Storia e Geografia Mas como

Storia e Geografia

Mas como é dificil encontrar um mapa decente da Italia na web! Achei esses tres aqui, todos meio estranhos, mas como eu nao estou em Roma nem Florença, que todo mundo conhece, esses vao servir pra explicar onde eu estou.

Esse é o mapa politico da Italia. O pais é dividido em regioes, nao em estados. Cada regiao tem um capoluogo (capo = cabeça ou chefe. Testa em italiano é cabeça, e eu ainda nao achei nada mais engraçado do que dizer ‘mal di testa’ significando dor de cabeça. Uma palavra umbra pra cabeça é capoccia, pronuncia capotcha), o equivalente à capital (aqui na Umbria é Perugia, o da Toscana é Firenze, o da Liguria é Genova, da Emilia-Romagna é Bologna, etc). Além do capoluogo, tem outras provincias, cidades grandinhas, embora aqui seja meio ridiculo falar de cidades grandinhas, jah que toda a Umbria, se nao me engano, tem 200.000 pessoas. Soh. A Umbria é aquela coisa cor de burro-quando-foge ali entalada entre aquele laranjao que é a Toscana, o turquesa xexelento que é Marche, e o amarelao, embaixo, que é o Lazio. Soh por curiosidade, aquele terremoto super tragico que matou criancinhas aconteceu no Molise, aquela coisa rosa-nota-fiscal mais pra baixo, perto do esporao da bota.

A outra provincia da Umbria, além de Perugia, é Terni. Abaixo das provincias tem os comunes. Eh aquele esquema de cidades-estado medievais, lembram? Tudo quanto é cidadezinha tem como referencia uma cidade maior, responde a essa cidade, o Comune. Por exemplo, eu estou em Santa Maria degli Angeli, que responde ao Comune de Assisi (que é considerado comune classe A pelo preço dos impostos que se pagam, MAS EH DE UM ATRASO ASSUSTADOR PORQUE EH INDIRETAMENTE CONTROLADO PELA IGREJA. Por exemplo, aqui nao tem cinema, porque os frades mandaram fechar. Nao tem boate, porque os frades mandaram fechar. Entenderam? A loja onde eu trabalho estah no centro de Assis, na Piazza del Comune. O prédio do Comune fica bem em frente à loja, do outro lado da praça. Mas ali soh se fazem mesmo os casamentos, congressos de politicos e outras coisas ridiculas. A administraçao mesmo fica no térreo de dois prédios residenciais aqui em frente de casa. Os cachorros daqui fazem xixi no gramado do Comune. Hah!

A cidade aqui do lado, Bastia Umbra, é um outro comune, e tem outras cidadezinhas microscopicas, que seriam meros bairros no Brasil, que respondem a ele – por exemplo, Tordibetto, que é um lugar aqui pertinho onde vamos sempre comer; tem um restaurante chamado Pic-Nic (nome mais brega, soh Vulcao das Massas) que tah sempre cheio mas é legal. Pois é, esses lugares que nao sao nada, que estao abaixo dos comunes, se chamam paesi – é, a mesma palavra pra pais. Tordibetto é menos que um paese: é um paesino, coitado.

Passemos ao mapa da Umbria. Mal dah pra ver porque o mapa é uma merda, mas o rio Tevere (Tiber, pra nos; aquele que passa em Roma) corta a regiao em duas partes. Perugia tah de um lado, Terni do outro. Sao as duas unicas provincias dessa regiao pouco populada,coitadinha, mas sao cidades rivais desde sempre, e o que tem em uma é desprezado pela outra. A gente na loja vende um doce de Terni chamado panpepato, que eu nunca comi mas deve ser uma delicia (uma mistura de chocolate amargo, nozes, castanhas, frutas secas, pimenta. Fora as frutas secas, que eu ABOMINO, o resto deve ser o oh do borogodoh). Quando eu comentei que tinha mandado um panpepato pra casa, pra minha mae e minha avoh, a mae do Mirco olhou indignada pra minha cara, como se eu tivesse cometido um crime: Mas panpepato é de Terni!

