Copélia

Ontem fui ver um balé naquele teatro horroroso de Santa Maria, o mesmo onde vi o Rigoletto. Fui com Chiara, a irmã dela Valeria, uma prima delas, Azzurra, e o Yari, que ficou órfão depois do divórcio com a Annalisa e foi adotado por Gianni e Chiara, e ultimamente anda querendo experimentar de tudo – inclusive balé, que tanto o Gianni quanto o Mirco obviamente recusaram veementemente.

Eu ADORO balé clássico. Adoro, desde pequena, quando vivia no Municipal (um tio-avô trabalhava no teatro e arrumava entradas). O cheiro do teatro, o gosto do sanduíche de queijo e presunto do Assirius (que vinha em uma caixinha de papelão branca), a dissonância reinante enquanto a orquestra afinava os instrumentos, o zumzumzum das pessoas cochichando enquanto se sentavam em seus lugares, tudo isso está muito vivamente marcado na minha memória. Por isso nem pensei duas vezes quando a Chiara ligou perguntando se eu topava ir. Gostei muito, lógico, apesar de Copélia não ser mais meu balé preferido. Deu uma nostalgia danada, mas gostei. Maaaas…

O teatro. O teatro é aquele horror que eu já descrevi no lance do Rigoleto. A acústica é uma merda (não é frescura minha; fiquei sabendo de um cômico famoso que disse que ali não põe mais os pés enquanto não resolverem o problema). Não tinha orquestra, e espetáculos desse tipo com música de CD ficam meio o fim da picada, mas enfim. O palco é micro, o que acaba fazendo com que os bailarinos meio que restrinjam os movimentos, especialmente nas diagonais.

O corpo de baile. A companhia era russa, chamada “La Classique”, de Moscou. A única bailarina realmente, realmente talentosa era a Swanilda; de resto, vi muitos erros de timing imperdoáveis, um erro de figurino (uma das bailarinas de um pas de huit estava com um filó no braço de cor diferente das outras), e, horror dos horrores, um bailarino com quadris mais largos do que os ombros e rabo de cavalo (da série “no meu corpo de baile não entrava”).

O público. Jeca é uma merda, né; neguinho aplaude toda hora, a gente perde pedaços de música e tal, mas nada grave. O mais engraçado foi que em um certo momento, pouco antes do final do segundo intervalo, o senhor que estava atrás de mim disse assim: “senhora, por que a senhora não pinta o cabelo como aquela senhora ali?”. Todos nós olhamos pra onde ele estava apontando e imediatamente entendemos do que ele estava falando: uma criatura com os cabelos todos feitos tipo algodão-doce, bem no estilo cinquentona italiana, e vermelhos quase fluorescentes. Caímos na risada enquanto o cara continuava: que cor é essa, meudeus, me incomoda muito, a vocês não? Hohohoho : )

A Carol, que tinha passado a tarde inteira na Arianna (emendamos o almoço – era feriado – com o jantar), foi pra casa com o Mirco e estava acordadíssima quando cheguei, lá pra meia-noite. Mandou ver na mamadeira mas ainda demorou uma hora pra dormir. Putz.