San Gimignano

Background histórico

San Gimignano fica no alto de uma colina (334 metros), a 56 km ao sul de Florença e a uma hora de Siena, dominando o vale do rio Elsa com suas torres. O nome da cidade vem do Bispo de Modena, San Gimignano, que, dizem, salvou a vila das hordas bárbaras. Já foi uma pequena vila etrusca (200 – 300 a.C.), mas sua vida como cidade propriamente dita começou mesmo no século XX, quando o Bispo de Volterra deu autorização para abrir um mercado semanal. A cidade enriqueceu e se desenvolveu bastante durante a Idade Média graças à via Francigena, uma rota de peregrinação e comércio que passava exatamente ali e ligava a principal estrada entre Roma e os Alpes e a estrada que ligava o coração da Toscana à república marítima de Pisa e à costa oeste do que hoje é a Itália. Sinais dessa prosperidade são as igrejas e monastérios ricamente adornados. No ano de 998 os habitantes começaram a construir os primeiros muros. A proteção oferecida pelos muros começou a atrair tanto camponeses quanto a nobreza feudal, e a cidade foi ficando mais importante, apesar das lutas de poder entre o Bispo de Volterra, que representava o poder da Igreja, contra a nobreza feudal e mais tarde contra o Conselho Municipal, que obviamente eram contra o bedelho da Igreja na política e na economia e apoiavam o Sacro Imperador Romano. Devido a lutas internas pelo poder, a cidade acabou dividindo-se em duas facções, uma liderada pela família Ardinghelli (Guelfos) e outra pela família Salvucci (Ghibellinos). No final das contas o Bispo levou a melhor. Em 1199 San Gimignano tornou-se um município livre, mas teve que jurar lealdade ao tal bispo, tendo que lugar contra os Bispos de Volterra e das cidades em torno. Dois anos depois, foi construído o segundo anel de muros. O tal bispo era um ótimo administrador, oferecendo incentivos a quem construia suas casas e lojas na parte de dentro da cidade murada. Claro que, quanto mais segura (leia-se murada) uma cidade, mais as pessoas se interessavam em ir viver e trabalhar lá, e os mercadores logo logo aproveitaram, também porque San Gimignano era o maior produtor italiano de açafrão, planta que cresce às margens do rio Elsa. Exportavam até para a Holanda.

Mas o século XIII não foi nada pacífico e San Gimignano mudou de mão algumas vezes (em 1250 os Florentinos destruíram as muralhas para que a cidade atraísse menos os Pisanos. Os Seneses as reconstruíram em 1261), mas isso não impediu a construção das torres das famílias patrícias, que controlavam a cidade. A construção das torres já havia começado desde o século XI. Um decreto dizia que ninguém tinha autorização para construir uma torre mais alta do que a torre do Comune, e por isso as famílias mais ricas decidiram partir pra quantidade, contruindo torres gêmeas. Já foram 72 as casas-torres, de até 50 metros de altura. Hoje são só 14. A arquitetura da cidade monstra influências misturadas dos estilos de Pisa, Siena e Florença, até porque uma lei determinava a altura e a largura máximas de casas e lojas, e pra se diferenciar dos vizinhos, já que as medidas eram as mesmas, o pessoal começou a botar a mão na massa em termos de criatividade.

Em maio de 1300 Dante Alighieri visitou San Gimignano como Embaixador da Liga Guelfa na Toscana (Dante era danado, adoro ele). Em 1348 rolou aquela peste negra braba na Europa e a população de S. Gimignano também foi reduzida drasticamente, em cerca 75% – sobraram umas 7000 pessoas, o mesmo número de habitantes de hoje. A cidade entrou em crise e em 1353 teve que se submeter à poderosa Florença.

Quando começou o salto econômico que transformou a Itália em uma das maiores potências econômicas mundiais, as estradas da Via Francigena que passavam por ali perderam importância para outras estradas que passavam por outros vales, e San Gimignano ficou, felizmente, isolada dos grandes centros industriais que pululavam ao longo das ferrovias, láaaaa embaixo. Hoje há gente tentando reviver os grandes tempos do açafrão, mas o produto mais famoso de S. Gimignano é a vernaccia, um vinho branco (que eu infelizmente não consegui provar) que dizem que é maravilhoso, e lendas contam que suas uvas foram introduzidas pelos etruscos. Pela sua importância histórica, foi o primeiro vinho italiano a ganhar o selo DOC (denominazione di origine controllata, um selo de qualidade).

