Então acordamos cedão e fomos pra Roma de carro. A fila já estava gigantesca quando chegamos, às oito, pouco depois do museu abrir. O problema é que os Musei Vaticani normalmente não abrem aos domingos, o que é ridículo, mas no último domingo do mês abrem de grátis. Então imaginem a fila, entupida de muquiranas como nós. Eu e Chiara ficamos na fila enquanto os meninos foram estacionar no viale Giulio Cesare, onde eu e Valeria pegávamos o ônibus pro albergue da juventude. Em duas horas e meia de fila aconteceu de tudo: um grupo de estudantes fedorentos do leste europeu furou a fila na nossa frente, dois indianos discutiram atrás de nós, veio a polícia pra empurrar o pessoal de volta pra calçada, porque já tinha neguinho fazendo fila no meio da rua, e, cerejinha no chantilly, esse japonês solitário fez uma longa sessão de limpeza dos ouvidos. Com um palito.
O nosso objetivo era mesmo a Capela Sistina, que só eu tinha visto com as cores fortes depois da restauração. Mas cara, como é difícil ser turista num mundo cheio de turistas. Tem gente demais em tudo que é lugar, parece que a gente tá em Pequim. O que não é exatamente um elogio. E ainda por cima neguinho é mal educado pacas: se tá escrito que não pode tirar foto, NÃO TIRE FOTOS, oras. Mas não: um monte de gente se fingindo de boba e apontando as máquinas fotográficas pra cima. E o hominho do museu gritando No photo, No photo! E o outro hominho fazendo shhhhhhhh porque, afinal de contas, é uma capela, e em lugares religiosos o silêncio é sinal de respeito, até eu sei e obedeço. Mas toda aquela falta de educação foi nos cansando e acabamos indo embora sem ver as outras partes do museu. De qualquer maneira, uma das minhas partes preferidas sempre foi o corredor dos mapas, porque eu A-DO-RO mapas, não interessa de onde. Mapas de lugares estranhos me fascinam pelos nomes bizarros, e mapas de lugares conhecidos me deixam maluca porque é legal reconhecer lugares familiares. Perdemos uns 20 minutos dando risada com os antigos nomes das cidadezinhas aqui do interior da Suazilânda. Tinha até Bastia, meio apagadinha, perto de Ospedalicchio, aqui do lado, que se chamava Spedaletto. Olha Assis como é grande, com aquele crucifixão! C.nuovo é Castelnuovo, onde fomos jantar na sagra com mamãe e Margareth. T. d’Andrea é Tordandrea, terra da mãe do Mirco. Bettona a gente vê aqui de casa, e é onde vamos comer todo ano na festa do ganso. : ))))
Morrendo de fome, pegamos um táxi, que nos sugeriu uns nomes de restaurantes no Trastevere. É um bairro delicioso, perto do ghetto judeu, ao longo do rio, e é famoso pelos muitos bons restaurantes e trattorie. O primeiro nome que o taxista deu foi La Cisterna, que tava fechado. Então fomos comer no Ivo, que apesar da decoração cafona, falso-antiga, nos serviu muito bem. Comi tagliatelle com lingüiça, ervilhas e cogumelos. Mirco e Chiara comeram tonnarelli (que aqui no interior se chamam spaghetti alla chitarra, é uma espécie de spaghetto quadrado em vez de cilíndrico) cacio e pepe, ou seja, com queijo e pimenta-do-reino, um prato típico de Roma. Tudo delicioso e em porção muito mais generosa do que a média. Os meninos ainda encararam um secondo de peito de frango e verdura, e depois do almoço voltamos a pé pro centro. Viemos passando por ruazinhas pouco badaladas até chegar nos fundos do Pantheon, que eu não me canso de olhar (e babar). Mas só fomos lá mesmo porque atrás do Pantheon, na via Maddalena, tem aquela sorveteria, aquela, onde eu sempre tomo sorvete de maracujá. Hoje não foi diferente. O sorvete é caro, 2 euros contra os 1,30 aqui do interior, mas, cacete, como vale a pena! Aqui na Itália ninguém toma sorvete de um sabor só, não existe, então a casquinha menor é sempre “due gusti”. Eu tomei maracujá e doce de leite com Nutella. Estava uma coisa de louco, mas depois me arrependi de não ter provado o chocolate fondente (meio amargo). Fica pra próxima.
Ainda demos mais uma volta por ali mesmo e depois fomos visitar a tia solteirona do Gianni, que mora perto do Vaticano, num apartamento de porão, estilo Nova York, sabe, com janelas que só deixam ver os pés das pessoas. Se eu disser quanto vale esse apartamento no porão, entre o apartamento do zelador e o estúdio de gravação daquela mala sem alça do Pino Daniele, vocês vão chorar de nervoso, então não digo. Mas essa tia é muito engraçada, não é a clássica solteirona infeliz. Sempre trabalhou, sempre curtiu muito a vida, badala pra burro, viaja, vai ao teatro, ao cinema, aos museus, e tem muita história pra contar. Só que ela fala sem parar e eu via o Gianni desesperado querendo achar um espacinho pra interromper o monólogo e dizer que tínhamos que ir embora porque tava ficando tarde, e nada. Finalmente ela parou pra respirar e nos despedimos.
A viagem de volta foi tranqüila. Mirco comeu um sanduíche qualquer quando chegamos em casa, vimos metade de um episódio de Dr. House e capotamos.
p.s.: Tem outras fotos aqui.