Raymond Carver

Na mailing list do curso de narrativa que fiz em novembro está rolando uma discussão séria sobre Raymond Carver. Ele foi muito falado durante o curso, e lemos em aula um conto seu muito interessante, mas eu nunca tinha lido nada dele e fiquei me achando um cocô por causa dessa terrível lacuna intelectual. No fim de semana em Rotterdam, esperando no aeroporto e matando o tempo no avião, li Cathedral, uma sua coletânea de contos.

Quer saber? Achei um belo nada.

Os defensores de Carver na lista argumentam que a simplicidade com a qual ele descreve atos quotidianos é envolvente. Sinceramente, uma frase do tipo “ele passou a manteiga no pão, depois a geléia, e levou o sanduíche pra mulher” não me diz la-da. Eu até agüento conteúdo zero se a forma é maravilhosa, mas se não tem nem conteúdo e nem forma, ora, me poupe. Se a geléia ainda fosse, sei lá, envenenada, ou então uma receita de família que morreu com a falecida avó que teve um repentino piripaque numa casinha na beira de um lago isolado na Dinamarca, ou se o homem tivesse pela primeira vez conseguido passar geléia no pão depois de uma longa fisioterapia pós-acidente, talvez a coisa ficasse mais interessante. Mas manteiga comum com geléia comum num pão comum pra uma esposa comum é comum DEMAIS. E como se não bastasse a exagerada banalidade da forma e do assunto, os contos terminam no ar, suspensos. Não têm final. São literalmente contos onde não acontece nada. Parece até que ele mora aqui na Umbria… ;)