde estou nem quanto falta pra chegar em casa. Depois da Metro, última grande construção iluminada antes de chegar aqui, é escuridão total. Que parto!
Cheguei em casa com o coração batendo forte e a testa franzida de tanto me concentrar pra não voar pra fora da estrada.
E agora é sopinha de legumes e toca pra estrada de novo, pro cinema em Perugia, ver Closer (já me disseram que é uma merda, mas o Moreno cismou que quer ver, e ele está de tornozelo torcido, coitado, vamos fazer a vontade do menino).