E hoje foi dia de passar a manhã em Perugia. Tinha consulta no Centro Cefalee ao meio-dia e meia, então aproveitei pra subir mais cedo e passar na agência da bolsa de estudos pra tentar resolver um pepinão (que, lógico, não consegui resolver). Como sempre, estacionei no estacionamento onde rola a feira de Ponte San Giovanni às quintas, mas quando cheguei no ponto de ônibus vi que o 3 tinha acabado de passar, então me sentei no banco de cimento pra esperar o próximo, que passaria vinte minutos depois. Um casal de meia idade vinha vindo pela calçada da outra direção, debatendo animadamente sobre o que me pareceu ser política (ele falava em metáforas e ela falava ao mesmo tempo que ele). Me perguntaram se o 3 tinha passado, respondi que o tínhamos perdido, e tirei da bolsa Il Cammello e la Corda, já quase no fim, pra ler enquanto esperava. O homem, barbudo e vestindo um terno xadrez fora de moda, esticou os zóio pra ver o que eu estava lendo. Levantei o livro com a capa virada pra ele, e ele, aaaaaaaaaah, a [editora] Sallerio! Como eu gosto da Sallerio! É bom esse aí?
Dali engrenamos num papo maluco porque a cada dois minutos ele desviava o assunto da conversa pra outra coisa. Acabei descobrindo que ele é professor de física na Università degli Studi di Perugia, e ela ensina arqueologia na universidade de Siena. Ele já morou fora, estudou nos EUA, e se comunica com os alunos por e-mail, enquanto que ela, peitudíssima e com os dentes castanhos, disse que a única tecnologia com a qual tem intimidade é a que existia até o século II d.C., e mais não lhe interessa. Conversavam animadíssimos, um corrigindo o outro, um completando a frase do outro, mudando de assunto toda hora mas sem mais deixar cair a peteca. Dei muita risada porque foi um papo completamente sem pé nem cabeça, que continuou no ônibus. Ele queria saber se Falcão, Tostão e seleção se pronunciavam “ón”; corrigi e expliquei, e ele ficou meio sem graça porque acho que passou a vida toda dizendo Falcón como se fosse entendidíssimo de português. E se a mulher não o tivesse arrastado pra fora do ônibus quando chegou no ponto deles, ele teria continuado ali, tentando dizer seleção em vez de seleçón.
Adoro esses encontros malucos tipo Forrest Gump.