Tao vendo que tem um lago ali no canto? Se chama Trasimeno, e é lindissimo. Tem tres ilhotas no meio; eu conheço a Isola Maggiore, que tem tipo 30 habitantes (…). No verao os hotéis/albergues/pensoes/bed&breakfast ali em torno, em Magione, Passignano sul Trasimeno, Tuoro sul Trasimeno, Castiglione del Lago, etc, ficam lotados. Tem um monte de restaurantes ali em volta onde se come muito bem. Volta e meia dah uma louca no Mirco e resolvemos “ir ao Lago comer peixe”. Nao sei por que, mas acho essa frase tao caipira… Bem coisa de quem mora longe da praia mermo, sabe? Gente que diz, “vou ao mar esse fim de semana”. Tsc tsc.

Continuando na Umbria: a outra cidade maiorzinha aqui é Foligno, que eu, alias, nao conheço, mas reconheço o sotaque HEDIONDO dos habitantes. Absolutamente HEDIONDO. O de Perugia também nao é lah essas coisas, eles comem as vocais das palavras, e como a caracteristica mais bonita da lingua italiana é justamente o fato de ser tao vocalizada – nao existem palavras terminadas em consoante em italiano, por isso eles dizem bar-e e pullman-e e microsoft-a – a coisa fica ridicula. Por exemplo, meu chefe com a mulher, Rossella, no telefone:
– O Rossé! Penss che nun ss pò fà nient, capito?
Que em italiano standard seria:
– O Rossé! Penso che non si possa fare niente, capito?

Ou ontem, quando eu disse pra ele que nao ia trabalhar na semana do ano-novo porque vou pra Sicilia:
– Madonna puttana, ma io sto in mezz alla merd!

Aquele aviaozinho ali entre Assis e Perugia é o aeroporto de Santo Egidio, uma coisa ridicula. Vim uma vez de Milao pra cah de aviao. Quando vi o aviao achei que tavam de sacanagem com a minha cara, parecia de brinquedo. Mas o voo foi lindo – como o aviao era ridiculamente pequeno, voava baixo, e dava pra ver direitinho as casinhas lah embaixo, os carrinhos, as plantaçoes… Um amor :)

Ali embaixo de Perugia tem Torgiano, viram? Eh a sede da Lungarotti, e é onde o Mirco e o pai dele tem (circunflexo) a oficina (jah comentei que eles sao lanterneiros, nao?). Quando vou de Torgiano pra Perugia prefiro ir por dentro em vez de pegar a auto-estrada, que eles, na sua caipirice extrema, chamam de La Quattro Corsie (literalmente, A Quatro Pistas. Eh a unica auto-estrada por essas bandas. O coisa de deslumbrado…). Assim passo por dentro das plantaçoes de uva da Lungarotti, de onde saem o Rubesco e o Cabernet-Sauvignon que eu comprei no Ipercoop semana passada mas ainda nao abri…

Entre Foligno e Marsciano (pronunciam-se Folinho e Marchano, respectivamente) tem Montefalco, de onde sai aquele vinho ESTUPENDO LINDO MARAVILHOSO INIGUALAVEL SENSACIONAL, o Sagrantino. Jantamos lah uma vez, é uma coisa microscopica, mas a praça principal é uma das praças medievais mais bem conservadas dessa regiao. Lembro que comi uns gnocchi enormes, deliciosos; uma tagliata di manzo (uma carne de boi – manzo é carne de boi, aprendam, crianças – tabajara, dura feito pedra, ao ponto, invariavelmente servida com um monte de vinagre, ARGH, numa caminha de rucola, BLERGH), e um vinho muito bom, embora na época eu nao soubesse identificar o que era.

Mais pra esquerda, quase no Lazio, tem Orvieto, que conheci com a Ria, filipina, e a Susanne, suiça – ai que saudades! A cidade fica em cima de um planaltao de pedra, a estaçao do trem é lah embaixo e tem que pegar uma funiculare, tipo um bondinho, pra subir. Tem uma das igrejas mais lindas da Italia, segundo especialistas – e eu concordo.

