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Ontem fui dar aula, pela primeira vez, na nova sede da escola, em Perugia. Levei horas pra encontrar o prédio, porque a numeração tem um quê de esquizofrênico, mas acabei achando. Tudo novinho, limpinho, cheirosinho, uma beleza. Os chefes são um Antonio, que já trabalhou na sede de Ponte San Giovanni, e uma rechonchuda sorridente que já cansei de ver na escola mas a quem nunca fui apresentada oficialmente. Aqui é meio assim, quando você vai trabalhar num lugar novo ninguém te apresenta nem explica o grau de parentela entre as pessoas (porque SEMPRE tem algum grau de parentela), você vai descobrindo com o tempo, e não sem algumas gafes inevitáveis. Não tenho a menor idéia de quem sejam essas pessoas, nem de que tipo de relacionamento tenham com a escola, nem entre eles, que aparentemente não são de Perugia mas não têm sotaque forte de nenhum outro lugar que eu reconheça; não sei nada. Sei que cheguei lá e só havia eles dois, que me acolheram como se me conhecessem há anos, e já me botaram logo pra avaliar um teste em CD que tinham criado pra nivelar os alunos.

A coisa boa é que falou-se em muita coisa nova. Parece que finalmente alguém tá dando uma sacudida na mesmice didática da escola. Falamos de viagens com os alunos, de dublagem de vídeos (segundo eles, tenho ótima voz), entre outras coisas. Gostei, apesar da aula ter terminado às nove e meia da noite, quando a chuva já começava a cair outra vez. E apesar da enxaqueca, que estava dando os últimos sinais de vida, depois do golpe de amotriptan que tomou no dia anterior. Quando cheguei em casa Mirco tava de pijama, no telefone com o Moreno, tentando convencê-lo a deixar as lesmas pra outro dia porque ainda tava chuviscando. Acabou que foi o Moreno quem o convenceu, e lá foi o Mirco caçar lesmas no mato com Moreno e Stefano. Nem vou botar as fotos aqui porque dá um certo nojinho. Na próxima vez, se não estiver enxaquecada, eu vou. Deve ser emocionante, essa coisa de safári de lesmas.

Outra coisa boa: Valerio, o outro professor que vai me dar aulas de francês em troca de aulas de português, não vai mais deixar a escola, como tinha decidido. Agora no verão muitos alunos saem de férias e vamos ter tempo de nos dedicar às nossas aulinhas, uêba!

Outra coisa boa: amanhã à tarde e sábado o dia inteiro vou participar de um curso de escrita criativa em Perugia. Dica do S., um dos meus aluninhos queridos, que também vai participar. Depois digo o que achei, e o que acharam. Ah, acendam velinhas pra mãe dele, que tá no hospital, por favor. Não a conheço, mas ele é muito legal e a irmã, que veio no meu aniversário porque é mulher do outro aluno da turma, também é, clara indicação de que a mãe tem grandes probabilidades de ser legal também.

Outra coisa boa: descobri qual era o problema com a internet, e já foi devidamente resolvido. Coisinha à toa.

Outra coisa boa: finalmente consegui botar nos eixos a turma de Petrignano, aqueles do restaurante-hotel, aqueles que esquecem que tem aula e vão pra Parma, Milão, Pádua, sem me avisar nada, bloqueando minhas terças e quintas à tardinha. O mais velho, companheiro viúvo da mãe do rapaz e dono do hotel, já desistiu, mas o rapaz, que é simplesmente a pessoa mais gentil que eu já conheci na minha vida, prometeu que vai tomar tento e voltar a estudar direito. Hoje já cancelou a aula, mas tudo bem.

Outra coisa boa: domingo vamos a Bologna, pra uma feira de equipamentos e produtos pra meios de transporte – coisa de trabalho do Mirco; ano passado foi em Verona e foi legal, apesar de não termos visto nada da cidade. Dessa vez pretendemos dar umas voltas em Bologna, cidade que ele não conhece e que eu conheço pouco, mas adoro assim mesmo. Todo mundo adora Bologna. Come-se bem, a cidade é uma delícia, alto-astral, cheia de bicicletas e estudantes, os bolonheses são muito simpáticos (o único que foge à regra é aquele retardado do Leo, aquele traste com quem trabalhei na Toscana, com os Salames, no verão passado) e têm um sotaque bem gostosinho.

A coisa chata da semana é que eu queria ir à Dinamarca visitar minha prima Paola, e dar uma mão com as 3 creonças antes que ela fique louca, mas se a bosta do permesso di soggiorno, que em teoria sai amanhã, não ficar pronto logo, não posso sair da Itália. Não podendo confiar na data em que disseram que ia ficar pronto, não pude comprar a passagem pra Copenhagen. A coitada da Paola, que tem não sei quantos laudos de joelhos e crânios e colunas pra dar, deve estar enlouquecida. Burocracia é uma bosta mesmo.