roncadores, beware!

Por causa da sensacional repercussão do assunto spray anti-ronco, vamos desenvolver melhor o argumento.

O ronco é, na maioria dos casos, causado pelo atrito de estruturas das vias respiratórias superior, que resulta em barulho. A causa principal desse atrito anormal é uma lubrificação natural insuficiente. Uma outra causa comum do ronco é a obesidade, que pressiona estas mesmas estruturas, diminuindo o diâmetro das vias aéreas e coisa e tal. Muitas vezes o ronco vem acompanhado de apnéia do sono, ou seja, curtas interrupções da respiração, imediatamente seguidas de um roncão daqueles tão altos que é capaz de um sismógrafo conseguir registrar.

Quando perguntei ao Aluno Endocrinologista onde eu podia levar o Mirco pra ver esse lance do ronco, foi por causa da apnéia também, que eu não tinha certeza que um otorrinolaringologista era capaz de tratar. Aluno disse que sim, que um bom otorrino resolve o ronco, qualquer que seja sua causa. Ele deu três possíveis soluções pro problema, no caso de um ronco normal, sem necessidade de intervenção cirúrgica.

O primeiro é o que eu batizei de Método da Princesa e a Ervilha: consiste simplesmente em costurar algo volumoso pero no mucho, tipo um par de bolas de golfe, nas costas do pijama do roncador. Como a posição de barriga pra cima é a que mais favorece o ronco, as bolinhas fazem o que normalmente os pobres companheiros dos roncadores fazem: impedem o roncador de ficar naquela posição. Em vez de eu acordar com o ronco e cutucar o lanterneiro pra ele virar de lado, a bolinha não deixa ele ficar nem dois segundos de barriga pra cima, porque incomoda. Só que no nosso caso isso não funciona, porque o Mirco não dorme de pijama, mas com a camiseta limpa que vai usar por baixo da camisa no dia seguinte. Costurar e descosturar bolinhas todo santo dia é inviável, e por isso o método foi imediatamente descartado.

O segundo são aqueles adesivos que os atletas agora gostam de colar no nariz. Não tem nenhuma substância química envolvida, a ação é, novamente, puramente mecânica: através da sua estrutura muito bem bolada, o adesivo exerce forças mínimas sobre a cartilagem do nariz, abrindo muuuuuuuito ligeiramente as narinas e facilitando a respiração. Aluno Endocrinologista disse que uma vez experimentou o adesivo, porque achava que era uma coisa miraculosa estilo Facas Ginsu, e ficou impressionado como funciona. Nesse caso, se o roncador tem deficiência na parte alta das vias respiratórias, o adesivo pode ajudar.

O terceiro método é o tal spray, que ele disse que sabia que existia e funcionava mas não conhecia o princípio químico. A mulher da farmácia disse que não tem nada de estranho, simplesmente óleos essenciais que lubrificam as partes que entram em atrito, evitando o rumor. Paguei os 20 euros muito desconfiada e pensando em qual livro poderia comprar com esse dinheiro, mas não é que a coisa funciona? Você dá três borrifadas no fundo e no alto da garganta antes de dormir, depois de ter escovado os dentes e bebido água, espera vinte segundos e depois engole. E voilà, seu roncador parou de roncar. Aluno Endocrinologista ainda me arrumou, dias depois, um vidrinho de outro tipo de produto, que se injeta no nariz e se chama Ronfnyl, produzido ou distribuído, não sei direito, pelo laboratório italiano Geymonat, mas tem o mesmo mecanismo de ação. Funcionou do mesmo jeito, mas é fedido, enquanto que o spray pra garganta, que se chama Snoreeze, do laboratório inglês Passion for Life, tem gostinho de menta.

Lembrem-se de que apnéia do sono é um dos fatores de risco de morte precoce por cardiopatia em homens, e esses produtos não agem contra a apnéia, por isso, se o seu roncador suspende a respiração por breves períodos enquanto dorme, otorrino nele.