cão literário

Dei um pulo na minha livraria de estimação hoje, pra ver quanto gastei em livros esse ano (nem vou dizer) e de conseqüência quanto tenho de bônus em janeiro (70 euros). Estou eu lá conversando com a caixa, porque é lógico que eu tinha que sair com alguma coisa (no caso, o último livro de Alessandro Baricco), quando entra um cachorro pelas portas automáticas.

Um vira-latão, daqueles cor amarelo-diarréia, pelo curto muito áspero e feio, focinho curto, orelhas tortas, dentes acavalados numa boca que não fecha direito. Não é magro nem tem falhas no pelo; não tem coleira mas não deve ser abandonado porque não é arredio e tem cara de bem tratado, apesar de ser realmente horroroso. Entrou, parou em frente à seção de culinária, deu uma olhada ao redor e foi passear pela livraria, muito calmamente, strolling around, como um aposentado que passeia na Nossa Senhora da Paz. Parei pra falar com ele, lógico, cocei atrás das orelhas e ele em troca entortou a cabeça, fechou aqueles olhinhos gostosos de cachorro sem raça e botou a língua pra fora. A menina da caixa disse que ele volta e meia vem visitar. Entra, dá umas voltinhas, vai lá pro depósito onde é mais quentinho ou pra seção de livros de criança que tem menos movimento, e quando cansa de observar o vai-e-vem das pessoas, vai embora.

É nessas horas que o telefone com máquina fotográfica faz falta.