êeeeeeeeee!!!

No final de um dia muito, muito difícil e cheio de pequenas frustrações, inclusive a de não conseguir, mais uma vez, falar com a médica pra finalmente pegar os pedidos da ressonância e dos outros exames pra enxaqueca, finalmente uma boa notícia:

A bolsa de estudos saiu! :))))

Claro que já meio que me arrependi de ter escolhido Comunicazione Internazionale. Apesar da maioria das matérias ser muito interessante, meu negócio mesmo é literatura e línguas, e a burra aqui poderia perfeitamente ter escolhido Lingue e Culture Straniere, que tem um monte de coisas maneiras no programa – tipo literatura eslava, língua russa, literatura portuguesa e brasileira e outras coisas legais. Mas vou me contentar.

Só que não vou conseguir acompanhar praticamente matéria nenhuma. Um horário mais ridiculamente pouco prático não poderia existir, e praticamente todas as aulas da universidade batem com as minhas aulas de inglês. Então vou ter que fazer tudo como não-freqüentante, o que é um porre, porque eu nunca fui C.D.F. nem tenho a força de vontade da Ane, e sempre passei de ano na escola e na faculdade porque nunca faltei aula nem um round na enfermaria e sempre prestei muita atenção no que as pessoas dizem ao meu redor, e sempre fui muito perguntadeira também. Agora fodeu, vamos ser eu e os livros, sozinhos. Vai ser duro.

Minhas matérias vão ser: marketing, informática geral, lingüística italiana, política econômica, comunicação política, estudos culturais e organização política européia. Inglês e espanhol só vão começar em novembro, mas se minha mãe achar meu certificado do Proficiency, que sumiu no vácuo, pelo menos inglês vou conseguir pular, já que o objetivo do curso é fazer com que os alunos consigam um diploma de nível C2, de acordo com o European Framework de línguas, e o CPE é exatamente isso. Aliás, só a título informativo, o CELI 5, de italiano, que tirei em junho, é o equivalente italiano e mais bobinho do CPE. A má notícia é que não só vou ter que estudar espanhol, que todo mundo sabe que eu abomino, mas vou ter que tirar o diploma também – o DSE, Diploma Superior de Español.

Aliás, esse negócio de European Framework me deixou me coçando toda de vontade de aprender línguas bizarras e sair me diplomando toda. Já pensaram, um diploma de Gaélico? Até o nome é lindo: Réamhtheastas Gaeilge, no nível mais baixo, e Bunteastas Gaeilge, no nível menos mais baixo (tá bom, Bunteastas não é lindo). E Suomi? Eu não sei que língua é, mas adoraria ter um diploma chamado Suomen kieli, ylin taso 7-8. Tem exames de luxemburguês também, acreditem se quiserem. Tem grego moderno, tem euskara, tem catalão, dinamarquês, holandês, norueguês, sueco, e, lógico, entre as mais difusas línguas ocidentais tem também espaço pro português. Cada vez que eu olho pra essa tabelinha me coço toda de curiosidade de aprender coisas.

Já arrumei meu material escolar todo: uma bolsa de juta escrito “Mi piacciono i libri, ma mi piace di più la gente che li legge” (gosto de livros, mas gosto mais ainda da gente que os lê), caderno novo, bloquinhos veeeeeelhos da época em que eu ainda freqüentava congressos de Medicina, post-it, liquid-paper em caneta e em fita, canetas coloridas (mil), borracha novinha imaculada, carimbos bubus de bichos que compramos em Honfleur em agosto (Newlands, minha filha, tu ia morrer várias vezes naquela loja foférrima) e que não servem pra nada a não ser me deixar contente, minha fiel lapiseira preta da Paper Mate que nunca me deu um desprazer na vida, apesar do uso contínuo por anos a fio, pastinhas com e sem elástico, minigrampeador, enfim, todas essas coisas absolutamente necessárias pro bem-estar de uma pobre paca manca. Estou feliz da vida, e só não estou mais feliz da vida ainda porque não vou conseguir assistir a todas as aulas.

O pepino que vou ter que descascar no ano que vem (esqueci o futuro do verbo dever, alguém me ajuda?) vai ser a provável impossibilidade de renovar a bolsa. Porque fiz um contrato melhor com a escola, sou a professora com mais turmas (e teoricamente com mais renda…), o que vai provavelmente me tirar da camada mais pobre da população. Como já sou formada, não tenho direito a bolsa por mérito, mesmo que conseguir vencer minha tendência à preguiça intelectual e tirar boas notas sem assistir às aulas. Mas como o interesse por cursos universitários anda baixo (nem teve prova de admissão esse ano, apesar da turma com número fechado – normalmente é a maior casa da mãe Joana e qualquer um entra, mas poucos saem…), pode ser que mesmo não sendo mais paupérrima eu consiga alguma coisa. Mas é cedo demais pra me preocupar com esse abacaxi. Segunda-feira acordo cedo pra não pegar trânsito excessivo indo pra Perugia, estaciono perto da casa do Aluno Endocrinologista, ando uns três quilômetros a pé até a faculdade, e se tudo der certo consigo até lugar pra sentar razoavelmente within hearing distance na Aula Magna. Quando estudei italiano na Stranieri nunca tínhamos aula lá, porque éramos poucos, mas entrei uma vez durante um concerto de alunos músicos. O teto é todo pintado com horrendos motivos mussolinescos, que ficaram ali como recordação daquele tenebroso período – que, cá pra nós, muitos não acham tão tenebroso assim. São horrendos por causa da história que têm por trás, não exatamente por motivos estéticos. Achei tudo muito parecido com Portinari, aqueles pezões, a força do peão de obra italiano, essas coisas.

Falei demais, vou dormir.