E hoje tive aula com o aluno mais escroto do mundo.
O cara tem uma malharia, faz suéteres. É conhecido na cidade por não pagar impostos, não fazer jamais uma fatura, usar material de décima qualidade e fazer produtos de qualidade duvidosa, vendidos por camelôs a imigrantes sem gosto e sem dinheiro. O galpão dele é ao lado do antigo galpão do concessionário do pai da Chiara, e ela contou que há alguns anos a Guardia di Finanza baixou no galpão do cara, de metralhadora em punho (adorei esse detalhe cinematográfico), pra vasculhar tudo. O cara sumiu por meses, sabe-se lá onde (provavelmente no Brasil, onde ele tem casa), e a multa chegou a dez milhões de euros.
Enfim. Eu não sabia de todo esse background quando conheci a figura. Entra esse hominho barrigudo, com cabelos tingidos de acaju, óculos Valentino horrorosos, sapato de pele de cobra. Fala boa tarde e passa por nós como um raio, indo direto lá pra cima, conversar com a chefa, deixando no ar um rastro de perfume em excesso.
Não é burro, lógico, senão não tinha feito a grana que fez. Disse que, se falasse inglês, seria a terceira potência mundial, depois dos EUA e da Rússia. Palavras textuais suas, e tive que me controlar pra não rir, lógico. Tem duas Ferraris, que ele dirige em pista nos fins de semana. Andare in pista e fare shopping são as únicas suas atividades recreativas palavras dele. Então: não é burro, mas nem preciso dizer que não estudou nada, e por isso não entende nada. Eu falo devagar JURO! e ele nada. Boto a fita e ele reclama que falam rápido demais (não é verdade, cacete, é um livro didático!). Mas o pior de tudo é a mãozinha. Porque quando eu estou explicando uma coisa, normalmente pela décima vez, ele acha que entendeu (mas não), e começa a falar junto comigo, explicando a sua teoria. Além do horror de interromper os outros, que eu acho uma das coisas mais terrivelmente grosseiras do mundo, ele ainda levanta a mãozinha, como quem diz, deixa o papai aqui falar, filha. Caracaaaaaaaaaaaaaaaa! Cada vez que ele levanta aquela mãozinha eu me imagino em um desenho animado, pegando aquele braço peludo bronzeado nojento, dando um golpe de caratê e jogando o bicho no chão.
Como desgraça pouca é bobagem, ele quer ter aula todos os dias. Matem-me, por favor.