Hoje saí de casa mais cedo ainda, e cheguei à Motorizzazione às sete e cinco, mais ou menos. Sete carros na minha frente, todos de auto-escolas (depois fiquei sabendo que o primeiro da fila chegou à meia-noite). Fiquei sentadinha ouvindo rádio dentro do carro, até que alguém começou a clássica distribuição de papeizinhos numerados. Saí do carro e, embora não estivesse muito a fim de papear, acabei fazendo vários amigos entre os veteranos de auto-escola que frequentam há anos os modorrentos escritórios da Motorizzazione. Um deles, Giancarlo, que conhecia (e sacaneava) todo mundo, resolveu ficar meu amigo e não parou de contar piada e fofocar no meu ouvido a manhã inteira.
De repente vemos um carrinho azul-metálico passar direto por todos nós na fila e parar em frente ao portão. Mais tarde, depois de abertos os portões do estacionamento, vimos que o motorista do tal carrinho era um velhinho sem pescoço, com carinha de tartaruga, enfiado numa camisa pólo verde-musgo mais jabuti, impossível. Pois não é que o jabuti se meteu na frente de todo mundo na maior cara-de-pau? Eu cutucando o ombro dele, outros dois puxando-o pelos braços, o senhor é aposentado, tem tempo pra perder na fila, chega depois de todo mundo e quer passar na frente? Tá doido? O velhinho esperneava, se irritava, discutia, eu puta da vida, até que alguém viu que o documento que ele tinha na mão, e que segundo ele só precisava de um carimbo, não poderia ser carimbado porque faltava um bollo (aqui tudo funciona à base do bollo, que nada mais é do que um selo, que pode ter valores diferentes, que eu acho que substitui, até um certo ponto, o pagamento de taxas. Qualquer tabaccheria vende bollo, então você não tem que ficar na fila do banco pra pagar um imposto e depois ainda perder tempo levando comprovante pra lá e pra cá: basta colar o bollo no documento e pronto). Quando a mulherzinha do balcão foi explicar isso pro jabuti, caiu um silêncio sepulcral na sala: todo mundo querendo ouvir o jabuti se foder e voltar pra casa de mãos abanando. E quando ele foi embora ainda teve direito a vaias. Dei muita risada, e felizmente consegui resolver o que eu tinha que resolver. Agora só tenho que esperar um mês pra pegar o maldito foglio rosa, o que significa o final do mês de agosto, já que na semana de Ferragosto (dia 15) os escritórios públicos (e o resto do país inteiro também) não funcionam.