eu reciclo, tu reciclas, ninguém mais recicla

Quando me mudei pra Bastia, praquele apartamento em frente à creche e perto da Martinha, a Arianna me deu de presente um vaso daqueles retangulares e longos, de botar na janela, com diversas ervinhas: aipo, hortelã, alho, salsinha e uma outra cujo nome não lembro. Essa última, que segundo a Arianna é meio chata de pegar, morreu uma semana depois. As outras vingaram muitíssimo bem. Até demais, no caso do hortelã, que cresce demais e em tudo que é lugar e em qualquer condição climática.

Claro que eu trouxe minhas plantinhas aqui pra Cipresso. Mas botei o vaso dentro de casa quando fomos pra Sérvia, e quando voltamos descobri uma Pulgãozolãndia funcionando entre as minhas plantinhas! A umidade e o abafamento dentro de casa fizeram os bichinhos se multiplicarem alegremente – e as plantas ficaram todas amarelas, murchas e borocoxôs. Arianna, minha camponesa preferida, me mandou botar as plantas pra fora de novo. Segundo ela todas essas ervinhas aromáticas são muito resistentes (a não ser o chato do manjericão) e não é um inverninho assisano que consegue derrubá-las. Então lá fui eu, cheia de fé, abandonar meu vaso no frio da varanda.

E não é que os pulgões morreram de frio e as plantas renasceram? O aipo e a salsinha, que eu tinha podado de acordo com as instruções da Arianna, estão cheios de brotinhos. O hortelã, que tinha sumido, já esta crescendo descontroladamente em diversos pontos da terra. O alho que eu colhi tarde demais e por isso era só raiz foi substituído por um dente de alho que estava brotando na geladeira, e já cresceu um bocadinho. Agora quero botar nos outros dois vasos que estão vazios na varanda, e que já hospedaram manjericão e salsinha, um pouco de sálvia, de alecrim e de manjericão. Se o espaço permitir, louro e tomilho também.

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Falando em ervas aromáticas, tem receita nova.

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Outro dia chegou aqui em casa um panfleto da nova Isola Ecologica do Comune de Bastia. Dizia que lá podemos descarregar não só o clássico lixo reciclável, mas também móveis velhos, pilhas e baterias usadas, remédios vencidos, óleos, tintas. Lá fui eu conferir, contra a vontade do Mirco, que tem um amigo que trabalha na administração do Comune e disse que o lixo que é separado pelos moradores e depositado em caçambas próprias pra cada tipo depois é misturado todo de novo quando chega no depósito principal! Mas eu fui lá assim mesmo, amarradona, crente que ia encontrar uma coisa muito civilizada e organizada… Ma sì! Aqui no interior da Jamaica? Jamé! A Isola Ecologica fica num buraco lá no fim do mundo, no meio da Zona Industriale, no fim de uma rua não asfaltada. O cara muito antipático da recepção nem me ajudou a descarregar o monte de vidro, latas, plástico e papel da mala do carro, e apontou vagamente uma caçamba láaaaa longe quando eu perguntei onde deveria depositar papel e papelão. E a cartelinha que o panfleto citava, através da qual você ganharia prêmios depois de um determinado número de pontos acumulados (os pontos correspondendo ao peso do lixo reciclável depositado ali; quanto mais lixo, mais pontos), não existe ainda. Quer saber? Não vou separar mais nada. Azar o deles.

Mas fico com raiva dessas coisas. Tento fazer a minha parte, mas se ninguém mais faz, a coisa fica complicada. Lá em casa ninguém era de desperdiçar nada, de deixar luz acesa, de ficar horas com o chuveiro ligado sem ninguém debaixo; nunca joguei lixo pela janela, sempre recolhi o cocô do meu cachorro, e lá no prédio separávamos pelo menos os papéis do lixo normal, e os porteiros depois vendiam pra empresas que os reciclavam. Reciclávamos papel de impressora, coisa que continuo fazendo aqui (e fazia no escritório também, eu tinha uma gaveta só de folhas de papel pra reciclar): se tenho que imprimir uma coisa que 1) não é importante, 2) vai ser enviada por fax e depois arquivada, ou 3) vou jogar fora logo depois, como por exemplo o horário do cinema que eu baixo da internet, não vou imprimir a cores com qualidade máxima de impressão numa folha em branco. Pego uma folha da nossa gaveta de recicláveis, ou seja, de folhas já usadas uma vez, com só um dos lados impresso, e imprimo o horário na face em branco.

Não deixo a torneira aberta enquanto escovo os dentes.

No inverno sinto frio demais e não consigo, mas no verão desligo a água enquanto estou me ensaboando, ou lavando a cabeça, ou desembaraçando a juba.

Programo meu itinerário antes de sair de casa pra rodar o menos possível e assim economizar gasolina e poluir menos de uma vez só. No verão, só ando a pé ou de bicicleta.

As sobras de pão e cascas de legumes aqui de casa vão quase sempre pra Arianna, que mistura na ração das galinhas.

Só ligo a máquina de lavar roupas e o ferro de passar à noite, quando a tarifa é mais baixa e o consumo geral da galera é menor; assim sobrecarrego menos o sistema, além de economizar.

Se deixo uma camisa de molho na água com sabão, uso essa água depois pra lavar o banheiro.

A água de cozimento de qualquer verdura ou legume depois é usada pra uma sopa, ensopadinho, risoto, ou até mesmo a junto à água do macarrão, pra não desperdiçar as poucas vitaminas queimadinhas que ficaram.

As sacolas de compras de plástico não são de graça nos supermercados italianos. Então peguei a mania de ter sempre algumas sacolas dentro do carro, dobradinhas em forma de esfiha, como a Hunka me ensinou há muuuitos anos. Assim economizo os 3 centavos por sacola, produzo menos lixo plástico e entulho menos a minha casa, que já estava virando um deposito de sacolas.

Ando fazendo uma intensa campanha anti-fumaça com a Arianna, que como toda boa camponesa tem mania de queimar tudo: folhas, lixo, papel.

Uso o timer da TV pra não correr o risco de dormir com ela ligada.

JAMAIS, em nenhuma condição, jogo chiclete no chão.

Eu me acho bem ecológica. Ou não?