E então hoje fui à polícia federal pegar meu permesso di soggiorno, meu permit of stay. Foi um suplício, porque eu odeio, odeio, odeio falar ao telefone e sempre me engano, entendo errado, me confundo em português também, não é uma limitação lingüística, mas acho que eu sou muito teatral e expressiva e não consigo me movimentar direito em situações onde não vejo a expressão do meu interlocutor. Sei lá, acho que é isso.
Então, por causa de uma cagada minha no telefone, entendi errado o que o Paoletto, primo do Moreno que é Carabiniere, me disse na terça. Perdi a manhã inteira em meio àquela gente esquisita, fedorenta, sem dentes e mal vestida, e invariavelmente acompanhada de crianças ranhentas e mal educadas. Uma fila de horas, rodeada de gente que não entende nada de italiano e não tem idéia do que está acontecendo, que leva documentos errados porque não entende nada de coisa nenhuma ou simplesmente porque não tem os documentos certos mas vai assim mesmo, pra ver que bicho que dá. Tudo isso pra nada, e só porque sou retardada telefônica, porque o documento já tava pronto. Liguei pra Assis, onde normalmente pego meu permesso, e ao dar meu sobrenome a Carabiniere, que eu reconheci pela voz, reciprocamente reconheceu meus cinco sobrenomes aaaaaaaaaaah sim, sim, já sei quem é a senhora, senhora Vieira, o seu documento ainda não chegou, ainda não encontrei seu nome quilométrico esse ano. Ha ha. Não chegou porque eu mandei um fax a Perugia pedindo pra pegar o bendito papel lá, em vez de esperar séculos pra que ele fosse enviado pra Assis. Teoricamente isso permitiria que eu aproveitasse o contato com o Paoletto, que teria deixado o permesso com o Inspetor-Chefe, pra quem eu iria diretamente, sem fazer a fila entre os fedorentos.
Mas tudo bem, hoje fui mais preparada, e encontrei o Paoletto no portão e fui diretamente falar com a Inspetora-Chefe, que foi muito simpática e me deu o maldito papel azul na hora. Só fui constatar o brinde depois que já tava no carro, esperando o volante esfriar um pouco pra poder manobrar: dessa vez a validade é de dois anos. Maravilha! Um perrengue a menos na minha vida de albanesa, até que enfim.