Falei desses livros en passant aqui, quando escrevi de Ottawa, não sei se vocês lembram. Prometi a mim mesma que só começaria a lê-los quando estivesse de férias da faculdade, porque o potencial viciante da história era grande, muito grande. Mas como eu sou uma anta compulsiva não agüentei e lá fui eu ser chupada pra dentro dos livros outra vez. Digamos que tenho dormido poucas horas por noite, pra conseguir estudar pras provas e trabalhar durante o dia.
Falamos das guerras napoleônicas (não é meu período histórico preferido, mas quase), com um pequeno detalhe: Força Aérea. Mas não com aviões, porque até o Leguinho sabe que não tinha avião na época, dã, mas com dragões. Dra-gões. A coisa mais normal do mundo, já que os primeiros dragões foram domesticados, no Ocidente, pelos romanos, e muito antes, como sempre, pelos chineses. Várias raças diferentes, acordos entre os países pra adquirir ovos de raças que “enriqueçam” as blood lines, estratégias de guerra aérea envolvendo esquadrilhas e manobras fenomenais. Tudo incrivelmente… crível. A mulher é danada porque tudo faz um sentido fenomenal, e você começa a achar realmente suuuupernormal que uma das forças armadas de tudo que é país pilote dragões e não aviões (mas seus “pilotos” se chamam aviators); todo o sistema bolado pra botar os aviators nos dragões faz sentido e parece tecnicamente possível; o equipamento todo faz sentido; as discrepâncias entre países sobre o modo de tratar os dragões e de fazer guerra aérea fazem sentido; TUDO faz sentido. TUDO nos livros funciona. Tudo. Nada fica sem explicação, nada de deus ex machina, nada de forçação de barra. Os personagens são Ó-TE-MOS – se eu tiver um dragão um dia quero que seja que nem o Temeraire – e convincentes, os fatos históricos são bem pesquisados, os detalhes médico-veterinários idem, as cenas de guerra são fenomenais, os dragões são todos maravilhosos, até os filhos da puta. O texto é uma delícia, apesar de meio formal, e além do mais ela faz uma coisa que eu adoro: usa e abusa do ponto-e-vírgula. Eu AMO ponto-e-vírgula e acho o coitado muito subestimado. Então imaginem o meu estado de êxtase total e absoluto lendo essa série. Estou praticamente morando nas costas do Temeraire, quase sentindo o cheiro dos bois inteiros assados à moda chinesa pelo Gong Su, cozinheiro que eles trouxeram de Pequim pra dar um tchan na dieta do Temeraire (os dragões ocidentais comem seus bichos crus). Ando achando as suas idéias jacobinas ótimas e estou pronta pra lutar pelos direitos dos dragões a receberem salário, como já acontece na China, a estudar, a não abrir mão dos ovos se não quiserem, a assumir posições de poder na Força Aérea, a ter o direito de meter o bedelho no Parlamento, etc.
Se você gosta de romances históricos, leia. Se você gosta de fantasia, leia. Se você gosta de ponto-e-vírgula, leia. Todo o blá-blá-blá em torno desses livros (no mundo de fantasy e sci-fi, bem entendido) é plenamente justificado. E um filme baseado sobre essa série seria assim… qualquer coisa. Peter Jackson, will ya?
(www.temeraire.org
A autora é Naomi Novik.)