24 de junho

Mirco saiu cedo, às 6:30. Eu fiquei meio lendo, meio dormindo, reacordando, até umas nove da manhã. Fui a pé até a cidade, que a gente mal tinha visto no primeiro dia, eu e as babás. Entrei pelo piazzale dei Martiri di Montemaggio, que está em obras. Ali fica a porta principal, a Porta San Giovanni, construída pelos seneses em 1261.

Segui pela Via San Giovanni, onde almoçamos no primeiro dia, passei pelo Arco dei Becci e fui cair na Piazza della Cisterna (a foto tá lá no segundo dia da viagem). Fiquei lá bundeando, depois fui dar uma olhada na fortaleza, que no verão vira teatro a céu aberto. A vista lá de cima é estupenda; as torres mais altas ficam ali pertinho, mas paga-se pra entrar.

Eu queria subir na Torre Grossa (grosso em italiano quer dizer grande, em todas as dimensões, e não só grosso em termos de espessura ou diâmetro) mas tive um ataque de pão-durismo e resolvi deixar pra outra vez. Pelo mesmo motivo não entrei no Duomo. Tem cabimento igreja cobrar pra entrar? Pode ter as obras de arte mais lindas do mundo, mas um templo é um templo, pombas! Fiquei tão irritada quando vi que tinha que pagar o ingresso que fui bater perna, entrar em lojas, visitar oficinas de artesanato, comprar cartão-postal.

Dali a pouco a mala do Leo ligou, dizendo que já tinha chegado. Fui encontrá-lo na porta principal, depois voltamos à Piazza della Cisterna, onde tava rolando o mercado semanal. Leo comprou galinha-d’angola (faraona) assada e pimentões grelhados pra levar pra casa, e fomos procurar um internet café. Fizemos o que tinha que fazer e ele foi embora. A essa altura já eram umas 3 da tarde e eu fui almoçar sorvete de maracujá na piazza del Duomo, embaixo de uns arcos, na sombra. Fiquei batendo papo com uns padovanos que estavam ali tomando sorvete, depois ataquei High Fidelity (Nick Hornby, uma das coisas mais legais que eu já li na minha vida) e de repente começou um burburinho ali na praça. Era dia de casamento e um noivo muito nervoso, DE GRAVATA IMPERDOAVELMENTE COR-DE-ROSA, passeava pra lá e pra cá, tirava fotos, era cumprimentado pelos amigos. Um casal recém-casado saiu da igreja; a noiva era uma morena bonita com um vestido super simples, o noivo também era bonitão. Até que chegou a noiva do cara da gravata rosa. Chegou num carro antigo, como vocês podem ver, e o vestido dela dava até medo de tão feio: meio saia, meio calça transparente, blusa transparente cheia de botões e com um colarinho imenso, uma coisa horrorosa. Como o cara também não era lá essas coisas, ficou tudo ótimo.

Uma menina pequenininha mas com cara de esperta, no colo do pai, ao meu lado, repetia “eu quero ver a noiva!”, enquanto a mãe explicava que aquela ali de branco era a noiva – claro que a garota não entendia, só repetia o que os outros diziam em torno dela. Achei tão engraçado que puxei papo. Quantos anos você tem? Ela estendeu três dedinhos e me disse, toda séria: mas a Ilaria tem 8. A mãe explicou que Ilaria era uma prima dela. A família era de Genova, muito simpática, e depois de tirar umas fotos dos noivos, foram embora continuar o tour.

Mais tarde o Leo ligou de novo, estava na cidade. A Mulher do Salame tinha pedido pra ele vir buscar as mil sacolas de compras, e eu fui com ele deixá-las na villa. Depois fomos levar os adultos a um restaurante no centro e ficamos esperando na pizzaria do Francesco. Levamos os Salames pra casa e fomos dormir.

