novos bárbaros

Rodei mais quilômetros hoje que um caixeiro viajante.

De manhã dei uma ajeitada em casa e fui direto pra escola, pegar o celular que eu deixei lá ontem à noite. Depois diretamente pra Marsciano, a 26 quilômetros de distância, dar aula pros meus dois queridos – ele, o chefe, muito esperto e esforçado, ela, a secretária part-time, mais bobinha, do tipo que sai correndo da aula pra que a filha, que estuda em outra cidade e sai muito cedo de manhã, não precise botar a mesa. Porque botar a mesa é um esforço elooorme, vocês sabem.

De Marsciano (pronúncia Marshano), pra Foligno, pra um bate-papo naquela outra escola que anda me sondando há tempos. Só que a mula aqui, em vez de pegar a superstrada, pegou uma estrada interna. Pronto! Paisagem linda, casas maravilhosas no meio do nada, campos já colhidos e iniciando o repouso do inverno, várias placas com nomes estranhos, cidadezinhas de quatro casas – mas basta um caminhão na sua frente pra você perder meia hora de tempo, porque não dá pra ultrapassar com facilidade. Resultado: cheguei tardão em Foligno, com somente meia hora pra discutir um monte de coisas importantes. Claro que a pessoa com quem eu deveria falar estava ocupada com outra garota, e levou séculos pra se desenrolar. Conclusão: saí de Foligno na hora em que deveria estar começando a aula com o SuperSimpatia. Saí voando pela superstrada, nos limites dos limites de velocidade.

E foi aí que eu quase morri, porque falar latim nunca esteve tão longe de significar civilização do que nos últimos tempos, e os italianos são definitivamente as pessoas mais mal educadas do planeta Terra.

Eu vinha pela esquerda na superstrada porque 1) não tinha ninguém atrás de mim, 2) eu estava indo bem rapidinho, e 3) a cem metros de onde eu me encontrava, a estrada bifurcava: à esquerda pra Perugia, à direita pra Cesena, e depois Ravenna etc. Já havia inclusive a sinalização horizontal, com a estrada pintada com setas elormes indicando Perugia e Ravenna. Nisso surge atrás de mim um idiota piscando o farol. Pra onde ele queria que eu fosse, eu não sei, porque se eu me deslocasse pra direita, seus amigos de má educação não me deixariam voltar pra esquerda em tempo de pegar a estrada pra Perugia, e eu iria acabar parando em Cesena. Como eu não estava morrinhando, muito pelo contrário, fiquei onde estava. Alcancei um caminhão, já no viaduto onde não é possível ultrapassar, e o chato continuava piscando o farol. O viaduto desemboca na outra parte da superstrada; o caminhão deu a seta, entrou e ficou na direita; eu dei a seta, entrei e ultrapassei o caminhão. Não tive tempo de voltar pra direita, porque o chato lampejante me ultrapassou PELA DIREITA, e METEU O PÉ NO FREIO na minha frente – íamos a 120 quilômetros por hora. Meteu o pé no freio por puro despeito. Não sei como a Uno, que não só está caindo aos pedaços mas também é levinha, com pneus estreitos e por isso pouco estável, não saiu rodando pela pista matando não só a mim mas mais um monte de gente. Sambou bastante e segurei o volante com força pra não perder o controle, mas sinceramente foi muita, muita sorte. O cara ainda teve o topete de me dar the finger, acreditam?

Vou te dizer, a cada dia que passa mais eu tenho nojo desse país. Ou melhor, da gente que vive nele.