31.05.06

Quarta-feira está rapidamente se tornando o pior dia da semana, à medida em que se aproxima o fim da temporada de Cascia. A tarde é completamente cheia, sem tempo nem pra fazer xixi, e ainda por cima à noite não tem NADA pra ver na televisão.

E a festa da primavera continua.

Postado por leticia em 22:01

19.05.06

superpescheria

Descobrimos uma peixaria em Bastiola que é um show. Tudo congelado, mas congelado de um jeito esquisito, tipo supercongelado: como em A Lamb to the Slaughter do Roald Dahl, uma paulada na cabeça com um pedaço de bacalhau congelado é trauma craniano letal na certa, porque os bichos ficam mais duros que pedra. Os camarõezinhos todos congelados um a um, parecendo balinhas de jujuba que você pega com a pazinha de plástico e bota no saco. Uma variedade de coisas impressionante! Dá vontade de sair comprando tudo, desde as combinações de frutos do mar pra fazer macarrão, risoto e antipasto até os peixes em filé pra fazer no forno com batata e alecrim. Acabamos comprando camarão e mexilhões com aspargos e umas lulas pra rechear. Diliça!

E jantamos na casa da FeRnanda, pra mamãe conhecer Ripa na chulipa. Ficou encantada, porque Ripa é uma fofura mesmo.

Postado por leticia em 22:39

16.05.06

bosta

Fiz uma boa prova de sociologia hoje. Pena que provavelmente não vou aproveitar pra nada, visto que provavelmente vou ter que desistir de tudo e recomeçar ano que vem por causa dos problemas burocráticos de sempre. À tarde dei a aula mais chata do mundo, pro aluno mais chato e burro do mundo. Pra comemorar o dia legal, jantamos na nossa pizzaria preferida, que pela primeira vez nos decepcionou. Simplesmente esqueceram de pôr topping na metade da minha pizza. Legal.

Postado por leticia em 22:26

06.05.06

sabadão lento

Passei o dia inteeeeeeiro em casa mofando. Adoro sábados assim. Não saí nem pra correr porque ontem acho que não me aqueci direito e algum músculo interno da bacia tava doendo. Fiquei me divertindo montando cozinhas com o Kitchen Planner da IKEA, estudei um pouco de Teorie e Tecniche di Comunicazione di Massa, vi algumas porcarias na televisão. Nem precisei me preocupar com o almoço, porque ainda tinha molho de ganso congelado do almoço de primeiro de maio. Dormimos a tarde inteira, jantamos piadina em casa mesmo e fomos dormir vendo X-Men 2 no DVD. Ócio total. Amo.

Postado por leticia em 23:48

03.05.06

aaaaaaah diliça!

Como é bom andar de bicicleta quando o tempo está legal! O sol já queima a pele, mas um bom filtro solar resolve; de qualquer modo, o ar ainda é fresco o suficiente pra permitir que você chegue ao destino sem estar toda suada. Tudo bem que eu não suo quase nada, mas com a temperatura mais amena eu não fico nem vermelhona.

Escolhi a estrada mais longa pra chegar aos correios. Toda a cidade cheira a jasmim. Os choupos já estão soprando no ar suas bolinhas de paina, e parece que está nevando. O riacho que corta Bastia está verdinho e calmo, e as patinhas e as cisnas ficam dando voltas com seus filhotinhos na água calma como piscina, ali onde os velhinhos vão pescar. As andorinhas passeiam pelos céus fazendo escândalo (aqui diz-se que uma andorinha não faz primavera...).

Ainda consegui a proeza de almoçar em casa. Fiz filé de merluzo cozido no vinho branco com alho e alecrim, acompanhado de pirê de batata e salada. Cosa vuoi più dalla vita? Un amaro Lucanoooooooooo…

Postado por leticia em 14:32

30.04.06

domingão

Queríamos ir à IKEA pra namorar as cozinhas, mas como minha mãe está vindo pra cá e nunca foi à IKEA, resolvemos deixar pra ir com ela. Então levantamos tarde e nem tomamos café.

Chegamos na Arianna pro almoço cheios de amor pra dar, mas em vez da tradicional pasta fatta in casa almoçamos os restos da lasagna que eles jantaram ontem e um prato de minestra (sopa de massinha), porque estavam todos ocupadíssimos preparando o cordeiro pro almoço de amanhã.

Pra compensar, fomos jantar no Terziere, aquele em Trevi, com Marco e Michela. Repetimos o risoto com queijo cremoso e trufas da outra vez, delicioso. Nem pedimos o secondo porque a porção é bem abundante.

E acabou o domingo.

Postado por leticia em 22:39

25.04.06

festa della liberazione

Adoro feriado no meio da semana, mesmo sem viagem. Terminei La Concessione del Telefono, do Camilleri, enquanto o Mirco roncava no sofá; comecei The Cement Garden, que è bem interessante, e mais tarde fomos pra Arianna. Ainda tava cedo, então fomos dar uma volta com Leguinho e Demo, ainda macios e brilhantes do banho de domingo. Um mormaço chato que cegava a gente, mas pelo menos não tava nem frio nem muito calor. Almoçamos tagliatelle fatte in casa com prosciutto crudo e aspargos, pra variar do molho de tomate, e como o papo com o Ettore tava começando a nos irritar, saímos correndo pra casa. Passamos na locadora pra pegar Ice Age, que não tínhamos visto, Mirco dormiu no meio, terminei de ver o filme, fui ler, lá pras seis ele acordou, terminou de ver o filme, jantamos carne assada com farofa e batata e fomos pro cinema ver Ice Age 2 que é muito engraçado. A dublagem não é ruim, tenho que admitir; a dubladora da mamuta é a mesma da peixinha maluca de Nemo, e a mulher é muito foda. E depois casa e caminha, que amanhã se recomeça.

Postado por leticia em 23:09

23.04.06

domingão

Domingo bobo. Acordei cedo, fui correr, tomei banho e fui estudar sociologia pra prova escrita de segunda-feira. Mirco só foi acordar depois do meio-dia e fomos pra Arianna almoçar. Primeiro almoço a céu aberto do ano, obá! Lasagna, costeletas de cordeiro na churrasqueira e batatas assadas. Aproveitamos pra lavar os cachorros, que estavam fedendo feito cabritos.

Arianna me deu um vasinho de manjericão e um de aipo. Em casa transplantei o aipo pra um vaso maior, pra ele poder crescer direito, e deixei-o na varanda da sala, que pega o sol da manhã e onde ficam os outros vasos de temperos e os dois vasões de cravos. Botei o manjericão, que precisa de muito sol, na varanda do quarto, pra pegar o sol forte da tarde. Arrumei melhor as outras plantas, todas gordas; são menos carentes e precisam de menos manutenção. Tirei fotos pra ir acompanhando o crescimento. É engraçado, mas eu acho todas tão bonitinhas que toda hora vou lá na varanda ver :)

Postado por leticia em 15:19

21.04.06

ensaboa, mulata

Arrumamos uma faxineira.

Mirco se assustou muito com a minha última crise de enxaqueca, porque cheguei a meio que delirar de tanta dor. Ele acha, em parte com razão, que as crises vêm quando estou estressada e/ou cansada demais, então resolveu chamar alguém pra limpar a casa. É uma romena chamada Monica, muito esperta e com um italiano perfeito. Mora aqui perto, com um motorista de caminhão, também romeno, que trabalha com o pai e o irmão do Dejan, aquele menino sérvio que trabalha pro Mirco. A empresa de transporte onde eles todos trabalham é cliente do Mirco, por sinal; aqui é tudo assim, todo mundo conhece todo mundo, e quando aparece cliente novo, antes de aceitar o serviço, o Mirco sai ligando pra cima e pra baixo pra saber quem é fulano, se paga direito, se é picareta e coisa e tal. Enfim, a garota então é de confiança, e já tinha ido fazer faxina na oficina e o Mirco deu o OK. Quando era pequeno, ele vivia na oficina do Ettore, e, enquanto não podia trabalhar direito porque era pequeno demais, fazia a limpeza, então é sempre ele que dá o OK pra eventuais faxineiros, e ser limpo é condição fundamental pra contratação de qualquer operário. Dado o OK pra Monica, lá veio ela. Quando chegou eu tinha acabado de voltar da corrida, estava toda descabelada e com o rosto vermelho (eu praticamente não suo, só vasodilato). Mostrei onde estavam todos os produtos de limpeza e deixei-a cuidando dos banheiros enquanto fui de bici aos correios pegar o pacote que meu pai tinha me mandado (os CDs novos da Marisa Monte). Aproveitei pra ir ao contador também, deixar meus contra-cheques e tirar umas dúvidas, e quando cheguei em casa a Monica já tinha quase terminado a zona notte (quartos e banheiros) e tava passando pra sala e pra cozinha. Ficamos batendo papo, ela limpando a cozinha e eu plantando mais duas piante grasse na varanda, até meio-dia, quando ela foi embora e eu fui tomar banho e almoçar pra ir pro trabalho.

Nem acredito que a casa está um brinco e eu não precisei mover uma palha. Fazer faxina nesse apartamento estúpido, mal dividido e mal decorado está ficando mais difícil a cada dia que passa, não tenho mais paciência mesmo, então é bom ter alguém pra ajudar. Faxina feita hoje significa sábado de manhã livre, o que cai como uma luva, visto que tenho que ir à Marini Edilizia escolher azulejos e piso frio pra casa nova. Também precisaria estudar, porque segunda-feira tem prova de sociologia, mas enfim...

Postado por leticia em 21:34

20.04.06

as lesmas

Que diliça ir correr de manhã cedo, quando o ar é fresco e o sol não queima, ouvindo Sugababes e Elvis e The Pretenders no mp3 player!

Já falei aqui que tem épocas em que a gente vê um porco-espinho morto atropelado a cada metro que faz. Parece que agora estamos no período das lesmas. O asfalto está coberto de manchas escuras, cada uma correspondendo a uma lesma esmagada. Tadinhas; corro olhando pro chão pra não pisar em nenhuma, mas são tantas! Lesmas ou minhocas, não sei direito, porque são meio rosadas mas não têm aquele movimento típico das minhocas, sei lá. Que diferença pode fazer pra uma minhoca estar num campo de trigo aqui ou num campo de trigo do outro lado da estrada, não sei dizer. Mas deve valer muito a pena, a julgar pela quantidade de tentativas...

Postado por leticia em 22:22

16.04.06

domenica di pasqua

E hoje foi o dia de morgar.

Eu acordei cedo, como sempre, e terminei Life & Times de Michael K, que é meio angustiante mas é bonito. Comecei Cose di Cosa Nostra, de Giovanni Falcone (aquele juiz famoso que foi morto em um atentado, já falei dele aqui). Mirco levantou ao meio-dia e quarenta, porque eu fui acordá-lo. Perdemos assim o café da manhã de Páscoa na tia do Mirco, que aqui tradicionalmente tem torta de Páscoa (tipo um pão com queijo na massa, delicioso), salames (no caso deles, feito em casa), ovos cozidos e outras coisitas mais. Mas fomos diretamente pro almoço, sempre na casa da tia, e o menu foi aquele de sempre: stracciatella (ovo batido com parmesão e jogado diretamente no caldo de frango pra cozinhar rapidinho, ficam tipo uns gruminhos de ovo com queijo deliciosos), que eu amo, e cordeiro, que normalmente é na brasa mas não sei por que dessa vez resolveram fazer à milanesa. Eram costeletas, e de acompanhamento alcachofras fritas. Eu fiquei só na stracciatella mesmo, porque acho carneiro, sobretudo costeleta, complicado demais pra comer, tem que ficar separando gordura e coisa e tal. Frito, então, tô fora.

Voltamos pra casa e enquanto o Mirco chapou no sofá fui adiante com o livro do Falcone. Me deu dor nas costas, fiz uma hora de step vendo o DVD de X-Men 2, tomei banho, voltei a ler, e às oito acordei o Mirco. Fomos direto pra casa da tia jantar – dessa vez tinha galo castrado cozido, que fica difícil de engolir sem uma batatinha ou um arrozinho, então passei uma certa fome, no problem. Voltamos pra casa cedo e chapamos como se não tivéssemos ido dormir cedíssimo ontem.

Aliás: ontem à noite fomos à missa de Páscoa na Basílica de Santa Maria, porque era o batizado do filho do Marco e da Michela. Só que nem eu nem Mirco entendemos nada dessas coisas e esquecemos que a igreja devia estar entupida e não conseguiríamos nem ver a cara do pimpolho. Dito e feito. Primeiro que chegamos à igreja e estava tudo às escuras. O que diabos estará acontecendo, nos perguntamos. Resolvemos perambular um pouquinho pra ver se alguém nos via – aí estaríamos livres pra escapar – mas os batizáveis provavelmente estavam no altar maior, lá no fundo, e no escuro não dava pra ver nada mesmo. Curiosos pelo escuro, resolvemos esperar pra ver o que acontecia. A igreja já é assustadoramente grande iluminada, mas naquele estado posso imaginar perfeitamente como os fiéis se sentem pequenos e humildes e submissos à potência de deus. Dali a pouco entra uma procissão de diáconos, laicos (a Michela me explicou durante a missa quando morreu o pai do Lello, mês passado), e depois finalmente entraram os frades franciscanos, com uma velona gigante. Acho que o escuro simboliza a vida senza Cristo, e a luz que tudo ilumina é Cristo renascido, sei lá. O frade que acendeu a velona era um pitéu, um perfil grego, um nariz estupendo, cabelos agrisalhando, um pedaço de mau caminho. Cantaram uns negocinhos, todo mundo na platéia acendeu suas velinhas (rigorosamente compradas na igreja, imagino), e começou a missa, que é sempre transmitida também no telão gigante porque senão quem senta lá atrás não vê nada do que rola no altar maior. E aí nossa curiosidade acabou e voltamos pra casa pra dormir.

Postado por leticia em 23:07

14.04.06

Que sexta-feira deliciosa, com cara de sábado! Acabei não trabalhando porque meus alunos viajaram, então aproveitei pra ir de bicicleta até Santa Maria, uns cinco quilômetros. Deixei a bici na Arianna, peguei Leguinho e Demo e fui a pé até a barraca da Rita comprar abobrinha e maçã. Na volta pra casa passei no Angelucci pra trocar o pneu traseiro da bici que tava meio assim assim. Fiz uma faxina rápida, almoçamos pappardelle com molho de javali, e à tarde não fiz nada além de usar o Office Planner da IKEA pra ter uma idéia de como vai ficar nosso escritório na casa nova. À noite Gianni e Chiara vieram jantar: fiz risoto de lagostim, salmão e açafrão, e de secondo os canolicchi que trouxemos da Holanda, gratinados no forno. Tinha tempo que eu não os via direito, e aproveitamos pra botar o papo em dia.

Postado por leticia em 23:49

09.04.06

findi

O fim de semana foi o mais light possível. Sábado Mirco chegou pra almoçar em um horário decente, em torno das três, e em vez de chapar na cama, os dois, resolvemos ir fazer compras, nosso programa preferido de sábado. Largamos as compras em casa e fomos pegar os cachorros. O tempo tava ótimo, um solão gostoso, um arzinho fresco; carregamos os meninos na mala da Uno e lá fomos nós. Mas não deu pra ficar muito porque o vento trouxe nuvens que esconderam o sol, e começamos a sentir frio. Acabamos jantando na Arianna mesmo, que fez pizza no forno a lenha do quintal. Diliça.

E domingo não foi muito diferente: de manhã Mirco foi votar, almoçamos na Arianna, visitamos a gatinha que pariu dois gatinhos de manhã cedo (a outra gata na foto é amiga dela, dormem juntas e aparentemente essa outra gata fez as vezes de parteira), voltamos pra casa, vimos TV, falei com minha mãe no Skype, Moreno veio pra cá e fomos juntos pro cinema em Perugia. Comemos um sanduba no Pans & Company e depois vimos Inside Man, que não é nada de especial – né carne né pesce, como se diz aqui. E vamos dormir cedo porque amanhã a labuta nos espera.

Postado por leticia em 22:57

26.03.06

casa dolce casa

E pra compensar a canseira de ontem, e porque o Mirco trabalhou o dia inteiro, fiz só uma vitamina rápida pro café da manhã e sentei ao computador pra projetar nossa cozinha no Kitchen Planner da IKEA. Passei o dia INTEIRO só nisso – parei pra almoçar na casa dos tios do Mirco, e depois do almoço ele dormiu até as oito da noite – e devo dizer que me diverti horrores. Aproveitei pra também esquematizar a nossa futura lavanderia e pra catar inspirações de móveis na internet. Jantamos uma pizza no Penny Lane e chapamos. De vez em quando um domingo nada assim cai muito bem.

Postado por leticia em 21:05

20.03.06

saco cheio

Esse clima britânico JÁ ENCHEU OS COLHÕES. Não pára de chover e fazer frio há semanas e ninguém agüenta mais, tá todo mundo deprimido e doente e sem saco e sem conseguir se concentrar. PORREEEEEEEEEE!

Meno male que hoje tem o terceiro episódio de Lost.

Postado por leticia em 07:39

18.03.06

passeio

Aproveitamos que não tava chovendo e, apesar do ventinho gelado, fomos levar Leguinho e Demo pra passear em Santa Maria. Como gostamos de andar a pé! E como os cachorros são bobos e passeiam todos orgulhosos! Leguinho obedece e não puxa a coleira, mas o Demo não foi acostumado e pula o tempo todo, se enrola nas minhas pernas, responde às provocações de microcães chatos, um porre. Mas ele é tão bonzinho que sempre o levamos junto, apesar da encheção de saco que ele às vezes é.

Postado por leticia em 22:14

15.03.06

Os efeitos dessa stepação toda dia sim e dia não são basicamente dois: uma parte da celulite está indo embora e sendo substituída por musculinhos durinhos que eu não lembrava mais que tinha, e meus joelhos estão mais detonados do que joelho de jogador de futebol. Não vejo a hora dessa merda de tempo melhorar de vez pra eu poder botar o nariz pra fora e caminhar, correr, sei lá, pelo menos pra alternar com o step. Bosta.

Mas a primavera está pra chegar, eu sei, apesar da neve no país inteiro. Porque os três sinais cardinais já começaram a dar o ar da graça: semana passada uma mosca entrou aqui em casa, anteontem achei um percevejo morto fresquinho em cima da máquina de lavar roupa, e, mais importante porque pontualíssimo, meu cactus querido começou a espichar botõezinhos cor-de-rosa. São as primeiras flores aqui de casa, todo ano. Bom :)

Postado por leticia em 13:06

14.03.06

step by step

Fiz 45 minutos de step hoje de manhã, vendo Priscilla the Queen of Desert. Compramos o DVD porque eu amo esse filme e o Mirco ama as paisagens australianas. É uma das coisas mais divertidas que eu já vi, o visual é es-pe-ta-cu-lar, e, cá pra nós, o Guy Pearce é um pedaço de mau caminho até quando faz papel de viado com batom azul e avestruz na cabeça dançando Ce Ce Penniston.

Postado por leticia em 22:25

06.03.06

begoninha

É ótimo ter a manhã livre, porque resolvo um milhão de coisas, mas assim já é demais. Se não trabalho, não ganho, e realmente não tô podendo, ainda mais com futuro apartamento pra mobiliar, né. Quem me salva é a Begonia, que sempre consigo enfiar nas minhas manhãs livres. Me divirto ensinando português, ela aprende rápido e é uma fonte inesgotável de satisfação pro professor, e ainda ganho bem. Magavilha.

Postado por leticia em 22:56

21.02.06

giri

Aproveitei a manhã livre pra resolver várias coisas em Bastia e Santa Maria: passei no caseificio pra comprar ricota fresca, scamorza e caciotta, dei um pulo na Rita pra comprar maçã e tomate-cereja, na volta passei na depilação e enquanto ela terminava uma cliente fui à biblioteca de Bastia me inscrever.

No Rio eu cheguei a freqüentar uma biblioteca no Leblon quando era pequena – minha mãe já estava na Secretaria de Cultura e na época acho que fazia alguns trabalhos pras bibliotecas – e eu li tudo que é Asterix e A Inspetora que achava por lá. Mas era uma bibliotequinha meio tabajara e aqui eu ainda não tinha entrado em uma.

Antes não tivesse.

Fica no segundo andar de um prédio de apartamentos e escritórios (aqui é muito comum misturar tudo) que fica em cima de uma loja imensa de vestidos de noiva. Empurrei a porta encostada e dei de cara com uma sala não muito grande, com algumas divisórias horríveis e etiquetas amarelas escritas com letra garranchuda dividindo as seções dos livros. Logo atrás de mim entrou uma turma de colégio, com um bando de pré-adolescente fazendo barulho atrás da professora – excursão, putz. Uma das duas bibliotecárias me dispensou solenemente pra atender os delinqüentezinhos, e me deixou nas mãos da outra.

A Bibliotecária Loura é assim: uma senhora de uma certa idade mas que ainda não sabe disso, de vestido vermelho e botinha, batom vermelho, faixa vermelha na cabeça cobrindo as raízes dos cabelos platinados. A clássica funcionária pública ineficiente e clinicamente histérica. Levou três horas pra copiar meu nome na ficha, e isso só depois de me olhar como um E.T. quando eu disse que só queria me cadastrar, porque não tinha tempo de escolher nada. Não pode fazer ficha sem levar livro, disse. Anotou tudo de caneta na ficha, com aquele garrancho hediondo, pra depois inserir tudo no computador. Me acompanhou até a meia-prateleira de livros em língua original; nada digno de nota, então catei umas anotações no caderninho fofo que a Newlands me deu em novembro e achei uns nomes perdidos de livros em italiano que os meninos tinham sugerido na mailing list do curso de narração. Acabei levando Tre Cavalli, di Erri de Luca, que não sei quando vou conseguir ler. Algo me diz que não vou gostar, mas não dava tempo de escolher melhor.

Ainda dei aula de português pra Begonia, passei na Libreria Grande pra pegar um livro de Sociologia, e fui direto pra escola pegar o Michael pra ir a Cascia. Detesto ir a Cascia. Bando de adolescentes delinqüentes! Terça-feira é um porre mesmo.

Postado por leticia em 21:48

20.01.06

venerdì

Meu último aluno do dia, um médico fofinho, teve que ir a Milão e cancelou a aula. Aproveitei que saí às seis em vez das oito e fui dar um pulo na academia.

Nunca mais malho àquela hora. É a hora do lobo mesmo, todo mundo lá se expondo na vitrine, malhando maquiada, malhando dando gritinhos, mostrando os modelitos Puma e os tênis Nike de última geração, que custaram mais do que o carro que eu dirijo (e estou falando sério). Fiz meia hora de esteira, 15 minutos de Transport e saí correndo. Esnobei a fila pro chuveiro e o engarrafamento de mulheres peladas no banheiro, joguei o casaco por cima da roupa de ginástica mesmo (nada de nojo, eu não suo) e corri pro carro.

E aproveitamos a oportunidade única da minha chegada precoce em casa pra ir jantar fora. Resolvemos comer um peixinho no Massimo, aquele lá na casa do chapéu. Tava tudo muito gostoso, a não ser os nhoquinhos com creme de lagostins, que estavam meio grudentos. Nem conseguimos terminar a garrafa de vinho branco, e estávamos tão cansados que voltamos voando pra casa, desabando de sono.

Postado por leticia em 23:39

04.11.05

nebbia del cavolo

Alguém desliga a neblina, por favor, que já encheu? 'Brigada.

Postado por leticia em 21:56

28.10.05

brumas

A neblina já dura uma semana. Nos primeiros dias, lá pra hora do almoço o céu já estava limpo, a temperatura agradável e eu feliz. Mas a cada dia a névoa dura mais um pouquinho, e ontem pela primeira vez não deu trégua o dia inteiro.

Vocês estão carecas de saber que o único fenômeno meteorológico que eu abomino é o vento. A neblina é chatinha, mas não é o que há de pior no mundo. O problema é que as roupas não secam – ainda não está frio o suficiente pra ligar o aquecimento – e tudo fica com aquele estranho cheiro de neblina. E dirigir também não é nenhuma Brastemp, principalmente à noite, e principalmente pra mim.

Ontem voltei do trabalho em velocidade velhinho, dando risada de nervoso porque não via nada. Mas eu acho neblina uma coisa muito maneira. Acho muito interessante a sua consistência quase sólida, o modo de vir em blocos, em tufos, em punhados, o jeito com que cede à passagem do carro, com que distorce as luzes, com que esconde as coisas. Os postes desaparecem e vêem-se só os globos flutuantes de luz. Os carros à minha frente se reduzem a dois pontinhos vermelhos simétricos e mais um pontinho vermelho mais brilhante, o farol de neblina. Basta a estrada subir um metro e meio pra danada sumir, e basta uma afundadinha de nada pra bichinha adensar. Perde-se toda e qualquer noção de orientação espacial – eu que já não tenho nenhuma me dou mal pacas – e o silêncio é opressor. Tudo ganha ares surreais, nebulosos, o tempo não passa, a falta de rádio no carro se faz sentir mais do que nunca. Morro de medo de atropelar algum bicho na estrada, e vou muuuuuuito devagar, a cabeça esticada pra frente, concentrada no asfalto, tentando lembrar de quando há curvas, os olhos fixos no mato às beiras da estrada pra não acabar passando por cima de um pobre bicho desavisado que resolva arriscar a sair de casa com esse tempo maldito. Mas correu tudo bem e cheguei em casa sã e salva.

Postado por leticia em 10:12

24.10.05

esaurita sfinita in fin di vita

Agora que fico em casa de manhã, porque os meninos no escritório da oficina já estão adestrados direitinho, o cansaço está batendo de verdade. Tipo assim, só agora estou com tempo pra entender meu cansaço, sacam? Não tenho forças pra fazer nada além de passar o aspirador e tirar o pó. Tenho milhões de coisas pra lavar a mão, e não tenho forças. Tenho coisas pra estudar, mas não consigo me concentrar. Acabo passando a manhã inteira girando feito um zumbi pela casa, sem fazer nada de útil. Nem pra ler tenho forças, vejam só. E durmo mal, o Mirco dorme mal. Acho que só vamos conseguir descansar mesmo no Rio.

Postado por leticia em 23:39

19.10.05

tudo novim

A vantagem de conviver com gente intempestiva é tipo assim: cheguei em casa hoje e tinha um computador novinho em cima da escrivaninha. O Mirco é a favor de renovar aparelhos eletrônicos uma vez por ano, antes que dê pau e dor de cabeça. Começo a achar que ele tem razão. O outro já tava lento e irritante, mas depois da loucura do monitor a vaca foi pro brejo mesmo e acabamos ficando uma semana inteira sem computador, o que é incompatível com a vida. Não é tão complicado comprar uma máquina nova, é só faturar no nome da empresa, então não precisamos fazer grandes sacrifícios. É tão gostosinho ajeitar computador novo, baixar os programinhas, catar ícones bubus, refazer registros! Melhor que isso, só arrumar a estante toda e ficar olhando de longe a beleza dos livros coloridos, apoiados uns nos outros.

Postado por leticia em 22:31

27.09.05

piante

O tempo já está estranho, neblina de manhã, noites frias, mas um sol que ainda racha a cabeça se você der mole. O manjericão, plantinha mais sensível, não está entendendo nada e já anda amarelando. As outras são guerreiras e não estão nem aí. Os cravos dão flores feito doidos, as plantas suculentas já viraram praticamente moitas há muito tempo, e as plantas aromáticas estão cada vez mais lindas, depois que eu tomei coragem de podar a galera. Estou secando várias delas pra fazer um mix de temperos que depois vou mandar por aí, pra muita gente a quem eu quero muito bem e está espalhada pelo mundo. Por enquanto a produção ainda é em baixa escala por pura falta de tempo, mas eu chego lá.

Postado por leticia em 16:27

17.09.05

batendo perna

O dia ontem foi longuíssimo. Saí cedo de casa pra não pegar trânsito pra Perugia, e fui direto ao Centro de Triagem dos correios. O que aconteceu foi o seguinte: minha mãe tinha mandado uma caixa do Rio com os livros de português pro curso que começou ontem, e a caixa chegou ontem mesmo, só que eu não estava na oficina quando o courier passou. Nem o Mirco. E a mente brilhante do Ettore não conseguiu chegar sozinha à conclusão de que uma caixa do Brasil com um remetente com o mesmo sobrenome que eu MUITO PROVAVELMENTE era pra mim. Mandou embora o pacote. E nessa eu me fodi. Comecei o curso de português sem livro mesmo, mas antes liguei pros correios de Perugia e quase chorei no telefone pedindo pra alguém quebrar o meu galho. Por sorte moro em um país onde regras foram feitas pra ser quebradas, e com um pouco de sorte e de choro a gente sempre encontra alguém disposto a dar uma mãozinha. Quem me atendeu foi um cara muito simpático que me levou lá pras entranhas do depósito e me ajudou a catar o pacote, que de outro modo só chegaria à agência dos correios de Torgiano na semana seguinte.

Resolvido esse pepino, fui relaxar e cortar os cabelos. Os cachos voltaram e estou achando ótimo. Enchi desse negócio de escova. Não tenho cara de lisa mesmo, então foda-se. Quem ficou contente foi a Giuliana, que não me via desde abril, e que cortou fora um mar de cabelos.

E dali a começou a epopéia do Centro de Cefaléia. Porque eu não sei dirigir em Perugia, vivo me perdendo, não entendo o trânsito, não acho os estacionamentos que eu quero, e levei séculos pra chegar ao Policlinico Monteluce. A doutora estava vindo do outro hospital, o Silvestrini, que fica lá na casa do chapéu, e estava empacada no trânsito. A consulta, que era pra meio-dia, só foi rolar à uma e meia. Muito simpática e gentil, coisa rara quando falamos de médicos italianos, a doutora me fez milhões de perguntas, mas uma das mais importantes, que trabalho eu faço, foi completamente esquecida. Minha pressão estava alta, coisa totalmente anormal, já que normalmente só me deixam doar sangue depois de me entupir de líquidos por causa da pressão baixa. Mas dado o nível de stress na minha vida ultimamente, é bem compreensível. Pediu um monte de exames, entre eles dos hormônios tireoideanos e uma ressonância do cabeção, que não sei quando vou ter tempo de fazer.

Comprei uma carteira na Furla, em um resto de promoção, e na rua ali do Arco Etrusco, que vai dar na Stranieri, pela primeira vez entrei em uma padaria que sempre me chamou a atenção. É uma porta minúscula, e lá dentro tem sempre um monte de gente, por isso nunca tinha entrado. Dessa vez eu tinha um pouco de tempo e resolvi arriscar. Acabei descobrindo um tal do Pane Panda, que nada mais é do que um pão feito em nome da WWF. Uma parte da renda da venda do tal pão vai diretamente pra eles, ou pelo menos espero. O bicho (o pão, não o panda) é uma delícia, com grãos de aveia, trigo e semente de girassol, conserva-se muito bem, sem perder nada de consistência ou umidade de um dia pro outro (mais que isso não pude avaliar, porque matei o pouco que restava no dia seguinte) e na parte de cima tem uma espécie de hóstia comestível bonitinha, com o panda símbolo da WWF. Acabei comendo quase tudo puro mesmo, no carro, fazendo hora enquanto a próxima aula não começava. O dia terminou às dez e meia da noite, com os Salames. É muita pedra na cruz mesmo... ;)

Postado por leticia em 15:32

02.08.05

pioggia che arriva

Já tá chovendo em algum lugar aqui perto. Tô sentindo o cheirinho. Já era hora.

Postado por leticia em 17:19

29.06.05

caldo

O calor está de matar, literalmente. Velhinhos já começam a sucumbir. Vento fresco é só uma memória longínqua. O sol frita, sinto meus melanócitos se agitando, doidos pra exocitar melanina, mas o escudo solar fator 60 não deixa. Todo mundo desfilando bronzeados de pescador, artificiais ou não, Mirco com os braços, a cara e o pescoço pretos mas o torso branco onde a camiseta cobre, e eu amarelinha como mamãe me fez. Adoro.

Mas como eu dizia, o calor. O calor!!! Tudo bem que dura só um par de meses, em vez de quase o ano todo como no Rio, mas exatamente por isso aqui ninguém está preparado pra essas temperaturas. Ar concidionado praticamente só no cinema e no supermercado, de preferência nas vizinhanças de queijos e iogurtes. O resto, meus queridos, é senegalês mesmo. Aquele bafo quente dos diabos quando você bota a cara na rua. Aquela sensação de estar copiando o destino do frango prestes a ser assado, quando você entra no carro fervente. Uma coisa enlouquecedora. De manhã cedo já estamos nos 30 graus, à noite não se dorme, outro dia acordei de madrugada sozinha e fui encontrar Mirco dormindo no chão da sala, que é piso frio. Não vemos ninguém na rua antes do pôr-do-sol, porque não dá pra sair de casa. Me sinto na Sicília. Ou no sul da Espanha. Uma modorra diária, que consome as forças. Não quero fazer nada além de dormir. Nem isso, porque acordo com as costas úmidas de suor.

Temos que comprar mais água mineral.

Postado por leticia em 23:29

18.06.05

cousas

Apesar do cansaço, de ter chegado tarde ontem da última aula, de ter ficado acordada até meia-noite pra ver o finalzinho de Contact na TV, não consigo dormir até tarde e às oito da manhã já tinha voltado da corrida matinal. Limpei a casa toda meio correndo porque tinha aula mais tarde, preparei o molho de tomate pro almoço do Mirco, botei roupa pra lavar, estendi roupa no varal, tomei banho e lavei o cabelo, comi minha salada de trigo e tava botando a chave na fechadura pra sair quando me liga o Paulo Cintura, o aluno de sábado, dizendo que tava em Arezzo e muito provavelmente não conseguiria chegar em tempo pra aula. Até quarta-feira, se despediu.

E então, tudo já arrumado, limpo, preparado, organizado, só um pouco de roupa pra passar mas foda-se, resolvi fazer uma coisa que até hoje nunca tinha tido tempo de experimentar: botei uma cadeira na varanda e fiquei lendo, aproveitando o vento fresco e a claridade sem o sol escaldante, que estava a caminho da varanda do quarto. No inverno a varanda é infreqüentável por motivos óbvios. De qualquer maneira, normalmente não tenho tempo nem pra me coçar, e quando boto os pés lá fora ou é pra estender roupa ou pra cuidar rapidinho das plantas. Aaaaaaaah que maravilha, eu sentadinha na minha cadeira hedionda de plástico, rodeada de cravos rosa-choque, ervinhas cheirosas, plantas bizarras, os pés estendidos sobre uma outra cadeira, o celular e o telefone sem fio à mão, cabelinhos lavados, só curtindo o ventinho e vendo as árvores balançarem lá nos jardins públicos.

Pena que o Godfather não engrena nunca. Fosse um outro livro melhorzim a coisa toda teria sido melhor ainda.

**

Hoje à tarde Gianni, Chiara e Roberta vêm aqui pra fazer as reservas da viagem de agosto, que vai ser Paris e Normandia. Eu preferiria ir a outro lugar, porque estou obcecada com essa idéia de voltar à França só quando estiver falando francês e com dinheiro no bolso pra gastar, mas como sempre sou voto vencido. Gianni achou um vôo barato que sai aqui do Aeroporto Internacionalmente Tabajara de Perugia, ou seja, maior mão na roda. Então vai ser França mesmo, again. Não tem problema; Valerio ontem me deu mais uma aula de francês e disse que vou aprender rapidinho. Xeroquei um monte de exercícios e vou tentar estudar entre um aluno atrasado e outro, ou quando estiver de bobeira na oficina.

E mais tarde vamos jantar na festa do tartufo em Ripa, com FeRnanda e Fabião. Uhu!

Postado por leticia em 13:17

14.06.05

fofocas

. Ontem à noite, chegando do trabalho, Mirco encontrou a velhinha aqui de frente, a mãe da Foca Monaca, lembram? Nossa vizinha gorda, fofoqueira, que dorme com os velhinhos da vizinhança pra ganhar uns trocados porque o marido não lhe dá dinheiro nenhum. Pois a velhinha tava lá do outro lado da praça, e ela é velha pra cacete e não conseguia voltar sozinha. Mirco se ofereceu pra trazê-la pra casa e a velha começou a resmungar: aquela prostituta da minha nora me deixou ali no meio da rua, aquela vaca, ela quer me convencer de que vai buscar água [não me perguntem onde, não sei], mas eu sei bem onde ela foi e o que anda fazendo!

Caramba.


. Suely Maria mudou de carro. Deu tchau ao Escort conversível branco com a Arbre Magique tigrada pendurada no espelho, e agora tem uma Smart com um gato de pelúcia no painel. Smart é carro de cocota, vocês sabem. Em cidades onde estacionar é um problema eu até posso entender, embora o preço seja salgado demais pra pouco espaço, mas aqui na roça, na Umbria despopulada, não faz o menorrrrrrrrr sentido, e só tem mesmo quem gosta de se exibir e anda de óculos-vespa e todas aquelas coisas que a Simone descreveu brilhantemente aqui.

. O companheiro de Suely Maria sumiu, não vejo há uma semana, maravilha. Joguei tanto rato morto nele que é capaz dele ter caído num buraco qualquer em conexão direta com o mármore do inferno, ele, seu cigarro, seu Porsche ridículo, seus óculos escuros e todo o conjunto da obra. Já vai tarde.

. Suely Maria trabalha num bar. FeRnanda uma vez entrou num bar, que ela nem lembra qual era, pra comprar sei lá o quê, e a ouviu falando em português no celular, ou com uma amiga, não sei direito. FeRnanda, desprovida do instinto anti-suelymaria com o qual aparentemente nasci, tentou puxar conversa, perguntando, em italiano, usando até a forma de cortesia, vejam só: Lei è brasiliana? Como resposta ouviu um Sì grunhido, uma carranca e um olhar esnobe. Hohohoho.