San Gimignano

Background histórico

San Gimignano fica no alto de uma colina (334 metros), a 56 km ao sul de Florença e a uma hora de Siena, dominando o vale do rio Elsa com suas torres. O nome da cidade vem do Bispo de Modena, San Gimignano, que, dizem, salvou a vila das hordas bárbaras. Já foi uma pequena vila etrusca (200 – 300 a.C.), mas sua vida como cidade propriamente dita começou mesmo no século XX, quando o Bispo de Volterra deu autorização para abrir um mercado semanal. A cidade enriqueceu e se desenvolveu bastante durante a Idade Média graças à via Francigena, uma rota de peregrinação e comércio que passava exatamente ali e ligava a principal estrada entre Roma e os Alpes e a estrada que ligava o coração da Toscana à república marítima de Pisa e à costa oeste do que hoje é a Itália. Sinais dessa prosperidade são as igrejas e monastérios ricamente adornados. No ano de 998 os habitantes começaram a construir os primeiros muros. A proteção oferecida pelos muros começou a atrair tanto camponeses quanto a nobreza feudal, e a cidade foi ficando mais importante, apesar das lutas de poder entre o Bispo de Volterra, que representava o poder da Igreja, contra a nobreza feudal e mais tarde contra o Conselho Municipal, que obviamente eram contra o bedelho da Igreja na política e na economia e apoiavam o Sacro Imperador Romano. Devido a lutas internas pelo poder, a cidade acabou dividindo-se em duas facções, uma liderada pela família Ardinghelli (Guelfos) e outra pela família Salvucci (Ghibellinos). No final das contas o Bispo levou a melhor. Em 1199 San Gimignano tornou-se um município livre, mas teve que jurar lealdade ao tal bispo, tendo que lugar contra os Bispos de Volterra e das cidades em torno. Dois anos depois, foi construído o segundo anel de muros. O tal bispo era um ótimo administrador, oferecendo incentivos a quem construia suas casas e lojas na parte de dentro da cidade murada. Claro que, quanto mais segura (leia-se murada) uma cidade, mais as pessoas se interessavam em ir viver e trabalhar lá, e os mercadores logo logo aproveitaram, também porque San Gimignano era o maior produtor italiano de açafrão, planta que cresce às margens do rio Elsa. Exportavam até para a Holanda.

Mas o século XIII não foi nada pacífico e San Gimignano mudou de mão algumas vezes (em 1250 os Florentinos destruíram as muralhas para que a cidade atraísse menos os Pisanos. Os Seneses as reconstruíram em 1261), mas isso não impediu a construção das torres das famílias patrícias, que controlavam a cidade. A construção das torres já havia começado desde o século XI. Um decreto dizia que ninguém tinha autorização para construir uma torre mais alta do que a torre do Comune, e por isso as famílias mais ricas decidiram partir pra quantidade, contruindo torres gêmeas. Já foram 72 as casas-torres, de até 50 metros de altura. Hoje são só 14. A arquitetura da cidade monstra influências misturadas dos estilos de Pisa, Siena e Florença, até porque uma lei determinava a altura e a largura máximas de casas e lojas, e pra se diferenciar dos vizinhos, já que as medidas eram as mesmas, o pessoal começou a botar a mão na massa em termos de criatividade.

Em maio de 1300 Dante Alighieri visitou San Gimignano como Embaixador da Liga Guelfa na Toscana (Dante era danado, adoro ele). Em 1348 rolou aquela peste negra braba na Europa e a população de S. Gimignano também foi reduzida drasticamente, em cerca 75% – sobraram umas 7000 pessoas, o mesmo número de habitantes de hoje. A cidade entrou em crise e em 1353 teve que se submeter à poderosa Florença.

Quando começou o salto econômico que transformou a Itália em uma das maiores potências econômicas mundiais, as estradas da Via Francigena que passavam por ali perderam importância para outras estradas que passavam por outros vales, e San Gimignano ficou, felizmente, isolada dos grandes centros industriais que pululavam ao longo das ferrovias, láaaaa embaixo. Hoje há gente tentando reviver os grandes tempos do açafrão, mas o produto mais famoso de S. Gimignano é a vernaccia, um vinho branco (que eu infelizmente não consegui provar) que dizem que é maravilhoso, e lendas contam que suas uvas foram introduzidas pelos etruscos. Pela sua importância histórica, foi o primeiro vinho italiano a ganhar o selo DOC (denominazione di origine controllata, um selo de qualidade).

