a escolha de sofia

Fui com mamãe e Margareth escolher lajotas, azulejos e sinteco hoje de manhã. Achei que fosse enlouquecer de tanto pular de uma língua pra outra, ouvindo as duas matracas conversando e tentando ao mesmo tempo entender o que o sobrancelhudo me explicava. Acabei não decidindo coisa nenhuma, e ele ficou de fazer umas contas pra eu saber se podemos ou não bancar algumas alterações no que a empresa construtora nos oferece por contrato.

Porque a dúvida cruel é a seguinte: sinteco ou piso frio? Não temos tempo pra manutenção de sinteco, absolutamente, mas é lógico que é mais valorizado, mais elegante e, coisa muito importante, mais quentinho. Mas como estamos no segundo andar, sanduichados entre dois apartamentos aquecidos, vamos ter o apartamento mais quente do prédio e o piso frio provavelmente não vai ficar tãaaaaaao frio. Enquanto não escolhermos o chão não dá pra escolher mais nada, nem cor de parede, nem cor de móveis. Então vai ficando tudo no stand-by. Estou aberta a sugestões.

mais uma

E aí hoje chegou a Margareth, amiga de infância da minha mãe, que mora há mais de 30 anos nos Estados Unidos. Nunca tinha vindo à Europa; quando soube que minha mãe vinha deu a louca e resolveu vir também. Chegou à tarde, descarregamos as coisas no hotel em Santa Maria de um amigo do Mirco aonde sempre mandamos todo mundo porque é uma gracinha, e fomos, adivinha, ver móveis. Acabamos jantando em casa, fiz penne alla Norcina que ficou bem gostoso apesar de improvisado e sem cogumelo, e depois ainda fomos tomar sorvete na praça em Santa Maria. Ô sábado gostosinho!

mamãe chegou!

Então almoçamos cedo e fomos buscar minha mãe no aeroporto em Roma. De lá fomos diretamente à IKEA, que ela não conhecia, pra dar uma namorada nas cozinhas. Sabe como é, pagar 10.000 euros por uma cozinha é o fim da picada, e temos uma boa referência: a irmã do Mirco trabalha com cozinha (restaurante em casa, catering, take-away, cursos de cozinha, you name it – se você mora em Rotterdam, é uma ótima pedida porque a comida é Ó-TE-MA) e se dá muito bem com a sua IKEA, obrigada. Foi tudo meio corrido porque depois fomos jantar na Arianna, mas já deu pra ter uma idéia legal.

Agora, é um porre morar no fim do mundo porque essa viagem até o aeroporto é um pé no sacoooooooooooooooooooooooooo!

desejos

Sabe quando você fratura alguma coisa e de repente começa a ver gente engessada em tudo que é lugar? Ou mulher grávida, que tem a impressão que todo mundo tá grávida também? Eu estou assim com duas coisas hoje em dia: carros e móveis.

A gente vai ao cinema ver um filme cheio de ação, o mocinho com uma pistola apontada na cabeça, um corte sangüinante na testa, o bandido falando cuspindo bem pertinho dele, uma mulher berrando no background, e eu cutucando o Mirco: adorei a cozinha. O pior é que ele responde: eu tava pensando exatamente a mesma coisa…

O carro que eu dirijo hoje é do Ettore. Na verdade é do Ettore mas era usado inicialmente como carro de cortesia pra clientes que eventualmente devessem deixar seus veículos na oficina. Como na oficina eles fazem caminhões e pouquíssimos carros, a Uno acabava sendo usada pelos marroquinos quando ficavam sem gasolina (eles vivem sem gasolina e sem crédito no celular, uma coisa impressionante). O carro custou 100 euros, então imaginem o número de quilômetros e o estado em que o coitado se encontra. Detesto dirigi-lo, detesto. Detesto porque é duro, porque treme todo quando chega aos 100 por hora, porque não tem rádio, porque o cinto de segurança corta o meu pescoço, porque já me deixou a pé no meio da rua duas vezes, porque fede a marroquino. Mas detesto sobretudo porque não é meu.