. Um amigo da Roberta, irmã do Gianni, mora no prédio gêmeo do nosso. Uma vez, conversando, Roberta disse que tem uma amiga brasileira (eu) morando no prédio ao lado. O cara fez uma cara de nojo e ela se apressou em dizer "não é essa que você tá pensando, é outra!!!" e ele fez ah, bom. Vejam, meus amigos, que não sou eu que sou biased. Vulgaridade é reconhecível a quilômetros por qualquer pessoa normal.

. Mudando de assunto, a Bota deu mais uma vez um show de atraso mental e egocentrismo dos botenses no plebiscito do último fim de semana sobre as ridículas leis atuais de fecundação artificial (riproduzione medicamente assistita, diz-se aqui). Só um quarto do povo apareceu pra votar, e com isso tudo ficou na mesma, e a Itália continua com as leis mais atrasadas do mundo sobre o assunto. O Vaticano achou o máximo. Atualmente os embriões não implantados são jogados foraaaaaaaaaaa porque a lei proíbe pesquisas de células-tronco nesses embriões. Então vão todos pro lixo, e as poucas instituições de pesquisa do ramo têm que importar embriões de outros países. O Papa fala de proteger a vida e coisa e tal, que o embrião é vivo e humano desde o momento da fecundação e blah blah blah. Mas então eu é que devo ter entendido mal: entre o direito de ser jogado no ralo e o direito de ser usado pra estudos que podem salvar e melhorar a vida de zilhões de pessoas, a igreja prefere o direito de ser jogado no ralo? Então tá.

. Demos mole, não compramos logo as passagens em oferta com a Aerolineas e perdemos a promoção. Dançou a Argentina, e vai ser Escandinávia mesmo em agosto, então. Estou tristíssima, olhem só minhas rugas. :)))))))))))))))

. Hunka, se você não vier esse ano eu te encho de porrada.

Tuco e Carol, idem.

. Beijos e saudações flamenguistas à Carol do Werther e à sua tia Dita, que pelo que ouvir dizer é gente boa pacas :)

Postado por leticia em 08:21

12.06.05

uia

O dia tava bem gostosinho hoje. Sol forte compensado por nuvens passageiras, empurradas por uma brisa fresca. Depois de uma boa arrumada na garagem, que tava o samba do crioulo doido, fomos cedo pra Arianna e ficamos horas brincando com a bicharada. As filhotas da Priscilla já tão saindo da casinha delas e tocando o maior rebu no jardim, subindo em árvores, provocando os gansos através da grade, brincando com penas de peru que acham caídas pelos cantos. Quando der vontade subo as fotos. Subi pra ajudar a botar a mesa enquanto o Mirco ficou lá embaixo vigiando a lasagna no forno a lenha.

Comecei a bater papo com a avó do Mirco, a Lucia (lutchía), em família carinhosamente chamada de Laspo' (de La Sposa, A Esposa, como a chamava o falecido marido). Ela é uma bonequinha, miúda e calada, foférrima, e sempre preocupada em depilar o buço antes de fazer suas poucas aparições em público. Pois então: falávamos de amenidades, de como o tempo anda estranho, de como não se entende mais nada de coisa nenhuma, se vai chover, se não vai, se o calor vai durar, se a neve vai cair em junho no Abruzzo, enfim, essas coisas. Ela perguntou, meio ressabiada, se eu não achava que a lua tinha alguma coisa a ver com esse clima doido. Hmmmmmmm como assim? Ela perguntou se eu acreditava que o homem tinha mesmo pisado na lua, e se isso tinha alguma coisa a ver com o clima. Achei tão bonitinha a pergunta, parecia coisa de criança mesmo! Expliquei com o máximo da simplicidade o efeito estufa, e ela fez oooooh. Não é uma coisinha fofa? :)

***

Ontem à tarde aconteceu uma coisa bizarra. Finalmente terminei a tradução que estava sugando meu sangue há tempos (não porque não tenha sido legal, é que faltou tempo pra me dedicar comme il faut), tomei banho, fui lá fora ligar a máquina de lavar roupa, e quando voltei pra dentro estava espirrando sem parar. A narina esquerda coçava terrivelmente. Impossível ser alergia, pensei. Me recuso a virar alérgica. Não tenho paciência pra ser alérgica. Minha pele é sensível demais, se eu tiver que viver assoando o nariz em lenço de papel meu nariz vai cair de tanto atrito com o papel. Não posso virar alérgica porque alergia é uma das coisas mais chatas do mundo.

Mas mesmo depois do jantar de peixe com Mirco e Stefania a narina esquerda continuava coçando. E hoje acordou coçando de novo. No final da tarde me irritei; depois de ver Meet the Fokkers (que filme chato, benza deus!), tomei um Fenergan que tenho vergonha de dizer de onde veio, e nos mandamos pra festa da cereja em Capodacqua, uma frazione de Assis. O tempo foi passando e comecei a sentir os efeitos do Fenergan, que até hoje eu só tinha tomado pra dormir quando tinha insônia (sim, tenho meus momentos McGyver-improvisativos). Fui ficando boba, boba. Não entendia nada. As pessoas falavam comigo e eu levava horas pra entender. Não consegui nem curtir as lindas casas da zona, o belo galpão de madeira, a delícia dos ravioli com nozes e formaggio di fossa (don't ask). A cabeça pesava e tudo parecia tãaaaao longe, tão sem importância, tão esquisito. Acabamos vindo embora mais cedo, porque eu já tava quase rindo sozinha de tão boba. Eu, hein.

Postado por leticia em 23:02

01.06.05

ainda plantinhas - UPDATED

Já escrevi aqui mil vezes louvando as virtudes do cravo. Planta danada de resistente, dá flores bonitas, precisa de poucos cuidados e cresce terrivelmente na primavera. Olha que beleza.


E essa é minha mini-horta de temperos, que o Mirco carinhosamente apelidou de erbette del cazzo (não é um elogio e eu sou proibida de usá-las na comida). Em sentido horário, partindo do alto à esquerda: tomilho (timo), manjericão (basilico), hortelã (menta), rúcula (rucola). No centro, no vasinho pequeno, o famoso serpilho (serpillo), primo bastardo do tomilho. Na segunda foto, alecrim (rosmarino) e sálvia.


E as piante grasse, literalmente plantas gordas, que não sei como se traduz em português. As folhas são espessas e polidas, como um cáctus sem espinhos. A menorzinha não se abala com nenhuma condição climática estranha, e dá florezinhas amarelinhas que parecem de plástico. A outra foi a tal que a Arianna roubou uma mudinha da IKEA há três anos e plantou na varanda. Virou uma plantona linda. E sozinha na foto uma outra que a Arianna me deu, eu esqueci na varanda no inverno e murchou, e quando eu achei que tinha morrido definitivamente apareceram uns brotinhos lindos. Botei pra dentro de casa e ela continuou crescendo. Agora na primavera ela já tá firme e forte.

UPDATE: Ig acaba de me informar que as piante grasse em português chamam-se plantas suculentes. Nunca ouvi falar, mas eu sou botanico-ignorante mesmo. Mais detalhes aqui.

Postado por leticia em 08:43

27.04.05

joão e o pé-de-feijão

E ainda no assunto plantas: há algo de muito estranho acontecendo no minúsculo círculo botânico que é a minha varanda da cozinha, que na primavera e no verão passa a ter algumas horas de sol de manhã cedo.

O lance é o seguinte: no meio do inverno plantei os bulbos de tulipa que a Stefania mandou da Holanda. Dois bulbos de tulipa negra (que todo mundo sabe que é roxa e não preta, mas é linda assim mesmo) eu plantei num vaso grande que está na varanda da cozinha. Na varanda do nosso quarto plantei dois bulbos de um outro tipo de tulipa que não me lembro qual é. As tulipas negras estão enormes e lindas, mas as outras levaram séculos pra dar as caras. De repente uma das plantas deu uma crescidona assim estilo adolescente que espicha, e virou uma coisa esquisita que não parece nada nada com tulipa. Mas tudo bem, eu gosto de plantas e não tive coragem nem de arrancar a coisinha estranha que nasceu no vaso onde ficava o defunto manjericão. A bichinha tá lá, amarradona, crescendo horrores, e com toda a cara de que vai dar florezinhas minúsculas. Mas então, essa pseudo-tulipa foi crescendo, e notei que na outra parte do vaso brotavam coisinhas verdes que não conseguiam crescer muito. Imaginei que fosse porque a outra plantona estivesse roubando espaço e nutrientes, e arrumei um outro vaso pra transplantar a plantona e deixar espaço pras coisinhas verdes. Semana passada comprei a terra, segunda-feira peguei uns cacos de cerâmica e um prato pro vaso na Arianna, e agora à tarde tomei vergonha na cara e sentei na varanda pra operação transplante.

Qual não foi minha surpresa quando, com terra até nas sobrancelhas e os dedos enfiados no vaso procurando a raiz da pseudo-tulipa pra tirá-la inteira, encontrei um caule imenso, larguíssimo e longuíssimo! Fui seguindo o tal caule e notei que ele dá voltas e mais voltas dentro do vaso. Fui tirando terra, curiosíssima, e achando mais centímetros de caule. Fui parar num murundu de raízes que ocupam praticamente TODO o vaso. Por isso que essa miserável levou tanto tempo pra aparecer do lado de fora! Eu achando que não tava rolando nada, que o bulbo tava hibernando, mas lá dentro da terra tava rolando a maior festa! Coitada da planta, imagina o tempo que ela perdeu dando voltas e voltas na terra, crescendo aquela infinidade de raízes malucas e sem sentido! Agora vou ter que comprar um vaso grande como uma banheira pra botar essa planta. Mirco vai adorar. Daqui a pouco não tem mais espaço pra gente na varanda, de tanto vaso...

O mais ridículo é que eu só acho o panfletinho da tulipa negra, que veio junto com os bulbos, explicando que espécie é, quando plantar, quanta água dar, essas coisas. Nada de panfletinho da outra planta. Então agora já não tenho mais certeza de que a plantona esquisita seja uma tulipa. Se for, não sei de que tipo é. E se não for, não tenho a menor idéia do que é. Mas se continuar crescendo nesse ritmo, daqui a pouco expulsa a gente de casa.

Postado por leticia em 15:42

26.04.05

prantas

Não consigo me acostumar com a idéia de ter que podar plantas. Entendo o mecanismo e concordo que faz sentido, mas não acho legal, sei lá. Tenho pena das plantinhas. Pra arrancar um raminho de alecrim só falta eu pedir desculpas à planta, imagina a preparação psicológica que não teria que rolar se eu tivesse que podar uma árvore.

No final do inverno começa o frenesi da poda. Por todo o lado vêem-se pobres árvores nuas, os galhos cortados até o talo; cercas-vivas que não parecem tão vivas assim, meio carecas que ficam depois da poda; arbustos que passaram o inverno secos e pelados e agora estão secos, pelados e cotós.

Mas começa a primavera e os primeiros brotinhos verdes começam a surgir, saindo muitas vezes diretamente desses cotos de tronco que ficaram. É engraçado, porque há um tipo de árvore muito comum por aqui, cujo nome desconheço, que tem um tronco estranho: chegando a uma certa altura, vira uma espécie de nó gigante, e dali partem os galhos, curvando-se pra cima. Quando podadas, essas árvores ficam reduzidas a um tronco seco com essa bolota em cima, com todos os cotoquinhos em volta, onde antes ficavam os galhos. Na primavera os brotinhos saem diretamente desses cotoquinhos, e o resultado é uma bola verde estranhíssima, até que os ramos cresçam e dêem uma aparência mais digna à árvore.

Eu não consigo podar nada. No máximo dou uma aparada no tomilho da varanda, quando vejo que tá ficando descabelado demais. Em uma semana ele dobra de volume. Mas mesmo assim fico com pena.

Postado por leticia em 15:30

11.04.05

porre...

O tempo virou, e feio. Um invernico, por assim dizer, no meio de uma estação que deveria ser mais temperada. Chove, venta horrores (bora de 135 km/h em Trieste), neve e mais neve no norte, mar agitadíssimo, frio. Aqui chove sem parar, e as sementes de manjericão, que plantei toda esperançosa semana passada quando achei que fosse esquentar de verdade, devem ter entrado em hibernação até segundo aviso. Os cravos, que já tinham começado a florescer, daqui a pouco apodrecem no chão da varanda. A única que tá achando legal é a tulipa, que curte o frio amarradona. Que bosta.

Postado por leticia em 15:04

o weekend dos mortos-vivos

Acho que nunca dormi tanto na minha vida como nesse último fim de semana. Na sexta-feira dei aula pra uma turma nova, um funcionário aposentado dos correios que, honrando a fama da classe, é mais lento que jabuti de ressaca, e uma estudante do último ano de Psicologia que nas horas vagas dirige uma agência de detetives particulares. A aula vai das sete e meia às nove e meia da noite, e no meio da coisa comecei a sentir as malditas facadas atrás do olho esquerdo. Logo a situação se deteriorou, principalmente porque o escritório da escola já tava fechado (damos aula no escritório de um engenheiro que passa a maior parte do tempo fora e nos aluga a sala) e não tinha como arrumar água pra tomar o remédio anti-crise. Lágrimas desciam do olho esquerdo, não de dor, mas porque algum oba-oba neural devia estar rolando por ali; eu não sabia mais nem o que tava dizendo, e quando a aula terminou só faltei ajoelhar no chão e chorar. Só que o sofrimento não tinha acabado: eu ainda tinha que ir a Perugia pegar uma latinha de tinta que o fornecedor da oficina tinha deixado do lado de fora do portão pra eu pegar (adoro esses provincianismos!), já que o Mirco tinha saído pra jantar com o Moreno, em estado de ansiedade intensa porque tá indo pra Argentina outra vez agora à tarde, do outro lado da cidade. Não sei como consegui chegar lá, e muito menos como consegui voltar pra casa. Mas consegui, e quando cheguei em casa me joguei na cama e chapei.

Mirco não chegou muito tarde, e eu ainda estava em estado de decomposição cerebral. Acordamos no sábado no nosso horário natural, um pouco antes das sete, e nos preparamos pra sair de casa. Dei aula das dez ao meio-dia pra outra turma nova, duas meninas muito legais e espertas; ainda fofoquei meia horinha com a Rossella, até que senti as pontadas retro-orbitais de novo e piquei a mula. Fazer faxina tava completamente fora de cogitação porque eu mal me agüentava em pé; fiz um risoto de aspargos selvagens que nem a minha cara, Mirco chegou às duas, comemos e fomos direto dormir – os dois com dor de cabeça. Eu acordei às sete da noite, tomei um caldinho de feijão instantâneo Maggi, cobri o Mirco que tava todo torto no sofá, tentei sentar pra escrever ou traduzir mas não dava, voltei pra cama. Acabei dormindo outra vez lá pras dez da noite. Eram três e meia da manhã quando o Mirco me acordou perguntando se eu não queria fazer companhia pra ele enquanto ele JANTAVA. Comeu uma piadina com salame e voltamos pra cama. Acordamos domingo às dez da manhã, coisa absolutamente inédita na minha vida. A cabeça ainda estava dolorida, mas dava pra suportar. Almoçamos na Arianna, fomos ao cinema ver After the Sunset (bobiiiiiinho mas divertidinho) e depois jantamos no chinês da via Settevalli com a Roberta e o namorado. Adoramos chinês porque é sempre tudo igual em qualquer restaurante que você for, custa pouco e ainda dão brindes ridículos na saída. Dessa vez peguei um anel de acrílico colorido e uma coisa estranha pra pendurar não sei onde.

Pensamos em pegar um DVD, mas algo nos dizia que não conseguiríamos assistir ao filme todo sem dormir. Não deu outra. Botei o timer da TV em 15 minutos e dormi antes de ouvir o puf! dela desligando...

Postado por leticia em 14:59

05.03.05

uia

Hoje vai ser, aparentemente, um sábado cheio. Tenho que lavar o cabelo, torcer pro hominho da máquina de lavar vir, sair pra comprar umas saladas, frutas, verduras, porque só tenho cenoura e funcho na geladeira, traduzir, limpar a casa e estudar francês.

Logo de cara, duas boas notícias e uma não-notícia: só ontem fui ver que o cartão do Itaú tinha vencido em fevereiro e entrei em pânico, porque tava afinzona de comprar uns pacotes de farinha de mandioca e coisas assim em Foz do Iguaçu; pois bem, como é o banco mais eficiente do mundo, o cartão novo já tá lá em casa, e minha mãe vai mandar o bichinho lá pro hotel. Também recebi um e-mail de uma agência de traduções de NY que ficou mesmerizada com o meu currículo “impressive” e mandou umas coisas interessantes, que não vou detalhar porque não tem nada certo ainda. A não-notícia é que o hotel ainda não respondeu, o que anda me deixando num estado de irritação intergaláctico. Mais tarde mando um fax enfurecido avisando que se eu chegar lá e meus pacotes não estiverem separados num canto direitinho pra mim, vou rodar a maior baianona (mentira, que eu não sou disso, mas não custa assustar).

E agora dá licença que tenho umas coisas maneiras pra traduzir antes de tomar coragem pra lavar a cabeça. Ando cada vez mais de saco cheio com o assunto cabelo, e ultimamente sonho com freqüência que estou raspando a cabeça, feliz da vida.

Postado por leticia em 07:55

04.03.05

friday

O dia foi um mix balanceado de coisas boas e coisas chatas.

A manhã foi produtiva em termos de tradução, mas por outro lado o hominho que deveria ter vindo consertar a máquina de lavar roupa, que agora deu pra fazer escândalo durante a centrifugação, me deu o cano. Chovia sem parar, mas a temperatura subiu e não precisei deixar o aquecimento aceso.

Almocei massa curta saltata in padella com abobrinha e berinjela em cubinhos, deixei molho de tomate pronto pro Mirco e fui mais cedo à escola pra xerocar umas coisas pros meus alunos. A primeira aula era à uma da tarde, com os Três Mosqueteiros, mas a bendita fruta da turma não pôde vir, então me concentrei em corrigir o dever de casa dos meninos, tirar dúvidas e fazer uns exercícios do livro-texto que tratavam da Escócia – um dos meninos é fissurado com a Escócia. Notei que estavam meio macambúzios e perguntei qual era o problema. O problema era que ontem eles tinham feito umas contas (são cunhados e amigos de infância e se vêem com freqüência) e notaram que a minha parte do curso com eles estava terminando. É que a política da escola é usar um professor não-madrelingua na primeira metade do curso, pra poder explicar a gramática em italiano, e um madrelingua pra segunda parte. Só que, queridos, em todas as vezes em que estive nos EUA e nos dois anos e tanto em que vendi vinho e javali a americanos ricos na loja do Fabrizio o Louco, nenhum americano jamais me perguntou de onde eu vinha. Aliás, sim, em duas situações: pra perguntar se eu era californiana, sabe-se lá por quê, ou então depois que me ouviam discutindo em italiano à velocidade da luz com aquela mala do Fabrizio, o que os levava a concluir que 1) eu não era italiana, porque italiano não fala inglês direito nem a porrada, e 2) não era americana, porque americano não fala bem italiano nem a porrada. E dali vinha a curiosidade. Por isso posso, absolutamente sem modéstia porque vocês sabem que eu não tenho dessas coisas, entrar na categoria native speaker, e os meninos, quando lhes disse que não eram obrigados a mudar de professor, foram logo depois da aula tentar falar com a lourinha que cuida dessas coisas, que estava fora mas depois ligaria pra eles. Resultado: não vamos mudar coisa nenhuma, vou dar mais 30 horas de aula pra eles, o que eu acho ótimo, porque são espertos, estudiosos, interessantes e engraçados e me divirto horrores com eles, e, melhor, me esforço realmente pra dar uma aula interessante, e faço com prazer. Sempre levo algum material extra pra eles lerem ou fazerem exercícios, recomendo filmes, livros, gramáticas e dicionários, e até hoje não houve nenhuma pergunta deles que eu não tenha sido capaz de responder. Como além de tudo isso sou muito engraçada e temos vários interesses em comum, diga ao povo que fico. Claro que a lourinha me deu a notícia mais tarde, na presença do chefe e da chefa da sede de Gubbio. Adoro quando ela faz isso. Esse tipo de coisa me dá o poder, por exemplo, de pedir pra ser paga sexta-feira dia 11, quando normalmente o pagamento é feito dia 15, mas como dia 15 já vou estar em Foz...

Às quatro e meia chegaram Burbone e Burbina, com quem também me divirto, embora também pene um pouco porque o pai não é exatamente talentoso em termos de pronúncia e a filha demora um pouco a aprender em relação ao pai, o que às vezes a irrita e faz com que ela perca a concentração. A coisa boa é que Burbone é médico do trabalho, e ontem finalmente consegui entender o que diabos é o raio do gelone, essa maldita dor no pé que todo inverno me maltrata horrivelmente. Aqui se fala muito de gelone, mas obviamente os camponeses não sabem do que se trata, e já ouvi as explicações mais absurdas. Sempre achei que fosse algo articular, porque a pele estica com o inchaço e fica brilhante e vermelha; se fosse algum problema só de pele, teria descamação, ou feridas, ou sei lá. E ele me explicou que realmente é uma inflamação articular, ou seja, uma artrite, parecida com a artrite reumatóide – se vocês derem uma googlada vão entender o pé no saco que é. Coça, dói pra cacete, incha – aliás, rubor, calor, tumor, dor, tá tudo lá. A boa notícia é que a pomada de corticóide que uso pro quelóide também serve pra artrite, o que significa que não preciso gastar mais dinheiro comprando remédio pra esse gelone, que ainda por cima é doença de pobre, que nem frieira, unheiro, essas coisas cafonas.

Enquanto esperava a Quarentona Estressada, que teve problemas no trabalho e no celular e não veio à aula nem pôde nos avisar, bati um papo a jato com um novo professor, um metido a gostosão enfiado num paletó risca-de-giz que acho que acabou de entrar na escola mas já tem a maior intimidade com todo mundo. Basicamente fizemos um acordo: ele vai me dar aula de francês, e eu a ele de português. Assim ninguém desembolsa nada e todos ficam contentes.

Também aproveitei o tempo livre pra começar mais um Camilleri da série do Montalbano, "La Voce del Violino". Voltei mais cedo pra casa depois de esperar a Quarentona por 40 minutos, achei na internet o dicionário que eu tava querendo, vi que a porra do hotel não tinha respondido nada mas não quero nem saber e vou mandar entregar tudo lá mesmo e foda-se, fiz uma sopinha de legumes bobinha pro jantar, Mirco chegou dizendo que não íamos mais à festa do Roberto, felizmente, porque eu não tava com saco, sentamos no sofá pra ver C.S.I. que agora passa duas vezes por semana, quando começamos a bater cabeça fomos correndo pro quarto, e dormi com o Camilleri na mão e Grissom na TV, com o timer programado pra desligar em dez minutos porque eu não sou sócia da Light. Aliás, da Enel.

Postado por leticia em 23:47

24.02.05

de neve, livros e mais nada

Ontem nevou bastante no país inteiro. Toda a Itália parada por causa dos transtornos causados pela neve, inclusive as ilhas. Até aqui no interior do Gabão nevou direitinho, uns flocos imensos, que se acumulavam na estrada. Lá pra hora do almoço o sol saiu e derreteu tudo. Hoje tá um frio desgraçado, mas nada de neve; céu limpo e ar fresco típicos do inverno. Uma das tulipas roxas já está dando o ar da graça, devagarzinho. A embalagem diz que é uma espécie de "fioritura tardiva", e provavelmente a flor só vai sair em abril ou maio. Não tenho pressa.

Pro Franco Romano comprei um livro do Ian McEwan que eu nunca li, mas gosto do autor e acho que ele vai gostar, até porque é professor de Inglês e tradutor. Pro Gianni comprei a tradução de White Teeth, de Zadie Smith, que é uma das coisas mais hilárias que eu já li. E pra Fernanda comprei a tradução em italiano de High Fidelity, que é outra das coisas mais hilárias que eu já vi.

Estou gostando de The Lady Chatterley's Lover. O início é meio lento, mas agora a coisa começa a esquentar – e bota duplo sentido nisso.

E como eu sou uma pessoa problemática, lógico que não me contentei com os três livros pra presente, e pra mim mesma, porque eu mereço, comprei Fight Club, que eu ainda não tinha lido, do Chuck Palahniuk; BFG, do Roald Dahl (o que a Camila, um docinho, filha da Julie, ganhou de Natal); The Old Man and the Sea (porque eu falei que esse ano seria o ano dos clássicos); The Curious Incident of the Dog in the Night-Time, de Mark Haddon, porque mesmo se eu nunca tivesse ouvido falar desse livro, com esse título ele já teria me enchido de curiosidade; e Storia del Miracolo Italiano, de Guido Crainz, aquele que eu ouvi no rádio outro dia se perguntando comé que a Itália virou primeiro mundo (cof cof cof) sem nunca ter deixado de ser um país de camponeses ignorantões. Estou curiosíssima, íssima, íssima. Compartilharei, compartilharei.

Postado por leticia em 12:03

17.02.05

crema di piselli

Olha, não querendo me gabar mas já me gabando: neste exato momento, borbulhando e fervendo na minha panelona T-Fal, encontra-se a melhor sopa de ervilha do mundo. Ever. Tá?

Postado por leticia em 09:38

10.02.05

Pra não dizer que eu não falei de vizinhos

Eu disse que o resto do meu andar é tranqüilo e muito normal e conseqüentemente não rende post. É verdade. Mas tenho duas vizinhas "de bairro", por assim dizer, que merecem algumas linhas.

Começamos pela vizinha da frente. Exatamente ao meu prédio há uma casa muito grande, rodeada por um pequeno gramado, com muitas roseiras. A casa não é particularmente feia, mas tem uns detalhes em vermelho, como as esquadrias das janelas e as varandas, que me dão arrepios. Nessa casa moram quatro pessoas: a Foca Monja, o Cornudo, o Filho da Foca, e a Mãe da Foca.

Foca Monja é como os italianos carinhosamente chamam as mulheres gordas. Imagino que cada país deve ter o seu animal de referência; os brasileiros usam baleia, orca e outros cetáceos, e os italianos (e quando digo italianos digo os italianos aqui da Itália central, não sei como é nos outros lugares) usam a foca monja, que é simplesmente uma espécie de foca. A Foca Monja em questão é uma senhora já de uma certa idade, muito gorda, sem dentes, que goza, na cidade, de uma reputação assim, digamos... repreensível. Porque sabe-se que o marido, doravante chamado Cornudo, não lhe dá nem um tostão. E ela resolve o problema divertindo velhinhos. Custa menos que uma prostituta de Perugia, e o velho não fica morrendo de vergonha por ser velho e feio, porque ela também é velha e feia. Um dos clientes mais famosos da Foca Monja é o irmão caquético do tio do Mirco, um senhor de 80 anos carinhosamente chamado de Pecorello (algo como "Carneirinho"), porque não tem mais um dente sequer na boca, e neguinho acha que aquela boca retraída lhe dá um aspecto de carneiro. O engraçado é que todo mundo sabe desse "trabalho informal" da Foca Monja, e ninguém se escandaliza – ou então ninguém se escandaliza mais, porque a coisa já rola há muitos anos. Dizem que ela foi muito bonita quando jovem, mas eu não acredito, porque não tem os traços bonitos nem a pele interessante, e principalmente porque tem um olhar de retardada. Pena que esse blog não tem áudio, porque eu poderia imitar pra vocês a voz da Foca Monja quando chama o cachorro, um Yorkshire chatíiiiiiiiiiiiiissimo chamado Jimmy. Pelo menos nós achamos que se chama Jimmy, porque a falta de dentes prejudica a dicção e não dá pra saber se é esse mesmo o nome do cachorro, ou se é Timmy, ou Dimmy, sei lá.

O Cornudo bate na Mãe da Foca, e isso todo mundo também sabe. Parece que ele já teve uma empresa de transportes, mas hoje é aposentado e passa o tempo todo podando as malditas roseiras, que dão flores de todas as cores. O cachorro late pra todo e qualquer ser vivo que passe em frente à casa, causando indiferença no Cornudo e gritos de Jimmeeeeeeeeeeeeeeee na Foca Monja. A Mãe da Foca, que já morreu mas esqueceu de deitar, dá uns mini-passeios ali em torno da casa, sempre de lenço na cabeça e bengala na mão. Sempre séria, sempre calada.

O Filho da Foca dirige um Mercedão esportivo totalmente inadequado à sua idade cronológica, coisa muito comum por essas bandas. Não tenho idéia do que faz da vida e só o vejo muito raramente.

A Família da Foca mora só no andar de cima da casa, que é de tijolinhos amarelos e tem muitas flores espalhadas pelas varandas. A parte de baixo é um grande salão envidraçado, e ficou muito tempo exibindo uma plaquinha de aluga-se, até que começaram a rolar boatos de que ali estavam pra abrir uma pizzaria da asporto (to go), do tipo que não tem mesas nem balcão nem nada, você vai ali comprar a pizza pra levar pra casa e pronto. Maravilha! Nada de bagunça nem gente bêbada nem gente fumando, e a imensa comodidade de uma pizzaria logo embaixo de casa; não dá tempo nem da bichinha esfriar! Infelizmente há duas semanas vimos que o boato não passava de um boato; no salão envidraçado abriram uma loja de acessórios pra kart. Não consigo imaginar nada de mais inútil. Fosse pelo menos um açougue, uma agência dos correios, uma agência funerária que fosse, porque sei que uma livraria seria pedir demais, mas uma loja de acessórios pra kart? Socorro.

Mas o mais interessante sobre a Foca Monja é que ela sabe tudo da vida de todo mundo. Já foi avistada fofocando nas áreas mais remotas de Bastia e das cidades vizinhas. Passa boa parte do tempo pendurada na grade vermelha da varanda, tomando conta da vida dos outros. Quando, há alguns meses, eu e Mirco saímos do prédio com dois armários de madeira que o Mirco tinha envernizado pro banheiro da FeRnanda, ela gritou da varanda estratégica, sua gávea particular: Tão se mudando, é? Quando voltamos do Rio, cheios de malas, ela gritou: Siete stati laggiù? (Laggiù, literamente "lá embaixo", se refere a qualquer lugar desconhecido e longe, leia-se depois de Perugia, em qualquer direção. Nesse caso obviamente ela estava falando do país tropical do qual eu venho, e que ela não sabe direito qual é porque não sabe nem em que galáxia vive.). Eu respondi que sim. No dia seguinte ela perguntou a mesma coisa pro Mirco outra vez, e ele respondeu que não. Minha resposta a muitas das coisas que ela me pergunta é um simples não e um sorriso que desencoraja outras perguntas. Imagino a pele da Foca começando a coçar, a ficar vermelha, placas alérgicas de curiosidade se formando. Hohoho.

Particularmente não acho que ser fofoqueira é o maior defeito do mundo. Há coisas piores, muito piores. Na verdade há MUITAS coisas piores. Mas que tem horas que irrita, ah, tem.

Postado por leticia em 10:48

06.02.05

fds tsé-tsé

O fim de semana foi praticamente uma clausura. Na sexta Gianni, Chiara e Moreno vieram comer pizza aqui em casa. O assunto foi, claro, Argentina – meu preferido. Not.

Sábado fui pra oficina cedo com o Mirco, e antes do meio-dia saí pra levar uns documentos pro contador. Voltei pra casa, deixei o almoço engatilhado, dei uma mini-geral na casa, Mirco chegou, almoçamos, eu fui lavar na mão uns suéteres de lã enquanto o Mirco capotava, e lá pras quatro eu também acabei dormindo no sofá. Acordamos às sete da noite, Mirco com o nariz entupido e sinusite e dor no corpo, jantamos, vimos um pouco de TV e fomos dormir de novo.

Domingo acordamos às nove e meia da manhã, coisa rara, especialmente pra mim, totalmente early bird. Como todo mundo na casa dos pais do Mirco tá doente, resolvemos dar um pulo lá mais cedo pra dar uma mão com as galinhas, os cachorros, a casa, o almoço. Acabou que a Arianna já tava melhor e quando chegamos tava se preparando pra servir o café da manhã pros cachorros e pras gatas (no início ela comprava ração pras gatas, mas os cachorros comiam tudo. Como as gatas adoram a ração dos cachorros, agora todo mundo, inclusive elas, come comida de cachorro e pronto. Comem todos juntos, os seis, trocando toda hora de tigela, uma suruba só.). Mirco foi dar uma volta de ônibus com o Moreno, que tava no volante desde as cinco e meia da manhã. Eu fiquei lá curtindo o galinheiro e o Leguinho, enchendo o "bondinho" de lenha. O bondinho é uma caixa com rodinhas que é enganchada num cabo de aço e levantada até a varanda da cozinha através de um motorzinho instalado ali mesmo na varanda; o depósito de lenha fica lá embaixo, antes do galinheiro, então quando a caixa esvazia é só descê-la com o motorzinho até o quintal, descer as escadas, desenganchar a caixa, levá-la até o depósito de lenha, enchê-la de lenha, voltar pro quintal, enganchá-la no cabo de aço, subir as escadas, ligar o motorzinho, aterrissar cuidadosamente a caixa na varanda, e transferir a lenha do bondinho pra caixa de lenha da varanda. Depois de colhermos uns ovos frescos no galinheiro, subimos pra fazer a massa pro almoço. O molho já tava pronto, simples, de tomate e manjericão. A carne já tava pronta pra cozinhar, foi só descongelar e botar na brasa com azeite e sementes de funcho – carneiro, que eu não gosto muito porque é gordurosa demais, e com sementes de funcho não há santo que me faça comer. O contorno também já tava engatilhado – corações de alcachofra com azeite, salsinha e o maldito limão. O almoço foi tranqüilo, mas enquanto fazia a massa comecei a sentir a danada da enxaqueca e assim que acabamos de comer voltamos pra casa. Dormimos até as cinco da tarde, e como eu estava um pouco melhor resolvemos ir ao cinema. Vimos Neverland, uma delícia de filme! Voltamos, vimos um pouco de TV e dormimos de novo, eu já devidamente enxaquecada outra vez. Emocionante, né.

Postado por leticia em 09:43

03.02.05

uia

Semana passada a vista aqui de casa era essa:


Não parecia que eu tava na Suécia?

(detalhe: eram DEZ DA MANHÃAAAA)

Postado por leticia em 10:23

02.02.05

uff!

O dia foi corrido ontem, como tem sido sempre nos últimos meses. Manhã na oficina corrigindo as faturas, aula com o Aluno Endocrinologista em Perugia e um giro rápido no centro pra comprar feijão preto e procurar farinha de mandioca (que não tinha mais na única loja que vende), almoço voado, oficina, mais faturas corrigidas, tentativa de enviar as Ri.Ba. pro banco, irritação, tempo que voava, o feijão que me esperava, compras a fazer, Ipercoop lotado, compras feitas em DEZ MINUTOS, casa, feijão no fogo, faxina meteórica feita igual à minha cara, banho, Moreno chegando e eu em casa sozinha fazendo cuca de banana, papos sobre a Argentina, eu fingindo muito interesse, a irmã do Gianni chegando com o namorado que se chama Marco mas nós chamamos de Bruno, depois Gianni e Chiara chegando com o Mauro e o Mauro não-Mauro (ele se chama Pietro mas todo mundo o chama de Mauro), o último a chegar foi o Mirco, as cadeiras não bastam, tem que pegar as extras da IKEA na garagem, acabou a água mineral, tem que pegar mais na garagem, não deu tempo nem de trocar os lençóis da cama, nem de pendurar a roupa na corda, usei a couve italiana e ficou bem razoável, o feijão ficou qualquer coisa, a farofa não deu nem pro buraco do dente, sobrou só uma colherada de arroz pro meu almoço de hoje, a cuca de banana sumiu todinha, a caipirinha ninguém quis, a louça tá toda lavada e a casa tá toda arrumada, fomos dormir às três da manhã, ainda não consegui terminar Great Expectations, a turma nova que iam me dar não era compatível com meus horários e fiquei na beiça, que merda, ainda não fiz as contas das horas de aula de janeiro por falta de tempo, hoje tem oficina de manhã + aulas non-stop até as sete e meia da noite, não tenho tempo de tocar no meu livro de Francês, que passeia comigo de carro todo dia, na esperança de conseguir uma meia horinha básica que nunca vem. Meu cabelo tá horrível. Estou cansada.

Postado por leticia em 08:31

28.01.05

asdf qwerafd4as

Foi só eu falar que por aqui neva pouco que pronto, acordamos hoje de manhã com toda a paisagem branca lá fora. Neve mesmo, de verdade, que acumula nas ruas, não derrete logo de cara, cobre os campos e telhados. Levamos quase 20 minutos pra varrer a neve da ladeira da garagem, que fica no subsolo. E mesmo assim o carro escorregou, patinou, girou as rodas em falso, e quase não subiu. Viemos pra oficina a 40 km/h, com o carro no cruise e o pé direito encolhido pra não pisar acidentalmente no freio, que nessas condições é melhor nem tocar pra não sair piruetando pela rua. Outros carros passavam por nós com imensas (e pesadas) camadas de gelo acumuladas no teto. Meu carro, que normalmente dorme fora, essa noite ficou na oficina, porque ontem voltamos pra casa juntos no carro do Mirco. Agora o Punto tá lá fora, debaixo do pinheiro, e mesmo assim já está todo branquinho. Tem um pouco de vento também, que joga os grandes flocos brancos no chão em um ângulo inclinado. O termômetro do carro marcava 1° C às oito e meia da manhã.

Estou começando a achar que essa viagem a Dusseldorf vai ser a maior furada. Isso se o avião sair do chão. Nossa esperança é que vamos partir de Roma, que tem um clima superlight e só muito raramente tem esses problemas climáticos extremos.