24 de junho

Mirco saiu cedo, às 6:30. Eu fiquei meio lendo, meio dormindo, reacordando, até umas nove da manhã. Fui a pé até a cidade, que a gente mal tinha visto no primeiro dia, eu e as babás. Entrei pelo piazzale dei Martiri di Montemaggio, que está em obras. Ali fica a porta principal, a Porta San Giovanni, construída pelos seneses em 1261.

Segui pela Via San Giovanni, onde almoçamos no primeiro dia, passei pelo Arco dei Becci e fui cair na Piazza della Cisterna (a foto tá lá no segundo dia da viagem). Fiquei lá bundeando, depois fui dar uma olhada na fortaleza, que no verão vira teatro a céu aberto. A vista lá de cima é estupenda; as torres mais altas ficam ali pertinho, mas paga-se pra entrar.

Eu queria subir na Torre Grossa (grosso em italiano quer dizer grande, em todas as dimensões, e não só grosso em termos de espessura ou diâmetro) mas tive um ataque de pão-durismo e resolvi deixar pra outra vez. Pelo mesmo motivo não entrei no Duomo. Tem cabimento igreja cobrar pra entrar? Pode ter as obras de arte mais lindas do mundo, mas um templo é um templo, pombas! Fiquei tão irritada quando vi que tinha que pagar o ingresso que fui bater perna, entrar em lojas, visitar oficinas de artesanato, comprar cartão-postal.

Dali a pouco a mala do Leo ligou, dizendo que já tinha chegado. Fui encontrá-lo na porta principal, depois voltamos à Piazza della Cisterna, onde tava rolando o mercado semanal. Leo comprou galinha-d’angola (faraona) assada e pimentões grelhados pra levar pra casa, e fomos procurar um internet café. Fizemos o que tinha que fazer e ele foi embora. A essa altura já eram umas 3 da tarde e eu fui almoçar sorvete de maracujá na piazza del Duomo, embaixo de uns arcos, na sombra. Fiquei batendo papo com uns padovanos que estavam ali tomando sorvete, depois ataquei High Fidelity (Nick Hornby, uma das coisas mais legais que eu já li na minha vida) e de repente começou um burburinho ali na praça. Era dia de casamento e um noivo muito nervoso, DE GRAVATA IMPERDOAVELMENTE COR-DE-ROSA, passeava pra lá e pra cá, tirava fotos, era cumprimentado pelos amigos. Um casal recém-casado saiu da igreja; a noiva era uma morena bonita com um vestido super simples, o noivo também era bonitão. Até que chegou a noiva do cara da gravata rosa. Chegou num carro antigo, como vocês podem ver, e o vestido dela dava até medo de tão feio: meio saia, meio calça transparente, blusa transparente cheia de botões e com um colarinho imenso, uma coisa horrorosa. Como o cara também não era lá essas coisas, ficou tudo ótimo.

Uma menina pequenininha mas com cara de esperta, no colo do pai, ao meu lado, repetia “eu quero ver a noiva!”, enquanto a mãe explicava que aquela ali de branco era a noiva – claro que a garota não entendia, só repetia o que os outros diziam em torno dela. Achei tão engraçado que puxei papo. Quantos anos você tem? Ela estendeu três dedinhos e me disse, toda séria: mas a Ilaria tem 8. A mãe explicou que Ilaria era uma prima dela. A família era de Genova, muito simpática, e depois de tirar umas fotos dos noivos, foram embora continuar o tour.

Mais tarde o Leo ligou de novo, estava na cidade. A Mulher do Salame tinha pedido pra ele vir buscar as mil sacolas de compras, e eu fui com ele deixá-las na villa. Depois fomos levar os adultos a um restaurante no centro e ficamos esperando na pizzaria do Francesco. Levamos os Salames pra casa e fomos dormir.