O coronel na televisão diz que hoje chega uma frente fria siberiana, que vai ser imediatamente seguida de uma da Groenlândia, e no finzinho do mês outra do mesmo lugar vai emendar com a segunda. Olho pra fora e vejo floquinhos de neve enlouquecidos, voando de lado. Ainda não é neve que cai das nuvens, mas neve que o vento raivoso nos traz do Subasio e das colinas de Bettona. Na estrada pra Foligno, começa a nevar mais seriamente, do céu mesmo, mas nunca chega a acumular no chão. Meu medo é pra mais tarde, porque a neve derretida vira gelo com as temperaturas da noite, e dirigir assim é como patinar no gelo.
Com esse tempo horrível, fazer qualquer tipo de movimento dentro do carro é impossível. Virar o pescoço encachecolado pra fazer uma manobra é um malabarismo irrealizável. O cinto de segurança tem que passar por baixo do cachecol pra não me enforcar. A boina de lã começa a coçar na testa, mas com a luva grossíssima não consigo encontrar o ponto crítico pra me coçar. O carro leva três horas pra esquentar, e até lá o nariz, vermelho, fica escorrendo. Tudo o que eu pego com as mãos enluvadas cai. Abençoado seja o fone de ouvido do celular, porque é impossível apertar um só botão do telefone com os dedões enfiados em luvas de camurça com recheio de pelo…
Eu definitivamente ODEIO frio.