No sul do país as estradas estão bloqueadas. O telejornal das oito hoje mostrava quilômetros e quilômetros de carros e caminhões parados nas estradas nevadas, os motores ligados, funcionários da Defesa Civil distribuindo bebidas quentes e sanduíches pros coitados dos motoristas. Os limpa-neve e os spargisale (os tratores que espalham sal grosso na estrada) não são suficientes, e muitos trechos da rede viária do país estão totalmente intransitáveis.

Eu definitivamente ODEIO inverno.

p.s.: Estou tentando terminar dois posts pra distrair vocês até eu voltar da Germânia. O problema é a falta de tempo mesmo; ontem chegamos em casa às nove e meia da noite e só jantamos porque eu tinha deixado a sopa pronta, senão quem é que teria tido saco de cozinhar? Ou de sair de casa naquele frio pra comer fora?

p.s.2: Mil obrigados ao Rodrigo de Portugal que aparentemente solucionou o problema do e-mail preguiçoso. Agora só falta eu ter tempo de ligar pra Telecom reclamando.

p.s.3: Anti-histamínico é melhor que Lexotan pra ajudar a dormir. Mas não façam isso em casa, crianças.

Postado por leticia em 13:06

16.01.05

domenica

Hoje Mirco acordou tarde. Eu nem tomei café pra não acordá-lo (ele anda muito estressado e acorda às cinco da manhã e vai ver TV na sala, e acaba re-dormindo no sofá) e fiquei na cama terminando o livro sobre os celtas. Fomos almoçar na Arianna, que fez lasanha, coisa que eu não comia há séculos. Nem deu pra brincar direito com Leguinho nem nada, porque tava um frio do cacete e porque tínhamos combinado de passar na casa do Gianni e da Chiara pra resolver que viagem fazer esse ano. Gianni encasquetou com a Argentina. Mirco adora a Argentina e o Moreno foi pra lá semana passada; a passagem tinha sido comprada no ano passado e há meses que toda vez que nos encontrávamos o papo era SEMPRE Argentina. Imaginem a intensidade da minha encheção de saco. Mas dessa vez parece que a coisa é séria, porque o Gianni achou voos relativamente baratos também de Buenos Aires pra Uchuaia e El Calafate, pra ver a geleira de Perito Moreno e coisa e tal. Aparentemente vai rolar mesmo, no final de março. Vamos ver.

Postado por leticia em 20:46

15.01.05

uff!

E eu pensando que o fim de semana seria light.

Só conseguimos sair da oficina às quatro da tarde, porque veio um cliente calabrês que de vez em quando aparece, e como paga sempre em dia e sem criar caso, foi atendido. O cara é louro de olhos azuis e tem cara de tudo menos de calabres; muito simpatico e educado. Ajudou a soldar uma plaquinha pra reforçar uma lateral do caminhão e só não veio almoçar com a gente porque ainda tinha que encarar umas dez horas de viagem até a Calábria.

Depois do almoço tardio Mirco foi cortar o cabelo, missão demoradíssima, porque o barbeiro dele não marca horário e a fila é sempre longa. Eu fiquei dando uma guaribada em casa e preparando o jantar pro Fabio e pra FeRnanda, que chegaram às oito e meia. Mirco chegou depois, exatamente do jeito que tinha saído – a fila no barbeiro estava tão grande que ele resolveu deixar pra lá, continuar com o arbusto na cabeça e dane-se. Aproveitou o tempo livre pra ir fazer compras numa grande loja DIY (que aqui se chama fai-da-te) em Perugia, e voltou carregado de ferramentas, furadeiras, aparafusadores elétricos e outras coisas igualmente excitantes.

Pro jantar inventei um antipasto quente, e acabou que deu certo: forrei as minhas forminhas pra muffin de silicone com batata ralada, depois coloquei um pouco do recheio de salmão que tinha sobrado daquele jantar pros meninos que iam pra NY, cobri com mais batata ralada, polvilhei com sal e alecrim e pus no forno. Ficou bem gostoso. Depois fiz penne com salmão defumado (tínhamos que desencalhar o último salmão defumado que compramos na Metro, antes que acabasse a validade) e creme de leite. Simplinho e gostosinho, ainda mais com uma polvilhada de pimenta branca por cima. Fomos dormir cedo, porque estávamos exaustos e porque não tinha nada de interessante pra ver na TV.

Postado por leticia em 07:44

06.01.05

pregui...

E hoje é feriado na Itália: Epifania. É o dia no qual a Befana, uma bruxa, traz doces e brinquedos pras crianças boas e carvão pras crianças que se comportaram mal.

Nós aproveitaremos o dia pra descansar, trabalhar e ir ao cinema, necessariamente nessa ordem. Descansar porque ontem foi um dia longo e depois ainda fomos comer pizza com Gianni e Chiara e ficamos programando viagens e olhando atlas até duas da manhã. Estamos saindo agora pra almoçar na Arianna, depois temos que dar um pulo na oficina pra resolver umas coisas, e dali vamos diretamente ao cinema ver The Grudge. Alguém já viu? Não sei nada sobre esse filme, se é bom, se é horrível, se dá medinho, se dá pena.

Postado por leticia em 12:23

01.01.05

oi!

O primeiro dia do ano significa sempre almoçar na Arianna. O dia estava lindo, e depois do almoço (cappelletti feitos em casa, com molho de tomate; carne brasileira na brasa; chuchu refogado) fomos dar uma volta ali em torno da casa com os cachorros. Esquecemos de descer com a máquina fotográfica, mas eu também não tava no clima – ando meio jururu esses dias. Descobrimos uma cachorra nova numa casa velha que hoje abriga uns cavalos de corrida e 24 gatos: é uma filhotona toda desengonçada, com patas gigantescas e orelhas muito longas. Linda, deliciosa! Infelizmente é arredia que só e não deixa ninguém chegar perto dela. Amanhã vou levar um pedaço de salame pra ver se ela cede.

Postado por leticia em 20:17

30.12.04

cachos

Finalmente chegou o pacote da mamãe, com artigos de jornal, uma blusa de tricô, o líquido pra escova progressiva, entre outras coisas.

Decidi que vou ser lisa só até o líquido que ela mandou acabar. Cabelo liso é ótimo mas não tem nada a ver comigo. E não é só porque à medida em que o tempo passa eu vou ficando com mais e mais cara de árabe (síria, no caso), mas porque não tem nada a ver mesmo. Fico engraçada de cabelo liso, e não bonita. Não é pra mim.

Postado por leticia em 08:04

20.12.04

ventania

Tá ventando pra burro. Já cheguei à conclusão de que os italianos têm uma ponta de razão quando dão a culpa de tudo ao vento. Toda vez que o vento sopra forte assim, e gelado assim, eu fico com dor de cabeça.

Meu aluno endocrinologista me receitou almotriptan contra a crise de enxaqueca. Custa uma fortuna e resolvi dar um pulo na minha médica de família, uma vesguinha muito boazinha, pra ver se ela me dava uma receita daquelas vermelhinhas, que me permitem de pegar o remédio de grátis na farmácia. Acabou que ela me deu uma amostra grátis com três comprimidos. Devo tomar um assim que começarem os sintomas iniciais da enxaqueca (eu não tenho aura, pulo diretamente pra cefaléia e dali pra enxaqueca homicida), mais um, depois de duas horas, se não sentir nenhuma melhora.

Hoje de manhã fiz um milhão de quilômetros, entre bancos, correios, padaria, escritório do Roberto pra deixar um negócio pra ele que o Mirco consertou, galpão de cliente pra deixar o cesto de Natal, oficina, onde botei umas faturas em ordem. Todo esse entra-no-carro-aquecido e sai-pro-vento-gelado repetido mil vezes não pode fazer bem a ninguém. Resultado: já tá a pontada atrás do olho esquerdo me atazanando outra vez. Mas não quero tomar nada, porque a enxaqueca bombástica mesmo só vai vir daqui a quatro semanas, se for uma menina pontual, e quero fazer um teste pra ver se o almotriptan funciona. Vamos ver se com um paracetamolzinho passa essa dorzinha. Já almocei (massa curta com atum refogado na cebola, cenoura meio crua, meio cozida, e milho) e agora vou ver o Comissário Rex antes de encarar outros quilômetros pra lá e pra cá, e depois finalmente dar aula de português à Quarentona Estressada.

Postado por leticia em 13:59

13.12.04

run, paca, run

Ontem, estranhamente, acordei com disposição e vontade de ir correr. Talvez porque o dia tenha amanhecido lindo, de céu azul, ar frio mas suportável (dez graus), seco. Eram nove e pouco quando desci, de calça de moletom, camisa de manga comprida e um moletom verde-escuro do Mickey. Virei à direita, passando em frente ao bar onde o Fabrizio o Louco vai passar o tempo depois do jantar, pra não ter que aturar a mulher insuportável e tão graciosa quanto um tanque de guerra. A minha rua, depois do bar, acaba na via Sofia (em Bastia, como em muitas outras cidades da Itália, muitas ruas têm nome de cidades ou países). Virando à esquerda caio na via Cipresso, que depois vira via Torgianese, porque vai a Torgiano. Virando à direita, vamos parar numa das muitas estradas di campagna que há por aqui – estradinhas de roça mesmo, que passam por entre os campos, não são iluminadas nem têm acostamento e só exibem umas poucas casas, aqui e ali. Virando à direita vou na direção da fábrica de biscoitos Colussi, em Petrignano; à esquerda eventualmente vou parar numa paralela à superstrada que leva a Perugia. Faço sempre esse caminho pra ir trabalhar, porque essa paralela nunca tem engarrafamento, ao contrário da superstrada. Quando vou correr, em vez de pegar o pedaço de estrada que vai cair nessa paralela, vou pro outro lado, e quando a rua termina, em vez de virar à direita e ir subindo a colina onde fica Brufa, viro à esquerda, basicamente dando a volta no aglomerado de prédios baixos e casas onde moro e chegando em casa pelo lado oposto de onde eu parti.

Qual não foi a minha surpresa quando, ao chegar na via Sofia, dei de cara com uma cabeçada que corria na direção da via Cipresso. Eu tinha visto as faixas anunciando a competição de podistica non competitiva (leia-se corrida) nas ruas de Bastia, mas não tinha ligado o nome à pessoa, por assim dizer. Pois então; em frente a uma casa onde mora um yorkshire pentelho que sempre late quando eu passo foi montada uma mesa, onde três aposentados enchiam copinhos de plástico com água mineral ou chá gelado, e cortavam laranjas em fatias finas pra distribuir aos corredores que passavam. O chão estava cheio de copinhos vazios, o que dava um ar levemente sério à corrida, tipo, o corredor está disputando uma prova séria, por isso não pode parar pra jogar o copo vazio na lata de lixo. Ha ha ha. Tinha de tudo nessa corrida: gente velha, adolescente, gente com roupa coladinha, gente de touca de lã, gente de bermuda, gente que corre quase andando, gente que acha que tá correndo a maratona de NY. No final de toda essa gente, um barrigudo com um labrador amarelo, com dezoito metros de língua de fora. Passam dois caras de faixa na testa (existe coisa mais anos 80 do que faixa na testa?) e óculos escuros, e brincam comigo, dizendo que a corrida é na outra direção. Eu dou uma risada, boto os headphones nos zovidos e vou em frente.

Meu fôlego, não é de surpreender, foi pras cucuias. O percurso que antes eu fazia com o pé nas costas agora peno pra fazer até a metade. O ar gelado queimando as vias aéreas não ajuda, devo admitir. Acho que não tenho pêlos suficientes no nariz pra aquecer o ar, então sinto dor mesmo, de verdade, quando o ar gelado entra com força na traquéia e desce pros pulmões. Sinto os alvéolos gritando, mamãe, mamãe, que porra de ar gelado é esse que você tá mandando pra cá? Tá de sacanagem, né? Os olhos lacrimejam, o nariz escorre. Lembro-me de que ODEIO correr no frio.

Outro problema é que deixei meu par de tênis mais novos no Rio. Anta. Esses que ficaram já estão velhos, as solas estão praticamente lisas, e pegaram tanto a forma do pés que esses afundam, as laterais ficam altas demais, e machucam os maléolos, principalmente o direito, onde ganhei um quelóide depois do tombo com o scooter.

Outro problema é que, recém-saída de uma crise enxaquecal, resolvi não sentir frio na cabeça e taquei um gorro horripilante do Mirco, cor de diarréia. Só que com o volume do gorro de lã os headphones não páram na cabeça, e toda hora desciam, indo parar em volta do meu pescoço.

Mas no final das contas vale sempre a pena; chego em casa com esperança de um dia deixar de ser gorda, e me sentindo cheia de energia.

Postado por leticia em 20:00

09.12.04

ui

Enxaqueca braba hoje.

A essa altura do campeonato, já entendi o mecanismo. Só pode ser de origem hormonal, porque só se manifestou fora do período pré-menstrual uma vez. Acordo de manhã com uma leve dor de cabeça que vai piorando ao longo da manhã. Lá pra hora do almoço já não sei mais nem como me chamo. Dirigir é perigoso, os olhos não se mantêm abertos, não posso mexer a cabeça porque a dor é insuportável. A esse ponto só me resta me enfurnar debaixo das cobertas, no quarto completamente escuro e silencioso; não consigo comer nada porque a náusea é bem intensa. Durmo a tarde inteira e quando acordo, à noitinha, estou um pouco melhor: já sei quem sou e onde estou, e já sou capaz de suportar a TV ligada e de sentar um pouquinho ao computador. Como alguma coisa e vou dormir de novo. No dia seguinte o ciclo se repete, igualzinho; à noite já estou melhor e posso até sair de casa, preferivelmente sem pegar vento frio na cabeça, e depois disso não tenho mais nada, é como se a enxaqueca nunca tivesse existido.

Postado por leticia em 21:08

06.12.04

:(

Não pára de chover na Itália central. Chove há dias, e quando não chove, o sol não dá o ar da graça. Minhas plantas estão em um estado lastimável. O ficus que o Mirco me deu de aniversário tá todo manchado e as folhas caem com a mínima brisa. Mudei-o pra varanda do quarto hoje, quando vi que tinha um fiapo de luz do sol batendo, mas agora o tempo já fechou horrivelmente outra vez e acho que o ficus vai mais é subir no telhado mesmo. A pianta grassa, presente da Arianna, também tá amarelada e manchada, os pés de manjericão já secaram há muito, os pés de peperoncino estão amarelados e a única pimenta de cada um não fica vermelha de jeito nenhum. As tulipas da cunhada também ainda não apareceram, porque a umidade é excessiva e o frio ainda é pouco pra elas. As plantas estão morrendo por incapacidade de fazer uma fotossíntese comme il faut e também, suspeito eu, por saudades do sol.

Postado por leticia em 13:58

30.11.04

uhuuuu

Pega-pra-capar ontem na casa da Suely Maria.

Eram umas quinze pras onze, já tínhamos visto E.R. e eu estava vendo a sátira ao Grande Fratello no canal 6. Levantei pra pegar um copo d'água e escutei uma gritaria lá fora. Pensei que fosse alguém falando no celular no corredor, porque só ouvia uma voz, de homem. Abri um pouco a porta da sala e entendi que os gritos vinham da casa da minha digníssima (cof cof) vizinha brasileira. Era o seu digníssimo (cof cof) companheiro, aquele que fuma no elevador e tem cara de bêbado/cafetão, e que eu não tenho idéia de que trabalho tenha porque seu carro, uma Audi TT ridícula pra um homem da idade dele, está eternamente estacionado aqui na frente do prédio. Enfim, era ele quem gritava, ou melhor, falava muito alto, mas educadamente, sem palavrões, sem baixarias. Dizia que ela era uma mulher como todas as outras, uma pessoa normal, como ele, e por isso tinha que parar de se achar (quase bati palmas nessa hora). Eu também não sei o que ela faz da vida, porque está sempre em casa, ouvindo música italiana chata ou aquela mala da Adriana Calcanhoto. Quando sai, é toda emperiquitada, estilo calça da Gang, obviamente por dentro das botas brancas. Dirige um velho Escort branco conversível, com uma Árvore Mágica tigrada (Perfumes Africanos) pendurada no retrovisor.

Bom, sei que o assunto não saía disso, ela choramingava e dizia alguma coisa que eu não conseguia ouvir e ele continuava na lenga-lenga. Ouvi o escrotão dizendo que ela teria que começar a pagar o aluguel e as contas – lembram que assim que ela se mudou pra cá eu disse que tudo tinha a maior pinta de que ela não pagava nada? Enfim, non sono cavoli miei, mas que fiquei curiosa, fiquei. Só não fiquei com pena dela porque 1) o cara em nenhum momento disse palavrões ou falou que ela era isso ou aquilo; 2) ela é absolutamente nojenta e mais vulgar que uma cubana, e por mim se saísse do prédio, melhor ainda, do continente, me faria um favor.

Fui dormir e sonhei que estava sendo perseguida por suíços nas entranhas do metrô do Rio, que tinha estações que eu nunca ouvi falar, com nomes muito estranhos. Não foi a primeira vez, mas acho que nesse caso tenho uma explicação: Asterix entre os Helvéticos foi a última coisa que eu li antes de dormirl.

Postado por leticia em 08:16

15.11.04

bambini

Eu e Mirco temos, obviamente, muitas coisas em comum, mas uma delas é a criancice em relação a comprar coisas. Adoramos fazer compras, por mais idiota que seja a coisa comprada. E ficamos desesperados pra voltar logo pra casa, abrir o pacote, ficar olhando, lendo o manual de instruções, se houver, ou qualquer coisa que esteja escrita na caixa. Normalmente não sossegamos enquanto não montamos a tal coisa, a testamos e, dependendo do que for, fazemos uma foto.

Pois então: hoje fomos cedo pra oficina e só fomos almoçar às duas e meia da tarde. Enquanto eu cuidava do almoço e ao mesmo tempo recolocava as plantas na varanda, com a esperança de que o vento pare de encher o saco, o Mirco foi cuidar das novas compras. Espalhou as folhinhas do pot-pourri cheiroso pela casa, guardou os apetrechos de cozinha, botou os lençóis novos pra lavar, pendurou os ganchinhos pro secador de cabelo no banheiro. Só ainda não deu pra prender o porta-revistas na parede aqui do escritório, porque esquecemos de trazer a furadeira da oficina. O bicho tá ali me olhando, pedindo pra ser montado. Coitado, mal sabe ele que nessa casa não há revistas, e que ele irá segurar basicamente pastinhas com documentos e coisas pendentes.

**

Ando morrendo de vontade de comprar uns dicionários. Adoro dicionário. Qualquer um, até búlgaro-nepalês. Acho dicionário uma das coisas mais interessantes na face da terra. Meu Zingarelli gigante, que ganhei de prêmio em um concurso idiota no Consulado Italiano há três anos, eu deixei no Rio. Aqui comigo só tenho um Oxford, um de italiano do Mirco MUITO velho, e várias daquelas porcarias Michaelis de bolso. Já fui na Libreria Grande catar, mas eles só têm porcaria. Aí agora estou morrendo de vontade de dar um pulo em NY pra tomar de assalto uma livraria e voltar com uma mala abarrotada de livros e dicionários.

Vocês têm essas compulsões malucas assim também ou sou só eu?

Postado por leticia em 15:23

14.11.04

IKEA day - momento diarinho que só interessa à mamãe

Acordamos cedo, não sem um certo nível de sofrimento visto a hora em que fomos dormir ontem, e fomos pegar Arianna e Lucia em Santa Maria. Lucia é a mãe da Arianna, uma velhinha fofa de 80 e poucos anos que é uma gracinha. Ela não se dá bem com a nora, uma escrota que o filho insistiu em botar dentro de casa, e agora mora com a Arianna. Praticamente só sai de casa pra ir ao cemitério, mas passa um bom tempo na horta, cuidando das galinhas, descascando avelãs e cortando verduras pro minestrone. Pois bem, lá fomos nós carregar a Lucia pra IKEA de Firenze. Almoçamos por lá mesmo e compramos muita tralha, inútil em sua maior parte, mas é impossível pisar na IKEA e não trazer algo pra casa. Deixamos as duas senhoras em casa e fomos jantar com Marco, Michela, Peppe e um casal de amigos deles, com a filha pequena, Asia, que é uma peste. Não voltamos tarde, mas não dava pra ajeitar nada em casa.

Postado por leticia em 22:13

13.11.04

vento, ventania

O dia amanheceu estranhamente limpo. Mirco saiu cedo pro trabalho, eu dei uma ajeitada rápida na casa e resolvi ir a pé a Bastia comprar umas coisas pra oficina, em vez de pegar o carro. Dei uma bela caminhada: 40 minutos a pé, debaixo de um estranho sol de novembro, de moletom e camisa de manga comprida, ouvindo Elvis no mp3 player, fazendo muito esforço pra não sair pulando pela rua. O céu azulziiiiiiiiiiinho, só o Subasio coberto de nuvens, coitado. Mais 40 minutos pra voltar, terminei de ler a última parte de The Belgariad, fiz faxina, deixei o almoço engatilhado e fiquei vendo TV, esperando o Mirco pra almoçar. Ele chegou às quatro da tarde, comemos rapidinho e fomos dar uma volta no GranCasa, em Spello, tipo uma superloja de coisas pra casa, acampamento, escritório, material de limpeza, caixas de correios, essas coisas. Depois fomos pegar Mario Belli e a noiva siciliana, cujo nome descobrimos ser Maria Rita. Jantamos no chinês em Foligno com toda a intenção de ir ver The Manchurian Candidate depois, mas engatamos no papo e quando vimos já tínhamos perdido a última sessão.

Na volta Mirco teve um desejo de tomar sorvete e paramos no bar de um amigo do Mario, em uma fração de Foligno. Quando saímos o vento já soprava forte e a grama dos campos em frente ao estacionamento do bar estava completamente na horizontal, e os galhos das jovens árvores ao redor balançavam loucamente. Na estrada, o vento sacudia o carro e jogava nuvens de folhas secas na nossa frente. Deixamos os dois em casa, em Santa Maria, e voltamos pra casa. Uma quantidade de coisa voando na rua impressionante; folhas, galhos, papel, sacolas plásticas, e, surprise, surprise, uma cadeira de plástico no estacionamento em frente ao nosso prédio, onde deixo o meu carro. Não sei de qual varanda a cadeira voou, mas espero que não tenha sido em cima do meu carro. Estacionamos na garagem e subimos correndo pra ver se tinha voado alguma coisa de nosso lá embaixo também. Meu vaso gigante de ficus estava tombado, o varal da varanda se desmontou e caiu. Começamos a botar tudo dentro de casa, todas as plantas, a mesa de plástico, o varal desmontado. Lembramos da tromba d'aria (o que seria isso? Rajada de vento? Pé-de-vento?) que rolou essa semana numa cidade da Calabria, que chegou a virar ônibus e o escambau. Do ralo do bidê subia um barulho impressionante do vento nos canos.

Mesmo assim, sabe-se lá como, dormi feito uma pedra.

Postado por leticia em 22:06

12.11.04

nham

Apesar da maldita enxaqueca de ontem, tínhamos convidado um casal de amigos pra jantar, então não dava pra desmarcar em cima da hora. Eram o Mario Belli, um dos gêmeos da família proprietária da floricultura mais conhecida de Santa Maria, e a noiva, cujo nome esqueci, uma siciliana bonitinha que já foi cabeleireira e agora é caixa na Metro, tipo o Makro aqui da Europa. Eles são meio devagar quase parando, especialmente o outro gêmeo, o Carlo, que frequenta frades e coisas do gênero, mas são gente muito boa. E a primeira viagem do Mirco à Austrália foi com eles, então motivo pra conversar não falta.

Como passei a manhã de ontem em casa, antes da dor de cabeça atacar com todo o seu esplendor, cozinhei com muita calma, deixando tudo mais ou menos pronto pro jantar. Fiz crepes com recheio de verdura, lombinho no leite, batatas gratinadas tabajara e quadradinhos de laranja.

As crepes nada mais são do que panquecas finiiiiinhas. Fiz duas por pessoa: uma com recheio de brócolis e cebola cozida no molho shoyu, a outra com cenoura, alho-poró e abobrinha ralados e cozidinhos no azeite, com um pouco de ricota pra tirar aquele gosto de grama. O lombinho foi todo furado, e em cada buraco coloquei um pedacinho de alho e umas folhinhas de alecrim; também juntei umas folhas de sálvia, pimenta-do-reino e sal grosso, e cozinhei no leite (receita da cunhada). Ficou até gostoso, mas eu acho moooooooooito melhor quando a carne é cozida no vinho. Oooooutros 500. O líquido que sobrou na panela eu triturei com o mixer e servi como um molhinho bem grosso, pra dar uma molhadinha na carne, porque lombinho é uma carne naturalmente seca, como o peru. As batatas eu cortei em rodelas e assei no forno com pouca água e um tiquinho de leite, e no final joguei um parmesão por cima, mas sem exagerar, porque a noiva do Mario é alérgica a queijo. E os quadradinhos de laranja são aqueles fáceis de fazer e que todo mundo adora.

Eu ganhei uma planta linda, que esqueci de perguntar o que era mas tem toda a pinta de bromélia. Conversamos bastante e nos divertimos, mas não dava pra esquecer as facadas atrás do olho. Eles foram embora depois da meia-noite, quando eu já tava querendo estrangular o Mirco, que usa qualquer coisa, por mais insignificante que seja, entrar no assunto viagens já feitas ou ainda em planejamento, e não pára nunca de falar. A coitada da garota querendo ir embora dormir, eu em vias de botar a cabeça dentro do congelador pra ver se a dor melhorava, e os dois falando daquela multa que levaram sei lá onde, lembra? E o Fulano, que dava em cima daquela francesa em Brisbane? E aquele albergue em Nova York, lembra? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAARGH!

Dormi como uma pedra e hoje acordei melhor. Mas como ontem de manhã eu também tava bem e depois piorei, vou é ficar quietinha hoje, vou dar minha aulinha e voltar correndo pra casa antes que escureça, porque eu já sou fotofóbica normalmente, mas com enxaqueca assim não enxergo N-A-D-A na estrada. Que não é iluminada, porque passa entre os campos cultivados de Torgiano, não há quase ninguém morando às margens da estrada. A concentração pra não sair da pista e os faróis dos outros carros não ajudam a enxaqueca a ir embora, muito pelo contrário.

Ai, ai.

Postado por leticia em 15:05

08.11.04

domenica

As bruxas andam soltas aqui na Itália. Bombas explodem em Milão, perto de um presídio. Manifestantes no-global saqueiam um supermercado e a livraria Feltrinelli em Roma. Em Nápolis, na última semana TODO DIA algum jovem morreu em brigas ou vinganças entre clãs/gangues. Alagamentos no sul da Itália. Em Viterbo, perto de Roma, um romeno foi queimado vivo por uma gangue de albaneses.

**

O frio finalmente chegou. Acabou a mamata do calor fora de hora. O outono mais quente dos últimos 150 anos chegou ao fim abruptamente. Semana passada, apesar do tempo nublado, desfilei pelas ruas de blusa decotada e manga 3/4. Sábado teve céu coberto de nuvens brancas, esquisitas, e uma primeira ameaça de frio. Passei a manhã e boa parte da tarde numa tradução bizarra, e jantamos porchetta na casa dos tios do Mirco.

Ontem acordamos num dia de céu limpo e vento forte e absolutamente gelado. Aproveitei o sol pra transferir as plantas mais frágeis da varanda da sala, mais exposta ao vento e menos ao sol, pra do nosso quarto, onde o sol bate do final da manhã até a hora de se pôr. O sol entrando no quarto, com o nosso ridículo edredom vermelho em cima da cama, deixava o quarto transbordando de luz avermelhada. Deitei na cama enrolada num cobertor da KLM, as pernas estendidas no calorzinho gostoso do sol invernal, lendo David Eddings. Felicidade é isso. Lá fora, o manjericão, o cactus, os vasos com os bulbos de tulipas plantados de manhã cedo, os cravos, o peperoncino, o manjericão genovês, a pianta grassa que a Arianna me deu, se divertiam pegando sol, mais ou menos protegidos do vento, debaixo da marquise.

Passamos o dia em casa ajeitando umas coisas pra oficina, botando documentos em ordem, montando tabelas e dando risada. Nem fomos almoçar na Arianna; fizemos pappardelle com molho de lebre mesmo. No final da tarde fomos encontrar o Moreno em Assis, já que ele estava trabalhando. Estacionamos o carro de qualquer jeito numa vaga pra taxi na Piazza Matteotti, a praça mais alta da cidade, e pegamos o microônibus que o Moreno estava dirigindo. Eu nunca tinha pego o pulmino (microônibus) antes; há duas linhas, A e B, que se fundiram numa só, de modo que agora o pulmino faz as rotas alternadas, primeiro a A e depois a B. Eu sempre pegava a linha C, com o ônibus grande que vai de Santa Maria a Assis, quando trabalhava com o Fabrizio o Louco. As linhas A e B passam por zonas de Assis que eu não conheço, mas já tava escuro e pouco deu pra ver.

No ônibus, dois velhinhos e uma velhinha. Um dos velhinhos saltou logo, despedindo-se do Moreno com muita intimidade. A senhora desceu logo depois, encasacada. O outro ficou sentado lá atrás, a gola do pesado casaco de lã levantada, boina cinza na cabeça, bengala na mão. Moreno nos apresenta o senhor: se chama Bruno, é viúvo e sempre pega o ônibus pra dar umas voltas e passar o tempo. Damos voltas e mais voltas, Moreno voando com o ônibus como se estivesse dirigindo o seu Audi A3 superesportivo, passando direto pelos pontos vazios, naquele frio e àquela hora. Acabaram os turistas; o feriado de 1 de Novembro (aqui comemora-se o dia primeiro e não o dia 2 como no Brasil) é o último grande boom turístico de Assis. Depois é calmaria direto até 26 de dezembro, que aqui é feriado, dia de Santo Stefano. Depois calmaria de novo até março do outro ano, quando recomeça a estação turística.

Paramos na Piazza del Comune, bem em frente à loja do Fabrizio, pra comprar castanhas no Massimo. Ele monta a sua barraquinha de castanhas em frente à Pinacoteca Comunale, mas agora que o frio chegou de verdade vai passar a trabalhar só aos domingos, quando ainda há alguns visitantes, a maioria aqui da Itália central mesmo, que vêm fazer one-day-trips por aqui. Massimo é uma figura. Imundo, barba sempre por fazer, sorriso bonito e sempre aberto, dá castanhas de presente a todo mundo que conhece. Quando eu trabalhava na loja ele achava, sabe-se lá por quê, que eu era louca por castanhas e sempre me deixava um saquinho antes de ir embora. Uma vez me deu uma carona até em casa. Seu carro é inacreditávellllllllllllllll, eu não sei nem de que marca é de tão velho, de um azul-turquesa absurdo, e incrivelmente lotado de lixo e coisas inúteis. De copos de vidro a caixinhas de McLanche Feliz, passando por lápis sem ponta, embalagens de bala, velas, cestos. Treme e sacoleja a cada mudança de marcha, mas cumpre sua função de transportar o dono, então tá bom. Na verdade eu não sou louca por castanhas, ao contrário da Syrléa. Quando são boas e estão quentinhas eu até como, mas não acho lá essas coisas. São tão calóricas que eu honestamente prefiro engordar com coisa melhor (leia-se cacau, em qualquer forma). Mas pegamos o saquinho de castanhas de presente do Massimo, subimos no ônibus de novo e partimos outra vez, pra terceira volta. Bruno, quer descer? Não, mais uma voltinha.

Passamos por trás de hotéis, pela zona Viole di Assisi, que é muito bonita e tranquila mas completamente fora de mão. Subimos e descemos ladeiras, passamos pelo cemitério, por trás da Rocca Minore, por baixo da torre de uma inglesa maluca que mora ali sozinha com mil cães e gatos e investe seu dinheiro em vinhos caros que ficam armazenados na garagem do Fabrizio e que ele se encarrega de vender em leilão quando ela precisa de dinheiro líquido. O vento uiva lá fora e Moreno faz a clássica pergunta a Bruno, que lhe dá a clássica resposta:

- Freddo, Bru?
- E’, More', non è caldo.

Moreno liga o aquecimento, até então desligado porque ele é agitado demais pra precisar dessas coisas. O radio grita uma chatíssima música pop italiana que o Moreno canta junto, com castanhas na boca. Mirco está sentado perto dele, dentro do cercadinho do motorista, encostado na janela do lado direito. Os dois se conhecem desde pequenos e são quase que igualmente agitados. Quando estão juntos riem tanto que às vezes têm que sentar no chão pra gargalhar, como duas crianças. Eu acabo me divertindo também, por tabela.

No ponto de Porta Nuova, onde passa também a linha C e onde eu descia sempre pra ir ao centro trabalhar, três garotas bonitas, obviamente turistas, fazem sinal. Nós três falamos ao mesmo tempo: va alla stazione?, a pergunta clássica de turista clueless que não é capaz de entender que quando NÃO há "Stazione" escrito na frente do ônibus, ele NÃO está indo até a estação. Moreno aperta o botão pra abrir a porta, mas mesmo na leve ladeira a porta não abre e o Mirco estende o braço pra abri-la na mão. Uma das meninas enfia a cabeça pela porta aberta: "Stazione?". Começamos a rir, Moreno responde, no inglês mais macarrônico do planeta: Fra ten minutes più o meno. Depois se arrepende, deveria ter mentido, a garota era bonita, hahaha.

Vão chegando as oito da noite, fim do turno do Moreno. FeRnanda mandou um SMS cancelando o Fratellão que foi transmitido excepcionalmente ontem em vez de quinta, e resolvemos pegar uma pizza e ver filme aqui em casa. Moreno deixa Bruno perto de casa e vai até o nosso carro. Ele ainda teria uma volta pra fazer, mas encurta sempre essa última, porque sabe que não há passageiros. Nós pegamos o carro e nos dirigimos a Santa Maria pra passar na pizzaria dos Feios; Moreno ia só descer com o ônibus até a sede da empresa, pegar a bici pra voltar pra casa e trocar de roupa, e nos encontrar aqui em casa. Saiu cantando pneu. Com o microônibus. Numa subida.

A pizza estava ótima, o filme (Out of Time, com Denzel Washington) idem, a companhia também. All in all, foi um domingo muito gostoso.

Postado por leticia em 08:46

04.11.04

...

Comendo clementine (tangerinas pequenas, sem caroço e deliciosas) enquanto verso coisas chatas de Português de Portugal ao Inglês. Lá fora a neblina é pesadíssima; não se vê nada, só uma nuvem branca gigante blanketing everything. Ótima escolha, os cravos; ao contrário das pobres dálias-anãs, que não conseguem dar flor de jeito nenhum com toda essa água que cai há meses, os cravos são plantas resistentes e que não se abalam nem com o excesso de chuva, nem com a neblina fria, nem com o vento forte. Suas flores estão todas lá, abertas ou abrindo, brancas, rosa-escuro, vermelhas. Ainda é cedo pra plantar os bulbos de tulipa que a cunhada mandou pelo correio; o frio ainda não chegou e a terra dos vasos ainda está encharcada. Minhas plantas de peperoncino continuam dando grandes pimentas, curvas como sabres, que ainda estão verdes demais pra ser colhidas. Ontem Arianna me deu de presente um buquê de peperoncino, lindo – depois tiro uma foto.

A casa inteira cheira a tangerina.

Postado por leticia em 09:10

25.10.04

cachuerros

Ontem o dia amanheceu esquisito, uma neblina densa cobrindo tudo, mas não excessivamente frio. Acordamos cedo, botamos umas coisas em ordem aqui em casa, fomos à oficina trocar o óleo do meu carro e do carro da oficina, almoçamos na Arianna e aproveitamos o tempo lindo e o sol gostosinho pra subir o Subasio com Leguinho e Demo. Lá de cima o vale estava meio afundado na neblina, mas o tempo só começou a mudar lá pras seis, quando um vento frio resolveu soprar e fomos embora. Tinha muita gente no monte, alguns trailers, muitas crianças, gente saltando de paraglider, cavalos e uma vaca pastando bem do nosso lado.

Aquela mancha branca no fundo é a vaca.

Postado por leticia em 14:57

19.10.04

passei!

Miraculosamente, passei na prova teórica pra motorista. Digo miraculosamente porque obviamente não tive tempo nenhum pra estudar; dei uma olhada rápida ontem tarde da noite e fiz alguns testes pra praticar, mas considerando a quantidade de informação que tem no livrinho eu até que me saí muito bem: de 30 questões, só errei três (mais dois erros e eu não passava), e bem idiotas – clássicas questões de definições e nomenclatura que não provam nada além da capacidade de memorização do candidato. A minha é ótima; dificilmente eu esqueço de algo que li ou ouvi, e minha memória visual é excelente, o que ajuda na hora de lembrar da legenda embaixo da figura de uma placa de trânsito. Mas definições idiotas não são comigo, fico achando pêlo em ovo, fico com má vontade e acabo sempre errando. E foi exatamente o que aconteceu.

Nós éramos 12. Dez adolescentes, eu, com 8 anos de direção nas costas, e um molambento de seus trinta e cinco anos que eu apostei comigo mesma, só de vê-lo entrar na sala, que não iria passar. O jeito de caminhar, de se vestir, o olhar de pamonha, o fato dele não ter trazido caneta, tudo isso só confirmou a minha certeza. E não deu outra: o cara errou milhões de questões. Além de mim, só mais duas pessoas passaram: um garoto que fez 4 erros e deu um suspiro de alívio que fez todo mundo gargalhar, e uma garota que não errou nada. Uma outra mulinha foi reprovada pela segunda vez. Cara, na boa, fora essas definições idiotas, que são decoreba mesmo, dirigir, e conseqüentemente a prova pra poder dirigir, é como qualquer outra coisa na vida: basta ter bom senso. E feito o teste uma vez você já passa a entender o mecanismo, né. Fora que o livrinho teórico vem com um livrão de testes com TODAS as questões possíveis – são muitas, verdade, mas o teste só tem trinta, divididas em dez enunciados, cada um com três afirmativas que podem ser verdadeiras ou falsas. Os assuntos até que são bastantes: noções de primeiros socorros, que felizmente não caíram pra mim porque não lembro de mais nada, de poluição, de manutenção do carro, de direitos e deveres em caso de acidente, do funcionamento da apólice de seguro do carro, etc. Bem interessante.

