potocas

Vamos combinar: o Windows vista é uma bosta. Evite. Desinstalamos de todos os nossos computadores e voltamos ao bom (…) e velho XP.

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Catando adesivos de parede na rede achei esses:
Silvia Stickers
Ferm
Domestic

O da Ferm é uma coisa. O mapa mundi é uma belezura, mas as folhas caindo também, e os passarinhos, e o ramo de pinheiro, e o outro ramo, e as borboletas, e…

reflexões

São cinco e quarenta da tarde e acabamos de almoçar. Mirco saiu pro trabalho às sete e meia da manhã e só voltou agora. Eu também trabalhei o dia todo, entre aula particular, tradução e estudo pra faculdade (também vi o último episódio do Volume 2 de Heroes, que eu também sou gente). O detalhe é que hoje era feriado, dia da Madonna (foda-se ela). Amanhã é domingo e tanto o Mirco quanto eu temos que trabalhar novamente. Aí entra o detalhe: agora às três da tarde um amigo nosso passou na oficina pra pegar uma coisa com o Mirco, e comentou, com a maior naturalidade, que além de comprar uma bolsa da Louis Vuitton de mais de 1000 euros pra mulher de Natal vai comprar pra ele mesmo o maior sonho da sua vida: um Rolex modelo não sei o quê, porque não me interessa. Ele não é empresário, não é de família rica, tem um emprego normal como todo mundo. Então durante o almoço falamos de várias coisas:

. Eu sei muito bem qual é a bolsa que ela quer, um modelo carteiro grande absolutamente comum que ela jamais teria notado em nenhuma vitrine se não fosse da LV. Eu não sei vocês, mas desfilar com uma bolsa *plain*, sem absolutamente nada de especial, que custou o salário de um mês do seu marido me parece mais que ligeiramente obceno.

. Não conheço o relógio, mas eu tenho o mesmo tipo de relação com praticamente todas as coisas tangíveis dessa vida: se faz o que tem que fazer pra mim já tá muito bom. Partindo do pressuposto que a dada coisa funciona, ou seja, é eficiente, aceito um preço adicional por imensa inovação em design, e só (essa inovação em design pode simplesmente deixar uma coisa incrivelmente bonita, ecológica ou confortável). Um relógio é só um relógio, e o fato de custar quase 3000 euros não significa que ele mostra as horas 30 vezes melhor do que um que custou 100. Também duvido que dure 30 vezes mais.

. O pior de tudo: o sonho dessa criatura é ter um Rolex não sei o quê. Vou repetir: O SONHO DELE É TER UM RELÓGIO ASSIM E ASSADO. Mas hein? Eu devo ser doente mesmo, porque meu sonho é ter tantos livros a ponto de ter que mudar pra uma casa maior (entendam: ler livros significa saber coisas), é ter filhos saudáveis (e não batizá-los, logicamente), é aprender mais umas duas ou três línguas antes de morrer, é viajar moooooito, é entrar na faixa “saudável” de peso de acordo com a OMS e nunca mais sair, é morrer sem nunca ter nenhuma cárie, é ver o fim da caça às baleias e dos casacos de pele, é ver o Berlusconi na cadeia, junto com os anões do orçamento e mais alguns, é não ter nenhuma doença ou acidente horrível. Sonhar com um relógio? Incompreensível. Que pequenez.

hmpf

Sumi, né. Nossa carga horária na faculdade tá pesadíssima, e por sorte desde que eu assista às aulas não preciso estudar muito, senão estaria ferrada, porque estamos sem tempo pra nada. Também tenho tido muito trabalho, não sei se feliz ou infelizmente. E como também tenho andado disciplinadíssima com a ginástica, acaba não sobrando tempo pra coisa nenhuma. Pra vocês terem uma idéia, ainda tô na metade do livro do Dennett, que só consigo ler no ponto de ônibus, praticamente.

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Temos vários vizinhos cretinos. Os napolitanos do andar térreo fumam e têm netos que gritam. O enxerido do apartamento ao lado deles tem dois filhos que gritam. O carabiniere do outro lado do andar térreo fala gritando. Sempre. Nosso andar é tranqüilo, sem contar a Velha Mais Feia do Mundo, que mora aqui ao lado, e que é fofoqueira daquelas que fica com o nariz na porta entreaberta quando ouve movimento fora, juro. Mas não me incomoda. A Perua Gorda do andar de cima anda de salto alto dentro de casa, todo santo dia. E mesmo quando tira o sapato (dá pra ouvir o barulho dos sapatos sendo jogados no chão) ela deve andar com a delicadeza de uma hipopótama, porque faz um barulhão do mesmo jeito. Os vizinhos gordos do outro lado do andar de cima passam o dia inteiro fumando na varanda, e ajeitando sabe-se lá o quê na garagem (que tem carpete. Vermelho. E não, eles não usam a garagem como um outro cômodo, é pra botar os carros mesmo).

