da série a horripilantemente tenebrosa TV italiana

Voltou o C.S.I., agora às quintas-feiras, em vez das sextas. Não sei que fim vai levar C.S.I. Miami, que não chega nem perto do original, e que tinha ficado nas sextas enquanto Grissom & cia estavam de férias.

Sei que agora, na onda do sucesso da série, apareceu uma outra série italiana no mesmo estilo: R.I.S. Delitti Imperfetti. O RIS é o Reparto Investigazioni Scientifiche (pron. Reparto Investigatsioni Shentifike) dos Carabinieri, e ultimamente andava-se falando muito deles, sem motivo aparente. Só fui entender o porquê depois que começaram a passar as primeiras chamadas pra série. A semelhança com C.S.I. não é, absolutamente, mera coincidência. TUDO é copiado: a abertura, a trilha sonora, os flashbacks explicativos com closes repentinos nos detalhes que fazem a diferença e imagem distorcida ou com cores diferentes; as frases de efeito; as sobrancelhas franzidas e os olhares 43; os diálogos cheios de duplos sentidos; expressões tipicamente Grissom como “vou ouvir o que o morto tem a me dizer”. Uma boa parte da diversão do programa é ficar contando as semelhanças. Mas a série é bem produzida e, até onde eu sei, baseia-se em fatos reais, solucionados pelo RIS. A maior parte do elenco é sofrível, mas isso é só um detalhe. Há belas tomadas de Parma, cidade onde se passa a história e que eu infelizmente não conheço. O chefe da equipe é um bonitão, e há só uma mulher na esquadra. Há as clássicas situações do tipo começamos com preconceito contra as mulheres mas ela acabou nos conquistando com sua competência e seu ponto de vista feminino que muitas vezes gera insights decisivos.

Eu adoro essas séries sobre as Forze dell’Ordine – Carabinieri, RIS, Guardia di Finanza. E não, não é fetiche de farda, é porque são bem feitinhas mesmo, e eu gosto do assunto. Fora essas séries, o programa de documentários Solaris, que vai ao ar às quatro da tarde, quando não há ninguém em casa pra assistir, Superquark e La Macchina del Tempo, dois documentários sérios que também vão ao ar em horários infelizes, e Le Falde del Kilimangiaro (Aos Pés do Kilimanjaro), programa sobre viagens que vai ao ar no sábado à tarde, quando todo mundo tá dormindo depois do almoço, não há absolutamente mais nada assistível na TV italiana. Tudo isso junto deve dar, no máximo, uma hora de programaçao decente por dia. E ainda querem quase 100 euros por ano de assinatura obrigatória, sendo que a RAI, além de ser uma bosta, ainda tem uma quantidade impressionante de publicidade.

Pior de tudo é a mania dos reality shows. Além do Grande Fratello, que esse ano foi decidido entre uma bicha escandalosa filho de iranianos, nascido em Israel e criado em Milão, um pedreiro toscano de longos cabelos louros estilo Conan, neto de uma etíope, e uma galesa completamente louca (ganhou a bicha escandalosa, o Jonathan, que é uma simpatia e mereceu), há várias outras coisas do tipo rolando.

Tem o Amici di Maria de Filippi, que um dia já se chamou Saranno Famosi (literalmente Serão Famosos) e é tipo o tal de Fama, do qual eu ouvi falar; acompanha a vida de um bando de jovens aspirantes a artistas de dança, canto e artes dramáticas dentro de uma escola especializada, plantada nos estúdios da Mediaset (leia-se Berlusca). Sábado à tarde tem programa ao vivo, com desafios entre os participantes, bate-boca na platéia e os cortes de cabelo mais estranhos que o mundo já viu.

Tem a Isola dei Famosi, que leva ex-famosos decadentes pra um lugar isolado (esse ano o tal lugar isolado era simplesmente o lado mais deserto de uma ilha não sei onde, que no outro lado hospeda um resort milionário), na tentativa de ressuscitá-los. Esse ano quem ganhou foi um modelo espanhol leeeeeeeeeendo e muito simpático.