Bom, em todo caso, passei. Um alívio, mais pela burocracia que eu teria que enfrentar novamente se fosse reprovada do que pelo medo de não passar de novo, coisa que certamente não aconteceria na segunda tentativa, please. Agora tenho que voltar à auto-escola pra marcar (e pagar, né) a prova prática, e pronto.

E aqui entro com um adendo: eu fui, logicamente, a primeira a terminar, como sempre aconteceu durante toda a minha vida acadêmica, desde que me entendo por gente. Fiz a prova em 5 minutos, contados no relógio. Quando fui entregar a folha, a fiscal, que também é dublê de mulherzinha burocrática às segundas, quartas e sextas (foi ela que me atendeu quando fui entregar o requerimento), pediu, em voz alta, que eu entregasse também a minha pastinha branca, que eles mesmos nos dão, e que contém todos os seus documentos necessários pro andamento do processo. Adivinhem quantas das outras 11 pessoas ouviram o que ela disse, ou se inspiraram nas novas pastinhas brancas que se acumulavam sobre a escrivaninha à medida em que o resto do povo ia terminando? ZERO. A coitada da mulher repetiu ONZE vezes "a pastinha branca também, por favor". Ou eu sou chata demais ou a imensa média da população é desatenta e desinteressada demais. Eu sei que sou chata, mas tenho a impressão de que nesse caso a segunda hipótese é infinitamente mais provável.

Postado por leticia em 12:42

17.10.04

domesticidades

. Eu adoro salmão. Acho uma delícia, lindo, maravilhoso. MAS Ô PEIXE PRA DEIXAR VOCÊ E A SUA COZINHA FEDENDO DIAS A FIO, PUTZ GRILA!!!

. Se eu não tinha nenhuma opinião formada sobre organismos geneticamente modificados, nossas últimas incursões ao cinema me fizeram pensar melhor sobre o assunto. O primeiro a desenvolver um milho de pipoca geneticamente modificado de modo a não ter mais aquelas malditas casquinhas que vão parar direto entre o dente e a gengiva vai ter meu voto pro Nobel.

. A melhor escovinha de rímel que eu já tive na minha vida é uma do Boticário. É uma verdadeira maravilha: não precisa dar aquela limpadinha básica dos excessos na borda do frasco, não forma gruminhos, separa os cílios que é uma beleza. Só tem um pequeno problema: basta uma gota de chuva ou de lágrima pra borrar tudo, mas estranhamente, na hora de remover, à noite, antes de dormir, não há santo que consiga tirar tudo. Eu lavo o rosto com sabonete Basis, uso demaquilante pros olhos, e mesmo assim acordo com cara de drogada em heroína que passou a noite se picando na estação de metrô abandonada, com olheiras de dois metros causadas pelo rímel borrado. Assim não dá.

. Eu AMO escova progressiva.

. Amanhã faço a prova teórica pra carteira de motorista. Algo me diz que não vai dar certo.

. A gatinha do Ettore roubou o lugar do friorento do Leo no cesto de trapos onde ele sempre dorme sozinho, como um paxá. Bem feito. Ele é o maior ladrão de lugar quentinho, mas anteontem o pegamos dormindo todo torto numa cadeira num canto da garagem, enquanto a gatinha dormia em meio aos trapos no cesto quentinho, como o diabo gosta...

Postado por leticia em 08:30

16.10.04

coisitchas

Vou custar a escrever sobre a viagem. Preciso de tempo pra editar e uploadear fotos e pra lembrar de um monte de coisas. Enquanto isso vamos às frugalidades, que eu adoro:

O tempo aqui está uma merda, como era de se esperar. Chove o tempo todo, minhas plantas sobreviveram bravamente ao excesso de água e continuam lindas, tenho pilhas quilométricas de roupas pra lavar (e depois passar), mas com esse tempo nada seca, tudo fica com cheiro de cachorro molhado. Já fiz o maldito cambio stagione, ou seja, já levei as roupas de verão, devidamente guardadinhas em malas, acompanhadas de sabonetes da Natura, lá pra garagem. Já subi as roupas de inverno, as botas, os casacos. Hoje já fui ao banco, aos correios, ao banco de novo, ao fruttivendolo comprar verduras e legumes e frutas, à peixaria comprar peixe pro almoço de amanhã. Já limpei a sala, que ontem não consegui terminar. Já estendi roupa, na esperança que seque. Já carreguei a máquina de lavar roupa outra vez, a milésima vez. Já troquei os lençóis. Já lavei os cabelos. Já organizei documentos e faturas. Já dormi uma horinha de nada no final da tarde. Já terminei Dois Irmãos, de Milton Haum (adorei), e já vou começar O Vendedor de Passados. Já descongelei e limpei o congelador e a geladeira, finalmente! Agora estamos indo ao Ipercoop fazer compras e repôr os estoques. Amanhã vou trabalhar na oficina, porque a Elisabetta ainda não voltou da licença pra tirar um nódulo sinistro da garganta, causado por uma pronúncia errada da vogal e.

A praga do momento são os percevejos. Aqueles mesmos, famosos pelo fedor vingativo após um cruel esmagamento. A diferença é que os daqui quase não fedem, ou não fedem at all. Mas são UM PORRE. Bichinhos burrésimos, que entram em casa não se sabe por qual motivo, voam que nem a cara deles e, uma vez caídos de barriga pra cima, são incapazes de se levantar outra vez. Morrem todos assim, pateticamente, esperneando. Minha varanda está coberta de pequenos cadáveres verde-radioativo, que depois a chuva se encarrega de levar embora. Vários deles já foram parar no saco do meu aspirador de pó, porque alguns infelizes morrem dentro de casa e, quando não são esmagados por um pé desatento, eu termino por aspirar mesmo.

Legolas ganhou biscoitinhos de couro pra cachorro e uma roupa que ficou meio justa, mas, sendo de lã, vai acabar cedendo. Tava meio sonolento quando chegamos pra visitá-lo, mas abanou a bunda como sempre, antes de pegar o biscoito da minha mão e ir se aboletar na sua caminha outra vez.

Postado por leticia em 19:36

15.09.04

socorro

Crianças, vocês não têm idéia da tempestade que se abalou sobre a região aqui ontem.

Tenho pra mim que a coisa começou na segunda, porque foi um dia MUITO sinistro, de ventos estranhos, céu nublado cedo de manhã, sol que saiu, nuvens que voltaram, e um pôr-do-sol que espalhou um amarelo insalubre pelo ar. Amarelo mesmo, aquele amarelo ictérico, doente. Horrível, me assustou, nunca tinha visto uma coisa assim.

Ontem ventou o dia inteiro. Não só eu tava agitada com toda essa história das passagens, compradas ontem depois do almoço, na internet; os pinheiros lá fora também balançavam bêbados, crianças jogavam bola aos berros no jardim público, o vento soprava, soprava, batia portas, arrastava o varal na varanda. Fomos jantar na casa da FeRnanda pra ver o DVD do casamento deles, e quanto voltamos ainda ventava sem parar, mas nada de chuva.

De madrugada... Os raios e relâmpagos iluminavam nosso quarto mesmo com as persianas todas fechadas. Os trovões sacudiam a terra. Imaginem uma trovoada de 15 segundos (eu contei) que parece que tá rolando debaixo da sua cama, de tão alta. O Mirco chegou até a acordar, clara indicação da magnitude da coisa, porque ele tem um sono de pedra e só acorda quando o céu está caindo sobre as nossas cabeças, como foi essa noite. A noite inteira aquilo, relâmpago e luz no quarto, logo depois o trovão com muito, mas muito barulho, os cachorros das casas vizinhas latindo e uivando. Dormi incrivelmente mal, tive sonhos bizarríssimos dos quais felizmente não lembro, e hoje acordei com uma dor de cabeça incrível.

Ainda bem que as minhas missões de hoje são light: levar o carro do Mirco pra lavar, ir aos 3 bancos resolver umas coisas pra oficina, e mais tarde vamos ao Ipercoop comprar um secador de cabelo pro Ettore (don’t ask), uma calculadora nova pra oficina porque a velha subiu no telhado, e aproveitar pra fazer as compras de comidas pra levar pro Rio. Também tenho que passar roupa e começar a fazer as malas... Amanhã FeRnanda e Fabião vêm jantar strogonoff de despedida e na sexta ainda tenho que passar no hospital de manhã cedo, antes de partir, pra pegar as cópias das radiografias do Ettore.

Já tô cansada só de pensar.

Postado por leticia em 09:07

13.09.04

menina, quanto tempo!

Dessa vez fiquei tanto tempo sem escrever por falta de tempo mesmo, e não por falta de assunto. A semana passada foi bem agitada. Vejamos:

. Quarta-feira passei CINCO horas durante a tarde passando roupa. Meno male que a FeRnanda tava aqui pra me distrair. Acabou que ela e o Fabião jantaram aqui, carne assada com pirê de batata.
. Quinta-feira fomos jantar em Ripa, na casa da FeRnanda, mas tivemos que voltar cedo porque o Ettore tinha caído de bunda no chão na oficina e eu fui levá-lo ao PS.
. Sexta-feira lá fui eu de novo com o Ettore ao hospital pra pegar os laudos das radiografias. Foi uma semana bem hospitalar; na segunda fui de novo, como na sexta passada, levar a Zorica ao hospital Monteluce, onde eu costumo doar sangue. Zorica é a mãe do Dejan, o rapaz sérvio que trabalha na oficina. Ela tinha que fazer uns exames na Hemato, e como não dirige, fui levá-la.
. As crostas do meu pé caíram, e voltei a correr. A crosta do maléolo caiu com uma pequena ajuda do meu pé esquerdo. Não me perguntem como foi, porque anatomicamente é uma coisa pouco provável, dar um chute com o pé esquerdo no maléolo lateral do pé direito, mas foi isso que aconteceu. A crosta do peito do pé caiu hoje de manhã. Agora sou uma mulher oficialmente desencrostada.
. Sexta-feira fomos jantar ganso na Piera, a sogra da FeRnanda. Eles volta e meia fazem megajantares no pátio do prédio. Todo mundo mora ali há séculos e se conhece há muitos carnavais, então a mulherada se prontifica a cozinhar, os homens vão fazer as compras, faz-se a vaquinha clássica e pronto, jantar pra 25 pessoas numa mesa que o Bruno, pai do Fabio, que é OOOO McGyver, fez com as PERSIANASSSSSSSSSSS que sobraram de uma obra. O Bruno é um personagem fenomenal, merece um post só pra ele.
. Sábado trabalhei até as duas da tarde na oficina, desengordurando peças que o Dejan depois pintou. É bem legal, uma pistola de sabão superpower que remove até a última molécula de graxa, depois com a pistolona de água que tem até rebote de tão forte que sai o jato. À noite eu tava morrendo de vontade de comer alguma coisa com alecrim. Tentamos a sorte na Arianna, e fomos premiados! Ela tava fazendo pizza, as clássicas cebola & sálvia, tomate & mozzarella, alecrim & sal grosso.
. Ontem conseguimos comer na festa da cebola em Cannara! Tudo bem que chegamos às sete da noite senão não dava nem pra achar mesa, quanto mais comer. Fomos de antipasto completo (bruschetta de cebola, bruschetta de tomate com bacon, cebola recheada, ovo mexido com cebola), tagliatelle com cebola, cogumelos e pasta de linguiça (don't ask), Mirco ainda encarou um secondo de carne de vitela com molho de cogumelos porcini, acompanhada de cebolas assadas, e rocciati, biscoitos em forma de rosca com semente de anis na massa (até que estavam gostosinhos, se consideramos que anis é uma coisa realmente odiosa).
. E hoje passei a manhã entregando faturas a clientes e cheques a fornecedores, perdi quarenta e cinco minutos no banco, fui comprar ração pros cachorros, passei na oficina pra pegar uns negócios que eu tenho que escanear aqui em casa, e ainda nem pensei no que fazer pro almoço...

Ah, a gatinha tigrada, que a Stefania batizou de Priscilla (pronuncia-se Prishilla), está ótima. Ainda não recuperou totalmente o peso, mas já esta boa.

Postado por leticia em 12:18

09.08.04

voltou (a vontade de escrever)

O scooter.

Sábado Mirco interrompeu minha conversa com a Hunka no MSN mandando eu descer que iríamos juntos até a oficina, eu pegaria o scooter e voltaria pra casa já devidamente motorizada. Fui, né.

Meu Zip é realmente uma gracinha, como vocês podem ver na foto abaixo. O problema é que eu não tenho a menor intimidade com ele ainda e morro de vergonha de parecer uma retardada montada numa máquina que tem vontade própria. Claro que ninguém nem olha pra mim na rua; há zilhões de outros scooters pela cidade, das mais variadas idades e dos mais diversos estados de conservação. Muitos são pilotados por velhinhas de saia comprida, meia-calça cor da pele e salto. Muitos outros por extra-comunitários. Mais outros ainda por adolescentes de blusinha de alça e mini-saia, ou de óculos escuros estilo vespão, camiseta mamãe-sou-forte e calça jeans D&G. Ninguém olha pra mim no meu Zip, mas eu me sinto breguérrima.

O capacete é de ótima qualidade e protege o queixo também, coisa pouco comum pra quem anda de scooter. Só que 1) amarfanha a minha juba, 2) espreme as orelhas, de modo que não posso usar brinco quando piloto, 3) quando dá coceira no nariz tenho que encostar, abrir o visor e coçar, 4) faz um calor desgraçado lá dentro, e 5) eu fico A CARA do Ultraman. Só falta o uniforme colante com o zíper aparecendo nas costas.

Desnecessário dizer que quem pedir foto minha de Ultraman montada no Ultrascooter vai levar porrada, já vou logo avisando.

Ainda não aprendi direito a regular o acelerador. Dou cada arrancada monstruosa e às vezes tenho que tocar o pé no chão pra me equilibrar. Não consigo desacelerar devagarinho. Tenho que lembrar de usar o freio da mão esquerda, que é o freio de trás, pra não sair voando à frente do scooter se usar o da direita, da roda anterior. Se relaxar a mão direita do acelerador, o scooter perde velocidade, obviamente.

O mecânico que deu uma ajeitada no scooter botou um barulho piiiii piiiiiiii piiiiiiii quando eu ligo a seta, senão correria o risco de deixá-la acesa eternamente, já que não fica à mão, como num carro, nem desliga automaticamente depois da curva. Só que o barulho é muito alto, e igual ao que fazem os ônibus quando a marcha a ré está engatada, e quando paro no sinal com a seta ligada o pessoal dos carros em torno fica procurando a fonte do barulho. Nessas horas eu acho ótimo estar de Ultraman, irreconhecível.

A coisa mais estranha é que você fica se achando aaaaaa poderosa, como qualquer ciclista que pode passar com a magrela entre os carros e se enfiar em qualquer buraco e fazer qualquer manobra bizarra, bastando apoiar os pés no chão se vir que a coisa ficou preta. Só que não é bem assim: por menor que seja o scooter, ele é pesado, e não basta a pontinha do pé no chão quando se pára no sinal (ou pra esperar o trem passar). Não dá pra ir me enfiando entre os carros (ainda), porque ainda não entendi direito as medidas do Zip, não aprendi direito a calcular as consequências do deslocamento do seu peso pra um lado e pro outro. Sei que isso vai vir com o tempo, oras, se meninos e meninas de 14 anos pilotam esses trecos, não sou eu que não vou ser capaz. Mas essa mistura de sensação de liberdade, que é DELICIOSA, e o medo de estar tão exposta ao chão em caso de queda e tão perto dos outros veículos na rua é muito bizarra.

No sábado eu fui até o centro de Torgiano botar gasolina (4 € o tanque cheio, e faz 130 km. MA-RA-VI-LHA) e depois fui dar uma volta por lá mesmo (na verdade errei a direção no cruzamento mas vamos fingir que foi uma coisa voluntária). Voltei pra casa felizona, e no retão de Cipresso meu pobre scooterzinho tabajara fez 70 km/h numa boa, e contra o vento! Domingo não levei o coitado pra passear, mas agora à tarde fui a S. Maria fazer cópias da chave e pagar o seguro, e apesar da atolação foi muito agradável. Por enquanto ainda dá medinho, mas quando ele estiver devidamente domesticado, ninguém me segura. Vou virar centaura.

Postado por leticia em 18:45

sem saco pra escrever

Postado por leticia em 10:49

08.08.04

arde

Eu não sei vocês, mas eu tenho um peperoncino na minha varanda.

Postado por leticia em 09:44

07.08.04

ai meu zovido

Dez pras dez da manhã. Da janela aqui do escritório ouço Suely Maria cantando "solos de guitarra não vão me conquista-ar, uuuuuuuuuuuuuuu eu quero você, como eu quero...".

Por que é que não existe teletransporte ainda mesmo, hein?

Postado por leticia em 09:52

03.08.04

zip

Mirco comprou uma vespa – lambreta, motorino, scooter. É preta, bonitinha, pequenininha, de 94, e custou € 200. Estão fazendo uma super revisão nela, as placas ficam prontas sexta à tarde, e já compramos o capacete, que é cinza metálico.

Eu odeio qualquer coisa na cabeça, chapéus, boinas, you name it. Fiquei ridícula com o capacete, como uma tartaruga ninja cabeçuda. Mas se o scooter consome menos que o carro, tá valendo! Tô cansada de gastar meus pouquíssimos euros em gasolina pra Punto, coitada, que é uma delícia de dirigir e tem valor afetivo, mas bebe feito um gambá.

Fora que é uma delícia andar de scooter! Eu sou super atolada e vou ter que aprender a pilotar o Zip (o scooter é Piaggio, modelo Zip) sem cair por aí, mas estou gostando da idéia. Minha primeira vez num scooter foi em Roma, com meu amigo Guido, e adorei! No verão não tem coisa mais gostosa, principalmente à noite. Pena que meu Zip é pequeno e de baixa cilindrada, e não dá pra dar carona pra ninguém, senão vou presa hohoho

Postado por leticia em 17:20

02.08.04

ganso

Ontem fomos jantar na festa de Bettona, a Sagra dell'Oca (festa do ganso). Bettona é uma cidade muito gostosinha, no alto de uma colina. Era uma das três cidades umbro-etruscas, juntamente com Todi e Civitella d'Arno, que foram cedidas à Etruria depois que etruscos e umbros entraram em acordo e usaram o rio Tevere pra marcar os limites entre os dois territórios.

No inverno Bettona é geladíssima, mas no verão é uma maravilha. Aqui embaixo, em S. Maria e em Bastia, tava um calor desgraçado, mas lá no alto soprava um vento fresco delicioso. Tive até que botar uma jaqueta. Enfim, fomos jantar na festa com Marco e Michela, nossos companheiros de sagra no domingo. Diferentemente da maioria das outras sagras, quando normalmente a festa é feita sob tendões armados em algum campo aberto na periferia da cidade, essa é na praça principal de Bettona, e totalmente a céu aberto. E eles também fazem um menu diferente a cada dia, enquanto que normalmente, nas outras sagras, o menu é praticamente fixo todos os dias, com um prato a menos ou a mais de vez em quando. Dá vontade de voltar todos os dias, pra experimentar pratos diferentes.

Claro que a estrela da festa é o ganso, presente nos primi (gnocchi e tagliatelle ao molho de carne de ganso, que eu ADORO) e nos secondi (ganso assado, ganso ensopado, espetinho de ganso), mas também tem as onipresentes torte al testo (a clássica com linguiça e verdura cozida, com presunto, com linguiça sozinha, com rúcola e queijo), carneiro em diversas preparações, javali, carne de porco, mil tipos de pasta. Ontem comi um risoto delicioso de radicchio e provolone, depois ensopadinho de javali acompanhado de torta al testo. Ficamos horas sentados à mesa, batendo papo e observando a gente que passava, as crianças que brincavam, os velhos que ajudam na cozinha, um ou outro turista, todo mundo aproveitando "il fresco". Não tinha música alta, o barulho das conversas misturadas não era ensurdecedor porque se perdia no céu aberto, a comida estava ótima e os preços também eram bons, a piazza é lindinha, aaaaah... Una serata veramente piacevole.

Postado por leticia em 10:05

01.08.04

chuveiro

Semana passada tive que comprar um chuveiro novo. Sempre culpa desse maldito calcário que está presente na água de toda a Itália central (tirando Roma, que tem fontes espalhadas pela cidade inteira, com água de ótima qualidade). Um porre, UM PORRE. Tudo que você lava fica manchado de branco: copos, talheres, a própria pia. Se você ferver água numa panela e depois deixar esfriar, se forma uma película branca na superfície da água, e a panela fica toda branca por dentro. Torneiras e canos entopem frequentemente. Há pastilhas anti-calcário no mercado pra proteger as partes e os encanamentos de máquinas de lavar louça e roupa. Pra limpar metais e louças do banheiro e da cozinha, tem que usar produtos anti-calcário que normalmente destroem as mãos se você não usar luvas de borracha.

A torneira do banheiro estava tão entupida de pedrinhas de calcário que a água saía em mil direções diferentes, e quando escovávamos os dentes ou lavávamos as mãos ficávamos todos molhados com a água que espirrava. Mirco trouxe da oficina um desincrostante superpower que ele usa pra limpar as pistolas de tinta, e que normalmente não ataca superfícies plásticas. Desaparafusei a torneira e deixei de molho no desincrostante. Mirco teve a idéia de aproveitar o ensejo pra botar o chuveiro de molho também, porque a situação já começava a ficar crítica. Deixamos tudo ali quietinho e fomos comer na Arianna. Quando voltamos, as partes de plástico preto do chuveiro tinham simplesmente dissolvido! No dia seguinte lá fui eu comprar o maldito chuveiro, que é ótimo. A água sai não diretamente dos furinhos, mas passa por minifunis de borracha, digamos assim. O cara da loja explicou que, em teoria, quando começar a acumular muito calcário basta passar a mão rapidamente sobre as borrachinhas que as pedrinhas saem. Vamos ver.

Postado por leticia em 09:40

30.07.04

autolavaggio

Sempre adorei observar gente trabalhando. Desde pequena. Quando tinha obra lá em casa eu ficava horas olhando os peões lixando, cobrindo buracos com massa, preparando tinta, forrando o chão com jornal, pintando. Quando vinha alguém consertar alguma coisa eu sempre ficava prestando atenção no que estavam fazendo. Pura curiosidade mesmo; gosto de saber como as coisas são feitas, como são por dentro, por qual motivo se quebram.

Também gosto de observar os movimentos das pessoas; os seguros e mecânicos de quem já tem uma certa experiência, os titubeantes de quem ainda está no começo da estrada. Fico analisando quem é lento e quem é dinâmico (vocês sabem perfeitamente bem em qual categoria me encaixo), quem é burrinho e quem é mais esperto, quem é distraído e quem não deixa passar nada (pra quem não sabe, estou na categoria dos distraídos). Sempre aprendo alguma coisa. Hoje, enquanto observava o garoto que lavava o carro do Mirco, aprendi que a quantidade de caraca preta que se acumula nas rodas do carro é uma coisa impressionante.

Tem um lava-carros bem do lado da oficina do Mirco, em Torgiano. Não é posto de gasolina, é só lavagem mesmo, e normalmente o Mirco deixa o carro com eles de manhã e na hora do almoço o pega limpinho e cheiroso pra voltar pra casa pra comer. Mas eles são super lentos e nem sempre conseguem cumprir o horário, e quando isso acontece eu sou a encarregada de levar o carro pra lavar. E levo ao posto ERG de Santa Maria, perto da saída pra Foligno.

Como é normal por aqui, devem ser todos parentes, primos, amigos, conhecidos. Os que eu vejo sempre são a Mini-Loura e seu provável marido, Altão Antipaticão, e o Russo, provavelmente filho deles, um jovem muito muito muito louro de cara muito muito muito vermelha. Ele é super bonitinho e tem uma cara de cafajeste que não combina muito com suas cores angelicais. Hoje de manhã não quiseram lavar o carro porque a fila tava comprida demais, e voltei à tarde, cumprindo as ordens de Mini-Loura. A fila continuava enorme, mas ela me reconheceu e disse que lavava sim, coitada de mim, já tinha vindo de manha à toa... Larguei o carro num canto do posto e sentei numa das cadeiras de jardim, de plástico, que ficam na calçada pros clientes esperarem sentadinhos enquanto o carro não sai do banho. Quem manobrou meu carro foi um rapaz alto que eu nunca tinha visto, cara de abobado, e corte de cabelo muito anos 80 – digamos o Footloose. Foi direto pro outro canto do posto, onde um menino também desconhecido, de cabelo comprido, óculos e a maior cara de jogador de RPG, pilotava o aspirador de pó. Da minha cadeira encardida fiquei tentando entender o esquema de trabalho deles, mas depois de um tempo acabei desistindo. O sistema "cadeia de montagem" não existe, ou chegou mas já foi suplantado pelo clássico caos organizado que só os italianos conseguem entender. O único que não sai da sua posição é o Russo, até porque se ele parar, trava tudo. Ele faz a pré-lavagem, com uma pistola de sabão líquido e depois um jato forte de água que tira toda a caraca das rodas, da parte interna das portas, do pára-lama. Dali o carro segue pra clássica lavagem automática, com aqueles rolões estilo pom-pom. O tempo que ele tem pra pré-lavar o meu carro é exatamente o tempo que a máquina leva pra lavar a Lancia Y tinindo de nova que chegou antes de mim. Enquanto a máquina passa com o secador, um outro funcionário vem com um pedaço de couro, próprio pra enxugar carros. Eles têm uma máquina rudimentar pra secar os panos, aquela coisa de desenho animado, o pano passando entre dois rolos muito próximos entre si, que espremem toda a água. Depois alguém leva o carro pra outro canto, onde outro alguém passa um produto cheiroso no painel e sprays hidrorepelentes no pára-brisas.

E no meio disso tudo, sempre gente chegando pra botar gasolina, gente em lambreta querendo a famosa "mistura" de combustível, que é ilegal e ninguém nunca me explica o que é, gente que passa buzinando pra cumprimentar um dos meninos, gente que encosta só pra falar com o Footloose, gente que pára pra perguntar como se faz pra chegar em Cannara. Um sósia do meu irmão quando era mais novo corria pra lá e pra cá, sem saber se botava gasolina no carro velho da senhora ou se ajudava o cabeludo a enxugar a Lancia Y preta. Uma polaca botou só 2 euros de gasolina no carro, porque "benzina in Italia molto caro". Uma menina novinha num carro super velho teve um ataque de riso porque não conseguia manobrar pra ir embora – depois nos explicou que tinha acabado de tirar a carteira. Um turista holandês não conseguia explicar pra onde queria ir e por isso foi embora de tanque cheio, mas sem destino.

Meu carro ficou pronto às cinco e meia da tarde. Àquela hora Mini-Loura já não aceitava mais carros pra lavar, e todo mundo parou pra dar uma respirada (e uma fumada também. Fumam TODOS. Ao lado da bomba de gasolina). Paguei os 13 euros e vim embora, ouvindo Live.

Postado por leticia em 18:04

curtas

Minha conta de e-mail anda me dando furo outra vez. Como ando meio atolada aqui, entre brigadeiros e CDs pro casamento da Renata, documentos do Mirco pra organizar e casa pra cuidar, é até melhor assim, pelo menos não perco tempo pensando no que responder.

Como sempre, o problema resolver-se-á sozinho (linda mesóclise) dentro de alguns dias.

**

Eu adoro frutos do mar, mas é um saco isso da cozinha ficar fedendo a peixe! E olha que eu só fiz um mero prato de spaghetti alle vongole e um merluzzo (meu dicionário tabajara diz que é bacalhau, mas eu me recuso a acreditar) cozido no vinho branco. Agora a casa tá cheirando a casebre de pescador de novela das sete.

**

Encontrei o Chefe Idiota no posto de gasolina agora há pouco. Barba por fazer, cabelos ruins sem o gel que é a única coisa capaz de mantê-los no lugar, montado na sua ridícula moto BMW que ele só usa uma semana por ano. Pareceu genuinamente contente de me ver e interessado no meu bem-estar. Tive que fazer um certo esforço mandibular pra não sair destilando veneno pelos caninos. Que homem odioso! Pior que agora que me viu vai lembrar que o Mirco existe e o perrengue vai começar todo de novo, querem ver?

Postado por leticia em 17:36

29.07.04

comendo fora

No verão os pais do Mirco sempre comem na varanda, ou então no terraço que eles fizeram no lugar onde ficava a pequena horta, que agora virou um hortão, transferido pra um pedaço de terreno atrás da casa que pertence à irmã do Ettore (o terreno, não a casa). Quando a Arianna faz pizza ou torta al testo sempre telefona pra convidar a gente pra comer lá. Ontem ela fez torta e lá fomos nós.

É uma delícia comer assim, a céu aberto. Tudo bem que os insetos são uns pentelhos, mas a gente finge que não percebe. Uma brisa fresca, se tivermos sorte, o relativo silêncio, os galos que cantam na hora mais errada do mundo, os coelhos que fazem barulho quando bebem água, os malditos ciganos que acamparam no estacionamento ao lado da casa e fazem uma muvuca danada. O presunto do Ettore tinha uma cor linda, mas o cheiro era exatamente igual ao emanado pelos cadáveres que dissequei no anatômico da Uni-Rio. Deixei pra lá, comi torta com ricota fresca.

Legolas jantou pepino e casca de melancia. Don't ask.

Postado por leticia em 17:33

28.07.04

socorro

Arrumando o escritório aqui de casa desencavei, de modo totalmente involuntário, umas velhas fitas dos Scorpions que o Mirco ouvia quando era adolescente magrelo e rebelde. Sim, Scorpions.

Pra quê. Agora sou obrigada a ficar ouvindo aquela mala do vocalista berrando, toda vez que saímos de carro. Maldita nostalgia.

ODEIO cantores homens que têm voz de mulher. Homem tem que ter voz de homem e mulher tem que ter voz de mulher, pô. Axl Rose talvez seja uma exceção.

Postado por leticia em 19:02

24.07.04

Se você achou The Ring assustador...

...é porque não viu a Suely Maria de biquini e microshort na varanda.

Eu estou tremendo de medo até agora.

Postado por leticia em 13:05

21.07.04

hmpf

Ah, e quanto à história do paulista-coreano-analfabeto-facilmente-ofendível do Orkut: deixei pra lá. Nem me dignei a voltar à comunidade pra ver a resposta do Anonymous à resposta que eu dei ao Anonymous, que, por sinal, desencavou aquela história sem pé nem cabeça dos Brasileiros Chatinhos que Moram na Alemanha e Se Acham OOOOS Alemães. Pra vocês verem a que nível descemos. Deixei pra lá. Vou esperar um pouquinho até o thread sumir e voltar à programação normal na comunidade. E foda-se o mundo que não me chamo Raimundo.

Penne alla norcina hoje pro almoço.

p.s. 1: Poucas delícias no mundo são comparáveis a uma focaccia de alecrim, com salzinho em cima, recém-saída do forno da sua padaria preferida.

p.s. 2: Acabei a Epopéia Toscana. Acho que vocês vão gostar do último capítulo. Nos arquivos de junho.

p.s. 3: Legolas jantou um Cornetto (aquele mesmo, o sorvete) ontem à noite.

p.s. 4: TÁ QUENTE BAGARAI!

Postado por leticia em 12:24

20.07.04

Momento super diarinho

Eu acho que sempre comi bem. Meu problema com o peso sempre foi relacionado à quantidade, e não à qualidade. Lá em casa nunca rolou muita fritura, refrigerante só quando vinha visita e assim mesmo às vezes estragava (vocês não querem saber o aspecto que tem uma garrafa de Sprite que passou do prazo de validade há um ano), de doce eu só como chocolate e sorvete, mas a gente quase nunca comprava...

Eu sou chata pra comer. Apesar de ter melhorado muito desde que vim pra cá, ainda gosto de relativamente poucas coisas. Como verduras e legumes por obrigação moral, mas nunca tive sonhos eróticos com um prato de alface com tomate. Mas pelo menos não sou doida por besteira. Prefiro um bom e simples prato de pasta a qualquer cheeseburger ou pizza gordurosa.

Mas falei de tudo isso porque acabei de sair do banho depois da corrida matinal, e estou saboreando um copinho de iogurte natural desnatado com uma colherzinha de mel. Combinação imbatível. São duas das coisas das quais gosto mais, em termos de comida.

AMO mel. Puro, com banana amassada, com iogurte, com morangos. Só não gosto de mel substituindo o açúcar, mas fora isso, como vier eu encaro. Mas eu não entendo nada do assunto e não consigo sentir na língua a diferença entre mel de acácia, de castanheira, de laranjeira, de mil flores... Aqui no supermercado a variedade é enorme, cada planta estranha, combinações malucas de óleos essenciais, uns mais escuros e densos, outros mais claros e líquidos. Como pra mim é tudo mais ou menos igual, compro sempre o millefiore, que custa menos.

E o iogurte? Com fruta, sem fruta, desnatado, integral, não tem problema. Há anos uso iogurte natural como substituto do creme de leite pra salada de macarrão, pra recheio de quiche, pra acompanhar o quibe quando não há coalhada disponível. Acho muito, mas muito mais gostoso do que creme de leite, e as vantagens pro organismo são tão óbvias que nem vou ficar aqui falando. E o melhor de tudo é que, no supermercado de mendigo onde compramos água mineral, atum e Coca-Cola em lata, eu descobri uma marca de iogurte desnatado tabajara que eu não tenho a menor idéia de onde é produzido, e custa a bagatela de € 0,15 centavos por copinho. Compro a embalagem de 8 e faço a festa.

Menu do almoço de hoje:
Filezinhos de vitela na chapa
Berinjela e abobrinha na wok com um fio de azeite e salsinha, cenoura e batata no vapor
Salada de alface da horta da Arianna com tomate-cereja e pepino da horta da Arianna (essa vai pro Mirco porque eu odeio tomate cru e tenho verdadeiro horror a pepino)

Aliás, tá na hora de dar um pulo em S. Maria visitar meu cachorro, que ontem eu não vi, e fazer compras na fruttivendola da praça, a Rita, que é um amor e tem legumes e frutas deliciosas. Lista de compras pra Rita:

Berinjela boa pra grelhar
Maçãs Fuji da Argentina, que semana passada estavam ótimas
Batatas (as da Arianna só vão ser colhidas daqui a duas semanas)
Duas bananas (compro só duas de cada vez porque amadurecem super rápido e detesto banana passada)
Funcho, pro Mirco
Cenoura e salsão que ela dá de brinde pros clientes


Lista de "compras" pra Arianna:

Alface da horta
Ovos frescos
Mais pepinos da horta
Mais tomatinhos da horta
Mais vagem da horta, que eu AMOOOOO
Mais cebola da horta
Salsinha da horta
Mais abobrinha da horta que hoje detono o pedacinho que sobrou de ontem


Lista do supermercado de mendigo (leia-se Penny Market, onde os imigrantes fazem compras):

Coca-cola em latinha, que custa uma titica
Barrinhas de cereal importadas da Alemanha, baratinhas e deliciosas
Guardanapos coloridos, igualmente baratinhos e fofos
Iogurte desnatado tabajara

**

Postzinho chato, né? Deu vontade de ser bobinha hoje.

Postado por leticia em 10:37

16.07.04

bicharada

Minha casa é um criadouro de aranhas supersônicas. Elas são tão rápidas na construção das teias que eu estendo a roupa no varal de manhã cedo e na hora do almoço há teias entre as perninhas dos pregadores.

Esse é o L*egolas dois sábados atrás. Ele foi pra oficina com a mula do Ettore, que insiste em deixar o portão aberto mesmo sabendo que os cachorros saem pra passear lá não sei onde – e a estrada passando ali pertinho, socorro. Enfim. L*egolas volta MORTO, destruído, acabado, a massa falida. Bebe duzentos litros de água, derruba mais duzentos no chão e deita em cima. Vira isso aí.

Depois o Ettore leva os cachorros pra passear e secar, e limpa todos com jatos de ar comprimido. O mesmo que se usa pras pistolas de tinta.


E essa é a Dadà, a vira-lata fofa da FeRnanda. Chegou terça-feira. Não é uma coisa?


Esse é o pombo maluco que ontem ficou horas sentado na nossa janela do banheiro. Deve ser recenseado porque tinha um anel na pata. Não me pergunte o que ele tava fazendo na nossa janela. Eu perguntei, mas ele não quis papo comigo.


Ripa tem a Sagra del Tartufo. Fomos domingo passado, mas tava tão desanimada! Quando penso na multidão que dançava ao som da Orquestra Riccardi na festa da primavera, aqui embaixo de casa, em junho... Em Ripa só dançaram praticamente as crianças, como vocês podem ver. Alguns casais se aventuraram, mas eram poucos. E observem os modelitos da festa...

Postado por leticia em 18:15

14.07.04

rir pra não chorar

A secretária da oficina foi tirar um pólipo esquisito do pescoço e eu fui ontem lá, depois do almoço, pra dar uma geral no escritório. A cena que eu vejo, logo de cara:

Ettore manobrando um caminhão ENORME, que tinha que entrar num canto da oficina, em frente ao banheiro.

Um marroquino à frente do caminhão, dizendo vai, vai.

Outro marroquino atrás do caminhão, dizendo vem, vem.

