O dia ontem foi longuíssimo. Saí cedo de casa pra não pegar trânsito pra Perugia, e fui direto ao Centro de Triagem dos correios. O que aconteceu foi o seguinte: minha mãe tinha mandado uma caixa do Rio com os livros de português pro curso que começou ontem, e a caixa chegou ontem mesmo, só que eu não estava na oficina quando o courier passou. Nem o Mirco. E a mente brilhante do Ettore não conseguiu chegar sozinha à conclusão de que uma caixa do Brasil com um remetente com o mesmo sobrenome que eu MUITO PROVAVELMENTE era pra mim. Mandou embora o pacote. E nessa eu me fodi. Comecei o curso de português sem livro mesmo, mas antes liguei pros correios de Perugia e quase chorei no telefone pedindo pra alguém quebrar o meu galho. Por sorte moro em um país onde regras foram feitas pra ser quebradas, e com um pouco de sorte e de choro a gente sempre encontra alguém disposto a dar uma mãozinha. Quem me atendeu foi um cara muito simpático que me levou lá pras entranhas do depósito e me ajudou a catar o pacote, que de outro modo só chegaria à agência dos correios de Torgiano na semana seguinte.
Resolvido esse pepino, fui relaxar e cortar os cabelos. Os cachos voltaram e estou achando ótimo. Enchi desse negócio de escova. Não tenho cara de lisa mesmo, então foda-se. Quem ficou contente foi a Giuliana, que não me via desde abril, e que cortou fora um mar de cabelos.
E dali a começou a epopéia do Centro de Cefaléia. Porque eu não sei dirigir em Perugia, vivo me perdendo, não entendo o trânsito, não acho os estacionamentos que eu quero, e levei séculos pra chegar ao Policlinico Monteluce. A doutora estava vindo do outro hospital, o Silvestrini, que fica lá na casa do chapéu, e estava empacada no trânsito. A consulta, que era pra meio-dia, só foi rolar à uma e meia. Muito simpática e gentil, coisa rara quando falamos de médicos italianos, a doutora me fez milhões de perguntas, mas uma das mais importantes, que trabalho eu faço, foi completamente esquecida. Minha pressão estava alta, coisa totalmente anormal, já que normalmente só me deixam doar sangue depois de me entupir de líquidos por causa da pressão baixa. Mas dado o nível de stress na minha vida ultimamente, é bem compreensível. Pediu um monte de exames, entre eles dos hormônios tireoideanos e uma ressonância do cabeção, que não sei quando vou ter tempo de fazer.
Comprei uma carteira na Furla, em um resto de promoção, e na rua ali do Arco Etrusco, que vai dar na Stranieri, pela primeira vez entrei em uma padaria que sempre me chamou a atenção. É uma porta minúscula, e lá dentro tem sempre um monte de gente, por isso nunca tinha entrado. Dessa vez eu tinha um pouco de tempo e resolvi arriscar. Acabei descobrindo um tal do Pane Panda, que nada mais é do que um pão feito em nome da WWF. Uma parte da renda da venda do tal pão vai diretamente pra eles, ou pelo menos espero. O bicho (o pão, não o panda) é uma delícia, com grãos de aveia, trigo e semente de girassol, conserva-se muito bem, sem perder nada de consistência ou umidade de um dia pro outro (mais que isso não pude avaliar, porque matei o pouco que restava no dia seguinte) e na parte de cima tem uma espécie de hóstia comestível bonitinha, com o panda símbolo da WWF. Acabei comendo quase tudo puro mesmo, no carro, fazendo hora enquanto a próxima aula não começava. O dia terminou às dez e meia da noite, com os Salames. É muita pedra na cruz mesmo… ;)