balaio de gatos

Estou cada vez me desarrependendo mais de ter escolhido COMINT em vez de literatura estrangeira. Minha turma é bem legal. Claro que só conheço as três fileiras da frente, porque ainda é cedo pra lembrar da cara de todo mundo e eu só consigo ir à faculdade às sextas, mas olha que delícia de melting pot: a Elisa, a Boazinha Branquinha, de Terni; a Ludovica, de Avellino, perto de Nápolis; a menina de Palermo; a Eleonora, de Bolzano, praticamente no Império Áustrio-Húngaro; a Corina, alemã (não descobri de onde ainda); a Susanna, de Ascoli Piceno, lá onde o judas perdeu os suspensórios; a Isis, mexicana; a neguinha idiota e arrogante, que, bem, é de Cuba; a Cristina, de Frosinone, pros lados de Roma; uma rastafari da região de Marche, Onde Nada Acontece Nunca Também; as duas malucas da Calábria; a Flavia, de Spoleto, que tem o sotaque mais engraçado do planeta. Tem uma menina da Etiópia que hoje não veio. Atrás de mim hoje tinha uma albanesa chamada Igla. Sei que tem uma austríaca, uma polonesa e uma russa. O resto da turma deve ser igualmente misturado, ainda não descobri.

O lance é que a minha universidade é a única na Itália a oferecer esse curso, então a galera vem de tudo que é lugar do país pra estudar aqui. E como a universidade se chama Università per Stranieri, bem, é mais que lógico que os estrangeiros também sejam tantos. Muitos vêm estudar italiano, como eu fiz em 2002, e depois engatam um curso universitário normal. Acho muito maneiro isso.

E pra continuar no clima internacional, descobri que há uma coreana dando aulas de inglês na escola de Ponte San Giovanni. Chama-se Lori, é espertérrima, tem inglês impecavelmente americano, é quase bonita (de modo geral não gosto da estética oriental), alta, magra, elegante. Hoje estava com uma jaqueta roxa maravilhosa. Quase quase proponho um escambo coreano-português, que tal?

E pra continuar mais ainda no clima internacional: a faxineira da sede da escola em Madonna Alta é russa. Física e engenheira química. Chama-se Elena e é um amor, fala um italiano terrivelmente carregado mas vê-se que é uma criatura boa, desiludida no amor e no trabalho, e sobretudo muito interessante. Já morou na Hungria, na Ucrânia e na Eslováquia. Hoje abriu um sorrisão quando cheguei, atrasada por causa da bosta da Eurochocolate: pensei que a senhora não vinha mais! Elena, pelamordedeus, dammi del tu, você é mais doutora que eu e me chama de senhora? Sempre puxo papo com ela porque, vocês sabem, adoro conversar com gente diferente, e ainda por cima lembro do nome dela, então já viu, conquistei. Pena que chego lá sempre em cima da hora e mal dá tempo pra gente conversar. Estou doida pra saber como é a vida na Hungria, na Ucrânia, na Eslováquia. O que se come nesses lugares? O que neguinho faz quando tá um frio desgraçado e não dá pra botar o nariz na rua? Como se diz “tá um frio desgraçado hoje” em húngaro, em russo, em eslovaco? So many questions, so little time.