O caminhão se aproximando cada vez mais do ângulo do almoxarifado com o banheiro. Os marroquinos continuam, vai, vai, vem, vem que dá.

O caminhão arranca um pedaço ENORME da parede do ângulo do almoxarifado com o banheiro.

Mirco começa a xingar e abanar os braços como só um italiano é capaz de fazer, amaldiçoando toda a árvore genealógica dos marroquinos e do idiota do pai dele que demite e reassume mil vezes cada um deles.


Sabe aquela piada do cara que ajuda o outro na manobra, e fica do lado de fora falando vem, vem, vem... CRASH!!! Vem ver a merda que você fez!?

Igual.

Postado por leticia em 08:49

12.07.04

zoinho

Estou com uma dor de cabeça chata que eu não sei explicar. Nunca fui muito de ter dor de cabeça, mas ultimamente anda um horror. Às vezes retro-orbital, às vezes frontal, sempre latejante. Será que eu estou precisando de óculos? Justo eu, campeã mundial de avistamento (e identificação) de buzum à distância?

Postado por leticia em 19:58

Amélia

E aproveitei que o Mirco ficou enrolado no trabalho e não veio almoçar em casa pra matar o ensopadinho que comemos com torta al testo anteontem – italiano odeia comida requentada, por isso quando sobra alguma coisa eu congelo, e deixo pra comer num dia em que o Mirco não vier almoçar em casa. Fiz arroz branco e farofa e mandei ver. Depois preparei o almoço pro Mirco e pra dois operários dele (spaghetti com o molho do ensopadinho, enroladinho de peito de peru com cenoura cozido no vinho branco, salada, e de sobremesa uma mousse branca com cobertura de abacaxi que eu sempre compro no supermercado de pobre aqui de Bastia, custa uma titica e é uma delicia, além de ter sabor pêssego com maracujá também), e fui levar lá na nova empresa do ex-chefe dele, onde eles tavam trabalhando hoje. Me senti AAAA camponesa que leva a marmita pros homens no campo, na época da colheita. Fiquei até tentada a enrolar um prato num pano, mas como os pratos eram de plástico não foi possível.

Postado por leticia em 19:56

07.07.04

curtas

Engraçado que agora que não estou trabalhando parece que tenho menos tempo pra ficar online. Tô sempre cheia de coisas pra resolver na rua. Novidades:

- A casa da FeRnanda e do Fabio já tá praticamente pronta. Os móveis do quarto já chegaram, a cozinha já tá quase toda montada, as paredes já estão pintadas. Domingo à tarde eu e Mirco carregamos o caminhão com os móveis IKEA deles, que estavam armazenados na nossa garagem, e lá fomos nos pra Ripa. Montamos os móveis da sala, sofá, mesinha de TV, mesinha pra trás do sofá, mesa de jantar e cadeiras azuis foférrimas. Segunda-feira fomos levar as persianas que o Mirco pintou e jantamos lá mesmo, pappardelle com molho de javali e sorvete de sobremesa, que nós levamos. E hoje à tarde provavelmente vou dar um pulo lá pra ajudar a FeRnanda na limpeza final.

- Segunda também saiu, finalmente, meu permesso di soggiorno. A primeira coisa que eu fiz foi ir a uma auto-escola pra engatilhar o lance da carteira de motorista. Eu tô dirigindo com a carteira internacional, mas um ano depois do pedido de residência (o meu foi feito em setembro do ano passado) ela não vale mais, tem que tirar a carteira do país mesmo. Ontem à tardinha fui fazer o exame médico, que durou 15 segundos (tapa o olho esquerdo e me diz que letra é essa. Ele. Tapa o olho direito, que letra é essa? Ó. Cabou o exame.) e custou 16 euros. Hoje tenho que ir aos correios pagar três taxas de € 10,33 (o equivalente às velhas 20.000 liras) e sexta-feira de manhã vou sair cedo de casa pra ir à Motorizzazione em Perugia, pra dar entrada no pedido da carteira. Vai dar trabalho e tudo vai ser muito lento porque agosto vem aí e em agosto a Europa pára, mas a garota da auto-escola me garantiu que em setembro eu consigo a carteira – se passar nas provas, é claro.

- Acabei de ler o terceiro livro de Camilleri sobre o Commissario Montalbano. O primeiro eu já tinha, La Forma dell’Acqua. O segundo e o terceiro eu comprei em Siena enquanto esperava os Salames. São Il cane di Terracotta e Il Ladro di Merendine. O Cane eu comecei na véspera da partida dos Salames, e terminei três dias depois. O Ladro comecei anteontem e terminei ontem. São ótimos, estou doida pra ler os outros!

- Benetton de Bastia em liquidação com descontos de até 70%. Comprei uma jaqueta jeans, muito precisada, e umas camisetinhas pra esse verão nojento.

- Comprei adubo pras minhas plantas. Meu manjericão tá anêmico, a salsinha só dá flor mas não cresce, a sálvia tá amarelando. E não foi culpa do Mirco, porque ele lembrou de regá-las durante a minha ausência. Pelo menos o peperoncino já deu uma pimenta, que ainda tá verde e feia. Quando virar vermelha eu tiro uma foto.

- O ministro da economia do Berlusconi pediu demissão no último fim de semana. Hohohoho.

Postado por leticia em 08:10

14.06.04

ui

Sábado aproveitei a tarde de sol pra dar banho nos cachorros. O primeiro seria o Legolas, assanhadíssimo com a bolinha nova que minha mãe tinha mandado pela Marcia e eu sempre esquecia de levar pra ele. Normalmente ele vem quando eu chamo e fica quietinho enquanto eu o lavo, com aquela cara de sofredor resignado, mas dessa vez ele só queria brincar com o raio da bola e não parou quieto um segundo. Terminado o banho, fui pro campo jogar a bolinha pra ele correr e secar. Ele insistia em ficar passeando no meio do mato, pulando feito um cabrito pra lá e pra cá. Quando me abaixei pra pegar a bolinha (coisa que eu normalmente evito de fazer porque conheço bem o meu cachorro; me abaixo pouco e mantenho o rosto levantado, pra poder saber onde o Legolas está. Técnica aprendida depois de várias cabeçadas no queixo), que eu não conseguia ver exatamente por estar no meio do mato, ele levantou de repente e deu um pulo, pronto pra sair correndo e pegar a bolinha que eu ainda nem tinha jogado. Ô cachorro bobo! E foi nesse pulo que ele me deu a cabeçada. Imaginem um cachorro cabeça-dura, de mais ou menos 40 quilos, batendo com a cabeça no seu zigomático direito. Sacaram? Vi estrelinhas e fiquei parada rodando no meio do campo feito uma bêbada até alguém perceber que não, eu não estava mais brincando com o Leguinho, que a essa altura já tinha largado a bola e tava roendo um galho, amarradão. Senti logo a maçã do rosto inchando. E toma gelo. E como doía.

Passei o jantar todo (pizza feita em casa, salame feito em casa, pão feito pelo primo padeiro, vinho feito em casa, presunto feito em casa, salame de avestruz feito em casa, tomates da horta da tia do Mirco) com o gelo no rosto, mas mesmo assim ficou inchado, e super vermelho. Resolvemos dar um pulo no hospital em Perugia pra fazer um raio-X e ver se tinha alguma fratura. A médica de plantão disse que semana passada chegou um senhor com o punho quebrado. O labrador dele foi meio efusivo demais ao cumprimentá-lo depois de um longo dia de trabalho, o cara caiu e apoiou mal a mão. Show.

**

Eu nunca tinha ido ao hospital aqui, a não ser pra acompanhar diversos familiares do Mirco. E quando fui ao pronto-socorro com o Ettore foi no outro hospital, que normalmente é mais tranquilo, o Monteluce. Dessa vez fomos ao Silvestrini, que concentra todo o movimento da província de Perugia, e a fila era enorme. Velhinhas bigodudas com pernas inchadas enfiadas em velhas Birkenstock, velhinhos de boina e óculos fundo de garrafa, um africano azul de tão preto numa cadeira de rodas, aparentemente com o tornozelo torcido, uma senhora com um polegar sangrando. Mirco, completamente avesso ao ambiente hospitalar, ainda mais depois da traumática operação do joelho, tava pálido feito vela. E eu só lembrando das histórias bizarras dos plantões de domingo/noite no Antonio Pedro, há anos-luz atrás. Engraçado que eu não sinto a menorrrrrrrrrrr nostalgia do ambiente hospitalar em si, mas sim da sensação que eu um dia já tive de estar à vontade ali dentro, de achar tudo natural, de pensar, de verdade, que o meu lugar era ali. Que boba que eu era.

Aqui neguinho quase não usa jaleco. Usam-se os pijaminhas verdes da cirurgia, ou então o uniforme do hospital – no caso do PS, calças laranja-gari (mesmo pra quem não trabalha de paramédico, fora, em ambulância) e camisa polo branca com um bordado no peito: o mapa da Umbria em verde, o número de emêrgencia médica, 118, em vermelho, e embaixo a inscrição Provincia di Perugia.

A fila é aquela esculhambação italiana de sempre: ninguém sabe quem chegou primeiro, quem é paciente e quem é acompanhante, o que tem que fazer, nada. Na porta, um aviso em Times New Roman:

O PRONTO-SOCORRO NÃO É AMBULATÓRIO PSICOSSOMÁTICO NEM RESOLVE PROBLEMAS SOCIAIS.

O PRONTO-SOCORRO NÃO É PRA QUEM PRECISA DE CONSULTA COM ESPECIALISTA, PEGAR RECEITA DE MEDICAMENTOS DE USO CRÔNICO, ETC.

O PRONTO-SOCORRO NÃO É PRA QUEM PRECISA SOMENTE DE APLICAÇÃO DE MEDICAMENTOS ENDOVENOSOS, NEBULIZAÇÃO, ETC.

Tem coisas que não mudam, não interessa a latitude...

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Uma paramédica descabelada me chama pra uma das salinhas. Dou um dos sobrenomes, ela insere no computador, nada. Eu tenho outros 4 sobrenomes, minha filha, vamos ver com qual deles eu fui inserida: Vieira. Pronto, lá vem toda a minha ficha técnica: onde eu moro, codice fiscale (como o nosso CPF), número da inscrição no sistema de saúde. Ela chama a médica sorridente, que vem com aquelas calças cor de abóbora horrendas me atender. O requerimento da radiografia sai da impressora, ela assina e me manda pra uma sala do outro lado do corredor, "depois dos elevadores, à esquerda". Cartazes escritos à mão indicam o caminho da Radiologia. Uma enfermeira simpática bate a chapa (coisa mais P.I.M.B.A. esse bate a chapa...), me dá o laudo e me manda voltar pra médica. A essa altura o Mirco já viu uns dois acidentados chegarem de ambulância e está verde de nervoso. Espero mais um pouco, um outro paramédico antipático pergunta quem tem que mostrar algum exame, lá vou eu, a médica lê o laudo, olha a radiografia, não fica satisfeita, vai pedir uma opinião a alguém lá fora, volta, me diz que tá tudo bem, digita "crioterapia", a impressora cospe outra página, volto pra casa com uma cópia do laudo radiográfico e a conduta a seguir.


Postado por leticia em 14:28

13.06.04

curtas

Estou lançando um desafio. Quero que alguém me explique pra que serve um teto solar. Vamo lá, quero ver.

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Almocei köttbullar hoje. E gostei. Mas com molho de cranberries não, per carità.

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TÁ CHOVENDO OUTRA VEZ.

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Legolas me deu uma cabeçada involuntária na cara ontem. Estou com o olho direito roxo, mas a radiografia deu normal, nada de fratura. Desenvolverei esse assunto mais tarde.

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Eu AMO C.S.I.

Postado por leticia em 21:48

04.06.04

Brigada a todo mundo que mandou sugestões de música. Vou passar o fim de semana selecionando e baixando e queimando. Depois digo como ficou.

A entrevista hoje foi meio estranha. Não é exatamente numa editora, mas numa loja de uma grande editora. Tipo uma franquia. O trabalho é como se fosse de vendedora mesmo, só que o público é meio bizarro porque eles trabalham basicamente com livros de ensaio, teatro, filosofia e outras coisas estranhas. A loja fica numa rua movimentada de Perugia, mas é meio escondida. Eu mesma já tinha passado ali em frente várias vezes mas, não achando que tinha muita cara de livraria, nunca tinha entrado.

O proprietário me pareceu napolitano, pelo sotaque. Não é um bom começo. O salário, por um horário part-time, é de 300 euros por mês. Hahahahaha! Dá pra pagar só o aluguel e olhe lá. Mas, como eles gostam de dizer, “há possibilidades de crescimento, de fazer carreira”. Aham. Honestamente, preferiria trabalhar na Libreria Grande. Pelo menos é mais perto de casa, e tem uma boa variedade de livros. Mas fazer o quê, né, já estou atirando pra todos os lados há meses, quero só ver se um dia esse perrengue vai dar resultado...

Acho que qualquer imigrante entende bem o cansaço que o livro que a Mary tá lendo menciona. Eu estou exausta. De tantas coisas...

Postado por leticia em 16:54

01.06.04

ajklsfnmviweoruosfam.

O tempo tá uma bosta de novo. Meu humor, idem. Tô tão chata que nem eu me aguento, só me tacando no mar. Só que aqui não tem mar.

Meu cabelo está crescendo em todas as direções, que nem o meu tomilho no vaso, na varanda. Essa umidade é mortal pra juba, não tem jeito.

Hoje, pela segunda vez essa semana, a festa da primavera aqui embaixo foi cancelada por causa da chuva. Tá chovendo MOOOITO. Minha sala tá entupida de vasos de flores que salvei do afogamento, e entre a mesa e a porta-janela da varanda pus o varal de chão, cheio das roupas de banho molhadas do Mirco (nadar faz parte da fisioterapia pós-joelhal dele, e a piscina coberta de Bastia é nova e, dizem, super modernosa. Não sei, nunca fui).

Amanhã é feriado, felizmente. Não sei quem foi que inventou o feriado, mas eu gosto desse cara.

Sexta-feira de manhã a mala do Pino não vai trabalhar (e eu também não, óbvio, que não sou boba. Também, não tem nada pra fazer mesmo...) e eu vou aproveitar pra 1. ir doar sangue em Perugia e 2. fazer uma entrevista de emprego aparentemente muito interessante em Perugia mesmo. É numa editora. Vou repetir: é numa editora. Das grandes. Quem sabe rezar, reze. Quem conversa com anjo, dê umas indiretas básicas assim no seu anjo de estimação, quem sabe. Quem acredita em duendes, deixe uns brownies no canto da sala pra ver se eles dão uma força. Tá valendo tudo, até sentar embaixo da pirâmide. Basta que as good vibrations funcionem.

Hoje comecei e terminei um livro que a minha mãe mandou pela Marcia ontem. É A Casa da Mãe Joana, de Reinaldo Pimenta. Dentro do livro veio uma resenha da minha mãe, com a qual não posso discordar, depois de ter lido o livro: o cara é super babaquinha, cheio das piadas ridículas, mas o livro até que é legal, embora a parte melhor seja a bibliografia. E tome wishlist...

Dentro do livro também veio um recorte da Veja falando do prêmio espetacular que a Lygia Bojunga ganhou. Aquele de 260.000 dólares. Aquele que ela ganhou porque escreve bem pra cacete. Vai ter mãe assim otimista lá na casa do chapéu.

Não tive forças pra sair hoje à noite. Marco e Michela nos esperávamos no bar de sempre às 10:30, mas mandei o Mirco sozinho. Não sou boa companhia hoje. Quero ficar sozinha odiando tudo. Pior que nem Carabinieri tem mais, acabou a temporada. Justo agora que entre Andrea e Andrea (calma, um é menino hômi e a outra é menina muié) tava rolando um sentimento! Nao é justo. Por essas e outras que eu odeio tudo.

Postado por leticia em 23:37

24.05.04

The mind é mesmo a powerful thing.

Ontem passei o dia inteiro torcendo pra hoje acordar com alguma febre estranha que me impedisse de ir trabalhar. Fiz melhor ainda: ontem à noite, depois que levantei do computador e fui fazer o derradeiro xixi antes de ir dormir, dei simplesmente com a cara na porta. Esqueci (Freud explica) que tinha deixado a janela do banheiro aberta pra secar uma toalha de banho, e, pra não criar corrente de ar que bate a porta de vidro do corredor, fechei a porta do banheiro. Dei realmente uma carada na porta, com vontade. Fiquei estatelada no chão de tanta dor uns dez minutos, sem saber o que fazer – era meia-noite e meia, eu sozinha em casa.

Hoje minha cabeça dói um pouco, compreensivelmente, mas fora isso estou bem, só não fui correr porque ontem a chuva molhou meus tênis que eu tinha deixado na varanda pegando um arzinho. Vou ligar pro escritório pra dizer que, além da dor de cabeça, estou tonta e não quero dirigir. Se melhorar, mais tarde eu vou, mas agora não tô podendo. Se eu perder meu tempo trabalhando, nunca vou encontrar um emprego melhor, concordam?

Postado por leticia em 07:46

22.05.04

chico bento perde

Eu realmente adoro essa vida na roça. Hoje de manhã fui dar a minha corrida básica em meio aos campos de trigo aqui perto de casa, olhando com muita inveja as gigantescas moitas de sálvia e alecrim, as parreiras, os tratores, as mudinhas de alface enfiadas em buraquinhos de um negócio estranho acoplado ao trator. Voltei, bebi meio litro de água e fui levar o carro do Mirco a S. Maria pra lavar. Depois fui dar um pulo na Arianna, que estava reformando o pombal. Parece que os dois machos tinham caído na porrada no dia anterior e precisavam ser separados. Dali pra ir ajudar a pegar os ovos de pata foi um pulo. Uma das patas tinha botado três ovos num ninho lá nos cafundós do judas, dentro da oca improvisada que a Arianna fez pra proteger os bichos do frio. Dentro da outra oca, que fica numa parte separada do galinheiro, a outra pata tinha chocado quatro patinhos leeeeeeeeeeeeeeendos, microscópicos, foférrimos, que esperneiam quando a gente pega na mão. Segundo a Arianna, os outros 7 ovos que ficaram vão morrer, porque dificilmente a pata vai chocá-los. Não consegui entender o porquê, talvez porque não dava pra ouvir as explicações berradas pela sogra – experimente conversar tendo gansos por perto e você vai entender o que eu estou dizendo.

(Isso tudo rolando e os cachorros todos dentro do galinheiro, passeando calmamente entre perus albinos, os malditos gansos, galos que cantam fora do horário, galinhas que ciscavam restos de alface.)

Dali fomos pra horta. As favas já estão prontas pra colher, ela me avisa. Pego uma cesta de vime e lá vou eu me embrenhar na floresta de favas. Ainda estão novinhas e tenras, por enquanto são boas pra comer cruas. Mais tarde, quando estiverem mais secas e durinhas, ficam mais gostosas cozidas. Então tá. Confesso que não sou grande fã de fava crua, mas aqui é uma iguaria, pra ser degustada com um bom pecorino. O Mirco adora, então enchi o cesto. Colhi umas ervilhas também, mas ainda falta um pouco pra elas ficarem no ponto. Alface ainda tenho, ela me deu dois pés bem folhudos terça-feira. As mudas de tomate que ajudei a plantar domingo passado já estão bem grandinhas. São 54 plantas de tomate pra salada e 54 de tomate pra fazer molho e deixar em conserva pro ano inteiro. Os pés de alho estão enormes, as batatas e cenouras ainda não estão prontas pra colher, as cebolas estão lindas, entremeadas de ervas daninhas que dão lindas florezinhas brancas e lilás. Ficamos batendo papo à toa enquanto ela rega os pés de insalata (já falei aqui mas repito: insalata não é só o nome do prato, mas o nome genérico de qualquer planta que se use pra fazer salada), Legolas sentado num canto prestando atenção, os gansos de vez em quando fazendo um barulho desgraçado quando escutam alguém passando na estrada ao lado. Eu, ignorantérrima nesses assuntos vegetais, vou fazendo perguntas idiotas: e aquilo ali, é funcho? Não, é cenoura. E aquela parte lá, é tomate também? Não, são as batatas. E lá no fundo, o que é? Alcachofra. Putz, não acerto uma! A única planta que eu aprendi a reconhecer é a fava, que tem uma aparência particular, com folhas arredondadas e da mesma cor meio cinza, meio azul das oliveiras. Por enquanto, o resto pra mim parece todo igual...

Voltamos pra velha horta, que agora é um espaço pros cachorros, cheio de vasos de flores espalhados sem ordem nenhuma pra lá e pra cá. Arianna me mostra um arbustão de alecrim que ela achou jogado no campo, coitado, e trouxe pra casa. Vai arrancando mudas e distribuindo pelos cantos, pelos vasos, pelos canteiros. É só dar um pouquinho de água que ele pega, ela diz. Aponta pra uma fileira de vasinhos iguais, cada um com uma mudinha verdinha dentro. Sei que são plantinhas de feijão, mas fico impressionada com a velocidade de crescimento: terça-feira eram só brotinhos ridículos! Eu plantei grão-de-bico numa jardineira que estava sobrando na varanda e em uma semana já estão devidamente brotados. Impressionante.

Encho uma sacola de plástico com as favas, a meia dúzia de vagens de ervilha, meia dúzia de ovos de galinha que ficam num cesto de plástico na cozinha de baixo, dois ovos de pata e quatro mudas de peperoncino – duas plantinhas de pimenta redonda e duas de pimenta compridinha. Já estão dando flor, espero que dêem logo o peperoncino. Fresco, assim, no molho de tomate, é uma coisa de louco.

E agora dá licença que eu já plantei o peperoncino e é hora de preparar o almoço: fettina (filezinho de vitela, pálido e sem gosto de nada, que eles adoram e eu quase nunca como) com salada da horta da Arianna, arroz branco que ainda tenho no congelador, e fava fresca, pro lanterneiro. E tenho que preparar as abobrinhas recheadas pro jantar, senão depois fico com preguiça... Consegui achar aquelas abobrinhas redondas bonitinhas, que são deliciosas. Aquelas normais também são ótimas, mas como são bem finas e não precisa nem jogar fora o miolo, não dá pra rechear.

Mais tarde vamos a Ripa. Longa história, depois eu conto.

Postado por leticia em 13:02

20.05.04

Há flores em tudo que eu vejo

Pois é, a primavera parece que chegou, mas não conta pra ninguém não, que eu tenho medo do frio voltar.

De qualquer maneira, desde o início da semana que o sol tá lá, firme e forte – forte de verdade, a gente sente a pele queimando, mas não morre de calor porque ainda rola um vento frio. Aqui nos jardins atrás de casa estão preparando tudo pra festa da primavera, que começa semana que vem. Ano passado eu nem reparei – but then, how could I?

Há flores pipocando em tudo que é lugar. Jardineiras nas janelas, mil vasos nas varandas, petúnias, violetas, tulipas, flores cujo nome não sei. Os italianos gostam de jardinagem, mas estão longe da organização dos ingleses, então os jardins são a imagem da ordem no caos: percebe-se a mão de alguém na distribuição das plantas, mas não é possível detectar nenhum padrão de nada. Os jardins das casas italianas são muito visivelmente italianos, e eu acho isso super divertido. Eu adoro essa floração em tudo que é lugar, apesar de ter que admitir que tenho pena das plantas (eu não falei que eu tava brigittebardoziando cada vez mais? Daqui a pouco vou ter pena até de bactéria, espera só pra ver), enfurnadas em pequenos vasos, as raízes doidas pra dar uma expandida e dando de cara com aquela barreira sólida. Pobres florezinhas que não sobreviverão ao próximo inverno! Sinto pena, de verdade. Toda vez que rego minhas flores na varanda fico me martirizando por mantê-las dentro de vasos apertados em vez de livres e serelepes num jardim. Mas não tenho jardim, então tem que ser em vaso mesmo. Tadinhas!

A única coisa que eu não gosto da primavera é essa abundância de rosas em tudo que é lugar. Eu detesto rosa, acho a flor mais cafona do planeta, repolhuda, vulgar, exibida. E ainda por cima tem espinho! Gosto de florzinhas pequenas, espontâneas, alegres e bobinhas – flores do campo, margaridinhas danadas que crescem sem ser convidadas, papoulas vermelho-berrante (sábado colhi várias do chão – novamente a pena de arrancá-las – enquanto passeava com o Legolas e enfiei por dentro da coleira dele. Ficou um cachorro primaveril, papoulento, maravilhoso.) igualmente caras-de-pau que nascem em qualquer lugar; amo as tulipas, elegantes, clean, simples. As miniflores do meu tomilho e da minha sálvia são lindas, apesar de microscópicas – ou então exatamente por serem microscópicas. Minhas petúnias estão divinas. Os cravos foram transplantados ontem a dois vasos maiores, porque achei que as mudinhas não estavam gostando muito da apertação do vasinho onde estavam antes e estavam empacadas na mesma altura há duas semanas. Vamos ver se agora crescem direito. As dálias-anãs estão firmes e fortes; eu dividi um pacotinho de sementes em dois vasos, então eu acho que o espaço é suficiente. Arianna anteontem me deu um vasinho bonitinho com três flores vermelhas estranhas cujo nome nem ela sabia. Perguntei logo se podia passar pra um vaso maior, mas ela falou que não. Tadinhas.

E aqui o ditado diz que uma andorinha não faz primavera. E é verdade. Há andorinhas em tudo que é lugar. De manhã é uma bagunça danada, elas voam feito flechas pra lá e pra cá, indo e vindo dos ninhos construídos embaixo das bordas dos telhados, fazendo o maior escândalo com aquele piu-piu estranho delas. Há outros passarinhos também, mas no meio desse bando de andorinhas a gente nem consegue ver direito.

Acho que seria uma boa idéia arrumar uma andorinha doméstica pra comer as moscas, que já começam a encher o saco. Cada moscona tão grande que parece um helicóptero. Bicho nojento. Insetos malditos, abusados! Ontem à tardinha eu e Mirco fomos correr aqui nas redondezas, em meio aos campos de trigo, e a quantidade de inseto que deu topada na gente foi impressionante. Primavera na roça é assim mesmo, tenho que me conformar...

Postado por leticia em 07:43

09.05.04

tudo na vida

Ontem fui a Roma rapidinho fazer o tal provino, ou prova em frente à telecâmera, pro tal lance de Donnavventura. Me senti ridícula, mas menos do que eu esperava. Nunca tive problemas pra falar em público, e mais público do que ali era impossível – armaram uma tenda na Piazza del Popolo, esquina com a Via del Corso, os japoneses passavam e tiravam fotos, passavam charretes levando os convidados de algum casamento chique, e aquele bando de mulher sentada nas escadarias da igreja esperando a sua vez pra olhar pra câmera e dizer, me chamo fulana, tenho tantos anos, moro no lugar tal, e gostaria de participar de Donnavventura porque blah blah blah. O roteiro desse ano será os EUA e um pedaço do Canadá, chegando até o Alaska. Confesso que talvez tivesse ficado mais empolgada se fosse a Nova Zelândia. Ou a África. Minhas chances: 0. Lembrete pro ano que vem: ir de jaqueta de couro e sapato pesado. Ninguém convidaria uma pobre subdesenvolvida de sapato boneca e suéter Burberry pra dirigir um 4x4 no deserto do Nebraska.

Postado por leticia em 09:35

07.05.04

ripa na chulipa

Mudando de pato pra ganso: a Serena, como esperado, ganhou de lavada a quarta edição do Grande Fratello. É meio biruta mas parece ser boazinha, por isso acho que mereceu. Claro que o Fratellão é só desculpa pra gente fazer um balacobaco às quintas-feiras, só um idiota pode levar aquilo a sério, mas de qualquer maneira nos divertimos muito ontem. A nova casa Chulipense da FeRnanda é um amor, com vista pra praça central (e única, suspeito) de Ripa, os quartos são amplos, as janelas são muitas, os móveis ainda não chegaram mas o sofá-cama da IKEA é super confortável, as piadinas que o Fabio fez estavam ótimas, a minha torta de limão idem, e a companhia, claro, sempre impecável. Estamos felicíssimos por eles; a casa é uma delícia e com o alto-astral da FeRnanda não tem como não virar um lugar muito feliz.

Hoje à noite vem gente jantar em casa, um primo do Moreno que trabalha na polícia federal (bons contatos não fazem mal, claro, mas esse cara tem fama de simpático. Adoro unir o útil ao agradável). Pão de queijo, feijão com arroz, carne assada que já tá no fogo, farofa, torta de limão.

E acabei de terminar uma tradução do Italiano pro Inglês de um assunto que eu a-do-ro: mitologia grega. E há coisas turísticas de alto escalão pintando por aí.

Postado por leticia em 10:30

06.05.04

boh...

Meu tomilho cresce totalmente descontrol, descabeladíssimo. Está dando florzinhas minúsculas de um pálido lilás. A sálvia também deu flor. O único que se recusa terminantemente é o alecrim, que continua com a mesma cara, sem crescer nem morrer (non cresce né crepa), sem flor, sem mudar de cor, totalmente estátua. As petúnias estão lindas. Aliás, estavam, porque não pára de chover desde o início da semana e o vento forte levou embora as flores vermelhas. As brancas, que aliás são muito mais bonitas, aparentemente são mais fortes e estão OK. Os cravos estão crescendo que é uma maravilha. As dálias já ultrapassaram a borda da jardineira, estou doida pra ver se vão dar flor ou vão ficar só empatando. Do manjericão já desisti, já vi que não brota mesmo. E o que eu comprei bello e fatto e plantei na jardineira está todo manchado. Diz a Arianna que é o excesso de chuva. Ainda bem que não é culpa minha. O ficus está lá, estável.

**

Hoje tem super final do Fratellão em Ripa na Chulipa! Inauguração da nova casa de F&F! Não sei o que vai rolar porque Fabião vai pilotar o fogão, mas eu vou levar a minha Torta Ridícula de Limão (rimou toda essa frase, credo!). E que vença Serena!

p.s.: Tão pintando outros lances de turismo por aí. De repente eu até consigo largar essa BOSTAAAAA de vida entre seguros e investimentos...

Postado por leticia em 10:34

28.04.04

momento albanesa

Hoje perdi a manhã inteira no Commissariato de Assis pra renovar a bosta do permesso di soggiorno. Eu, albaneses, marroquinos, E A SUELY MARIA, que obviamente fiz questão de fingir que não vi/não entendi quem era. Cheguei pouco depois das nove, quando abre, e a fila já era grande. Pelo menos agora na primavera a fila fica do lado de fora, no meio de um jardim lindo e com vista pras velhíssimas casas de pedra rosa de Assis, em vez de todo mundo enfiado no corredor estreito, aquele cheiro de gente fedorenta no ar, como acontece no inverno.

Pois então. As duas policiais que trabalham ali são muito diferentes em termos de personalidade. A de cabelo comprido é um amor, tranquila, simpática, fala devagar quando percebe que o estrangeiro não está entendendo a língua. Foi ela quem tirou minhas digitais meses atrás, batemos o maior papo, é uma simpatia. A de cabelo curto tem seus momentos megera, de gritar, chamar neguinho de burrinho, mandar você voltar pra casa se ficar faltando um documento que às vezes nem é importante e você poderia perfeitamente trazer mais tarde, quando fosse pegar o documento definitivo. Hoje peguei a de cabelo curto, que felizmente estava bem humorada e não criou problemas. Os documentos que faltavam eram realmente importantes, e lá fui eu fazer a estrada de volta a Bastia pra ir ao Comune pegar um papel e passar em casa pra pegar outro papel.*

Meno male que passear de carro nessa época do ano é uma maravilha: o sol que bate esquenta e deixa aquele cheiro de sol na pele, e o vento fresco refresca. As árvores de fruta estão todas em flor, há pessegueiros cor-de-rosa por todos os lados, margaridinhas selvagens amarelas e papoulas vermelhonas crescem em qualquer pedacinho de terra, o capim é verde claro, os campos são de um verde quase radioativo, há turistas na rua, crianças em excursão da escola, velhos passeiam com cachorros, as lojas estão cheias de fregueses, todo mundo tomando sorvete na rua. Nem mesmo os mil ônibus de turistas e os carros que vêm de fora e atravancam a estrada por não saber direito aonde ir estragam o passeio cheio de curvas, com vista privilegiada pro vale.

O único grandíssimo perrengue do momento é a mattonata, estrada de tijolinhos que vai do centro de Assis até a estação de S. Maria. As pessoas mandam dinheiro pra igreja, que bota seus nomes nos tijolos (mattoni) vermelhos que pavimentam essa calçada. Só que, como tudo que vem da igreja, essa coisa já sugou mais dinheiro que... que, bom, que obra de igreja. Já houve vários processos por fraude e desaparecimento do dinheiro desses otários, a obra ficou interrompida por anos, e agora recomeçou, interrompendo o trânsito. Tudo isso só pra você passar por uma calçada vermelha, com os nomes dos otários marcados nos tijolos: Famiglia Rossi, Roma. Famiglia Proietti, Milano.

Meu nojo pelas instituições religiosas é tão gigante que não tem nem como medir.


*O detalhe é que o prazo pro permesso definitivo ficar pronto é de 3 meses. Ou seja, se o meu tutor-ator não conseguir ativar o amigo dele que trabalha na Questura em Perugia, nada de Brasil esse ano, já que com o provisório eu não posso sair da Itália, senão perco o direito ao permesso. Bom, né.

Postado por leticia em 12:22

26.04.04

de titio, raios & cia

Sábado recebi um telefonema deliciosamente inesperado do meu tio Égas, irmão mais velho do meu pai. Acabei falando também com meu avô, que fez 93 anos dois dias depois do meu aniversário, com a minha tia Ilse, e com a mulher do meu tio, a tia Iara. Acho que bateu a nostalgia geral porque a filha do tio Égas, a Paola, tá morando na Dinamarca e ficou todo mundo meio bobo com essa debandada das netas mais velhas. De qualquer maneira fiquei muito feliz dele ter ligado.

Na noite de sábado rolou uma forte tempestade aqui na zona, e hoje o telefone da agência não parou de tocar por conta de clientes que queriam denunciar danos causados por raios. Um raio caiu na torre da praça central de Assis, bem do lado da loja do Fabrizio o Louco, e derrubou um pedaço de pedra da torre da igreja que caiu dentro de um escritório – não sei os detalhes, não vi o telejornal regional ainda. Ainda bem que aqui em casa deixamos tudo desligado antes de sair pra jantar com o Fabio e a FeRnanda, por isso não queimou nada.

Postado por leticia em 14:21

24.04.04

promessa

Juro que mês que vem tem texto meu inédito.

Postado por leticia em 11:01

blah blah

Dois balacobacos rolando por aqui, um bobo e um sério. O sério: dez novos países, alguns bizarros, estão pra entrar na Comunidade Européia. Eu não tenho nada a ver com o peixe, mas tô achando que tá virando um samba do crioulo doido, saca só: Hungria, Polônia, Malta, Chipre (Chipre!!!), República Tcheca, República Eslovaca, Eslovênia (ai!), Lituânia (ei!), Letônia (ui!) e Estônia (hein?). De qualquer maneira, espero que a entrada na CE dê um empurrãozinho de desenvolvimento a esses países. Pobreza não tá com nada.

E eu tenho a maior vontade de conhecer a Estônia, juro. Tenho visto vários documentários interessantes sobre a Estônia na TV ultimamente, e tudo me parece muito bonitinho. Quanto à língua, a única coisa que eu sei é que eles têm duplas e triplas vogais, com valor distintivo, ou seja, uma palavra tipo agua significa uma coisa, aagua outra e aaagua outra. Estudei com uma garota estonese (existe isso?) em Perugia por alguns meses no longínquo 2002. Pena que era muda feito um peixe e ninguém aprendeu nada sobre a Estônia com ela.

O outro bafafá é o assunto principal lá na agência nos últimos dias. Entrou na programação da TV essa semana o comercial de uma companhia de seguros que não tem escritórios fixos, só trabalha por telefone. A propaganda, que eu achei muito cruelzinha, é assim: um cara chega numa agência de seguros, senta e diz que precisa fazer um seguro pro carro. O agente de seguros pega uma máquina de calcular, digita um valor inicial, o valor do seguro propriamente dito, e depois começa a adicionar:
- Tantos euros pelo aluguel da sala, tantos pela minha gravata...
- Peraí! Tenho que pagar o aluguel da sala também?
- Você tá pensando que isso tudo aqui é de graça?

Na verdade o que acontece é que essas agências de seguro por telefone se multiplicam e morrem na mesma velocidade. Como o dinheiro pra reembolsar os sinistros vem dos prêmios pagos pelos clientes, se os prêmios são muito baixos a empresa não consegue cobrir todos os sinistros, e é nessa que você se fode – é o famoso barato que sai caro. Você paga uma merreca, mas quando bate o carro e precisa do reembolso a empresa demora a pagar, ou não paga nunca, paga em parte, ou, pior, já faliu e você nem percebeu. O caso dessa agência da propaganda é particular, porque eles são conhecidos no mercado, mas de qualquer forma acho muito feio fazer comercial atacando os outros. Até porque, por exemplo, a empresa onde eu estou estagiando é uma das mais antigas da Itália, tem costas largas e está bem no mercado acionário, e paga os sinistros rapidinho, sem lenga-lenga, e é por isso tudo que custa um pouco mais. Quer pagar um pouco menos? Basta pesar a relação custo-benefício, o mercado é livre, ninguém obriga ninguém a pagar mais só por pagar.

Sei que as grandes empresas de seguros do país estão se mobilizando pra tirar o comercial do ar, e fazer com que essa agência da propaganda se retrate publicamente na TV. Claro que a essa altura do campeonato o estrago está feito, mas, enfim...

Eu me divirto horrores com essas polêmicas italianas.

