Madri

Quando acordamos, estava frio. FRIO. E chuviscando. Desde 1987 não fazia tanto frio em Madri em agosto. Melhor, porque turismo no calor escaldante é de matar. Subimos e descemos a Gran Vía, paramos na Plaza de España pra tirar fotos na estátua do Don Quijote, voltamos de metrô até Sol. Fizemos compras rápidas no supermercado do El Corte Inglés, coisinhas tipo iogurte, leite com nescau, frutas, pra deixar no frigobar do hotel. E fomos almoçar de novo no Museo del Jamón.

Dessa vez os meninos cismaram que queriam experimentar o famoso jamón iberico, que custa OITENTA EUROS O QUILO. Nenhum prosciutto italiano custa tanto assim, e a curiosidade foi maior do que a prudência. Resultado: as partes bem curadas estavam ótimas, as outras tinham gosto de carne crua. E eu toda feliz com a minha omelete baratíssima e absolutamente sem surpresas.

Depois de um merecido descanso no hotel, finalmente fomos ao Prado. Senhores, é um dos museus mais legais que eu já vi. Não é gigantesco como o Louvre e não requer dias e dias de visita nem refinadas técnicas de orientação espacial. Mas TODOS os quadros do acervo são interessantes. Adoramos. Lógico que os meninos não agüentavam mais ver raptos das sabinas nem afrodites nem virgens marias com o menino jesus nem naturezas mortas, e por isso a nossa visita foi relativamente veloz, mas mesmo assim eu a-do-rei o museu. A visita a Madri poderia perfeitamente incluir só a visita ao museu, que já valeria a pena.

Mas o dia não terminaria assim tão facilmente: depois do banho pegamos o metrô até a estação Colón (uma praça sem graça que dói) pra encontrar a Maria. Maria é de Lisboa, trabalha na embaixada portuguesa em Madri e é a namorada do primo da Chiara, que é de Merano mas mora em Milão. Estão nessa ponte aérea há um ano, imaginem. Ela fala um italiano misturado com português, francês, inglês e espanhol, então as conversas são divertidíssimas. Passeamos pelo bairro onde ela mora, Salamanca, que é lindo e chique, e fomos andando a pé mesmo na direção do bairro de Malasaña. Atravessamos a Chueca, o bairro gay da cidade, que lembra um pouco Santa Teresa sem as ladeiras. Paramos em um bar muito estranho em Malasaña pra tomar uma cerveja, aquele povo todo fumando dentro me irritando, mas tudo muito informal, diferente daqui da Bota, onde tudo é motivo pra neguinho se montar todo de Dolce e Gabbana da cabeça aos pés. Maria, com mapa na mão, nos guiou até um restaurante onde já tinha comido uma vez e gostado. Chama-se La Fragua de Sebín e recomendo fortemente: Divino Pastor, 21. O menu era tão interessante que levei horas pra decidir. Acabamos comendo todos pratos diferentes:

De entrada, tomates verdes fritos en ensalada con cebolla confitata y frutos rojos, revuelto (ovos mexidos) de morcilla (tipo um chouriço, delicioso) con piñones, manzana ácida y patatas paja (sim! Existe batata palha na Espanha!), e croquetas de jamón y boletus (cogumelos). Depois: eu comi filetitos de ciervo sobre membrillo asado (uma espécie de geléia durinha) con salsa de boletus y foie (tudo delicioso, fora a geléia que não toquei), Mirco foi de solomillo de buey con puré de calabaza (carne de vaca com purê de abóbora) y idiazábal (um tipo de queijo) y patatas rejilla (não sei explicar). De sobremesa, eu fui de coajada de oveja con salsa de nozes y sorbeto de miel e Mirco de tatin de manzanas calientes. Já não lembro mais o que Gianni, Chiara e Maria comeram porque os nomes eram todos assim longos e complicados feito pedigree de cachorro. O vinho também não lembro mas estava muito bom, e o jantar foi muito agradável. Mais uma caminhada até o metrô Bilbao, e dali voltamos direto pro hotel, de barriga cheia.