O assunto da aula de Storia Contemporanea de ontem foi fascismo.
O professor é um dos meus preferidos, uma cara de português, branquinho, cabelo muito cheio e escuro, olhinhos pequenos. É simpático, usa tu em vez do Lei de cortesia com os alunos, deixa espaço pra perguntas no final da aula, é um cara legal. Explica muito bem e tenta ser imparcial, ao contrário dos outros dois docentes da matéria, um dos quais inclusive já faltou aula pra aparecer na TV ao lado do papa num evento sei lá do quê. Mas hoje, no meio da descrição de Mussolini e de como ele usou seu carisma e novas técnicas de comunicação pra conseguir o que queria, não me contive. And he gave himself away.
– Pô, vocês não aprenderam nada, então – disse eu, da primeira fila.
– Como?
– Nada não, é só uma leve sensação de déja vu.
Risos generalizados.
– Não façamos comparações – ele disse, sorrindo. – Sei que há alguns pontos em comum, mas as origens e as motivações deles são muito diferentes.
– Mas os efeitos são os mesmos…
Mais risos.
– Bem, não exatamente…
– Se você for à Wikipedia e procurar por Mussolini vai ver um microvÃdeo em loop muito engraçado, do Mussolini discursando. É interessante primeiro porque pela gesticulação enérgica você percebe imediatamente que ele é italiano e não, sei lá, suÃço. Segundo porque eles são realmente muito parecidos.
Risos.
– Vamos evitar essas comparações, perÃodo de eleições é uma coisa complicada…
– Pra caramba.
Ele continuou a aula numa boa, mas depois, quando o pessoal se amontoou lá na frente pra assinar a lista de presença, muitos colegas vieram dizer que o meu comentário tinha sido necessário. O pessoal tem um certo medinho de se manifestar porque o professor chefe da cadeira é esse catolicão superconservador e claramente de direita. Mas a Umbria é tradicionalmente de esquerda, assim como a Emilia-Romagna, e os alunos que são aqui da zona são todos de esquerda e dava pra perceber a raiva deles hoje de manhã, durante as conversas na porta da faculdade.
Vejam bem, eu não sou nem de esquerda nem de direita; acho que ambas têm seus méritos e seus podres, como tudo nessa vida. Mas eu não suporto, não suporto, não suporto a idéia de ser governada por um cara que foi liberado de OITOOOOOOOOOOOO processos por associação mafiosa só porque outros foram pra cadeia no lugar dele ou porque o crime prescreveu. Um cara que dá a mão pros outros pra que eles sintam “cheiro de santidade”. Um cara que inventa multinhas pra oficializar infrações da lei só pra salvar sua própria bunda. O cara que queria criar uma lei pra dar imunidade TOTAL pros mais altos escalões do governo. E outra, que infelizmente foi aprovada, que determina que caixa dois não é mais crime. O cara cujos partidos de apoio apregoam a castração quÃmica de estrangeiros, com o argumento de que “se querem ser violentos sexualmente, que o façam com as mulheres deles”. Sabem, eu meio que TIVE que fazer o comentário.
Ando tão polemiquinha.