Postado por leticia em 10:46

22.04.04

nem igor, nem dara

Ontem uma cigana que vive pedindo esmola no sinal de S. Maria (eu deveria dizer O Sinal, ou Il Semaforo, porque só tem um, então vira uma coisa importantíssima, um super ponto de referência) veio me pedir uns trocados com a eterna criança no colo. Normalmente eu finjo que não vejo, porque odeio essa gente que coça o saco o dia inteiro e de noite vai roubar galinha dos outros (já roubaram da Arianna várias vezes), mas dessa vez olhei bem na cara dela e falei “não, minha filha”. Não é que ela me soltou um vaffanculo e ainda me chamou de escrota (stronza)? Só não abri a porta do carro com força suficiente pra catapultá-la até Foligno porque tava com o filho no colo. Feladaputa. Na próxima vez vou fazer como já fiz na estação Carioca: perguntei se a mulher tinha trabalhado pra mim alguma vez. Já estou imaginando o diálogo com a cigana desdentada:

- Ma Lei [sente a educação] ha mai lavorato per me?
- No, signora.
- ALLORA PERCHE’ CAZZO TI DEVO DARE DEI SOLDI, MIGNOTTA CHE NON SEI ALTRO? MA VA’ A TROVARTI UN LAVORO, BASTARDA INUTILE!

Sou muito fina, mas há coisas que realmente me tiram do sério. Ciganicídio já!

Postado por leticia em 19:34

é primaveraaaa... te amuuuu!

O dia hoje foi um esplendor. Céu claro, sol quente e brisa fresca, humor dos melhores. Mesmo tendo feito algumas visitas a clientes chatos o dia foi interessante. Poder andar de carro com a janela aberta, o vento fresco te descabelando loucamente, é uma bênção. Como sou meteorologicamente otimista, hoje vou tentar dormir sem meias.

Menu do jantar Fratellão de hoje:

- salada de feijão branco com alface cortada finiiiiinha e ovo de codorna
- carne assada fria em fatias finas com batata assada recheada com vagem e parmesão
- pudim de chocolate (que ainda tenho que decidir se ficou bom ou não, por isso ainda não dou a receita)

E todos esperamos que saia aquela piranha da Carolina, ou o paraculo do Tommaso.

Postado por leticia em 19:32

20.04.04

velhice

Meu primeiro presente de aniversário chegou quinta-feira, vindo do norte da Itália. A Lidia, gentilíssima leitora italiana que testa tudo que é receita que eu boto aqui, me mandou um espetacular par de meias cor creme com vaquinhas, que infelizmente não fotografei porque já foram usadas e estão penduradas na corda pra secar.

Na sexta-feira rolou o balacobaco básico aqui em casa, com FeRnanda e Fabião e Renata e Stefano. O strogonoff ficou bom, o guaraná acabou, o vinho tava ótimo, o bolo ficou uma bosta porque só lembrei de botar o fermento quando o bicho já tava na forma, mas a serata foi ótima. Batemos muito papo, rimos, fofocamos, e acabei ganhando mais dois presentes, além da companhia dessas pessoas maravilhosamente normais e educadas que eu dei a imensa sorte de conhecer aqui no interior do Burundi: uma vela-potpourri da Renata, e uma coleção de meias (claro!) coloridas da FeRnanda.

Essas outras meias o Mirco me deu de presente de torcicolo semana passada. A da boquinha ridícula tem escrito “con mille baci”, com mil beijos. A do ursinho tem um coraçãozinho de plástico pendurado. São do tipo antiderrapante, pra ficar passeando em casa sem precisar de chinelo. Claro que ele escolheu propositalmente as duas mais ridículas, e claro que eu adorei.

Sábado passei a manhã dividida entre passar toneladas de roupa, falar com meu pai, minha mãe e minha avó no telefone, e ouvir o último CD do Live (ótimo, mas falarei mais dele aqui quando tiver ouvido mais vezes) que eu me dei de presente quinta-feira passada. Lá pra hora do almoço chega o moço das entregas de uma floricultura tabajara de Torgiano: Mirco tinha me mandado um ficus (eu não gosto de flor cortada pra botar em vaso, prefiro coisas vivas, com raiz, plantáveis), que eu já transplantei pro vasão que comprei ontem. Almoçamos, dormirmos e partimos pra Toscana, visitar a Stefania. O namorado dela veio da Holanda com vários amigos pra comemorar o aniversário dele (dia 16) no agriturismo onde a Stefania trabalha, e não pudemos recusar o convite.

Então lá fomos nós, lemmings, pegar a estrada na direção de Firenze. Saímos em Valdarno e passamos por Montevarchi e Cavriglia antes de entrar na região do Chianti. Pra quem não tá ligando o nome à pessoa, Chianti é um rio, em cujo vale se produz o vinho de mesmo nome, o mais famoso da Toscana. Aquele que o Hannibal Lecter tomou num dos seus jantares canibalísticos, lembram dele contando pra Clarice que comeu o fígado do fulano with a nice Chianti? É um vinho seco, que pode ser muito bom ou muito, muito ruim mesmo – aliás, dada a imensa quantidade de barris que se produz atualmente, a probabilidade de achar um Chianti ruim é bem alta. Todo mundo faz Chianti hoje em dia, e claro que desse oba-oba não pode sair só coisa boa.

Pois então: todas as cidadezinhas microscópicas do vale do Chianti vivem em função da produção desse vinho. As colinas são maravilhosamente regulares, cobertas de videiras que, nessa época do ano, parecem mortas, secas, desfolhadas (a colheita só rola no final do segundo semestre). Algumas casas antigas aqui e ali, a maioria agriturismos ou bed & breakfast, porque são edificios históricos cuja manutenção é cara, mas com os benefícios fiscais que o governo dá pra quem investe numa estrutura hoteleira a coisa fica viável. Como resultado, muitas famílias proprietárias de casarões abandonados impossíveis de vender porque custam uma fortuna entraram nessa pra conseguir reformar a casa.

Lá fomos nós pela estradinha estreita e cheia de curvas, no meio de chuva e neblina: Radda in Chianti, Gaiola in Chianti, Greve in Chianti, até chegar a Panzano in Chianti, onde fica o tal agriturismo, que se chama Fagiolari. O lugar é maravilhoso, uma lebre atravessou a estrada esburacada logo na nossa chegada, e a Stefania já encontrou javalis passeando à noite no bosque, mas não há maravilhosidade que resista a tempo feio + gente esquisita, por isso não posso dizer que nos divertimos muito. No dia seguinte demos um pulo em Panzano pra comprar pão pro almoço, passamos no açougue mais famoso da Itália, onde a bisteca, que por melhor que seja eu considero carne de quinta, custa uma fortuna,

compramos um bom pecorino e molhos de carne de caça (faisão, lebre e javali) e voltamos pra almoçar as sobras do jantar de sábado. Viemos embora no domingo à tarde, e fomos jantar com o Marco e a Michela, amigos de escola do Mirco que casaram no ano passado e foram uma outra ótima descoberta, porque são ótima companhia. Excrusive devem vir jantar aqui amanhã, se eu conseguir achar ingressos pro Stomp pra hoje à noite em vez de quarta-feira.

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Muitas das pessoas que me escreveram dando os parabéns disseram pra eu não esquentar com a idade. Eu não tenho o menorrrrrrrr problema em envelhecer! Muito pelo contrário, acho a vida do jovem tão ridícula, tão idiota (e olha que eu fui uma jovem espertinha, madura, observadora, mas mesmo assim fui ridícula e idiota), que não vejo a hora do tempo ir passando, deu ir ficando mais interessante, mais segura, com mais histórias pra contar, enfim, melhor – como um bom Brunello.

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Comprei e plantei petúnias brancas e vermelhas. Lindas!
As dálias estão crescendo bem. Os cravos parece que empacaram.
Comprei manjericão adulto também. A previsão do tempo não é muito animadora e as sementes que plantei tão cedo não vão dar as caras.

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O presente oficial do Mirco vai ser a minha wishlist da Amazon. Só tenho que ter tempo de comprar...


Postado por leticia em 09:12

14.04.04

é maquilage, creuza

E então hoje, como presente 2-em-1, ou seja, antecipado de aniversário e por ter feito várias coisas hoje no trabalho que precisavam ser feitas, me dei um novo rímel da Clinique, que o meu da Mac acabou. Espero que não seja do tipo que borra, como era essa da Mac. Espero um dia ter grana o suficiente pra ter coragem de pagar 25 € num rímel YSL waterproof sem pestanejar.

Postado por leticia em 23:18

11.04.04

...

Hoje e amanhã trabalho na loja do Fabrizio, o Louco, e amanhã vai ter festinha antecipada de aniversário aqui em casa, pra aproveitar que a irmã da FeRnanda e o marido tão aqui na área.

Quero escrever sobre Hidalgo e a Paixão de Cristo, que vimos anteontem e ontem, respectivamente. Mas preciso de um tempinho e não sei se vai dar, porque agora vou correr, fazer máscara de creme no cabelo, dar uma geral na casa antes de ir me empanturrar no almoço de Páscoa na Arianna...

E antes que alguém venha me chamar de mal-educada... Boa Páscoa, o que quer que isso signifique.

Postado por leticia em 09:05

09.04.04

é a idade...

Chuva até Pasquetta (a segunda-feira depois da Páscoa). Sabe depressão meteorológica? Então.

Pra mudar de assunto: quarta-feira fomos jantar no Massimo, restaurante de frutos do mar mais famoso da zona, lá pros lados do Lago Trasimeno. Fomos com um amigo de infância do Mirco e a mulher dele. Comemos super bem, detonamos três garrafas de bom vinho branco, batemos um papo muito agradável, apesar de ter sido um saco aguentar um cigarro do Marco entre um prato e outro (considerem que houve 3 antipasti, 2 primi e 1 secondo). Tava frio mas não muito, meus sapatos maravilhosos detonaram meus pés, cheguei em casa meio tontinha mas nada de muito complexo. Só que eu devo ter dormido em uma posição esquisita, porque ontem de manhã acordei com o pescoço e o ombro esquerdo muito doloridos. Fui trabalhar do mesmo jeito, mas à medida em que o tempo passava a dor ia piorando. Quando acabou o expediente da manhã e fui pegar o carro pra vir pra casa almoçar, percebi que estava toda paralisada de dor, o ombro completamente duro e imóvel. Pra sair da agência foi um parto, porque eu não conseguia virar o pescoço pra ver se vinha carro da direita. Cheguei em casa, me joguei no sofá e dali não saí mais. Simplesmente não conseguia me mexer. Fabião e FeRnanda vieram pra sessão semanal de Grande Fratello (cujo paredão foi completamente armado. Todo mundo odeia aquela piranha da Carolina, comé que saiu o Bruno, tão legal, coitado, que precisava do dinheiro pra casar?), mas trouxeram rango do McDonald’s porque eu realmente não estava em condições de cozinhar.

Hoje acordei melhor, mas ainda estou dolorida. Aí vêm os pitacos da galera hipocondríaca: foi o colpo della strega (golpe da bruxa), ou seja, golpe de ar frio! Arrã, falei. Frio onde, se na quarta-feira à noite eu tava toda encasacada quando saí do restaurante pra entrar no carro, e nem estava tão frio? Se dormimos com as janelas do quarto fechadas e com um edredom de pena de ganso super pesado? Meu diagnóstico é a síndrome do bêbado mesmo – quando bebemos dormimos feito pedras, mudando pouco de posição, por isso é comum acordar com o braço dormente. Se eu fosse um braço e meu dono, bêbado, dormisse a noite inteira com todo seu peso em cima de mim, eu também ficaria dormente e dolorido, por culpa de meus nervinhos esmagados por horas a fio.

Postado por leticia em 12:47

07.04.04

papatinho

A pergunta do dia é: meus geloni* me deixarão usar meus sapatos marrons altíssimos com cristaizinhos Svarowski azuis pra ir jantar frutos do mar hoje à noite ou vou ter que dar uma de pimba e ir de salto baixo mesmo?

*Gelone é uma inflamação articular e cutânea das extremidades (pés e mãos) causada pelo frio. Os sintomas são vermelhidão, prurido, e uma dor feladaputa.

Postado por leticia em 12:22

eu olhei pra ela, ela olhou pra mim

Enquanto escovava os dentes depois de tomar café (acordei cedo pra correr, mas o vento sopra gelado lá fora e perdi a vontade) vi uma barata passeando no chão do banheiro. Baratas e formigas são coisas raras por aqui. O inseto chato italiano por excelência é a mosca, que aliás já começou a aparecer duas semanas atrás, quando o tempo deu sinais fortes, embora enganosos, de que iria melhorar (leia-se "esquentou, as moscas chegam"). Mas barata em casa eu nunca tinha visto.

Como barata é coisa de pobre, batizei-a com o nome da minha vizinha vagaba, afoguei-a em Baygon e joguei seu cadáver no lixo.

Postado por leticia em 07:58

03.04.04

hm...

Olha, eu sei que não é da minha conta e que é feio falar mal dos outros sem nem conhecer, mas essa minha vizinha de nome cafona tem uma vida muito estranha. Não botou seu nome em nenhum lugar: nem no interfone, nem no escaninho, nem na campainha. As contas ficam lá embaixo no escaninho semanas inteiras, o que me leva a crer que não é ela quem paga. Não sai de casa quase nunca; é o seu homem que vem visitá-la, mas acho que não dorme aqui. TODAS as suas calcinhas (ela lava e pendura no varal da varanda todas de uma vez) são pretas. Todas.

A única coisa a seu favor até agora é que a varanda dela é toda florida. O problema é que uma garçonière florida é comunque sempre uma garçonière... (Flabb, corrija meu galicismo por favor que eu tô por fora).

Postado por leticia em 19:29

29.03.04

Não custa repetir: Roma é tudo na vida...

A intenção ontem era das melhores. A irmã do Mirco voltava da Holanda pra temporada de verão no agriturismo toscano onde ela trabalha há três verões e precisava de carona pra buscá-la no aeroporto. Seu vôo chegava às 17:35 no aeoporto menorzinho de Roma, o Ciampino, e decidimos aproveitar a viagem à cidade que é tudo na vida pra entrar de graça no Museu do Vaticano, que abre grátis no último domingo de cada mês. Deveríamos ter saído cedo de casa, mas com o horário de verão que entrou na madrugada de sábado pra domingo, não tivemos forças pra sair antes das 8:30. Considerando que daqui a Roma são quase 2 horas de viagem, mais o tempo pra ir do aeroporto ao centro, quando chegamos já era a hora do almoço. Mas vamos com calma.

Como o Mirco, além de odiar dirigir, tava morrendo de sono, eu acabei pegando no volante enquanto ele roncava no carona. A viagem foi agradável e tranquila, o dia estava leeendo, fora os bancos de neblina entre Fratta Todina e Acquasparta, a temperatura estava amena, Live tocando no CD player. Deixamos o carro no estacionamento do aeroporto e pegamos um ônibus que nos deixaria em Anagnina, estação final da linha A do metrô de Roma.

O buzão faz um caminho muito esquisito, passando pelo centro da cidade de Ciampino, que é horrorosa, feito com uma cidade qualquer do Vale do Paraíba; por uns cruzamentos perigosos; pela autostrada onde o limite de velocidade é 130 km/h; tudo muito estranho. Descemos na Anagnina, que deve ser uma das estações de metrô mais esculhambadas do mundo. Saca feirinha de coisas inúteis? Saca camelódromo? Agora bota um bando de chinês ilegal vendendo essas coisas inúteis em barracas ou em panos estendidos no chão. Imagina uma quantidade indescritível de lixo, papel, guimbas de cigarro (malditos fumantes escrotos), copos e garrafas de plástico, bilhetes velhos de ônibus e metrô, tudo isso esvoaçando pra lá e pra cá e se amontoando nos cantos. Imagina um mar de gente feia, mal vestida e fedorenta comprando essas muambas ridículas. Parece com alguma estação que você conhece? Conheço várias no Rio que poderiam ser a Anagnina.

Enfim, pelo menos conseguimos lugar pra sentar no metrô, já que o pegamos na estação inicial. 19.786.641,72 estações depois descemos em Cipro e fomos seguindo as plaquinhas pra chegar no Vaticano, crentes que íamos descolar uma tarde cultural di grátis. Como somos inocentes! Não imaginávamos que TANTOS outros unhas-de-fome como nós estariam lá, formando uma fila grossa e incrivelmente longa, e que ainda por cima, por ser italiana, era tão confusa que tinha que ser organizada por guardas de trânsito. Lógico que o programa cultural furou. Pegamos o metrô de novo (os ônibus não passavam no horário porque várias ruas estavam interrompidas por causa da Maratona di Roma) e descemos na Piazza di Spagna. Acabamos almoçando no McDonald’s, porque almoçar em cidade turística é sempre muito arriscado, então preferimos cair no "risco seguro" do Mc. Depois fomos à sorveteria La Palma, atrás do Pantheon, pra tomar sorvete: eu de maracujá e doce de leite com Nutella, o Mirco de maracujá e babà (é um doce napolitano).

Fomos dar umas voltas, o Mirco mancando porque não quis levar a muleta e eu morrendo de vontade de apertar o passo, porque pra mim é muito difícil andar devagar. Acabamos indo parar na minha piazza preferida, a Navona, onde fica a nossa embaixada. Mirco deitou num banco e dormiu no sol, feito um mendigão, enquanto eu olhava o desfile de turistas e artistas de rua. Em um certo momento esses três loucos pararam pra bater papo: o de fraque já vi várias vezes em diversas piazze de Roma, com seu monociclo; o patinador eu nunca tinha visto mas tinha uma cara de louco que nem te falo; o outro obviamente fazia esculturas de balão.

Ali mesmo na Navona barganhei com um africano uma bolsa fake da Prada muito bonitinha. O engraçado é que o mercado informal italiano é todo segmentado: africanos vendem bolsas falsas, paquistaneses e indianos vendem castanhas e, quando chove, guarda-chuvas, chineses vendem coisas inúteis, como gafanhotos de papel e as clássicas quinquilharias paraguaias. Cada um na sua, sem invadir o segmento de mercado de ninguém.

Voltamos à Piazza di Spagna e pegamos o metrô de volta a Anagnina. Não tinha UM italiano no nosso vagão, eram (éramos...) todos imigrantes, de tudo que é lugar do mundo. Gosto de cidades cosmopolitas, mas não nesse estilo – estilo pobre-feio-mal-educado-desdentado-fedorento que vai pra Zoropa ganhar a vida mas continua se vestindo com casaco de plástico imitando couro, botas felpudas, roupas azul-royal, cabelos mal tingidos de louro. Mas fazer o quê, é a vida. De Anagnina pegamos o buzum de novo pro aeroporto, Stefania chegou pouco depois, e picamos a mula de volta pra casa. Jantamos na Arianna e vim pra casa dormir que não me aguentava em pé.

p.s.: essa é a Poppy, "labratriz" simpaticíssima que encontramos no Pantheon.

Postado por leticia em 20:20

27.03.04

mindinho verde

Minha floresta varandal, transferida da varanda da sala pra varanda do quarto pra tomar banho de sol da tarde. Lá no alto, o cactuzinho estranho com suas estranhas "flores" vermelhas. Nos três vasos médios, da esquerda pra direita: tomilho, o manjericão tímido, as tulipas do supermercado. No vasão de cima, a sálvia. Ao lado dela, no vaso menorzinho, os brotinhos de cravo (tão vendo os pontinhos verdes? São eles :) E na parte de baixo da foto, meu alecrim querido.

Postado por leticia em 17:54

25.03.04

a menina do mindinho verde desbotado

Fiz uma série de transplantes vegetais anteontem. Passei as tulipas pra um vaso maior, o tomilho pra um vaso mais bonito, a salsinha pra uma jardineira só dela, a primula pra um vaso maiorzinho, embora tão vagabundo quanto o velho, o cactus-zinho idem. Joguei fora o alho, que cresceu pra cima e pra baixo mas pros lados que é bom, nada. E quando fui remover a salsinha, fui achando umas raízes malucas que ocupavam todo o “subsolo” da jardineira, formando uma rede fortíssima que eu não conseguia arrancar nem com a vaca tossindo. Era o hortelã! Que planta desgraçada!!! Umas raízes grossas, fortes, compriiiiiiiiiidas, e folhinhas nascendo em tudo que é lugar, absolutamente sem terem sido convidadas! Falei ah, é?, e replantei várias mudinhas dela num micro-vaso. De repente assim, sozinho num espaço confinado, meu hortelã toma tento e pára de querer dominar o mundo.

Ainda no assunto jardinagem tabajara, ando preocupada com meus dons vegetalizantes. As sementes de cravo que eu plantei já estão brotando, e são a coisa mais linda de se ver! Mas o manjericão ainda nem deu as caras. Pode ser culpa do tempo, que há semanas anda no estilo Londres, com direito a fog, céu cinza, chuva, chuvisco, frio, encheção de saco. O manjericão é chegado num calorzinho, e tenho que admitir que se eu fosse ele também não teria brotado ainda, só de despeito. Dizem que no fim de semana o sol deve finalmente aparecer. Vamos ver se o manjericão resolve fazer o mesmo.

Postado por leticia em 08:35

23.03.04

potocas

E ontem foi meu primeiro dia de estágio (que aqui se diz em Inglês mesmo, stage, mesmo não tendo nada a ver). Não fizemos nada de especial: rodamos muito, conversamos com algumas pessoas, telefonamos a outras, mas aparentemente era um daqueles dias que não dão certo, porque a maioria das pessoas não respondia ao telefone ou não estava no lugar onde fomos procurá-las. Por isso resolvemos deixar o grosso do trabalho pra amanhã (hoje não vou à agência porque meu tutor é ator e está organizando uma peça de teatro pro próximo fim de semana, e hoje tava meio atolado com essa história).

Então hoje vou aproveitar pra fazer faxina que amanhã FeRnanda e Fabião vêm jantar (bruschette, massa com salmão defumado e abobrinha, e o petit gateaux da Marcinha) e amanhã não vou ter tempo de limpar nada. E vou transplantar meu alecrim pra um vaso maior, porque eu AMO alecrim e quero que a minha plantinha vire uma floresta de alecrim. E vou transplantar minhas tulipas de supermercado pra outro vaso também. Mas só vou tirar fotos da minha varanda florestal quando tiver plantado flores, coisa que me desaconselharam a fazer agora porque aparentemente vem outra semana de frio intenso por aí, e o que eu plantar agora vai murchar logo logo.

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Ontem à noite vimos a primeira parte do primeiro filme do Senhor dos Anéis que passou na TV. E, milagre dos milagres: lanterneiro, que odeia fantascienza (pronúncia "fantachentsa" e quer dizer sci-fi, ficção científica), adorou e quer que chegue logo a próxima segunda-feira pra ver a segunda parte.

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E hoje tem jantar em Deruta com os ex-colegas de trabalho do Mirco (aqueles da empresa import-export de ferro). Normalmente nos divertimos muito com eles, mas o último jantar, em janeiro, foi chatíssimo, não se sabe por quê.

E fomos também convidados pra jantar em Todi essa semana. Ando fazendo umas traduções de e-mail pra um cara que tem uma agência de aluguel de carros com motorista pra turistas abastados que querem ter um carro à disposição quando vêm pra Umbria. Todos os contatos são feitos via e-mail e esse cara não fala nada de Inglês, por isso me paga pra traduzir as mensagens. CA-LARO que perguntei logo de cara se não precisava de uma intérprete também, e com o e-mail a traduzir que ele me mandou ontem veio também um convite pra jantar pra discutir essa coisa alternativa. Nada mal rodar pela lindíssima Umbria em carro confortável, explicando pra americanos ricos que aquela villa ali foi construída em mil seicentos e alguma coisa, que aquela planta amarelinha se chama mimosa, que em Gubbio (ou Gualdo Tadino? Não lembro) San Francesco domou um lobo que aterrorizava a cidade... E ainda por cima ser paga pra isso. Tomara que dê certo.

Postado por leticia em 09:09

09.03.04

Suely Maria

A quantidade anormalmente grande de produtos de limpeza na varanda da vizinha por si só já era uma confirmação da sua nacionalidade brasileira. Mas o nome que vi numa conta de luz que o carteiro deixou em pé sobre o escaninho por não ter encontrado nenhum escaninho com aquele nome fechou o diagnóstico: Suely Maria. Não é bom, mas podia ser pior. Vamos ver.

Amanhã tem jantar aqui em casa. Além da FeRnanda e do Fabião, vêm a Dila, baiana casada com o Italo, primo distante do Mirco, e talvez Selminha, que estudou comigo em Perugia há dois anos e é amiga da Dila. Ainda não decidi o cardápio; tinha resolvido tudo mas mudei de idéia várias vezes e agora não sei mais o que cozinhar.

Postado por leticia em 11:05

10.11.03

Nem precisa dizer que o

Nem precisa dizer que o episódio capilar não foi nada simples, né. A idiota da Michela, ajudante da Giusy, passou creme alisante na minha testa achando que era creme protetor – e já ia alisar meu cabelo com o creme protetor, se eu não tivesse sentido a testa queimando! Resultado: estou com um arco de feridinhas na testa, como se tivesse caído e me ralado toda. Lindo. Pelo menos do corte eu gostei.

Roma foi OK, mas pela primeira vez não me recarregou as baterias. Fiz o que tinha que fazer e depois sentei entre as colunas do Pantheon e fiquei lá sentada vendo o tempo passar, até a Ane me ligar e me dar as instruções de como chegar na casa dela.

Mental note: NÃAAAO pegar metrô em Roma na hora do rush. Jamé.

Metrô lotado, ônibus idem, muita risada porque se os italianos já são escandalosos, os romanos são mais ainda, e tinha um particularmente agitado no ônibus implicando com um outro que tinha se pendurado na porta, que obviamente não fechava, e por isso o ônibus não podia sair do lugar. Chegando na Ane, tomei meu banhinho, os convidados começaram a chegar, jantamos super bem, batemos papo, foi ótimo. Conheci a Sandra, paulista, e o marido dela, de Benevento, que também moram em Roma, e mais o Vincenzo, fotógrafo amigo do Alfredo. Dormi incrivelmente bem, descansadona. Logo depois minha mãe ligou, e me deu uma boa idéia: catar passagem de Portugal pro Rio, alugar um furgão e ir de carro até a casa do meu pai em terras lusas, deixar minha tralha invernal/livral/cozinhal lá e viajar levinha, com minhas roupitchas de verão, muito vinho e coisas boas de comer, e meu canídeo negão. Não sei até que ponto essa aventura é possível, mas vamos ver.

Almocei na Ane (fizemos uma carbonara show de bola), batemos mais um papinho, e peguei o Eurostar das 17:40 que me deixou, com atraso como sempre, em Foligno, onde peguei outro trem (conexões de trem se chamam coincidenza) pra Bastia. Cheguei em casa, tomei meu banhinho pra tirar o cheiro de trem, Samuele passou lá em casa e fomos ao cinema em Perugia ver Matrix Revolutions. Amei! Depois rolou um pub, duas doses de Bailey’s, uma camiseta Bailey’s de brinde, depois casinha. Ontem trabalhei na loja o dia inteiro, mas foi tranquilo, pouco movimento, pouco frio, alguns clientes muito simpáticos. Íamos dançar música anos 60/70 à noite, mas Claudia e Samuele furaram – foi melhor assim, porque eu tava morrendo de sono.

Hoje de manhã dei uma guaribada na minha mini-horta janelal de odori (tenho salsinha, manjericão, aipo, alho, hortelã), botei a bichinha pra dentro porque a neblina destrói as coitadinhas, ainda mais agora que meu manjericão deu flor, e vim trabalhar me arrastando. ODEIOOOOOOOOOO esse trabalho, não aguento mais.

Postado por leticia em 10:03

06.11.03

Post do crioulo doido E

Post do crioulo doido

E aí todas essas notícias óoootimas ao mesmo tempo: a FeRnanda, que vai ao Brasil pra casar em dezembro e vai precisar voltar cheia de tralha, já que vai morar aqui definitivamente, me informou que o limite de bagagem agora é de UMA mala de 20 quilos! (pelo menos pela KLM). Ótima notícia pra quem tem quilos de bagulhos pra levar. E o cara da agência de turismo me disse literalmente pra tirar o cavalinho da chuva, que pro Natal não consigo ir pro Rio – tá tudo lotado pro Brasil, até janeiro. Tooodos esses vôos cheeeeios de gringos babões indo caçar suas piranhinhas no terceiro mundo...

Mas nem tudo está perdido: minha meia de Halloween não é uma simples meia aboborônica, fantasmagórica e morcegóide, mas também BRILHA LEVEMENTE NO ESCURO! Sim! A bichinha tem umas duas ou três listrinhas fluorescentes que brilham no escuro, que nem aquelas estrelinhas horrendas que todo mundo tinha no teto do quarto e que eu adoro até hoje, apesar de saber que são ridículas!

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E pra cortar um pouco esse baixo-astral maravilhoso, vamos falar de futilidades? Sim, vamos. Vamos falar de maquiagem.

As italianas se maquiam (maquiam, e não maqueiam, por favorrrrrrrrrrr) demais da conta. Mas se concentram na pele e nos olhos. A pele é sempre coberta de ciment... opa, de base (que aqui se chama fondotinta) e pó-de-arroz (terra). Os olhos maquiadíiiiiiiiissimos, milhões de combinações de sombras cintilantes brilhantes purpurinadas das cores mais variadas, lápis quase sempre preto, MUITO rímel. Sobrancelhas sempre, sempre feitas (inclusive as dos homens, bleeeeeeergh). E as bocas sem nada, feito cadáveres, ou então só com o contorno feito com lápis de boca, e sem preenchimento com batom. Aliás, esse estilo de maquiagem de boca (maquiagem em italiano se chama trucco, muito apropriado, eu acho) é o tipo de coisa que me é tão estranha que eu fico hipnotizada; quando vejo uma mulher com os lábios assim, não consigo parar de olhar pra boca, e também é muito difícil controlar o riso, claro.

Elas não fazem as unhas, e, quando fazem, as laterais das unhas ficam sem esmalte. Uma coisa fenomenal. Os cabelos são sempre cheios de laquê, gel pros homens, sempre penteados escalafobéticos, todo mundo com cara de ator de novela mexicana, parecendo que acabou de sair da mão do cabeleireiro (parrucchiere). E quase não usam bijuteria. Brinco comprido? Never! Argola? Jamé! Ouro também quase não rola, até porque é caro. Acho tão estranho! Eu sem brinco me sinto pelada, e não repito o mesmo por dois dias seguidos nem que me paguem. Mas o povo aqui se concentra no cabelo e nas roupas; gastam os olhos da cara pra andar com roupa de marca, bolsa de marca, sapato de marca, cinto de marca.

E então eu vou explicar como EU cuido da minha pele (mulherzinha mode on):

Pra lavar uso um sabão líquido não-sabão da Oil of Olay (que aqui vira Oil of Olaz, vai entender) ou então um sabonete Basis, não me lembro mais de qual tipo, mas que agora no inverno evito de usar porque resseca um pouco a pele, e a minha já é sensível demais. Tenho um vidrinho de Tea Tree Oil Facial Wash da The Body Shop que comprei numa promoção na Alemanha, mas o negócio resseca TANTO que eu fico sentindo que a cara tá toda esticada, então parei de usar. Tônico nao sei pra que serve, e quando lembro de usar, uso uma amostra grátis da Dior, Lotion Fraicheur, que nos deram, a mim e à Valéria, naquela perfumaria (profumeria) de Genova, lembra, Valerie?

Pra hidratar, de dia uso Complete da Oil of Olay, que tem FPS 15 e não deixa a pele oleosa. Pra dormir uso Crema Nutriente Riequilibrante da Nivea. Se saio à noite, maquiada, uso um creme mais levinho antes, o Time-Wise Age-Fighting Moisturizer da Mary Kay, presente de uma amiga americana. Uso esse também no verão.

Não uso base, porque não preciso, tenho a pele ótima. Mas, como toda descendente de árabe, tenho olheiras (occhiaie), e preciso de corretivo. Tenho um da Body Shop, em bastão, que não sei onde estava com a cabeça quando comprei, porque não tem nada a ver com a minha cor de pele. Então normalmente uso uma base em tubo da Dior: Teint Soft Sensation, com FPS 8, cor número 200. É ao mesmo tempo base, pó e corretivo, e não deixa a pele com cara de reboco.

Aprendi a usar sombra aqui na Itália. Tenho um duo da Nivea Beauté comprado no Rio mas só usado aqui, um azul clariiiinho metálico e um cinza-escuro (duo número 38, Bleu-Gris). Tenho um conjunto da Pupa que eu amo (Minì-Minì), com algumas brilhantes e outras não, variando do marrom ao vermelho, passando pelo dourado (que eu uso à beça pra sair). Tenho uma cremosa da Dior, Ombre Plume Long Lasting, cor número 846 (Halo de Rose). Dura muito tempo mesmo, não sai nem borra, é ótima. Uso também uma da Avon que minha mãe me deu, chamada Beyond Color Triple Benefit, também cremosa, cor 120 (Copper Armor). Aliás, alguém poderia me explicar de onde vem tanta criatividade pra esses nomes ridículos de cores?

Blush eu praticamente não uso, só quando estou me sentindo particularmente cadavericamente pálida. Uso um da Avon, cr 32, Sweetest Mauve.

Lápis uso só na pálpebra de cima, porque na de baixo, além de dar um ar ligeiramente piranhudo, borra. Também não uso muito o preto (o meu é o Clinique Quickliner for Eyes, cor 7, Really Black), e, quando uso, esfumaço com a esponjinha que tem na outra ponta do lápis. No dia-a-dia uso um lápis que na verdade é pra sobrancelha, da Estée Lauder, cor 3, cinza. Não borra e fica ótimo, além de durar muito, mas é chato de passar porque não desliza. E quando me dá na telha de usar marrom uso um da Avon (Glimmersticks, cor Cosmic Brown) que é uma delícia de passar, desliza que é uma beleza, mas também borra tudo – no verão, nem pensar.

Não fico bem de batom, apesar de ter uma boca bem desenhada. Uso batom cor de boca, normalmente o batom em lápis da linha Faces da Natura, cor Nuvem. Tenho também um da Lancôme que tá acabando (já entrou na fase do Só com Pincel há muito tempo), cor Beige Esquisse. E pra dar um tchan, um da Clinique mais puxado pro bordô (Berry Freeze).

E pra tirar tudo isso da cara? Uso o Lait Démaquillant Douceur Visage et Yeux da Dior, que não é nenhuma Brastemp e por sorte comprei na promoção, sempre na profumeria de Genova, ou então um da L’Oreal, Ideal Balance Viso e Occhi, que é ótimo, cheirosinho, mais líquido do que o da Dior, e tira tu-do, não fica pedra sobre pedra. Excrusive tenho que lembrar de comprar um vidro pra Marta, que tem mania de dormir maquiada e vai trabalhar no dia seguinte com a cara toda borrada. Me dá um nervoso!

E pra cuidar da cútis? Uso um esfoliante da Dior duas ou três vezes por semana. Máscara Empreint da Lancôme, que limpa tudim. E máscaras da Nivea, tanto as de limpeza profunda quanto as de hidratação – no momento estou apaixonada pela Idratante Rinfrescante, que deixa a pele lisiiiiinha e cheirosa.

E pro corpitcho obesitcho? Uso sabonete líquido da Johnson’s, oleos trifásicos da Natura pra dormir e no verão em vez do hidratante (o de buriti é maravilhoso), creme hidratante da Nivea pra pele super hiper mega seca, ou então com vitamina E ou manteiga de cacau da The Body Shop. Todos cheirosérrimos, meus lençóis são todos cheirosos.

E pras minhas lindas mãos de pianista (vamos fingir que o meu dedo médio da mão direita nem é torto, tá?)? Pro dia-a-dia o clássico da Neutrogena. Quando o frio pega forte, uso o Glicemille da Palmolive, que tem cheiro de sabonete vagabundo mas hidrata legal, inclusive os cotovelos. E de vez em quando dou uma guaribada com o kit Satin Hands da Mary Kay, que inclui esfoliação, gommage, e super hidratação (tem mais uma fase, mas não lembro qual é).

Não esqueçamos dos pezinhos (os meus são horrorosos): antes de dormir, um Peppermint Cooling Foot Lotion da The Body Shop. Antes da meia, um spray anti-chulé da Avon. E entre a meia e o sapato, polvilho da Avon.

E passemos finalmente à moita de cabelos que reside na minha cabeça: uma vez a cada duas semanas uso o shampoo Anti-Residue da Neutrogena. E nos outros dias alterno entre Pantene pra cabelo ruim (ricci, crespos), Andiroba da Natura, L’Oreal Hidraloe pra cabelo ruim. Comprei um L’Oreal Liss Intense também, mas não sei por quê, já que é ideal pra usar antes de fazer escova, e eu jamais faço escova porque não tenho cara de japonesa hehehe

Hoje à noite vou finalmente ajeitar a juba, e amanhã de manhã cedo (cedo mesmo, meu trem parte às 6:17) vou pra Roma, uhu! (e no sábado chego e ja vou direto trabalhar na loja do maluco... Leguinho hoje à noite vai pra Arianna. Fim de semana prolongado pra ele, coitado. Merece.). E no domingo, depois do expediente na loja, vamos dançar música gay em Perugia!

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Um vento gelado, putz grila! Os dias tao lindos e a temperatura super agradavel, mas esse vento gelado nao da descanso!

Postado por leticia em 17:53

05.11.03

Aí ontem eu vou à

Aí ontem eu vou à pizzaria com o Massimo (o Samuele nos deu um bolo), e a Bella, búlgara feia que trabalha lá há séculos, olha pra mim, me dá oi, vê o Massimo em vez do Mirco, dá um pulinho, um sorriso amarelo, disfarça, nos traz o Campari Mix de laranja e a cerveja alemã pro Massimo, e pronto.

