vida besta

Como as estradas aqui do interior do Malawi são cruéis com meu som vagabundo do carro, que pula por qualquer motivo, acabo escutando rádio todos os dias. Sempre Radio 2, com programas em vez de música, porque vocês sabem como eu abomino música italiana. De manhã pego um programa ridículo chamado O Rugido do Coelho, em que os apresentadores fazem perguntas idiotas e o público liga ou manda torpedos com respostas idem – coisas do tipo, você já fingiu ser alguém importante pra conseguir o que queria, qual foi a maior mentira que você já contou pros seus pais, se pudesse fazer um pedido ao Papa que pedido seria, etc. O melhor, lógico, são os comentários deles.

E quando volto, dependendo do horário, pego Dispenser, mais tarde, de longe o melhor programa da rádio italiana, em que um cara MOITO esperto e com uma clareza de raciocínio e comunicação impressionante fala de cultura em geral e toca músicas estranhas completamente fora do circuito pop. Normalmente fico repetindo os nomes dos livros que ele sugere até chegar em casa, pra não esquecer e poder anotar. Se saio do trabalho um pouco mais cedo, tem um hominho também muito claro que conta histórias de personagens ou fatos históricos importantes. Essa semana foi Frederico não sei o quê (nunca consigo pegar no começo), alemão, filho do rei da Prússia em não sei quando. Não sei o nome dele mas conheço sua história inteirinha. E se saio ainda mais cedo pego Caterpillar, um outro humorístico não idiota. Ontem e hoje eles estavam transmitindo ao vivo de Florença, onde aparentemente estava rolando um concurso de invenções inúteis.

Os finalistas de ontem foram o “abridor de portão preguiçoso”, que só ouvi mencionar e pelo que entendi é uma espécie de robô que abre o portão pra você, e o “tortômetro”, um troço genial que pode ser usado pra toda e qualquer torta, de qualquer dimensão e modelo, e calcula exatamente o tamanho exato de cada fatia pra que a torta seja realmente dividida em partes iguais. Os de hoje foram uma espécie de aparelho de tecido pra grávidas, um tipo de suporte de barriga, que transfere o peso da pança pra coluna vertebral de modo harmonioso, pra evitar dores nas costas, e uma coisa que não entendi direito como é feita mas dei muita risada quando ouvi: um negócio pra ajudar os pais que ensinam os filhos a andar de bicicleta sem rodinha. O cara começou a apresentação assim: todo homem que já correu atrás de um filho de bicicleta vai dar valor à minha invenção. Cara, eu caí na gargalhada, inclusive porque meu pai filmava tudo quando a gente era pequeno, inclusive as aulas de bicicleta, e lembro direitinho dele todo corcunda correndo feito louco atrás do Tuco, de mim e das minhas primas, e nós cambaleando na bicicleta sem rodinhas. Achei absolutamente hilário. Um que também me fez dar risada mas não foi pra final foi o P di Parcheggio (parcheggio = estacionamento), um P iluminado que acente no alto do seu carro quando você está estacionando pro motorista que está atrás de você não roubar a vaga nem encher o saco. A coisa linda é que em um país civilizado uma coisa dessas jamais passaria pela cabeça de ninguém, já que roubo de vaga é uma coisa unheard of e ninguém pisca farol todo irritadinho só porque um fulano demora pra estacionar. Um dos juízes deu oito, mas disse que daria dez se além da luz o aparelho tivesse uma pistola que desse um tiro no idiota que insistisse em encher o saco. Ri pra caramba.

E pra finalizar o dia das risadas idiotas, peguei vários velhinhos de chapéu no trânsito hoje. O Moreno, que dirige ônibus, tem uma teoria: morrinha no trânsito ou é mulher ou é velho de chapéu. Toda vez que tem alguém muito mole na minha frente penso no Moreno, que é uma figuraça, dizendo essa frase, e acabo rindo sozinha.