Lendo o último post da Mary, mais precisamente a expressão “experiências geracionais”, lembrei de uma coisa que aconteceu ontem e de outra que aconteceu hoje.
Ontem fomos jantar frutos do mar com Fabião e FeRnanda. Eu e ela engatamos numa conversa sobre escola, faculdade, cola, prova, seminário, DP, professor filho da puta, e os meninos ficaram putos porque os deixamos sozinhos enquanto fofocávamos. Mas essas coisas em comum, esse passado em comum, por mais que a minha vida tenha sido diferente da da FeRnanda (porque ela é do interior e porque a família dela é muito diferente da minha), dão uma sensação de segurança muito grande. Os valores básicos são os mesmos, entendemos sem problemas o que a outra está pensando ou o que acha disso ou daquilo. Esse tipo de intimidade, de compreensão automática, é difícil de atingir num relacionamento internacional. Eu não tenho NADA em comum com o Mirco, em termos de infância. Pra vocês terem uma idéia, o único desenho animado que temos em comum nos nossos passados é Os Smurfs, que vimos hoje de manhã, tomando café. Só que aqui se chamam Puffi, o Gargamel tem outro nome que eu esqueci, o gato aqui é uma gata e se chama Birba (não lembro o nome em Português). Não temos mais NADA em comum. Nossas infâncias foram completamente diferentes. Os modelos de escola são completamente diferentes; ele não entende as nossas técnicas de cola porque aqui as provas são todas orais, e eu não entendo o nervoso antes de uma prova oral com a turma inteira e os parentes assistindo porque não temos nada disso no Brasil. Não há vestibular e quase ninguém faz faculdade. Eles não têm festa de formatura, as festas de casamento são chatíssimas, não há festa de 15 anos. Os adolescentes italianos vão à praia em Rimini no verão, viram a noite em discotecas e voltam pra casa dirigindo numa boa, mesmo que tenham acabado de tirar a carteira. As crianças não têm o habito de ir dormir na casa dos amiguinhos. Ninguém vai pros EUA em intercâmbio pra estudar Inglês. Aliás, ninguém estuda nada. Ninguém tem TV a cabo e séries da Sony não são conhecidas aqui. Ninguém nunca viu Curtindo a Vida Adoidado nem A Noviça Rebelde.
Assim fica muito mais difícil ter uma conversa engraçada. Private jokes são coisas raras. Eu e Mirco rimos muito juntos porque eu, modéstia à parte, sou engraçada pra cacete, e ele também adora um besteirol, mas se fôssemos um pouquinho mais normais não haveria nada de engraçado pra comentar. Dificilmente ele acha graça das minhas histórias de infância (e vice-versa), porque os referenciais são totalmente diferentes. Esse abismo pode ser muito estimulante, na maior parte do tempo, mas às vezes é muito, muito cansativo.