Conversamos tanto – quatro horas seguidas – que hoje de manhã estou com dor de garganta. E nauseadíiiiissima, tanto por causa das batatas fritas, coisa que não estou mais habituada a comer, quanto pela MERDA DA FUMAÇA DESSES FUMANTES DE MERDA QUE DEIXAM TUDO FEDORENTO INTOXICADO NOJENTO ASQUEROSO E DORMI MAL A NOITE INTEIRA POR CAUSA DO FEDOR NO MEU CABELO E AINDA DEIXOU FEDORENTO O MEU TRAVESSEIRO.

Então: acordei, dei minha corridinha (não foi legal; estou respirando mal por causa dessa droga de enjôo, parei várias vezes pra recuperar o fôlego), lavei meu cabelo TRÊS VEZESSSSSSSSSSSSSSSSS pra tirar o fedor de fumo, e vim toda de branco linda magra maravilhosa gostosa trabalhar – de cabelo molhado, claro, e é claro também que TODO mundo já fez o comentário idiota, noooooossa, você com esse cabelo molhado, tsk tsk.

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Detalhe que o casal que veio ver o apartamento anteontem resolveu alugá-lo. Então agora só me restam duas opções: descolar algum trabalho legal em outro lugar legal (pouco provável), ou arrumar uma passagem assim digamos com uma certa urgência, pra voltar pra casa no começo de dezembro. A segunda opção inclui também o desafio de arrumar um jeito de mandar as tralhas pra casa. Enfim, como já dizia a Xuxa, tudo o que tiver que ser, será.

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A sábia Alanis também tem razão: tudo é muito ironic nessa vida. Ou não é tão ironic quanto rain on your wedding day o fato de que o meu passaporte perde a validade exatamente no dia do aniversário do lanterneiro?

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Sexta-feira estou em Roma (que, vos recordo, é tudo na vida) pra renovar essa bosta de passaporte, bater perna, encontrar o Guido, fazer um novo contato romano via papai, bater mais perna, suspirar porque Roma é tudo na vida, dormir na casa da Ane, onde faremos um jantarzinho básico no sábado. Como nada na minha vida é simples, hoje ainda tenho que dar um jeito nesse cabelo e rezar pra GIUSY não detoná-lo como da última vez, que ficou ótimo uma semana depois mas no dia seguinte parecia que eu tinha feno na cabeça em vez de cabelo. E aí depois tenho que tirar as fotografias pro passaporte, missão não muito fácil em se tratando da metrópole bastiola.

O menu de hoje, almoço e jantar, é sopa de cevada com leguminosas e legumes, daquelas prontas, da Coop. Já deixei pronta, senão depois do almoço não tenho tempo de ir ao correio tirar dinheiro no caixa eletrônico. Merda de vida de albanesa, essa minha.

Postado por leticia em 09:57

03.11.03

O engraçado é que não

O engraçado é que não sinto falta dele, mas do que eu sentia por ele. Tem cura isso?

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Sexta-feira à tarde Ettore passou pra pegar o Legolas. Depois veio Massimo, fomos tomar um Bailey’s no Suggestum, pub de Bastia. E depois fomos ao cinema ver aquele filme ridículo com George Clooney e Catherine Zeta-Jones. Fazia tempo que não via um filme tão horripilantemente idiota quanto esse. Depois demos uma rodadinha básica em Assis, mas quando comecei a bocejar ele entendeu e foi me deixar em casa. Dormi como um anjo.

Aproveitando que sábado de manhã não trabalhamos, fiz uma super faxina na casa, almocei risoto de abobrinha com salmão, dei uma dormidinha básica, e lá pras duas e meia fiz a costumeira caminhada a S. Maria pra pegar o ônibus. O trabalho na loja foi ridículo, ainda mais depois que começou a chover a cântaros. Ninguém na rua, poucos clientes, fechamos às oito, os pais da Carmen vieram nos pegar, fui pra casa, tomei meu banhinho e dormi.

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Mental note n. 1: salmão em lata Coop nunca mais. Já que é pra ser enlatado que custa menos e dá muito menos trabalho, que pelo menos seja de uma marca boa.
Mental note n. 2: uma xícara de arroz dá risoto pra uma semana. Menos de meia xícara tá mais que bom.

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Domingo acordei lépida e fagueira. Botei roupa pra lavar, estendi roupa lavada, passei creminho no cabelo ruim, troquei a roupa de cama, e quando já estava toda pronta vestida linda cheirosa sentada na cadeira da sala lendo Tolkien com o sol batendo nas costas (o dia tava lindo), me liga a Claudia da loja mandando eu ir trabalhar à uma em vez das quatro. Beleza, pra mim quebra dois galhos: ganho mais porque trabalho mais, e não fico em casa de bobeira me entediando. Lá fui eu pra S. Maria pegar o ônibus. Quem dirigia era o Moreno, amigo do lanterneiro. Tivemos uma longa conversa, muito produtiva e esclarecedora, e sobretudo fiquei muito aliviada depois, já que provavelmente nenhum dos amigos dele conhecia a MINHA versão da história. Fora que o Moreno é um cara muito legal e equilibrado (e provavelmente é por isso que o lanterneiro não sai mais com ele, preferindo amigos mais, digamos, testa di cazzo).

O trabalho na loja foi light, comparando com o 2 de novembro do ano passado, que foi uma canseira só. Quando fechamos, o fotógrafo da mostra em frente, que já me adotou e quer que eu vá pra Padova fazer uma especialização (a faculdade de Medicina deles é uma das melhores do país, e a cidade é famosa por isso; Padova é a cidade dos gran dottori) me convidou pra jantar frutos do mar, e lá fomos nás, jantar no restaurante La Lanterna. O dono do restaurante, que também é dono do maior nariz do mundo, é muito simpático e nos entupiu de comida. Menos mal que era tudo light, saladinhas, camarões grelhados, mariscos vários, etc.

Aí o Zuin me fez a seguinte proposta: vamos à Australia comigo? Eu tiro as fotos, você faz as vezes de intérprete e escreve um texto. Publicamos um livro, você tem o direito dos textos e eu das fotos. Topas? Respondi dizendo que não me chamasse duas vezes, que eu topava, hein?

Uhu!

Postado por leticia em 11:09

31.10.03

Sexta-feira é dia de chocolate

Sexta-feira é dia de chocolate quente. O lindão tatuado que recarrega as vending machines vem sempre às sextas-feiras, e nos dá sempre uma bebida de cortesia. Chocolate quente pra mim, café pra menina da calça dourada, chá pra Martinha. Já sabe de cor o gosto de cada uma e toda sexta-feira é esse mimo.

Aí a menina da calça dourada foi RP de uma boate famosa aqui da zona e vive sempre cheia de panfleto pra entrar com desconto. Visto que a Martinha encalhou de novo, a menina foi lá sondar com o gatão tatuado, assim como quem não quer nada, perguntando se ele queria um panfleto a mais pra namorada, sei lá... Enfim, perguntinhas totalmente inocentes. Ele respondeu que não tem namorada, mas que amanhã provavelmente trabalha numa outra boate, como leão de chácara (que em italiano se chama buttafuori, literalmente bota-fora). Ui.

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FeRnanda e Fabiao vieram jantar ontem. Detonaram o arroz com feijão, sobrou só um tiquinho. Ainda trouxeram vinho (Santa Caterina e Poggio Belvedere Caprai), bistecas e biscoitinhos pra sobremesa. Comi também, e bastante, e hoje acordei com dor de barriga outra vez. Mula.

E estou morrendo de vontade de dançar, mas nesse domingo a boate onde rola música gay fecha porque no dia dos mortos não se dança, etc etc. Peguei uns panfletinhos com a garota da calça dourada, mas já fui a essa boate algumas vezes e não gostei. Mas pode ser que role, sei lá. Tô precisando me enfeitar um pouco e dar umas peruadas por aí.

Postado por leticia em 10:42

30.10.03

uhuuu

O jantar foi um verdadeiro su (abreviação de sucesso). Comeram pra caramba, repetiram, Samuele trouxe 8 barras de chocolate Perugina compradas na Eurochocolate que terminou domingo passado*, a biruta da Bettina cantou e tocou violão (tem uma voz linda, pena que praticamente só canta música religiosa), tomamos champagne que o Massimo trouxe, a torta de limão foi embora que é uma beleza, todo mundo quis levar o Legolas pra passear, depois começou a chover forte, trovões e raios, Legolas no canto entre a máquina de lavar e a tábua de passar escondido com medo, muita conversa, Skank no CD player, meia-noite e meia foi todo mundo embora e fui dormir.

Adoro cozinhar assim pra um monte de gente. Mas confesso que depois de uma certa hora começo a me irritar. Durmo com as galinhas e ter gente batendo papo até tarde em casa vai me dando um nervoso, fico querendo que todo mundo vá embora logo pra eu poder tomar meu banhinho, tirar a maquiagem, passar meu creminho nos pés, botar minhas meinhas de lã e dormir.

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O tempo está uma bosta. Chove sem parar. Quem sofre é o coitado do Legolas, que mal pode botar o focinho pra fora de casa. Eu também sofro, porque como tenho que fazer tudo a pé, acabo sempre molhando os pezinhos, que ficam gelados. Pra não falar do cabelo, que com toda essa umidade fica uma porcaria.

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A menina da calça dourada agora também tem casaco prateado, no melhor estilo NASA. Ela tem o péssimo hábito de ler em voz alta tudo que chega via fax ou e-mail ou carta. Lê inclusive coisas que já sabemos, e continua lendo mesmo quando alguém diz que já leu, que já sabe o que é, que já resolveu, que pode até jogar fora. O que será que leva uma pessoa a ser assim?

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Estou me preparando psicologicamente pro próximo fim de semana. No ano passado 2 de novembro foi um feriadão, e a cidade lotou, quase enlouquecemos na loja de tanto fazer sanduíches e vender trufas. Esse ano não é feriado prolongado (que aqui se chama “ponte”) mas, considerando a importância que eles dão aqui a esse feriado, vai ser feia a coisa. Pra se ter uma idéia, não se casa em novembro, não se dao grandes festas, nem se pode escolher ou experimentar a roupa do casamento no mês de novembro (a Miss Almoxarifado e o Mister Toner aqui da empresa se casam no ano que vem e já estão vendo essas coisas, mas só vão poder experimentar as roupas em dezembro). Mas que atraso, vou te dizer...

**

E a expressão italiana de hoje (embora mais adequada a ontem...) é:

Ma va a mori’ ammazzato! = literalmente, vai morrer de morte matada!

* O chocolate vai ficar ali no alto da geladeira, do lado do Toblerone intocado que papai me deu e que não tenho a menor vontade de comer. Hoje vou ver se a FeRnanda vem jantar lá em casa, pra ajudar a matar o feijão que sobrou, porque não sou eu quem vai comer. Excrusive já entendi que não posso mais comer essas coisas. Me dá náusea, enjôo e diarréia. Tenho que ficar no macarrão sem molho com coisinhas light tipo cenoura e atum, ou então no filé de merluzo com abobrinha que eu vou almoçar hoje, se estiver com vontade de comer/cozinhar. Fiquei praticamente alérgica a comida. Que lindo.

Postado por leticia em 18:32

28.10.03

Chegando em casa ontem, peguei o Legolas e fui dar um pulo na praça comprar mais meias, dessa vez compridas, pra usar com os mil pares de botas que eu tenho. Agora sou a feliz proprietaria de um par laranja, verde e bordeaux com alces, um outro xadrez em tons de laranja, um listrado em tons de rosa com uma menininha no alto, uma com listras azuis e um pinguim saltitante, e a vermelha e amarela com patinhos, que estou usando hoje. Uhu.

Aí me deu crise de tédio depois que cheguei em casa me sentindo o cocô do cavalo do bandido, e fui passar roupa. Passei até as fronhas, coisa que eu nunca faço – passar roupa é a tarefa doméstica mais odiosa do mundo, e normalmente o faço uma vez a cada 15 dias, porque lençol eu nao passo nem que a vaca tussa, e a maioria das minhas roupas é wash and wear. Só que a minha máquina de lavar, cortesia da Arianna, tem uma centrífuga que é um detonador de roupas. Sai tudo lá de dentro como se tivesse saído da boca do cachorro (não o meu cachorro, que o Legolas não tem o hábito de destruir coisas). Não posso mais deixar a bicha funcionando enquanto estou fora de casa, porque tenho que estar perto dela pra desligar a centrífuga depois de umas duas rodadas. Levei HORAS pra esticar uma camisa de gola alta que eu amo, mas que, coitadinha, tava que nem papel alumínio re-esticado depois de ser amassado em forma de bolinha, saca? Pelo menos passou o tempo. Ainda levei o Legolas de novo no parque, voltei, nem jantei nada porque não tava nem com fome nem com vontade de comer, tomei meu banhinho e fui mimir.

E hoje já estou beeem melhor. Minha técnica de beber muita água pra fluidificar as odiosas secreções parece que funcionou. Dormi com dois travesseiros e nem morri sufocada durante a noite. Acordei outra!

O dia está lindo, já cozinhei o feijão pra amanhã, agora só falta temperar; já estendi a roupa no varal, já varri a casa e passei pano, já bebi muita água, já escutei Rita Lee, já li tudo que é blog que eu não conseguia ler porque tinha sempre algum mala aqui dentro do escritório me enchendo. Hoje me recuso a ensacar cartuchos. Hoje não quero fazer nada de útil. Vou ligar pra meia dúzia de clientes e o resto do dia vou passar respondendo a e-mails, pra aproveitar que os chefes estão de bobeira em Firenze. Hohoho.

**

Ainda falando de cachorros. Outro dia a Carmen me dizia, muito espantada, como o Leguinho é educado, que nem me arrasta quando o levo pra passear. Espantada fico eu, quando alguém me diz uma asneira tipo “mas ele não me obedece!”. Ora bolas, só existe um dominado se existe um dominador. Se o cachorro não entende que o chefe não é ele, a culpa é do dono que se comporta como dominado. O Legolas é completamente alpha leader quando está com outros cachorros, mas dentro de casa o alpha leader sou eu, ora bolas. Quem manda no terreiro sou eu, e é ele que tem que me obedecer, ué. Muito simples o relacionamento. Eu digo, vai comer, ele vai. Vai dormir, vai, e ele vai, mesmo que a contragosto. Solta o tênis, e ele solta. Estamos no parque, eu estou congelando e decido voltar pra casa; basta chamar* e ele vem, enfia a cabeça sozinho na coleira, e vamos todos saltitantes pra casa. Só faltava essa, eu ter um cachorro tirânico! Tirana sou eu, eu, hein.

* Chamo assim: gatão, negão, cabrito, gostosão, maravilhosão, coisa preta, cachorrão, meu filho, garoto, menino, foca, zé mané, bestia nera, coisa linda, meu amor, filhinho, fedorentao. Sim, eu também canto pra ele enquanto andamos na rua, canto coisas muito profundas como “cachorro mais lindo do mundoooooo, você é fedorento mas é lindoooo, lalalalaaaaa, minha coisa preta gostosa e maravilhosaaaaaa”, e così via.

**

O mais chato de estar com o nariz entupido, além do óbvio desconforto causado pela dificuldade de respirar, é não sentir gosto de nada. Eu já andava meio sem paladar por conta da raiva constante e interminável, mas ontem realmente eu almocei macarrão sabor nada com molho de nada, queijo ralado sabor nada, e um copo de suco de nada. A parte boa foi que, pra não ir dormir de estômago vazio, comi uma maçã que o Fabrizio me deu no domingo (tinha uns stands da sociedade italiana contra a esclerose múltipla que vendiam sacos de maçãs, e ele obviamente comprou um saco, e deu um par de maçãs a cada uma de nós). Tenho a leve impressão de que a coitadinha tava azeda que só, até porque o Legolas cuspiu longe o pedaço que eu lhe dei. Ainda bem que não senti gosto de nada.

Postado por leticia em 10:06

24.10.03

blah

Que tempinho bunda! Uma chuva chata, um vento gelado, um saco!

Ontem eu e os meninos de Castello fomos tomar um vinho do Porto num barzinho de Bastia antes de ir ver a Claudia dançar música latino-americana no Country, boate in da metrópole bastiola. Falei tanto e dei tanta risada que hoje acordei com dor de garganta. Hoje eu e o Samuele, o grandão, vamos comer uma pizza em S. Maria (Massimo, o outro, que aliás anda dando umas zoidas aqui no blog, tem um jantar da torcida do Milan hoje e não pode vir). O Samuele tem um escritório de contabilidade com o pai, coisa que por aqui é muito comum e dá muito dinheiro; já lutou judô mas parou por causa do joelho que deu tilt, e faz um monte de strikes no boliche, as garrafas saem voando. Já eu, needless to say, perdi todas as partidas de boliche quarta-feira hehehe. O Massimo tem uma filial de um supermercado lá em Città di Castello. São dois amores! Pena que a monga da Carmem anda em crise de agitação porque amanhã parte pra Salerno rever o namorado, e em momentos assim pré-viagem fica insociável, e não foi nem ao boliche, nem hoje quer ir comer pizza. Chata.

Momento diarinho over.

Hoje preparei 40 currículos pra mandar pra escritórios de tradução no norte da Itália, mas como rolou greve geral (já comentei aqui o quanto os italianos adoram uma greve?) não deu pra botar as bichinhas no correio (e não vou mandar do fax do escritório que não sou boba). Amanhã elas partem pra Torino, Bologna, Milano, Varese, Bolzano, Udine, Genova, Roma é claaaaaro, entre outras. Vamos ver se rola alguma coisa. Acendam velinhas, plísi.

Postado por leticia em 17:28

22.10.03

Firenze e outras coisas

A visita a Firenze foi meteórica mesmo. Trabalhei de manhã; Martinha me deixou na estação em Assis às 13:10, comi meu sanduichinho básico com suco de banana e maçã, peguei o trem das 13:30 direto pra Firenze (direto quer dizer que em vez de ir direto, ele vai parando em tudo que é lugar, feito cata-jeca). Cheguei a Firenze com um pouco de atraso por causa do trem, como sempre. Meia hora depois o shuttle do Sheraton passou na estação de S. Maria Novella pra me pegar. Fomos batendo papo, eu e o motorista (que é filho do dono da empresa de shuttle, que serve vários hotéis em Firenze), até o hotel ? o cara me contou a vida dele toda, já que eu não quis contar a minha. Desço do microônibus e vejo papai descendo do buzão com mais vários portugueses engravatados. Fizemos o check-in, subimos, batemos papo e lá foi ele sair de novo, pro jantar de apresentação do novo Fiat Idea (vi os depliants, é bem bonitinho). Eu fiquei no quarto, apesar do não frio, porque o hotel fica longe do centro. Fiquei vendo TV, coisa que não fazia há meses, e fazendo a tradução pro fotógrafo sem mão, usando o laptop do papai. Pedi jantar no quarto (filé mignon ao molho de pimenta rosa com arroz selvagem; vieram vários pãezinhos fresquinhos com manteiguinha, e grissini. Tudo acompanhado de uma Coca-Cola daquelas de garrafinha pequenininha), vi um filme chato com o Tommy Lee Jones e a orelhuda da Ashley Judd na TV, e dormi. Papai chegou lá pra meia-noite, eu acordei, ficamos batendo papo até quase duas da manhã. Depois custei muito pra dormir, com muita dor de cabeça, como aliás vem me acontecendo frequentemente ? a raiva e a irritação constantes me fazem fechar a mordida com muita força, o que me dá dores de cabeça e nuca lancinantes. Acordei destruída hoje. Tomamos um super café da manhã, como faço sempre que durmo em hotel, e logo às nove papai já foi pra reunião, eu peguei o shuttle de volta pra estação, fui aos correios pagar meu INPS, comprei mais meias coloridas na Calzedonia*, peguei o trem das 11, que veio parando em tuuuuuuuuudo que é estação, até umas mixurucas que eu nem sabia que existiam, andei a pé debaixo da chuva até em casa, desfiz a bolsa, sentei no sofá e fiquei parada olhando pra parede até a Marta chegar. Levamos a avó dela ao hospital de Assis pra fazer um Doppler venoso das pernas e viemos trabalhar.

Estou AAAAA MASSA FALIDA hoje, cansada, mental e fisicamente, com uma cara de quem voltou da guerra, com dor de barriga, cólicas menstruais que eu nunca tive, a dor de cabeça dentária de sempre, e nenhuma vontade de fazer nada. Meno male que o chefe hoje está fora.

Outra coisa que fiz e não fazia há muito tempo foi me olhar num espelho de corpo inteiro. Explico: essa modernidade de ter o espelho colado dentro da porta do armário, como no Brasil, aqui ninguém nunca nem ouviu falar. Quem quer espelho de corpo inteiro compra aqueles com apoio pra ficar em pé, pra ocupar bastante espaço, sabe. Desde agosto que só me vejo do peito pra cima, no espelho do banheiro. E me assustei. Tinha percebido, claro, que as calças estavam mais largas, e que várias outras nas quais eu não entrava há muito tempo me estavam caindo pelas pernas abaixo. Mas me assustei anyway. Os anéis também me caem, mas basta que me fiquem os dedos...

Hoje à noite rola um boliche com os meninos de Città di Castello. E eu com toda essa vontade de socializar?

*Agora, além das meias azul-marinho com vaquinhas malhadas, das meias azul turquesa com caranguejos laranja, da meia creme com ursinhos brancos, das múltiplas meias listradas, também tenho uma meia vermelha com patinhos laranja, uma preta com fantasminhas e abóboras halloweenescos, e mais três listradas pra coleção. Pena que a que eu mais queria, a dos patinhos abaixados mostrando a bunda pra nós, estava em falta. Que puxa.

Postado por leticia em 17:24

20.10.03

fds

O fim de semana foi meio barro, meio tijolo. Sábado tava um frio desgraçado, eu aqui no escritório fazendo um orçamento chato cheio de códigos estranhos, com os dedos congelados, o vento uivando lá fora. Almocei rapidinho, fui ao supermercado e aos correios, e depois fui a pé até S. Maria pegar o ônibus pra ir pra loja trabalhar. Lá pras sete já não tinha ninguém na rua, por causa do frio e da chuva, e fechamos e fomos pra casa. Dormi super cedo.

Já ontem o dia começou horripilante como sábado. Num intervalo da chuva levei o Leguinho pro parque, voltamos pra casa e dormi de novo. Acordei às oito e meia com o sol brilhando lá fora, não entendi nada. Lá pra meio-dia o Ettore passou, fofocamos, ele levou o Leguinho embora pra passar o dia com ele; eu almocei uma coisinha qualquer, o Fabrizio ligou dizendo que tava estressado e não queria trabalhar e por isso eu deveria ir trabalhar às 13:30 em vez das 16, e que vinha me pegar em casa. Beleza, ultimamente os domingos são meus dias preferidos da semana, exatamente porque trabalho na loja sem aquele louco fulminado do Fabrizio. Ficamos eu, Claudia e Carmen fofocando, rindo, trabalhamos super bem, é ótimo, me dá uma baita levantada no astral. E foi assim mesmo; muitos clientes simpáticos, muitas risadas, algumas gorjetas, muitos americanos, uma venda de 573 euros a um casal do Michigan, comemos muita torta al testo com queijinhos bons e molho de tartufo, o fotógrafo da mostra do outro lado da praça entrou na loja 500 vezes só pra me ver (além de velho coroco ele não tem uma mãooooooooooooooooooooooooooooooooo, mas tadinho, ele é SUPER gentil e no sábado me deu de presente uma fotografia que eu escolhi, e que ele estava vendendo a 50 euros cada) mas as fotos que ele fez de mim não ficaram prontas ainda, a Claudia foi embora às 17:30, lá pras 19 chegaram os meninos de Città di Castello, aqueles que vieram uma vez comer e desde então voltam todo domingo porque um deles, o Massimo, dá em cima da Carmen, vendemos ainda umas coisinhas, fechamos a loja e fomos pra um barzinho novo em Bastia. Rimos muito, comemos pouco, eu e Massimo detonamos uma garrafa de vinho sozinhos porque a Carmen não tava no clima e o Samuel não tava a fim, e fui dormir às onze e meia da noite, sem o Leguinho, que ficou com o Ettore.

E amanhã vou a Firenze encontrar papai, que vem em visita-relâmpago de negócios. Uhu!

Estou mais tranquila. Ontem de manhã conversei com o dono do apartamento, que me garantiu que arruma um outro inquilino rapidinho. Se tudo der certo, estou em casa pro Natal. Agora é só juntar grana pra passagem, achar passagem, achar uma passagem com cachorro, renovar o passaporte, e arrumar um jeito de mandar minha tralha pra casa pagando pouco.

Ou seja, preciso do carro do atum.

Postado por leticia em 11:34

16.10.03

nada x nada

Uma das revistas que a Marcinha me mandou foi a Marie Claire. É claro que ver as calças com elástico no meio da perna e sapatos brancos como última moda não me surpreendeu nada; afinal, essa moda já tava rolando aqui há muito tempo. Mas putz grila, que moda feiaaaaaaaaaaaaaaaaa! Blusas estilo morcego, calça com gancho lá embaixo feito MC Hammer, scarpin branco, socoooooorroooooo scarpin branco também entra na lista de coisas que deveriam ser proibidas, ali do ladinho do dente de ouro...

Meu cabelo cresce que nem capim. Não tem nem 3 meses que relaxei e cortei e já estou com um arbusto amorfo na cabeça de novo. Semana que vem, depois que eu receber (ô coisa de pobre!), dou um jeito de amansar o bicho.

Hoje fomos premiados, eu e Leguinho, com um lindo nascer do sol. Como vou dormir às oito e meia da noite por falta de coisa melhor pra fazer, acordo ainda mais cedo do que normalmente já acordo. Fico enrolando, tirando lentamente a roupa do varal, cortando devagarzinho as abobrinhas pro almoço, limpando a casa, até dar um horário mais assim de gente, tipo quinze pras sete. Hoje botei a luzinha pisca-pisca da bicicleta presa na coleira do Legolas, porque ainda estava escuro quando saímos e ser atropelada às quinze pras sete da manhã não deve ser uma coisa muito legal. Botei minha música gay nos ouvidos e lá fomos nós, eu correndo, o Legolas trotando e piscando, e o sol nascendo. Lindo! Lindo e frio, porque já tá um frio do cacete.

Ontem almocei risoto de aspargos, daqueles prontos, de saquinho. Fiquei esperando pra ver se o xixi depois ficava com cheiro de aspargo, como dizem que fica, mas não ficou! Devo ter alguma enzima maluca que metaboliza o cheiro do aspargo...

Postado por leticia em 10:21

15.10.03

oba

Conteúdo, sempre eclético, do pacotão que chegou hoje do Brasil:

- 1 twin-set preto
- 1 blusinha decotadinha cor-de-burro-quando-foge
- 1 par de mocassins vermelhos
- 1 Bubaloo sabor morango
- 2 pastilhas Garoto
- 2 pacotinhos de sopa tabajara, uma de feijão com macarrão e couve, a outra de galinha com macarrão e verdura, 6 porções cada pacote (ou seja, 3 porções por pacote...)
- 1 pacote de banana passa
- 2 pacotes de absorvente
- 1 lençol pro Leguinho
- 2 pacotes de courinho digerível pra cachorro, tipo batata frita
- 1 pote de meio quilo de Toddy (lá em casa é todo mundo anti-Nescau)
- váaaarias bijouterias em prata que a Carmen e a irmã vão vender pra mim
- 1 escova de dentes
- 2 caixinhas de cotonete

E hoje pro jantar fiz uma sopa de ervilha show de bola. Eu AMO ervilha :)

Postado por leticia em 17:34

...

E hoje o tempo tá uma bosta, contribuindo pra minha melancolia. Um vento horroroso que já derrubou todos os vasos de planta que cercam o escritório, e que já me esta dando dor de ouvido (a família do meu pai tem algum defeito de fabricação nos ouvidos, que anatomicamente são meio tabajara, mal ventilados, e vivem inflamando. Não sou exceção. Com o passar dos anos fui aprendendo a ignorar zumbidos, pontadas, dorezinhas, mas quando rola um vento assim não tem jeito, doem mesmo).

***

Ontem acordei tão cansada! Lembro de ter tido vários sonhos estranhos, onde eu estava discutindo com alguém que eu sei muito bem quem é. Devo ter falado e gesticulado horrores enquanto dormia, porque acordei exausta e com a boca seca, e com uma sede danada. Acordei até o Legolas, coitado, que por sua vez me acordava com patadas no braço. Tadinho do bicho. Dormimos mal, eu e ele.

Postado por leticia em 10:06

13.10.03

Sábado eu e Leguinho tivemos uma experiência meio surreal, ou exotérica, como dizem os inguinorantes. Fomos correr de manhã cedo, mas tava uma neblina impressionante. Nunca tinha tido nenhuma experiência neblinal. Achei muito estranho correr em meio às brumas, com visibilidade baixa, uma umidade dolorida, um cheiro muito particular. Pra me sentir em Avalon só faltava a maluca da Viviane (e o lago, e os barquinhos, e os sinos do convento, e... não, não tinha NADA a ver com Avalon, mas enfim.).

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Mas o mais surreal mesmo foi o Fabrizio o Louco me presenteando com uma trufa negra, que custa tipo 500 dólares por quilo, ou mais. Não entendi, mas também não recusei. Repassei a bichinha pro Ettore e pra Arianna. Gosto de trufa, mas ultimamente tenho um eterno sabor de nada na boca, não sinto gostos, nada me agrada ou satisfaz, então em vez de desperdiçar a preciosidade, a dei a quem sabe apreciá-la. Fiz o mesmo com a porchetta que o Ettore me trouxe ontem: dei de presente à Carmen. Porchetta feita em casa é boa demais, mas não me sobrou serotonina nenhuma, estou incapaz de apreciar. Carmen ficou toda boba : )

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E ontem foi um outro dia estranho. Foi o dia da Marcha pela Paz; um monte de gente que veio a pé de Perugia até Assis, fazendo a maior bagunça e sujando tudo, como em toda manifestação boba que não leva a nada. A mala da mulher do Fabrizio veio nos pegar, a mim e a Carmen, lá pro meio-dia, porque de ônibus não rolava, já que os horários foram todos alterados e sozinhas não chegaríamos jamais a Assis. Fabrizio foi embora logo que chegamos, entao ficamos eu, Claudia e Carmen trabalhando sozinhas. Sem ele trabalhamos muito melhor, sem stress; e de fato o faturado do dia foi o mais alto dos últimos meses. Tinha muito americano passeando, e normalmente gastam muito, compram muito azeite e vinhos caros.

A loja fica na Piazza del Comune, e o prédio do lado oposto da praça é a Pinacoteca Comunale, onde de vez em quando rolam mostras, exposições, etc. No sábado tinha vindo à loja cumprimentar o Fabrizio o fotógrafo da mostra que está rolando agora na Pinacoteca. É um senhor que faz fotos bonitas, mas na minha opinião coloridas demais, em lugares como Burundi, Mali e outras coisas estranhas. Ontem ele passou na loja de novo, quando o patrão já tinha ido embora, e nos convidou a ir ver as fotografias. Fui eu só, e ele ficou horas me explicando tudo; grudou no meu pé e não largava mais. Fez questão de me fotografar, eu com cara de choro (minha prima já tinha me ligado e eu já tinha chorado rios), sem vontade de ajeitar nem a alça do sutiã, que provavelmente apareceu na foto, sempre gorda, embora ultimamente tenha perdido já uns 7 quilos, e ele me fotografando. Sábado vou ver como ficaram as fotos. Ainda me deu uns textos pra traduzir, umas explicações sobre as fotos que ele pretende distribuir aos turistas estrangeiros que entram pra ver a mostra, que tem entrada franca. No final das contas ainda me convidou pra jantar, a múmia. É mole? Tudo bem que depois da experiência lanterneirídica preciso de um homem maduro, mas não caído do galho já...

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Hoje pro almoço, já que estou precisando de uma carninha, vou fazer tagliatelle alla zingara, mas com linguiça em vez de bacon. Uso tagliatelle feitas de massa com ovo. Tiro a pele da linguiça, refogo com alho e pimeita-do-reino como se fosse carne moída, corto em tirinhas (ou em fiammiferi, palitos de fósforo, como se diz aqui) umas cenouras, e cozinho levemente as bichinhas com espinafre nesse refogado linguiçal. Massa al dente, saltata in padella, queijo parmesão por cima. Pronto.

Postado por leticia em 10:43

08.10.03

freddo

Hoje estou dando uma de responsavel de RH, fazendo entrevista e analisando candidatos.

Hoje também estou dando adeus oficialmente aos meus dedos dos pés. De hoje em diante, até o proximo verao europeu ou até eu voltar pro Rio (o que vier primeiro), soh vamos nos ver no chuveiro. O frio chegou de vez; hoje foi um dia lindissimo, de céu muito azul e poucas nuvens flutuantes, mas aquele ar frio que nao engana: alegria de pobre dura pouco, o outono virou irmao gemeo do inverno, tah frio mesmo e o negocio é tirar as meias e as botas do armario. Tchau, dedinhos.

Postado por leticia em 18:29

07.10.03

Essa noite sonhei que tinha ganho 20.000 dólares jogando paciência numa slot machine em uma casa de bingo. A coisa foi meio estranha porque, 1) eu estando na Itália deveria ganhar em euros, e não em dólares, 2) não sei se tem paciência em casa de bingo, e 3) eu jamaaaais frequentaria uma casa de bingo; acho jogos de azar a coisa mais ridícula já inventada pelo homem, depois da tanga fio-dental, e tenho pena de quem perde tempo com essas coisas. Mas foi um sonho bem legal. Acordei antes de decidir se ia pras ilhas Cayman abrir uma conta ou se enfrentava os pesados impostos italianos, que me comeriam 6.000 dos meus 20.000 dólares. Vou interpretar o sonho como um sinal do universo de que o carro do atum é meu e ninguém tasca.

Hoje vim sem maquiagem. Marcinha, padroeira dos brasileiros expatriados, me mandou umas revistas com umas fotos do Rio, que devem chegar hoje aqui no escritório. Como não consigo ficar olhando pra um pacote sem abrir, sei que vou abrir, olhar e chorar, e pra não incluir borrar nessa lista de verbos, vim com a cara limpa, acqua e sapone, como se diz aqui.

Postado por leticia em 11:03

06.10.03

...

Ontem tinha tudo pra ser um dia chato. Chuva, vento gelado... Levei o Leguinho ao parque de manha bem cedo, mas voltamos pra casa quando começou a chover. Dormi de novo até umas dez, quando o Ettore telefonou dizendo que passava lah em casa pra visitar o meu furadissimo cachorro, que alias nao estah mais furado, jah se formou a casquinha sobre o machucado e ele estah otimo, lindo e espetacular como sempre. Ficamos batendo papo até uma e meia da tarde! Ele acabou levando o Leguinho pra casa, eu almocei rapidinho e FeRnanda, Fabiao, a irma da Fernanda e o namorado, e mais a tia solteirona do Fabiao com o cachorrinho mala dela passaram pra me pegar. Sabado foi dia de S. Francesco e ontem teve feirinha na praça em Assis. Demos algumas voltas, mas tava chovendo moooito e ventando mooooito frio, eu totalmente Jade protegendo meus cabelos da chuva com uma echarpe, e às quatro fui trabalhar. Fabrizio o Louco nao estava (ele diz que Deus o manda ficar em casa com a familia nos domingos e nos deixa em paz trabalhando sozinhas na loja); bati papo com a Claudia e a Carmen, demos muita risada, Claudia foi embora e ficamos nos duas ralando. Mais tarde chegaram Samuele e Massimo, duas figuras de Città di Castello (a uma meia hora daqui) que foram comer na loja uma vez e desde entao voltam todo domingo pra comer e paquerar a Carmen. Mais risadas; fechamos a loja às oito e meia e fomos tomar uma caipiroska num bar tabajara em Santa Maria. Rimos muito, brindamos muito ao meu carro do concurso do atum, tomamos sorvete. Cheguei em casa antes das onze, Ettore foi levar o Leguinho lah em casa, dormi, acordei à uma e meia pra dar antibiotico pro negao, dormi de novo, no friinho, embaixo do meu super edredom de pena de ganso. Sonhei com o Rio a noite toda.

E' hora de cortar o cabelo de novo. E' hora de voltar pra casa.

Nao estou bem.

Postado por leticia em 09:53

03.10.03

ah, a esperança...

Eu agora participo de tudo que é concurso que oferece carro como prêmio. Meu sonho é ganhar o carro do concurso do atum. É um Cooper Mini, carérrrrrimo e charmosérrrrrimo e suuuuper na moda, que eu obviamente vou vender quando ganhar, pra comprar uma fubica qualquer e ficar com o resto da grana. Todos por favor acendam velinhas que tô precisando de um pouco de sorte ultimamente.

Postado por leticia em 17:32

02.10.03

O jantar foi um sucesso. Comemos tanto que depois ficamos batendo papo no parquinho pra digerir, o que deu origem a uma profundissima discussao sobre o que é respeito, o grau de idiotice dos fumantes, entre outras coisas. Hoje nao de tempo pra escrever, embora eu tivesse um post muito longo na cabeça, porque hoje às oito da manha meu cachorro foi mordido na bochecha por um dogo argentino (isso vai render um outro post longo) e passei a manha andando a pé pra lah e pra cah, do veterinario pra farmacia, e depois aproveitei pra resolver outras coisas, como ativar meu cartao do banco nos Correios e consertar minha maquina de lavar roupa que tava alagando a casa inteira. Legolas estah bem, com a bochecha esquerda inchada e com um buracao deixado pelo dente do desgraçado do cachorro, que se chama Hannibal (por que todo dono de cachorro agressivo é idiota e tem tao pouca imaginaçao pros nomes dos bichos?), mas fora isso tah tudo bem. Antibiotico por uma semana e limpeza diaria da ferida, que drena linfa furiosamente. Mas ele é um cachorro fodao e jah nem se lembra do acontecido; quando voltavamos do veterinario ele quis is ao parque de novo, onde rolou a mordida.

