Caramba, que facada no peito abrir um Tabucchi, que escreve em italiano mas sempre histórias que se passam em Portugal, e ler logo na primeira página:
Science fiction
O marciano encontrou-me na rua e teve mêdo de minha impossibilidade humana. Como pode existir, pensou consigo, um ser que no existir põe tamanha anulação de existência?
Carlos Drummond de Andrade
Por favor, autores estrangeiros, avisem com antecedência quando puserem trechos em português no meio de seus livros. Expatriado não lida bem com essas coisas não.
E olha que eu nem gosto tanto de Drummond.
Tem horas que não é fácil, viu. Eu nunca fui particularmente grudadíssima na minha família e sempre imaginei que um dia fosse morar fora. Tenho meus momentos de reclusão e intolerância à raça humana, inclusive meus parentes, e gosto da minha própria companhia. Do mesmo modo, apesar de ter um orgulho danado do Rio, que realmente é A cidade (não digo agora, nesse momento, porque agora o Rio é O QUE HÁ DE PIOR NO MUNDO, ao que parece; digo o Rio onde eu nasci e cresci, o astral, as pessoas, a paisagem, a floresta, a Lagoa, quequeísso, gente, a Lagoa, cês sabem do que eu tô falando), nunca fui carioca “da gema”, freqüentadora de praia e curtidora da night. O meu Rio sempre foi diferente dos clichês, mas não por isso menos interessante. Sinto falta não fisicamente da cidade, mas da vida cultural e intelectual que eu tinha – e olha que não era láaaaaaaa essas coisas, mais por falta de grana que por qualquer outro motivo.
Mas experimenta abrir um guia turístico do Brasil em uma livraria no exterior. Experimenta catar o Rio, catar um mapa do teu bairro e achar a tua rua. Quero ver se você não cair no choro e se todo mundo não vai achar que você é maluco. Duvide-o-dó.