banana

Eu devo estar ficando muito velha mesmo. Porque ando de uma sentimentalidade ímpar.

Sempre fui chorona – choro de raiva, de tanto rir, de felicidade, de angústia depressiva, de dor, de cansaço – mas ultimamente a coisa anda passando dos limites. Ou então é o mundo que está passando dos limites, já não sei mais.

A história da cadelinha Preta, que não consigo nem reproduzir aqui pra não cair no choro outra vez, me fez, nessa ordem: vomitar, chorar e doar uns merréis pra SUIPA (falando nisso, doem, crianças, e adotem, se possível; sigam o exemplo da querida Marcinha, vejam que maravilhas de canídeos que ela trouxe para o seio de seu lar). Não posso nem imaginar nenhuma cena de bicho ou criança ou velho sofrendo sem chorar ou entrar em taquicardia. Em todo o filme A Queda, em meio a pedaços de corpos, cirurgiões empapados de sangue serrando pernas, e outras coisas deliciosas, a única cena que me fez chorar foi o doutor sei lá o quê entrando num hospital, presumivelmente abandonado, pra pegar remédios, e dando de cara com um quarto cheio de velhinhos doentes, sozinhos, largados, olhando pra ele em silêncio. Lendo Io Non Ho Paura (ainda não consegui ver o filme, caramba) chorava em todas as descrições do menino no poço. E o que me tirou a fome no domingo, coisa que quem me conhece sabe que é praticamente impossível porque eu consegui a proeza de engordar dois quilos no pós-operatório da remoção de um dente do siso – nada abala meu apetite – foi ver, no telejornal, a imagem daquele americano, Rocco não sei o quê, chorando e dizendo “I ain’t killed anyone!” com voz embargada enquanto era levado pro corredor da morte. Acusado de matar a ex-namorada, foi condenado por provas de DNA analisadas pelo mesmo laboratório que, descobriu-se, já mandou gente inocente pra morte antes, e fala-se inclusive na possibilidade de tais “erros”, se é que erros são, terem sido causados pela “pressão” exercida pelo governador do estado (no caso, a Virginia, e o governador é republicano, só pra constar). Caramba, aquilo acabou comigo. Não sei nada sobre o caso, e pode ser mesmo que o cara seja culpado, mas a mera possibilidade dele ter morrido inocente, ou simplesmente ouvi-lo chorando e dizendo aquela frase com aparente sinceridade, foi o suficiente pra me fazer afastar o prato. Que estava cheio de tagliatelle fatte in casa, diga-se de passagem. Né pouca merda não.

Mas tenho que admitir que sou mais sensível às causas animal, criançal e velhal. Não necessariamente, mas quase certamente, nessa ordem. Até de bicho asqueroso tenho pena, e imploro pra não matarem, se for possível, mas pra jogar pra longe de mim. Ultimamente há muitos, mas muitos gatos atropelados nas ruas, o que me leva a crer que não são bichos tão espertos quanto imaginamos, ou então têm um tesão que move montanhas. Caramba, que nervoso que me dá. Cada vez que vejo uma massa de pêlos achatada na estrada penso no Leguinho e fico com vontade de ir correndo na Arianna dar um abraço naquele monstro bobão. Tem um gato preto e branco que foi atropelado na bifurcação pra Perugia, na superstrada. Não foi achatado, mas deve ter levado uma porrada e caiu no acostamento. Isso foi há semanas. Eu vou a Perugia pelo menos duas vezes por semana, o que significa que venho acompanhando seu processo de decomposição com um misto de interesse e tristeza. Fico pensando se ele era de alguém, se morava na rua, se tinha amigos cachorros tipo o mongo do Leguinho, se estava a fim de alguma gatinha das redondezas (isso supondo que fosse macho), se comia restos de comida que neguinho às vezes deixa nos cantos pros bichanos.

Vou começar a investigar serviços de castração grátis por aqui. Tá na hora de castrar a Priscilla. Seus filhotinhos são uma diliça, mas quem vai garantir a saúde deles enquanto crescerem?