Quinta é o dia mais light pra mim. Só tenho uma aula de português, no final do dia. Infelizmente na faculdade também só tem uma aula, Studi Culturali. A curiosidade em torno do que seria esse raio de matéria era grande.
Dei umas perambuladas de manhã cedo; consegui finalmente passar na minha médica, pegar minha receita do remédio pra enxaqueca e os pedidos dos exames; na farmácia mesmo marquei os exames (só ficou faltando a ressonância do cabeção), passei na Libreria Grande pra comprar o livro de Politica Economica, e fui pra faculdade.
Ultimamente ando com a mania de fazer percursos alternativos. Hoje, em vez de pegar aquele trânsito infernal da superstrada, peguei uma estradinha deliciosa, estilo Paineiras, que vai de Ponte San Giovanni a Ponte Valleceppi, mas se eu sair à esquerda em um certo ponto vou parar em Casaglia, uma espécie de periferia de Perugia, com casas lindas no meio do mato. Logo depois passo pela igrejona maneira perto do Policlinico, e dali pra faculdade é um pulo. No verão vai dar pra ir de lambreta numa boa. Lógico que achar vaga não é fácil, e perdi um tempo danado pra achar um lugar lá na casa do chapéu, mas pelo menos não paguei estacionamento e ainda dei uma boa caminhada. Ainda deu tempo de passar na agência das bolsas de estudos pra entregar o documento que faltava.
Quando cheguei na sala, as meninas que conheci ontem também estavam entrando. Sentamos nas mesmas carteiras de ontem, e fiquei sabendo os nomes das duas Oche Giulive e da Branquinha, que é de Terni. As Oche Giulive são do sul, uma da Basilicata e uma da Calábria, e já se conheciam antes. Tinha mais uma menina perto da Branquinha de Terni, mas não consegui ouvir de onde era. Pelo que pude notar, não tem quase ninguém de Perugia na sala. Melhor, porque os peruginos são uns pés no saco que vou te contar. Bati papo com uma menina do Molise, A Região Onde Nada Acontece Nunca, Mais Nunca Ainda do Que na Umbria. Vi que além da Mulatinha Pentelha há mais gente com cara de não-italiano.
É tão engraçado estar de volta aos bancos escolares! Quase tinha me esquecido de quanto é divertido esse primeiro momento, esse olhar pra cara das pessoas e imaginar que tipo de gente são, se estudam ou não querem nada com a dureza, se são tão burrinhas ou tão brilhantes como parecem, por que se vestem daquela maneira, meudeus, e coisa e tal. Imaginar que lá pro final do curso muito provavelmente vou estar batendo papo com outras pessoas, porque tenho pouca paciência com Oche Giulive. Ver o desespero dos estudantes imaturos perguntando, desde agora, o que vai cair na prova, quais capítulos têm que estudar, reclamando que é impossível fazer todas as matérias em um semestre, coisa de maluco, e coisa e tal. Eu já expliquei que no resto do planeta, pelo menos até onde eu sei, neguinho faz as matérias, as provas, passa de ano e cala a boca, não tem esse chora-chora que tem aqui, óooooooooo não consigo estudar tudo, óoooooooooo tem matéria demais, óooooooo é impossível e vou ser obrigada a levar 15 anos pra me formar, como todo mundo. Mesmo tendo direito a repetir as provas quantas vezes for necessário, até passar.
Falando em formatura: essa semana tem muita gente apresentando tese e finalmente se formando. Neguinho vai todo emperequitado pra faculdade, apresenta a tese de scarpin e meia fina, com a família e amigos assistindo e filmando, e no final ganha rosas e coroa de louros. Quem vê até pensa que estão se formando em, sei lá, Engenharia Nuclear… A Stranieri só tem curso mané, que nem o meu: Tecnica Publicitaria, Italiano per Stranieri, Diffusione della Cultura Italiana nel Mondo… E mesmo assim neguinho comemora como se fosse um Oscar. Acho hilário.