brumas

A neblina já dura uma semana. Nos primeiros dias, lá pra hora do almoço o céu já estava limpo, a temperatura agradável e eu feliz. Mas a cada dia a névoa dura mais um pouquinho, e ontem pela primeira vez não deu trégua o dia inteiro.

Vocês estão carecas de saber que o único fenômeno meteorológico que eu abomino é o vento. A neblina é chatinha, mas não é o que há de pior no mundo. O problema é que as roupas não secam – ainda não está frio o suficiente pra ligar o aquecimento – e tudo fica com aquele estranho cheiro de neblina. E dirigir também não é nenhuma Brastemp, principalmente à noite, e principalmente pra mim.

Ontem voltei do trabalho em velocidade velhinho, dando risada de nervoso porque não via nada. Mas eu acho neblina uma coisa muito maneira. Acho muito interessante a sua consistência quase sólida, o modo de vir em blocos, em tufos, em punhados, o jeito com que cede à passagem do carro, com que distorce as luzes, com que esconde as coisas. Os postes desaparecem e vêem-se só os globos flutuantes de luz. Os carros à minha frente se reduzem a dois pontinhos vermelhos simétricos e mais um pontinho vermelho mais brilhante, o farol de neblina. Basta a estrada subir um metro e meio pra danada sumir, e basta uma afundadinha de nada pra bichinha adensar. Perde-se toda e qualquer noção de orientação espacial – eu que já não tenho nenhuma me dou mal pacas – e o silêncio é opressor. Tudo ganha ares surreais, nebulosos, o tempo não passa, a falta de rádio no carro se faz sentir mais do que nunca. Morro de medo de atropelar algum bicho na estrada, e vou muuuuuuito devagar, a cabeça esticada pra frente, concentrada no asfalto, tentando lembrar de quando há curvas, os olhos fixos no mato às beiras da estrada pra não acabar passando por cima de um pobre bicho desavisado que resolva arriscar a sair de casa com esse tempo maldito. Mas correu tudo bem e cheguei em casa sã e salva.