Essa semana a última novidade: um maldito presépio logo na entrada do prédio. Vejam bem, não é só o problema do valor intrínseco do presépio, porque seria chover no molhado. Vocês sabem que qualquer coisa remotamente relacionada a religião não tem, na minha opinião, razão de existir. E tenho que admitir que estou ficando ainda mais radical sobre esse assunto, se é que é possível (já tem vários adesivos dos The Brights e do Dawkins na casa da minha amiga na Filadélfia, só me esperando). Acho mesmo que a religião é o maior inimigo da razão e da civilização, e ainda por cima rimou. Mas o problema do presépio não é só esse. O problema é que o bicho é FEIOOOO. Musgo de mentirinha muito mal feito, pessoinhas não identificáveis, bichos capengas, e, cerejinha no chantilly: fica ligado na tomada a noite toda, pra alimentar as luzinhas e as, tchan tchan tchan tchan, agüinhas que se movem pra lá e pra cá! Sabe aqueles minichafarizes horripilantes com agüinha em movimento, luz colorida, gelo seco e essência floral? Nesse estilo. Resumindo: já é uma coisa idiota assim intrinsicamente, ainda por cima é feio, e pra completar é anti-ecológico! Vai se foder! Tudo isso sem pedir o consenso de ninguém, vejam bem. Ninguém veio bater aqui na minha porta perguntar se eu concordava com a porra do presépio hediondo. Nem tenho a menor idéia de quem armou o maldito (suspeito do enxerido, que é gente boa mas é babaaaaaaaaaaaca até dizer chega).

Que cafonismo.

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Sempre na linha “god is not great”, já até sei o que diria pros meus filhos quando viessem pra casa dizendo mamãe, mamãe, o giovannizinho veio dizer que eu sou estranha porque não sou batizada! Por que eu não sou batizada? E eu responderia, porque eu confio no seu céRebro e na educação que estou te dando, e acho que o melhor presente que um pai pode dar a um filho é a opção e condições de fazer suas próprias escolhas.

Deu pra perceber que esse papa já torrou a paciência há muito tempo? Que cansei de ter que ouvir o que esse cretino pensa, fala, come e faz todos os dias no telejornal? Que toda vez que alguém me vem com “menina, cabelo molhado, vai pegar pneumonia!” eu mando mentalmente o papa, todos os rabinos e imans e pastores do mundo tomar no cu? Deu, né.

emergency

Ontem em vez da aula de Diritto Internazionale tivemos uma palestra com o Emergency. Falaram em muitos, de repórteres a cirurgiões cardíacos, passando por estudiosos de comunicação e de direito internacional. Fechou a palestra uma enfermeira vesga, alta e magra, que trabalhou nos três hospitais do Emergency no Afeganistão. Mostrou fotos, falou MUITO bem, sucinta, sem nove-horas, e, melhor de tudo, está muito, mas muito pau da vida. Porque com pouquíssima grana dá pra manter estruturas completas, condições de higiene de primeiro mundo, treinamento de pessoal local, hospitais mais ou menos pequenos mas sempre com um jardim pras crianças brincarem. Aquelas crianças que pisam nas minas e ficam sem pernas, sabe. Que nunca tiveram um brinquedo na vida, nunca, jamais, em tempo algum. Aquelas. Mas valores infinitamente superiores à grana que as ONGs em geral podem investir nos países fodidos são gastos em armas e outras coisas idiotas. E enquanto a gente fica se preocupando com o tamanho dos óculos escuros na nova coleção outono/inverno tem mulher de burka fazendo fila na porta do hospital da ONG pra poder parir sem morrer no parto. No horário de visita todo mundo é revistado, porque de crianças a velhos todos os machos andam armados. A equipe não pode sair do hospital sem escolta, e mesmo assim só quando não tem fogo cruzado na rua. O trabalho deles é bárbaro; eu já tinha visto muitos documentários mas nunca tinha ouvido ninguém que tivesse estado lá, no meio do caos. Saí da palestra quase chorando.

