Às onze da manhã passamos na villa pra pegar a família. Leo chegou às onze e meia e fomos direto a uma praia chamada Lido di Giannella (Giannella é uma das duas restingas que ligam o Monte Argentario ao continente). É uma praia mais ou menos particular, teoricamente pertencente ao hotel de mesmo nome, mas o Leo deu um jeito e eles ficaram lá debaixo do guarda-sol e estirados nas espreguiçadeiras tudo a pagamento, obviamente. Eu fiquei no ônibus lendo Andrea Camilleri enquanto o Paolo foi almoçar no restaurante em frente à praia. Foi ficando tarde e eu fui ao restaurante também, ver se os Salames já tinham acabado de comer e queriam ir embora, mas quem disse que alguém conseguia mandar as crianças pra casa depois do macarrão com manteiga nosso de cada dia? Tinham todos voltado pra areia depois do almoço, e eu acabei ficando por ali mesmo. E foi aí que conheci o Ulisse, dono do restaurante Da Ulisse (muito criativo. Strada Provinciale Giannella, km 3 Albinia (GR). 0564.820214. Especialidade: frutos do mar grelhados). O cara é uma figuraça, cabelo tipo black power, camisa pólo amarelo-ovo, shorts brancos, ritmo lento, voz idem. Não sei de onde ele é, provavelmente de Roma, decididamente não toscano. Vi uns artigos de jornal emoldurados na parede e não consegui entender de onde eram, até que ele veio explicar: ele tem um restaurante em Cuba e outro em Brisbane, Austrália, que aparentemente faz muito sucesso. Ulisse adora viajar e vai ao Brasil todo ano. Praticamente me obrigou a provar o vino della casa, que ele mesmo produz, e é realmente ótimo. Ficou pau da vida porque eu não tinha almoçado, e não dava mais tempo porque os Salames já tavam saindo da areia. Mas deixou o cartão de visitas com a foto dele no fundo, em cinza, que infelizmente não vai dar pra ver direito se eu escanear, porque é uma comédia. Despedimo-nos e picamos a mula.
Deixamos os Salames na villa e fomos pra casa. Tomei banho e fiquei batendo papo com a senhora Teresa, que costura pra fora e consertou minha saia preta que tinha descosturado na lateral direita. Lá pras sete da noite eu e Paolo fomos de microônibus até a villa levá-los pra jantar fora. Leo queria levá-los ao chiquérrimo restaurante do Pellicano, mas falamos com o maître pelo telefone e ele se recusou terminantemente a aceitar crianças menores de 12 anos (o Leo tinha mentido pra ele antes, dizendo que todas as 7 crianças estavam na faixa dos 12. Na verdade só duas estavam.), a cozinhar peito de frango pra elas, e principalmente a fazer macarrão com manteiga pra eles. Aliás, quase desligou na minha cara quando eu falei, suspirando adequadamente, que as crianças estavam comendo macarrão com manteiga há 11 dias. Bom, então, Leo arranjou esse outro restaurante chamado La Sirena (ou A Sereia. Viale Caravaggio, 87/89. 0564.835032), de frente pra praia, e lá fomos nós. Eu fui num outro carro, porque era o aniversário de uma das Salaminhas e tinham comprado uma torta surpresa, que eu levei escondida até o restaurante e entreguei na cozinha, pra ser servida de sobremesa. Eu e Paolo, irritadíssimos com o Leo, comemos lá mesmo e botamos na conta dele. Menu: risoto de camarão com curry, rana pescatrice (é um peixe feio pra burro) no forno com batatas, um vinho branco de Avellino, cidade que fica perto de Napoli, e de sobremesa sorvete de nozes feito por eles mesmos. Tudo delicioso, impecável, o serviço ótimo; os proprietários, super simpáticos, vieram nos dizer que também têm um outro restaurante ali perto, especializado em carnes (La Locanda del Caravaggio Via San Paolo della Croce, 6. Porto Ercole (GR). 0564.833078. Pertinho da colina dos javalis).
Felizes da vida com a barriga cheia, deixamos a família na villa e fomos dormir.