Confesso: roubei.

A casa onde funciona a escola ocupa um pedaço de terreno entre duas ruas, uma estreita, onde estacionamos quando todos os nossos carros não cabem no quintal da frente, e que é a entrada principal e o endereço oficial, e outra em um nível mais alto, ao longo do riacho Topino. Ali também tem outra entradinha, um portão pequeno pra pedestres. Ou seja, a rua de cima passa na altura do segundo andar da casa, onde fica a agência de tradução, e a rua de baixo passa na altura do andar térreo, onde fica a escola.

A casa à direita da escola fica mais próxima da rua, não é centro de terreno. Não tem comunicação com a rua do riacho, não tem saída por aquele lado. É uma casa bonita mas convencional, ocupada por uma família típica italiana, com três gerações morando juntas. E agora chegamos ao xis da questão: o quintal dos vizinhos. Eles têm uma área bem grande atrás da casa, e mantêm uma horta lindinha, toda fofinha, plantam uvas e têm um pomar delicioso. Devem ser umas dez ameixeiras, uns cinco pessegueiros e mais algumas macieiras aqui e ali. O problema é que eles não fazem porra nenhuma com essa fruta toda.

As ameixeiras estão ENTUPIIIIIDAS de frutas. Lindas, roxonas, praticamente pintadas a mão. Até eu, que não sou chegada em fruta, fico fascinada quando vejo as árvores. E me dá uma tristeza no coração quando olho pro chão do pomar e o vejo coberto de ameixas podres, restos roxos adocicando no chão, sem jamais ter alegrado um céu da boca.

 Eles não vendem nem dão, já perguntamos. E desde o ano passado, quando o pessoal da escola começou a catar as ameixas dos ramos que passavam por cima do muro e entravam no nosso terreno, eles podaram tudo, fica tudo dentro do terreno deles. Ontem tomei uma decisão: roubar é feio, mas, sinceramente, desperdiçar comida é o cúmulo da falta de educação. Então subi até o terraço de trás, na altura do rio, por cima do pomar. Estiquei o braço o mais que pude e colhi oito ameixas LINDAS dos ramos mais altos. Firmes, coloridas, promissoras. Deixei a sacolinha cheia no carro e corri pra cozinha pra experimentar uma. Achei que ainda não estaria madura porque realmente estava duríssima, mas, queridos… Isso é que é ameixa, caramba!!! A polpa ainda não é aquele amarelão, e o sabor ainda é meio azedinho, mas eu prefiro assim mesmo porque não gosto de doce. Durinha, uma beleza, até porque detesto me lambuzar – a falta de praticidade é um dos motivos pelos quais não sou chegada em frutas.

Mirco já detonou a metade. Roubei também uma maçã, por curiosidade, porque agora não é época mas se a ameixa é boa assim, a maçã também tem possibilidade de ser. Mas não consegui chegar até os pêssegos, imensos. Por meio palmo de distância eles não vão ser comidos por ninguém, e vão cair no chão, e por ali ficar. Tristeza.