Depois das duas notícias bombásticas de ontem, ou seja, que tanto V. , do setor comercial, quanto Marco, o tradutor austríaco, se demitiram do manicômio, resolvemos jantar com Marcolino pra entender melhor essa história. Ele é um a-mor de menino, que por algum motivo misterioso a J. (chefe dos tradutores e que traduz mal para cacêtchi, como diz o Mirco) detesta. Educadíssimo, fala devagar, seu italiano tem uma leve entonação gringa mas é muito bem falado (o pai é italiano), e é um ótimo tradutor, daqueles teimosos que não sossega enquanto não achar o termo justo. Ele e José, o espanhol, salvavam minha vida enquanto eu trabalhava lá em cima, porque são divertidos, gentis e ótimos companheiros de trabalho. Sempre demos muita risada juntos, e esse é o único ponto negativo de ter sido transferida pro andar de baixo, na escola, onde passo o dia INTEIRO sozinha, sem ouvir ninguém berrando, sem ouvir telefone tocando e sem sentir fedor de cigarro.
Mas então: apesar de ter feito 6 anos de faculdade – 4 de curso e mais 2 de especialização – ele foi contratado como aprendiz e ganha uma merreca. Além de detestar o modus operandi da agência, o que qualquer pessoa de bom senso também sente. Então vai-se embora. Só não foi antes porque o contrato de aluguel da casa lá na casa do chapéu onde ele mora requer aviso prévio de três meses antes do cancelamento. Então Marcolino vai-se, provavelmente pra Roma, que é tudo na vida, pra trabalhar não sei onde. Emprego não vai faltar porque ele é muito profissional.
E fomos até Nocera, onde ele se esconde, pra jantar e basicamente falar mal da chefa maluca. Fiquei sabendo de outras coisas cabeludas, entendi por que é que J. se submete à loucura da chefa há quatro anos (antes era faxineira, e ali virou “Responsabile Ufficio Traduttori”, apesar de traduzir igual à cara dela. Um belo pulinho.), entendi por que o José ainda não pode se demitir também (mas disso não posso absolutamente falar aqui). Reclamamos de modo geral de como os italianos trabalham e dirigem, elogiamos a comida italiana, falamos mal da TV italiana e da mamma italiana e seus filhos mammoni e superdependentes, falamos bem de Roma e Florença. Foi uma soirée produtiva, mas tivemos que voltar cedo porque amanhã cedo resolvemos ir a Roma, que é tudo na vida, tentar entrar no Vaticano de graça. Veremos.