Teve La Fattoria (a Fazenda), que levou outros ex-famosos decadentes pra uma espécie de chácara, onde deviam tocar adiante a coisa – arar, plantar, colher, secar, preparar, estocar, abater, tosar, alimentar – como se estivessem no século sei lá o quê, sem luz elétrica nem nenhum tipo de eletrodoméstico ou máquina sofisticada, com roupas de tecido cru, sem água corrente, etc. Não sei quem ganhou, e o programa não foi pra frente.

Tem o chatérrimo I Campioni del Cuore (Os Campeões do Coração, ô nome cafona), que acompanha as desventuras de jovens machos italianos e não, na luta por um lugar ao sol no mundo do futebol. É apresentado por uma morena estonteante e muito simpática, que apresenta também Timbuctu, um programa sobre curiosidades do mundo animal que eu espero sinceramente que não saia do ar.

E agora inventaram uma palhaçada que anda me irritando muito, porque deslocou o Comissário Rex, companheiro de sesta: Il Ristorante. Mais uma vez temos ex-VIPs decadentes, agora enfurnados num restaurante. Eles mesmos têm que decidir quem cozinha, quem serve, quem passeia entre as mesas e finge que trabalha, quem faz as compras, quem limpa e coisa e tal. É possivel ligar pra RAI e reservar uma mesa, porque teoricamente funciona como um restaurante de verdade. A mestra-de-cerimônias é a Antonella Clerici, linda loura simpática, gorducha e atolada que apresenta o La Prova del Cuoco todos os dias, na hora do almoço. Só se mete em roubada e todos os outros programas que caem na mão dela são um horror. O confessionário do Ristorante é a despensa; em vez de dizer que fulano foi eliminado se diz que foi demitido; e outras coisas do gênero, mas o modelo é exatamente idêntico ao do Grande Fratello, claro. O chato é que as puntate (os episódios) ao vivo vão ao ar bem depois do almoço, quando normalmente estou com as mãos cheias de espuma de detergente pra lavar louça e não posso nem mudar de canal. Acabo assistindo àquela bosta. Os únicos participantes que conheço são uma condessa ou baronesa, sei lá, chamada Patrizia De Blank, uma perua toda esticada, mãe de uma retardada que participou do primeiro Isola dei Famosi e foi imitada durante MESES por todos os programas humorísticos, por causa da voz de taquara rachada e dos comentários nonsense; e uma tal de Tina, que inventou um personagem meio vamp e basicamente ficava sentada numa poltrona em forma de boca, com vestido de gala e bois enrolado no pescoço, com um mordomo em pé ao seu lado, fazendo comentários maldosos sobre as roupas dos participantes durante um programa cafonérrimo da Maria de Filippi, que ainda vai ao ar. Depois que engravidou e engordou uma tonelada, a Tina sumiu, e agora foi desencavada e jogada nesse Ristorante, com seu cabelo descolorido e seus cachinhos à base de baby-liss. Lembram que uma vez eu comentei que saiu num jornal inglês uma matéria sobre a péssima qualidade da TV italiana? A manchete estava no alto da primeira página, ilustrada com uma foto dessa Tina. Pra vocês verem que eu não estou exagerando.

O pior de tudo é que eu sei de tudo isso não porque assisto aos programas, mas porque qualquer acontecimento mais ooooooh que se passe durante esses programas vai parar no TELEJORNAAAAAAL. Então você tá lá jantando numa boa, ouvindo aquelas notícias fofas sobre crimes passionais, guerras de clãs mafiosos, atentados no Iraque, a última gafe do Bush, os resultados das partidas de futebol, e de repente o âncora solta aquela notícia-bomba sobre a fulana de tal, que brigou com a beltrana ao vivo, no ar, durante o programa de ontem. É mole ou quer mais?