Hoje à noite nao tenho nada pra fazer, e vou aproveitar pra escrever na mao mesmo o que estah minhocando na minha cabeça. Depois se der transcrevo aqui.

Beijos anti-dogo argentino (também, vindo da Argentina, podia ser boa coisa esse cachorro? Tao certos os meninos do Casseta e Planeta, que queriam comprar a Argentina e transforma-la em Estacionamientos Tabajara pra solucionar o problema de vagas no Brasil. Sempre achei otima essa idéia hehehe).

Postado por leticia em 18:26

01.10.03

Quer dizer, a rendiçao soh amanha, porque hoje à noite a Carmen e a Claudia vao jantar lah em casa. Vou fazer quibe, que fez o maior sucesso da outra vez, e o classico arroz com feijao e farofa. Sim, sim, é meio nada a ver, mas eu adoro quibe e adoro arroz com feijao e todo mundo gosta de farofa, entao foda-se. Tem uns pacotes de pao de queijo Yoki que também tenho que desencalhar. Soh falta a sobremesa, mas sem limao pra fazer a torta de limao boazona da minha avoh fico com pena de gastar minhas duas ultimas latas de leite condensado. Entao as convidades que me tragam sorvete, quero nem saber.

Postado por leticia em 11:59

A Paula, amiga da FeRnanda que virou minha amiga também, veio ontem da regiao de Marche pra Perugia pra fazer a matricula na Università per Stranieri. Ontem nos encontramos em Assis, depois do trabalho. Eu tinha vindo trabalhar de bicicleta depois do almoço e deixado o Legolas na casa da Arianna. Saih do trabalho, deixei a bici na casa da Arianna e peguei o Legolas, pegamos o onibus até Assis (com o Leguinho sentado no ultimo banco do onibus, se achando o maximo) e lah encontramos FeRnanda, Paula, o Fabiao da FeRnanda e outro Fabio, amigo da Paula. Batemos papo num barzinho e depois fomos jantar no Mario. Mario é um barrigudo dono de um restaurante onde o Fabiao e a FeRnanda vao sempre e jah viraram amigos do Mario e da louca da mulher dele, a Lorella. Legolas ficou dormindo num canto do lado da nossa mesa, filando um pedaço de queijo de vez em quando. Educadissimo como sempre, ficou lah na dele, sem encher o saco, quietinho, espetacular. ("O cachorro é mais quieto do que a dona, que nao parou de falar a noite toda", foi o comentario do Mario. Que Mario? Hohoho). Foi super agradavel, dei uma boa relaxada. E ainda por cima ficou no ar a promessa de cozinhar "brasileiro" pro Mario no restaurante dele qualquer dia. Agora é soh marcar a data.

E hoje parece que a irritaçao e a exaustao emocional finalmente se somatizaram, e estou com uma dor de garganta insuportavel. Posso ignora-la e assim fazer com que ela passe, ou posso render-me a ela e ficar em casa debaixo do meu edredom vermelhao de penas de ganso. Estou muito tentada à rendiçao.

Postado por leticia em 11:58

26.09.03

E ontem vimos a segunda parte de La Meglio Gioventù. Lindissima, melhor ainda do que a primeira.

E a semana foi obviamente de caos total no escritorio e na vida em geral.

Chegou meu cartao do banco com o nome escrito errado, CLAAAARO.

Ja estah frio de novo e andar de bicicleta jah virou martirio.

Ha irritaçao escapando de mim por todos os poros.

Postado por leticia em 11:44

22.09.03

Ontem à noite teve desfile em Bastia. Essa semana é de festa, tem o Palio di San Michele. Os bairros ("rione"), que sao quatro, competem de tres maneiras: tem o tal desfile, com direito a carro alegorico e tudo, os jogos medievais, e a corrida em torno da praça principal. A festa começou na sexta-feira; fui jantar na taverna do Rione San Rocco (onde eu moro) com a familia da Marta. Cada rione tem a sua taverna, com menu tipico umbro (pappardelle com ragu de javali, torta al testo com linguiça ou presunto cru com pecorino, bruschettas, sopa de trigo, etc). No sabado rolou um show na praça, um conjunto meio tabajara que cantou musicas anos 70 (leia-se musica gay) vestidos a carater, com direito a perucao black power e tudo. Soh nao dancei até me acabar porque o pessoal aqui nao tem aquela tendencia rebolativa que os brasileiros tem, e eu fico com vergonha de me empolgar sozinha. Faltava a Hunka; teriamos feito mil coreografias viadas juntas. De qualquer maneira, ri tanto que no dia seguinte tava sem voz.

Domingo foi dia de faxina: de manha cedo em casa, e mais tarde na casa do Mirco, pra pagar o favor que ele me fez dando banho no Leguinho no sabado ;) E à tarde fui trabalhar na loja do maluco do Fabrizio, com a Carmen. Passei em casa rapidinho pra trocar de roupa e lah fui eu pra praça ver o desfile.

Como a Marta comprou a "assinatura" dos bilhetes, ou seja, comprou bilhetes pros quatro desfiles, mas desfilava ontem, me cedeu o bilhete. E lah fui eu me sentar lah no alto da arquibancada do meio, com a minha landlady atras e uma vizinha ao lado. O desfile é uma coisa teatral misturada com numeros musicais, tudo extreeemamente tosco e amador, é claro. Eu tenho verdadeiro horror a teatro, de qualquer natureza e grau de profissionalidade, mas acabei me divertindo, principalmente quando um dos carros alegoricos, que soltava fogo, quase quase pegou fogo. Mas tudo bem, faz parte. A lenga-lenga durou quase uma hora e meia, ao fim da qual eu jah tava com dor na coluna e morrendo de sono.

Depois fiquei pensando na pequenez da cidade pequena. O pessoal aplaudiu e ficou maravilhado com um livro gigante tabajara colocado sobre o palco, que foi montado na frente da igreja, que se abria e fechava. Imagina se vissem uma aguia da Portela que soh falta revirar os olhinhos, ou um dos carros malucos da Mocidade com gente pendurada em tudo que é lugar e neon a dar com o pau, ou uma comissao de frente do Salgueiro, ou um casal de mestre-sala e porta-bandeira (que eu acho a coisa MAIS LINDA DO MUNDO). A qualidade de vida no interior é barbara, a tranquilidade é otima, mas a probabilidade de virar um idiota com antolhos é muito, mas muito grande.

(detalhe pra fantasia da Marta, que fazia o papel de uma das criadas de um estranho escritor ingles assolado por terriveis pesadelos. Marta de touquinhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa)

Hoje nao fiz outra coisa que nao limpar, etiquetar, ensacar, encaixotar cartuchos, soh fui sentar a bunda no escritorio agora. To morta, e pretendo seriamente ir dormir às sete e meia da noite hoje.

Postado por leticia em 18:20

18.09.03

Meu corpitcho é feinho mas não me deixa na mão: meu cotovelo já tá bom de novo. Movimentando-se muito bem, obrigada. Acho que nem hematoma vai ficar pra contar a história.

Gente auto-curante é isso aí.

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Leiam. Além de ter um sorriso parecido com o da Hunka, é mal-humorada na dose justa, escreve bem e é engraçada. LEIAM.

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Leiam a Flavinha também.

Postado por leticia em 10:27

17.09.03

Vocês não têm IDÉIA da cotovelada que eu dei na quina da janela da sala hoje de manhã cedo. Sabe aquela dor que te joga no chão chorando, o que automaticamente faz o seu cachorro entrar em pânico e vir correndo na sua direção, abanando o rabo, tentando te lamber, bufando, não entendendo nada? Então. Foi assim. Uma das janelas estava aberta pra entrar um arzinho (gélido, diga-se de passagem), e eu, Amélia matutina, fui passar pano úmido no chão depois de varrer os quilos de pêlo do Legolas que se acumulam por toda a casa. Numa dessas passadas, puxando o rodo na minha direção, o cotovelo subiu normalmente, mas encontrou a quina da janela. E foi aí que eu vi tudo preto e caí no chão chorando de dor. E foi aí também que meu braço direito morreu para o mundo, e agora se recusa a fazer qualquer movimento mais esdrúxulo ou pegar peso de qualquer natureza. TÁ DOENDO PRA CACETE. E nem posso passar Gelol, porque a pancada foi tão forte que passou pela camisa de manga comprida e pelo moletom, e me deixou um arranhão vermelhíssimo.

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O frio realmente chegou pra ficar, parece. Pra ir do escritório ao almoxarifado recomeçou a lenga-lenga do tira-e-bota casaco.

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Ontem sucumbi à vontade de junk food e tracei um cheeseburger com molho quatro queijos na nossa pizzaria preferida. Digo junk porque hamburger é mentalmente associado a junk, mas nem tava tão trash assim: hamburger sequinho, pouco molho, pão de dimensões razoáveis, uma porção de batatas fritas sequinhas dividida por dois. Matou a fome e a vontade, e não me deixou com consciência pesada. E hoje estou pronta pra mais um dia de atum e saladinha. Uhuu.

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Terminei Moby Dick! E comecei Regina’s Song, do casal Eddings (o que a Marta me deu de presente semana passada). Eu gosto do estilo deles, embora ultimamente eles tenham começado a se repetir demais, e a usar itálicos demais. O assunto também me interessa; uma coisa meio thriller, meio C.S.I., meio psiquiatria forense e não. O prognóstico é de uma semana de leitura. Veremos.

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Preciso dar um livro de presente de aniversário atrasado pra irmã do Mirco, yoga, zen, cozinheira e não falante de nenhuma outra língua diferente do italiano. Aceito sugestões.

Postado por leticia em 11:20

16.09.03

Sexta-feira passada comprei dois brinquedinhos pro Legolas, que jah tinha detonado as "batatas fritas" de couro que minha avoh tinha mandado na ultima caixa. Comprei um osso de borracha LILAS e um "pesinho" de borracha, todo colorido, e que apita. Legolas agora nao sai à rua sem o pesinho que apita. Como ele é preto, aquele negocio colorido se destaca, e todo mundo para pra olhar e sorrir. Ou talvez seja porque ele anda na rua mordendo e consequentemente apitando o treco, sem parar. Oh vida, oh céus.

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Ainda nao consegui terminar Moby Dick. To quase lah, mas é que nao é leitura facil. Periodos longos, muitos termos técnicos baleeiros que jah nao fariam sentido em Portugues, o que dirah em Ingles. Mas ele tem umas tiradas otimas, ah se tem! Quando tiver saco boto aqui alguns exemplos das pérolas de Melville.

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Fim de semana de trabalho na loja, no domingo. Eu e Carmen ganhamos até gorjeta, pela primeira vez em um ano de trabalho na loja! E nao foi pouca merda nao, dois euros e meio cada uma! Tah pensando o que? E isso é porque nao somos lindas, soh simpaticas. Imaginem se tivessemos belas bundas e peitos.

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E no sabado FeRnanda e mais dois brasileiros que tavam morando em Assis mas foram embora hoje foram comer feijao preto lah em casa. A cara da FeRnanda enfiando a cara na panela pra sentir o cheiro foi emocionante, admito. Feijao, arroz, linguiça umbra bem temperada, e farofa. Melhor, soh se tivesse guaranah (nao tinha). No jantar repeti a dose com a Carmen e a irma, que nao entendem o conceito de prato unico e acham que arroz, feijao, farofa e linguiça na mesma garfada é uma coisa muito estranha. Imaginem se eu tivesse feito couve picadinha (aqui nao tem couve igual à nossa), laranjinha, salada, ou outras coisas do genero.

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E domingo à noite fui com o lanterneiro assistir a Confidence, com aquele ator lindo de olhos puxadinhos cujo nome nao gravei, aquele chaaaaaaaaarme ambulante do Andy Garcia, e aquela mala do Dustin Hoffman. E' bem legal. Mas filme sobre picaretagem bom mesmo é Ocean's Eleven, ou entao As Nove Rainhas, que alias vi outra vez semana passada, em DVD. Tao show de bola que o lanterneiro nem dormiu.

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Estou otima, linda e maravilhosa. Correndo 40 minutos por dia, comendo pouco porque nao tenho saco de cozinhar enquanto o Legolas fica me pentelhando pra sair, entrando em calças que nao me cabiam. Como é lindo o emagrecer.

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Agora o negocio é me concentrar no recém-criado Fundo para Carteira de Motorista da Leticia. Como jah to vendo que nao vai rolar viagem ao Brasil no final do ano porque a crise economica é, digamos, grave, vou me concentrar na carteira de motorista. Nao hah vida sem carro, ainda mais agora que o frio jah voltou. Sim, o frio jah voltou. Um vento gelado que torna a minha vida bicicletistica muito, mas muito complicada. Vou seguir o conselho da FeRnanda e comprar um cofrinho. Quem sabe consigo juntar uma graninha basica, assim uns 500 eurinhos, pra tirar a maldita carteira? Depois soh fica faltando o carro. E o seguro obrigatorio. E o IPVA. Hm.

Postado por leticia em 12:09

12.09.03

Considerações gerais sobre a vida

Os móveis do meu atual apartamento são menos hediondos do que aqueles de Cipresso, atual lanterneirolândia. Mas eu queria muito saber quem foi que teve a idéia de pintar os móveis de vime de preto, e quem escolheu o tecido floridão das almofadas do sofá. A coisa boa é que o apartamento fica no andar térreo; quando estou preparando o almoço deixo a porta aberta enquanto cozinho, assim o Legolas deita no capacho e fica olhando “as modas”, como diz a minha mãe (ele sempre foi do tipo fofoqueiro que fica na porta ou na janela olhando o povo passar). De noite prendo na coleira dele um pisca-pisca que o Mirco me trouxe de NY ano passado, pra botar na bicicleta. Assim ele fica ali na porta de casa enquanto eu cozinho o jantar, e se dá na telha dele de ir ali na esquina fazer xixi, consigo encontrá-lo de longe – lembrem-se que ele é negão, e achar negão de noite em rua escura não é tarefa fácil. Por outro lado, ser andar térreo é uma droga porque não posso deixar as janelas abertas, porque da rua se vê a casa toda. Privacidade zero, e em termos de segurança também nao é lá essas coisas. Menos mal que agora já começa a esfriar de novo, e dormir com as janelas abertas já não é necessário. Também tem o Legolas, que tem um latidão que, embora inócuo, assusta qualquer um, o que me ajuda a dormir com menos medinho, quando fico sozinha em casa.

***

Exatamente em frente de casa tem uma creche (“asilo”, em italiano). De manhã a calçada do meu “predinho”, ou seja, logo do lado de fora da janela da sala/cozinha, vira um estacionamento. Por cerca de meia hora ouvem-se as crianças chorando, buzinas, as professoras dizendo “calma, calma, vem com a tia”, os cachorros dos vizinhos latindo (o Legolas é muito educado e não é de latir muito), mais crianças chorando e dizendo que querem voltar pra casa, etc. A creche reabriu semana passada, então imaginem a quantidade de crianças chorando traumatizadas por terem sido deixadas pelos pais pela primeira vez na vida! A coisa legal é que criança é muito bacana. Tem uma menininha LINDA, com um sorriso avassalador, cara de peste, que por acaso se chama Letizia (hohoho), que sempre pára em frente à minha casa pra ver o Legolas, que ridiculamente fica em pé com as patas no batente da janela, se exibindo. E uma outra coisa legal é ver a igualdade pais/mães, tanto de manhã quanto na hora do almoço, quando as crianças vão embora (a partir de outubro o horário passa a ser integral). A Itália é um pais muito machista, e ver pais tão participativos, tão íntimos dos filhos, tão cheios de cuidados, é muito, mas muito legal. (Provavelmente na avançadíssima Alemanha os pais já fazem isso há muitos anos, mas com certeza são pais feios, sisudos e mal vestidos, levando pra creche crianças feias, sisudas e mal vestidas).

***

A Martinha é um amor mesmo: hoje me veio com um livro do casal Eddings, comprado na internet. Ficou com pena de mim porque tenho poucos livros aqui e sem ler fico desesperada, e me deu de presente esse, em “lingua originale” :) Pra quem é subdesenvolvida, interculturalmente deficiente, tem diploma comprado, morou na Rocinha, e sobretudo é um personagem inventado, até que tenho bons amigos.

Alinhás, segunda-feira Martinha precisará das velinhas acesas de vocês. Acompanhá-la-ei ao médico (linda ênclise, obrigada). Amiga ex-médica é pra essas coisas.

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Ontem fomos (tentar) jantar na festa da cebola em Cannara, aqui perto – aliás, pra onde a empresa vai se mudar, assim que terminarem de consertar a cagada que fizeram no pavimento do escritório novo. Cannara é famosa em toda a Itália por ter a melhor cebola do país, o que quer que isso signifique. Só que quando rolam essas festas, TODO MUNDO da zona vai pra lá, por falta de coisa melhor pra fazer. Ou seja, tinha tanta, mas tanta gente que não conseguimos comer nada, porque as filas eram gigantescas, e Mirco tem muito pouca paciência (leia-se paciência zero) pra filas. Acabamos jantando uma pizza muito tabajara numa pizzaria na entrada da cidade. Depois voltamos pro centro pra dar umas peruadas. A cidade é super bonitinha, como todas aqui da Umbria. Encontramos um outro Mirco, amigo de escola do lanterneiro, que se casa amanhã e vai passar a lua-de-mel na... Austrália. Pronto! UMA HORA E MEIA dentro de uma mini-igreja do século XII falando sobre a Austrália. [Mirco é absolutamente fissurado pela Austrália, já esteve lá 4 vezes e tem mapas fotos calendários chaveiro cartão-postal caneta da Austrália espalhados pela casa toda. Fora que ele gosta tanto de viajar que fica todo agitado só de falar no assunto, mesmo que a viagem não seja dele. No final da conversa o menino tava todo suado, agitadíssimo, com a boca seca. Credo.] E depois nada, porque a conjunção pizza ruim + agitação + muitas outras coisas chatas que andam acontecendo derrubaram o menino, que capotou na cama e dormiu feito pedra.

***

Aí hoje de manhã não venho trabalhar, pra poder resolver minhas coisas burocráticas. Fomos primeiro ao Commissariato de Assis, onde eu tinha deixado o meu permesso di soggiorno, pra mudar o endereço (quando se muda de comune, ou cidade, precisa comunicar à polícia e requerer residência no novo comune, mas pra isso eu, que sou estrangeira, preciso mudar o endereço no permesso di soggiorno, que é meu documento mais importante aqui). Como na semana em que deixei o documento eu tinha cortado o polegar cortando alho, não podia tirar as impressões digitais, que ficaram pro dia da entrega do documento alterado – ou seja, hoje. Lá vamos nos esperar numa fila (leia-se comentário acima sobre a paciência do Mirco com filas) cheia de gente estranha e sobretudo fedorenta: um casal de albaneses com três filhos crescidos e um na barriga, uma chinesa mais perdida que cego em tiroteio, um velho árabe, dois adolescentes albaneses que liam quadrinhos de Street Fighter II enquanto esperavam, um casal de russos, dois frades franciscanos da Indonésia, duas sapatonas romenas – todos devidamente identificáveis como estrangeiros por causa da infalível pastinha de documentos na mão. Assim como paciente de hospital público, que não vai a lugar nenhum sem sua pastinha com documentos, exames velhos e novos, receitas, nomes de remédios recortados das caixinhas pro caso de esquecerem, nós estrangeiros também levamos nossa pastinha de documentos toda vez que é preciso alterar, requerer, anular ou renovar alguma coisa. A minha pastinha tinha fotocópias do permesso di soggiorno, do passaporte, do codice fiscale (tipo o CPF), do contrato de aluguel, da declaração do meu landlord de que eu moro mesmo lá. Enfim; sei a nacionalidade desse povo todo porque 1) tenho olhos de lince e consigo ler de longe o nome do país escrito no passaporte na mão de cada um, e 2) porque a funcionária da polícia, ligeiramente estressada, não falava, mas urrava. O pessoal da fila dava muita risada porque a todo mundo que chegava no balcão faltava alguma coisa: ou as fotos 3 x 4, ou alguma fotocópia de algum documento, ou a assinatura de alguém. Chega uma hora que a mulher estressa geral e berra: QUANDO VOCES VÊM PRA CÁ, TÊM QUE SABER QUEM SÃO, ONDE MORAM, O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI, PORQUE EU NAO POSSO LEMBRAR DE TODO MUNDO, NAO POSSO DECORAR A BIOGRAFIA DE TODO MUNDO QUE VEM AQUI! Também, convenhamos, passar o dia inteiro repetindo coisas como “não, não posso dar o documento da sua mulher, ela tem que estar presente pra assinar, meu querido” não deve ser o trabalho mais agradável do mundo.

Depois de uma longa espera, a outra funcionária, a que me atendeu da outra vez e foi muito simpática, olha pra minha cara, lembra não só de onde eu sou mas também o que eu fui fazer lá (mudar o endereço), e começa a convocar a galera pra tirar as impressões digitais. Lá vamos nós, embrenhando-nos nas entranhas do prédio do Commissariato, que aliás já fica num buraco na praça Santa Chiara. Subimos ao segundo andar e formamos a clássica fila italiana: a que não é fila, mas um coágulo de gente amontoada totalmente fora de ordem. Primeiro as sapatonas romenas, uma vestida de camuflado da cabeça aos pés, a outra totalmente hominho. Depois a superfamília de albaneses confusos, cujas filhas já falam italiano com o sotaque de Bastia. Depois o casal russo – o cara tinha dedos tão grossos que as digitais de um dedo se confundiam com as dos outros. E depois eu, com meus dedos fininhos de fada, meus cinco sobrenomes que tornam logisticamente impossível o preenchimento de fichas, e as invariáveis perguntas e comentários:
- Mas a senhora está há quantos anos na Itália? (menos de dois)
- Mas a senhora é médica? E está fazendo o que aqui nesse buraco? (...)
- Mas por que todos esses sobrenomes? (megalomania monárquica de vovô)
- Guilherme equivale ao nosso Guglielmo? (sim)
- Mas nem se sente o sotaque!
- Mas você é tão branquinha!
- Mas tão nova e já médica! (temos dois anos a menos de escola, senhora)
Il solito discorso...

Depois fui ao Comune di Bastia requerer a residência. Agora tenho que esperar que a polícia venha à minha casa comprovar que eu moro lá mesmo, e depois posso voltar ao Comune pra fazer a carteira de identidade, que leva quinze minutos pra ficar pronta e é bem feinha. Próxima parada: eu na USL (“unidade local de saúde”, onde você se registra no sistema de saúde deles) pra fazer a carteirinha de saúde, lanterneiro no banco. Depois outro banco, depois supermercado pra comprar tomates-cereja que ele ama e eu abomino, depois almoço, depois parque com Legolas e seus brinquedos novos comprados na feirinha de Bastia, depois trabalho, ou pseudo, já que na ausência de chefes o ritmo diminui consideravelmente. Fora que ontem trabalhei feito um camelo e deixei tudo organizado pra hoje poder ficar sem fazer nada. Ho ho ho.

Però nada de post sobre modéstia hoje. Sem saco pra ficar filosofando muito. A vida é bela e os passarinhos cantam – nem sempre, mas de vez em quando sim.

Postado por leticia em 17:44

08.09.03

e o kiko?

Engraçado que varios dos patetas do forum, e devo admitir que minha mae também, se declararam horrorizados com a minha mudança "de retirante" jogada no caminhao. O que ninguém obviamente se preocupou em me perguntar foi o motivo da ausencia de caixotes. Simplesmente a distancia entre S. Maria e Bastia é de DOIS quilometros. Na boa, tinha necessidade de encaixotar tudo, pra depois de CINCO MINUTOS desencaixotar tudo outra vez? Nao, né. Entao tah.

E agora dah licença que o horario de trabalho acabou e vou dar uma corridinha com meu cachorrao, que ninguém é de ferro.

Postado por leticia em 18:42

03.09.03

O sol que semana passada queimava até quem usava filtro solar 50 essa semana esquenta quem o vento frio congela. Hah menos de dez dias a temperatura à noite chegava aos 30 graus. Ontem à noite, 18 graus, e com o vento frio a sensaçao térmica provavelmente era muito mais baixa. CLARO que imediatamente todo mundo ficou doente: o lanterneiro, Martinha, Antonietta, e eu jah estou com dor de garganta e um ligeiro mal-estar. Como odeio ficar doente, amanha vou acordar melhor porque nao tem coisa mais chata do que ficar em casa mofando se sentindo mal.

Alias, amanha é o aniversario do Chefe. Vai ter festança aqui na casa, e é logico que nos meninas nao fomos convidadas.

Postado por leticia em 17:07

02.09.03

Minha casa nova, com seus moveis hediondos (o praga...):

Quando der tiro fotografias do lado de fora :)

Postado por leticia em 08:48

31.08.03

move move move!

Entao. Tudo começou com a minha mudança, no sabado antes de viajar.

Um ano da minha vida na Italia acumulada no caminhao do Mirco, o famigerado caminhao com o qual deu carona a mim e à Valéria no longinquo novembro de 2001.

Postado por leticia em 18:24

30.08.03

le ragazze

E as meninas do escritorio: Federica (a menina da calça dourada), Antonietta (mais conhecida como Miss Almoxarifado, Loura, Noivinha) e Martinha:

Sim, esse é o nosso escritorio.

Postado por leticia em 17:53

28.08.03

Minha unica resposta a quem CONTINUA ME ENCHENDO O SACO por e-mail dizendo coisas tipo "voce jah percebeu que voce soh fala de coisas ruins" é: e voce, jah percebeu que no canto superior direito da janela do seu navegador tem um xis-zinho? E que é soh clicar nele pra janela fechar?

***

Ontem FeRnanda e Fabiao foram jantar lah em casa. Fiz o feijao manteiga que minha avoh tinha mandado e que, embora nao tenha ficado tao bom quanto o dela, ficou otimo. Fabio trouxe arroz, duas bistecas que ele salgou demais e o Legolas traçou, eu tinha farofa Chinezinho de pacote (nao é nenhuma Brastemp, mas a FeRnanda comeu de colherzinha), e a mousse de maracujah que tinha sobrado do jantar com a Carmen. Tudo regado a Heineken (eles) e Rosso di Montefalco (nos todos). Os unicos estresses do dia: a lampada da sala queimou, e o pé direito é altérrimo e nao consigo chegar lah pra trocar, e o Legolas machucou a pata por nao ter freio ABS, ou seja, tropeçou num canteiro de pedra enquanto corria pra pegar a famigerada bolinha, e uma parte do dedao da pata anterior direita deve ter ficado lah no parque, porque na pata dele nao estah. Soh que hoje eu chego pra almoçar e nao vejo nem sinal do curativo que o Ettore fez ontem à noite. Meu cachorro é vampiro: comeu a gaze e a fita crepe porque estavam sujos do sangue dele mesmo. Credo. Agora é rezar pra sair, ou por cima ou por baixo. Fico lembrando do bull terrier doido das minhas primas, o Thor, que uma vez engoliu um caroço de manga. Jah estavam prontos pra opera-lo quando ele conseguiu vomitar o caroço.

***

Alias, falando em rezar (falando metaforicamente, é claro, jah que eu nao rezo), vamos todos acender velinhas pra FeRnanda e o Fabiao acharem a casa onde vao morar depois do casorio. Nao tah facil arrumar casa boa bonita e barata. Tem uma em Castelnuovo, aqui perto, que ela anda namorando. Torçamos pra que de tudo certo, eles sao gente boa e merecem (e nao to dizendo isso soh porque o pai dela le o blog, hohoho). Acendamos velinhas também pro pai do Fabiao, que é a maior figura e conserta tudo e transforma motor de geladeira em cortador de grama, achar uma televisao assim meio destruidinha em um mercadinho qualquer (ou na rua, como jah aconteceu com ele). Assim ele pode consertar pra mim e nao vou mais almoçar no silencio, e sim ouvindo os maravilhosamente esclarecedores telejornais italianos :)

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Sabem que pra quem sempre foi telefonofobica eu to adorando falar no telefone com os clientes? Claro que grande parte da satisfaçao é ouvir o inevitavel comentario do meu sotaque umbro, se eventualmente comenta-se que nao sou italiana ;) Talvez seja também porque venho falando muito com gente de Roma, e os romanos sao divertidissimos e normalmente muito simpaticos. Mas realmente ando gostando da coisa. Fazer contatos é sempre interessante.

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Algumas das mil cartas e pacotes que andei espalhando pelo mundo jah chegaram :) Todo dia vou lah checar a caixa dos correios toda animada, mesmo sabendo que ainda é cedo pras respostas às minhas missivas. Mas é que eu adoro adoro adoro cartinhas :) Snail mail rocks :)

Postado por leticia em 16:06

25.08.03

Carmen, a salernitana que trabalha de vez em quando comigo na loja do Fabrizio, vai jantar em casa hoje, com a irma Giovanna, que é muito simpatica. Elas é que vao cozinhar, dizem que o menu é surpresa. Eu soh vou fazer a sobremesa: mousse de maracujah (suco de garrafa, é claro). Acho que elas ficaram com pena de mim, porque ontem eu desandei a chorar dentro da loja quando o velhinho que tava tocando violao num barzinho da praça tocou Garota de Ipanema. Eu tinha sonhado com o Rio a noite toda, mas sonhando direto mesmo, com os amigos me levando pra ver os pontos turisticos e tal, e tinha acordado com o travesseiro molhado de lagrimas. Pois foi batata: o velho começou a tocar e eu me debulhando em lagrimas no meio da loja. Tinham umas clientes da Puglia na loja, amigas do Fabrizio hah muitos anos, uma senhora e a filha, que vieram me abraçar, me dar beijo na testa, muito engraçado (voce imagina isso acontecendo na Alemanha? Eu nao. E digo uma coisa: soh porque neguinho ficou me enchendo porque acho os alemaes feios, nao vou perder uma oportunidade pra falar mal deles, mesmo eu nao tendo nenhuma opiniao formada sobre eles além da feiura e da nao-simpatia. Vou ficar inventando opinioes negativas soh pra encher o saco de quem me encheu o saco. Aguentem.)...

Hoje jah entrei no que vai ser a minha rotina de agora em diante: acordar cedo como sempre, ir correr com o Leguinho ouvindo musica gay no mp3 player, tomar meu banhinho e vir pra essa chatura de escritorio trabalhar. Vou fazer um almocinho basico de salada com atum e batatas, e pronto. (e praquele mala que disse que eu nao posso falar que os alemaes comem mal, logo eu que "frequento" Burger King... Ele interpretou "almocei no Burger King" como "frequento Burger King". Justo eu que vivo escrevendo sobre comidas gostosas, dando receitas espetaculares, justo eu que vendo coisas gostosas e refinadas da cozinha Umbra na loja do Fabrizio o Louco. Por isso que neguinho nao passa no vestibular: nao sabe interpretar as questoes, os textos...)

Postado por leticia em 18:23

08.08.03

Ultimo dia de trabalho, e, como no resto da semana, na-da-pa-ra-fa-zer. Estou aqui no escritorio imprimindo a carta de Pero Vaz de Caminha e lendo O Homem que Sabia Javanes. Em casa me espera um Garcia Marquez (Amor e Outros Demonios), que comecei ontem. Sem inspiraçao pro almoço, nao tenho a menorrr idéia do que cozinhar. Todos entediadissimos aqui no escritorio, bissolutamente nada pra fazer. Até os cachorros estao entediados. E o pior é que eu tenho que torcer pra gente soh fechar semana que vem, jah que ganho por hora, e se nao trabalho, nao ganho. Oh merda de vida.

Por outro lado, hoje assino finalmente o contrato de aluguel (espero), e pode ser que eu faça a mudança jah amanha, nao sei. Se a minha atual landlady nao criar caso, prefiro terminar agosto lah mermo, onde pago 100 euros a menos por mes e ela ainda passa a minha roupa. Fora que ficaria mais tranquila de passar uma semana fora, sem medo de ninguém me roubar nada porque ela fica sempre em casa, enquanto que o apartamento novo ficaria abandonado e livre para a açao de ciganos e marroquinos filhos da puta que invadem apartamentos a torto e a direito nesse periodo do ano.

Depois tenho que comprar a bendita maquina de lavar roupa, um ferro de passar tabajara que vi no supermercado a € 19,90, e talvez a TV, se me der vontade e se as finanças estiverem OK. Preciso também de uma mesinha pro computador.

Do jeito que minha situaçao economica tah precaria, e soh tende a piorar com todas as taxas de transferencia de inquilino que vao rolar no primeiro mes de aluguel, to achando que vai ser melhor dar um pulo na Porta da Esperança implorando ajuda de terceiros. Ou entao ganhar na loteria aqui, que tah acumulada em nao sei quantos milhoes de euros. Nham nham.

Postado por leticia em 11:28

06.08.03

caldo

Tenho que admitir: a doença do calor também me pegou. Não se fala em outra coisa, e eu também não falo em outra coisa: TÁ CALOR PRA BURRO E NINGUÉM AGUENTA MAIS. São as temperaturas mais altas dos últimos 40, 50 ou 60 anos, depende do telejornal. O fato é que tá um calor do cacete, desde junho, e como obviamente ninguém aqui tá preparado pro calor, neguinho passa o dia se abanando, bebendo água, reclamando, suando, e todas as outras atividades deliciosamente relacionadas ao calor intenso.

Eu, sempre avessa a extremos de temperatura e a qualquer coisa que, mesmo de longe, cheire a tropicalidade, estou tendo ataques. Que saudade do ar condicionado gélido da Telemar, da Prudential, do Flash! O escritório aqui, como eu já disse, vira um microondas à tarde. Reuniões se fazem nas mesinhas e cadeiras do jardim, aos pés de uma árvore frutífera não-identificada. O vento quentíssimo que sopra, quando sopra, só piora as coisas, e aprendi a adotar a técnica do pessoal aqui, que aliás se inspira nas casas de países desérticos, que têm muros espessos e poucas e pequenas janelas: deixo meu quarto fechado quando saio pra trabalhar, assim o ar quente não entra e quanto volto na hora do almoço e no fim da tarde o bicho tá fresquinho, uma diliça.

Mas hoje o calor realmente tá incomodando. Os vinte passos do escritório até o almoxarifado já causam exposição solar intensa, e só nesse caminhar já sinto mais morena, o que me deixa assim digamos ligeiramente irritada, pra ser bem eufêmica. Estou nauseada e com dor de cabeça, e LENTA. A lentidão do calor, a pasmaceira dos trópicos, que impede os países quentes de evoluir. Só consigo pensar no meu velho quarto com ar condicionado, eu deitada na minha caminha com um livro na mão, meu cachorro deitado no chão do meu lado, roncando alto. Mas hoje o que vai rolar é a minha cama de molas no meu quarto relativamente quente e desventiladorizado, sem meu cachorro que vai estar roncando no meio dos outros cachorros na casa da Arianna. O que não muda é o livro na mão ;) Ontem comecei Vaniglia e Cioccolato, esqueci a autora, que a mãe da Marta me emprestou, com piedade da minha pobre situação literária. Sabendo o quanto a mãe dela é esperta, e lembrando do olhar penetrante dela quando o deixou nas minhas mãos, tenho certeza de que o bicho foi escolhido a dedo pra mim. Excrusive está sendo muito inspirador. Excrusive estou planejando uma revolução na minha vida quando voltar da Alemanha.

***

Excrusive a FeRnanda e o Fabio vão casar! Casam no Brasil, em Ribeirão, em dezembro, pouco antes do Natal. Queria muito poder ir, e vou tentar. E como o Fabio vai voltar pra casa dos pais por enquanto e a FeRnanda vai precisar de um lugar mais barato pra morar – o lance agora é juntar grana pro casório e não tem sentido o Fabião pagar aluguel tendo seu quarto na casa dos pais -, pode ser até que role uma divisão do aluguel comigo nesses meses que faltam... Ia ser um super quebra-galho. Precisamos conversar seriamente, eu e FeRnanda, e depois preciso assinar a porra do contrato, mas a danada da mulher, como todos os italianos fanáticos por bronzeado, foi “al mare” e nao sei quando volta, provavelmente quando eu voltar da Alemanha. Já vi uma máquina de lavar roupa por meros € 160 aqui perto; se os preços ficarem em animação suspensa até eu assinar o contrato e poder me mudar de vez, comprá-la-ei (linda mesóclise...).

Também vou precisar de uma TV, mas nesse assunto fico meio cabreira porque aqui, como de resto creio que em toda a Europa, paga-se pra poder ter TV em casa. A diferença, porém, é que a TV italiana tá muito longe de ser uma BBC, e nao tenho certeza de que valha a pena pagar pra ter essa bosta de TV em casa: não só a programação é uma merda, subestima a inteligência do telespectador, só tem menininha pelada rebolando, não tem um documentário interessante nem nada e é ridiculamente parcial ao Berlusca, mas também tem MUITA, muita propaganda – todas horríveis. Uma que eu amo de tão tosca é a de uma bebida de cedro que o lanterneiro ama (nao é mal, tem gosto de Sprite, só que é amarelada. É assim meio ginger ale), que vem em garrafinhas toscas SEM RÓTULO, as informações todas na chapinha ou na embalagem de papelão que envolve o six-pack. A propaganda em questao é assim: num fundo preto, um six-pack da bebida, as bolhinhas subindo em uma das garrafas, que está separada, em primeiro plano. Uma musiquinha assim: tanta coisa pra construir, aprender, realizar... Mas reserve um minuto pra mim! Detalhe que a música é cantada por vozinhas femininas em falseto, sobre um fundo digno de música de elevador da pior qualidade. E pra fechar com chave de ouro, uma voz feminina cafona recita o slogan: para vocês e para os seus amigos.

Postado por leticia em 16:52