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Que a televisão italiana é uma merda vocês estão carecas de saber. Mas nem tudo é um horror. No verão, quando ninguém vê TV porque está “al mare”, de preferência tarde da noite, quando todo mundo está jantando fora, passam coisas interessantes. O melhor da TV italiana, na minha opinião, é SuperQuark.

Quem apresenta é um senhor hiperultramegadistinto, Piero Angela. O cara é um lor-de. Sempre de terno e gravata muito sóbrios, fala bem, em tom de voz NORMAL, explica tudo muito bem explicado mas sem tratar o interlocutor como deficiente mental, e sobretudo os assuntos do programa, que sinceramente não sei até que ponto é ele que determina, são sempre interessantérrimos. O programa começa sempre com um longo documentário inicial, normalmente BBC ou outro órgão competente, e depois há várias seções internas, sempre, sempre, sempre interessantes. Até quando falam de coisas que eu ignoro completamente porque detesto a coisa é interessante. Também falam dos antigos romanos, de objetos antigos (como se fazia antigamante pra passar roupa, esquentar a cama, etc), de como pensam os animais, e esse ano fizeram uma série legal chamada “viaggio di un boccone”, mais ou menos “viagem de uma porção de comida” (traduzam boccone como mouthful), co-apresentada pelo professor Cannella, que ensina nutrição em una universidade em Roma e é figurinha fácil na televisão. Outro senhor distinto, logicamente, ao contrário do outro especialista de comida arroz-de-festa, o doutor Calabrese, que é só um italiano babaca que fala berrando. Seus entrevistados são sempre cientistas ou estudiosos de altíssimo nível, praticamente todos morando fora da Itália porque aqui não se faz pesquisa (rings a bell?). Todos com ótima dicção, idéias claras e coisas interessantes a dizer sobre suas profissões. E Piero Angela sempre aproveita a oportunidade pra bater nas mesmas teclas: é preciso estudar, é preciso investir em pesquisa. Eu amo esse homem.

No último programa Piero Angela entrevistou a maior harpista italiana, uma senhora plastificada de uma antipatia ímpar que qualquer outro italiano teria estapeado na frente das câmeras mesmo. Ele, o lorde, nem se alterou, e ainda botou oclinhos e tocou piano com ela. Porque lordes, lógico, tocam piano. Me deu vontade de ir lá abraçá-lo, de tão fofo. Essas coisas são tão raras por aqui que quando vejo, me emociono.