aluninhos

Finalmente minha turma do hotel/restaurante tomou tento e resolveu se dedicar mais seriamente às aulas de inglês. Bom, mais ou menos, porque o W., aquele que não entende nada e esquece que tem aula, desistiu oficialmente. I., o filho da companheira de W., que morreu há alguns anos, levou um ai-ai-ai desta que vos escreve e desde então temos conseguido ter aula pelo menos uma vez por semana, às terças-feiras.

Como o tempo tá uma delícia e nossas aulas são das seis e meia às oito da noite, quando o sol não torra mais e um ventinho fresco arrepia os cabelinhos do braço, fazemos as aulas no jardim do hotel. Passarinhos cantando ao fundo, o jardineiro que apara a cerca-viva gigante com tesouronas igualmente gigantes, hóspedes idosos que tomam sol na porta do quarto, e nós estudando inglês para hotelaria e turismo, na mesinha de plástico verde no gramado, em meio às margaridinhas primaveris. Uma diliça.

I. é simplesmente a pessoa mais gentil que eu já conheci na minha vida. Um doce de menino. O nosso consultor (leia-se vendedor), que fez a entrevista inicial com ele e lhe vendeu o curso, outro dia veio comentar isso comigo. Caramba, que gente gentil, aqueles dois! É tão raro ver essas coisas hoje em dia que a gente até se espanta. Hoje levei um alfajor pra ele de presente, porque foi o único aluno que não ganhou (simplesmente porque levamos séculos pra conseguir nos encontrar desde que cheguei de viagem; eles são enroladíssimos e toda hora têm algum problema ou então esquecem que tem aula e somem). Ficou todo bobo, tadinho. A aula foi tranqüilex e cheguei até a ficar triste de não ter ido de lambreta, porque o tempo tava lindo. Adoro a primavera.

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Terça também é dia de Aluno Endocrinologista, em Perugia, bem na hora do almoço. Ele é um cara muito divertido, com uma expressão facial difícil de se encontrar entre os umbros. Ele tá lá lendo um texto do livro, ou respondendo a um exercício, e de repente, do nada, começa a rir sozinho.

– Quê que foi, Stefano.
– Tô lembrando da velhinha.
– Que velhinha?
– Aquela que…

E aqui ele entra com uma piada, normalmente em dialeto perugino, o que significa que ele tem que me explicar porque a graça toda está justamente em certas palavras e expressões típicas de Perugia, enquanto que aqui no vale onde moramos fala-se uma variante do italiano bastante diferente em termos de pronúncia e léxico. Ou então conta um causo que aconteceu no ambulatório – todo médico ou ex-médico tem dúzias de histórias bizarras de pacientes pra contar. Até eu tenho várias, e olha que minha experiência no ramo foi muito limitada. Ele tem um estoque aparentemente infinito. Ficamos horas dando risada. Ou então é alguma coisa maluca que aconteceu com ele, como quando, tentando expulsar um sapo da varanda de casa, o sapo espirrou alguma coisa no olho dele. No dia seguinte ele acordou cego de um olho, e todos os colegas com quem ele falava estavam mais interessados na história do sapo do que nos sintomas do olho, porque achavam curiosíssimo esse negócio de sapo que esguicha. No final o olho voltou sozinho ao normal, depois de algumas semanas, mas agora toda vez que eu olho pra ele penso no sapo e dou risada.

Isso quando a mãe dele, que mora no mesmo prédio e me adora, não vem me perguntar como vai o filho, como se estivesse no conselho de classe da escola primária.

Como é bom conhecer gente engraçada! Como é VITAL conviver com gente engraçada! :)