O problema de ouvir essas pessoas é que você fica se sentindo uma ameba no beiço da mosca do cocô do cavalo cheio de berne do bandido falido, manco e banguela. Porque a gente sabe de tudo isso, sabe que tem gente muito, mas muito mais na merda do que você, mas quando você entra no seu carrinho e liga o rádio começa a pensar em outra coisa. Mas não pode, não dá. Então decidi que vou dar o meu cinque per mille (5/1000), que se paga do imposto de renda, pra eles. E vou continuar fazendo minhas doações esporádicas à SUIPA, quando entra uma graninha em reais. Porque se gente é bom, bicho é melhor ainda.

uhuuu

Acabamos de comprar nossas passagens pra NY. Uma semana, entre Natal e Ano Novo. Achamos passagens baratas saindo de Perugia, e lá vamos nós. Dessa vez vamos sozinhos porque ninguém tem tempo disponível nessa época do ano. Vamos dormir em Hackensack, onde mora um amigo do Mirco, de quem ouço falar há anos e nunca encontrei porque ele nunca vem pra cá.

Eu preferiria um lugar menos gélido, sinceramente, mas como eu não posso viajar pela Europa ainda (amanhã tenho que ir à polícia pra tirar a foto, mas depois disso parece que o documento propriamente dito leva mais uns três meses pra chegar) nossas opções são muito restritas. A NY dada não se olham os dentes, logicamente, mas o frio lá é foda demais pra mim. Espero que o inverno não seja muito cruel esse ano.

música

Eu nem comentei, mas há duas semanas fomos ver um concerto em Perugia. A Une tem assinatura do teatro, porque tem desconto como estudante de música, e nos convenceu a ir. Era uma miniorquestra de Salzburg. Chegamos cedo na cidade e paramos pra comer num restaurante napolitano horrível, mas o jantar demorou horrores pra chegar, então eu e Une comemos só antipasto e deixamos os meninos lá esperando os primi piatti, e fomos correndo pro teatro Morlacchi pra não perder a primeira parte.

Nossos ingressos eram horríveis porque não reservamos pelo telefone antes, então sentamos no pombal, lá no alto, por sorte bem em cima do palco. Mais da metade dos músicos eram mulheres, algumas de vestido comprido ou saia longa mas outras de calças. Uma ruiva usava uma blusinha transparente linda exatamente igual à da negona violinista, com uma maquiagem superbem feita, por sinal. Uma violinista loura com uma calça sequinha de tafetá e sapatilhas lindas. Uma senhora imensamente gorda vestida com algo que parecia uma cortina, em termos de dimensões, de um tecido muito elegante. Vários carecas, um rabo-de-cavalo, duas chinesas (uma nos tímpanos). Notei que uma das violinistas não parava de se mexer, mas achei que fosse só excentricidade. No final da primeira peça a Une esclareceu que na falta de maestro a primeira violinista assume o comando, e os movimentos do corpo e da cabeça substituem o bâton. Adorei.

A primeira peça foi de Mendelssohn, Die Schöne Melusine, Ouverture op. 32. Tinha muito tempo que eu não ia a um concerto, e fiquei muito emocionada. A música era muito, muito boa, e sentir o parapeito de madeira do velho teatro vibrando com as notas sob as minhas mãos foi puro deleite. Aplaudi até as mãos doerem.

Depois entrou a estrela da noite, a pianista Elisabeth Leonskaja, e seguiu-se outra peça de Mendelssohn, Concerto n. 1 em sol menor op. 25 para piano e orquestra, também linda. Mas eu não gosto de piano em concerto porque é que nem limão na comida, só dá ele e o resto mal dá pra perceber. Pra finalizar, Beethoven, concerto n. 4 em sol maior op. 58 para piano e orquestra. Gostei mais de Mendelssohn.

Mas saí do teatro completamente… elated. Tava precisando.

hm

Hoje conheci uma vizinha na faculdade. Ela é romena, feia que nem a fome, casada com um romeno, e mora no prédio mais alto de Bastia, horroroso, aqui do lado de casa. Nem simpática nem antipática, contou que não sente falta nenhuma da terra natal e que quase nunca volta, que parou de trabalhar pra estudar (e mesmo assim tem notas MUITO mais baixas do que as minhas), tem bolsa de estudos, que o marido é pedreiro, que mora há onze anos na Itália. Me deu uma carona até Ponte San Giovanni, que no final atrapalhou mais do que ajudou porque tive que andar um pedação com o laptop, a bolsa, a sacola com os lanchinhos que levo quando passo o dia na faculdade e não quero sair pra almoçar. Um Ford Focus último tipo. Quando trabalhava ela era garçonete. Eu nem posso ir de carro quando quero pra Perugia, porque meu carro é velho e polui, e em certos dias só veículos novos e menos poluentes podem entrar. Mas a garçonete tem um Ford Focus último tipo. O mundo é mesmo muito estranho.