Lah no alto tem Gubbio, que conheci com a Susanne e a Linh, vietnamita. Eh uma gracinha, mas é mais conhecida pela corrida maluca que rola em maio, se nao me engano. Sao os famosos Ceri (pronuncia tcheri, ‘e’ fechado) di Gubbio, que sao uns troços enormes, parecem uns castiçais gigantes, que tres grupos de homens vestidos de cores diferentes e com santos padroeiros diferentes levam pra igreja no alto de uma escadaria, CORRENDO. Os castiçais sao realmente GIGANTESCOS, de madeira, e devem pesar mooooito. O Silvio, aquele de SC que estudou comigo, foi lah conferir, disse que é uma coisa de louco, uma quantidade de gente na rua que nao se caminha. Os Ceri sao tao conhecidos que uma versao estilizada deles é o logo da Regione Umbria.

Spoleto, ali embaixo, de onde veio o nome daqueles restaurantes no Rio (porque uma cadeia de restaurantes chamada Gualdo Tadino seria um fracasso imediato), é uma das cidades famosas pelas trufas pretas – que, cah pra nos, nao tem nada de mais, se nao forem misturadas com uns cogumelinhos basicos. A cidade é um amor.

Falando de Gualdo Tadino, eu nao conheço, mas ali rolou uma batalha famosa, onde morreu, se nao me engano, o espetacular Federico II, em cuja corte no sul da Italia floresceu um novo tipo de literatura, de arte, de tudo. Tem um castelo-fortaleza construido por ele em Bari que é uma coisa de louco, e que é a parte ‘coroa’ da moeda de 1 centésimo de euro aqui na Italia. Hm, agora nao tenho mais certeza se foi o Federico II que morreu em Gualdo… Tadinho. (hmmm, infame, infame…)

Segundo nossas aulas de Fonética e Fonologia, no centro fonético da Italia – leia-se Roma, Lazio (que é a regiao onde estah Roma, mas Roma nao é Lazio, é Roma, entendeu?), Umbria, Marche e Toscana – nao existem dialetos. Explica-se: como a base do italiano é o toscano-fiorentino, e toda essa zona mais ou menos obedecia a Firenze, aqui se fala sempre uma coisa muito parecida com o italiano, e se entende sempre o que falam, mesmo que o sotaque seja muito forte. Li alguns emails de um amigo do Mirco pra ele escritos em ‘dialeto’ (nao é dialeto, mas eles acham que é, fazer o que); parece soh um italiano escrito por um analfabeto, mas se entende tudo. Eh como o pai do Mirco falando: a dicçao dele nao ajuda, mas se reconhece que tem italiano no meio daquela lingua estranha que ele fala. Jah napoletano, milanese, bolognese, barese, sao realmente dialetos, ou seja, outras linguas, que em comum soh tem a origem latina, e para por aih. Um napolitano nao entende bissolutamente nada do que diz um bolonhese, se ambos falam em dialeto. Sao linguas tao parecidas entre si quanto alemao e swahili.

E agora passemos ao mapa aqui da zona. Parece que a distancia é grande, mas é ilusao geografica. A distancia entre Santa Maria e Bastia é menor do que aquela entre Ipanema e Leblon. Pega-se a avenida principal daqui, que infelizmente se chama Los Angeles (…), e em dois minutos voce saiu de Santa Maria e chegou em Bastia. Mais dois minutos e voce jah saiu de Bastia e estah em outro paesino.

Tao vendo a linha do trem ali? Bem onde tem escrito Santa Maria degli Angeli é a avenida que eu pego, de onibus, pra subir pra Assisi, que estah no alto do Monte Subasio. Eu moro ali mais ou menos numa ruela paralela ao segundo tracinho à direita dessa avenida.

Tordandrea é onde moram a avoh e o tio solteirao do Mirco, e onde se chega passando por varios campos de girassois e pelo campo de futebol do Tordandrea Futebol Clube. O nome eu jah expliquei, mas repito: vem de Torre di Andrea, mas quem foi o Andrea, eu nao sei. (lembrem-se que em italiano nomes como Andrea, Michele, Emmanuele, Simone, sao masculinos. O feminino de Simone é Simona. *risos incontrolaveis*). A torre até hoje tah ali, meio tabajara mas pitoresca, do lado dos Correios e da agencia da Generali, companhia de seguros, na unica e principal praça do paese – que se tiver 20 metros quadrados é muito.

Podem parar de reclamar porque acabou a aula.
Beijos.