Se eu tivesse dinheiro hoje pra comprar o carro que quisesse, seria muito frugal: escolheria um city car, porque carros esportivos me dão um certo nojinho e SUVs são incompatíveis com a vida na Europa, embora estejam muito na moda aqui na Bota ultimamente. Quero um carro econômico, nesses tempos de carência de petróleo; quero um carro relativamente pequeno e fácil de estacionar, mas não tão pequeno ao ponto de balançar todo quando passa uma rajada de vento; quero um carro que tenha rádio, please; quero um carro que não cheire a marroquino mas, sobretudo, quero um carro que seja MEU, porque usar as coisas dos outros anda me irritando sobremaneira.

Escolheria algum desses: o Peugeot 1007, com a porta deslizante, que é uma fofura; ou um Renault Scénic, que diriji na França e é uma delícia; um Renault Modus, que é muito simpático e tem cores lindas; um Citroën Xsara Picasso porque sempre gostei, embora o modelo já esteja meio ultrapassado; um Nissan Note, que não é tão grande quanto parece e é bem bonitinho; uma Lancia Ypsilon ou uma Musa.

Como não posso comprar o que quero, estou à procura de uma Punto velha mas bem tratada. É um carro que dura e de mecânica fácil, e gostosinha de dirigir. Tínhamos achado uma no ponto, mas por motivos de falta de sorte generalizada não rolou. O lance é procurar, e torcer pra um negócio da China aparecer pela primeira vez na minha vida.

terremoto, de novo

Então o que rolou essa madrugada foi o seguinte.

Pouco antes de uma da manhã. Acordo com o quarto tremendo e chacoalhando. Cato a mão do Mirco no escuro; não entendo o que está acontecendo. Ainda retardada de sono, pergunto “tremeu ou estou sonhando?” e Mirco responde “tremeu e como, levanta e se veste, vamos pra Arianna ver se tá tudo bem”. Demorei séculos pra entender a ordem, porque ainda jurava que tava sonhando. Como o outro miniterremoto que presenciei, aquele em Foligno, fiquei com aquela impressão estranha que foi tudo coisa da minha cabeça, e sem saber o que fazer. Ir pra Arianna fazer o quê? E se o prédio cair (olha o retardamento…) e a gente perder todas as fotos das viagens e os meus livros? Será que o Leguinho sentiu alguma coisa? Porque dizem que os animais são sensíveis a esses negócios e dão o alarme antes mesmo que aconteça. Mas não ouvimos os cachorros aqui das redondezas; ninguém latiu, nem a Luna, a histérica do andar de baixo, nem o Romeo, o labrador da casa ao lado, nem o Jimmyyyyyyyyyyyy, o Yorkshire da Foca Monaca aqui em frente. Descemos as escadas correndo, e quando chegamos lá embaixo encontramos o bairro inteiro na rua, conversando. Todo mundo de moletom jogado às pressas por cima do pijama ;) Nos prédios novos em frente à casa da Arianna, todas as janelas acesas. Muita gente na rua batendo papo e discutindo o acontecido. Quantos graus? Não sei, mas não deve ter sido muito forte porque não ouvi louça chacoalhando. Onde será que foi o epicentro? Em Nocera de novo? Coitados, tomara que não, a cidade ainda nem foi reconstruída ainda, desde 97… Aliás, no terremoto de 97…

Fomos ver os cachorros. Demo nem se dignou a sair da cama pra nos saudar. Leguinho veio com os olhos vermelhos e as orelhas caídas; obviamente não tomou conhecimento de nada. Cachorro banana é isso aí.

Encontramos a avó do Mirco sentada na cama dos pais do Mirco, de pijaminha e touca na cabeça. Estava fazendo xixi quando a terra tremeu e levou um susto danado. Todo mundo comentando o terremoto de 97, aquele que destruiu a basílica de São Francisco em Assis e matou dois engenheiros que os frades cismaram que tinham que ir lá avaliar os danos, antes mesmo que passassem as últimas ondas de tremor, aquelas de acomodação das placas. A casa da avó do Mirco, em Tordandrea, foi o avô dele que construiu depois que voltou a pé da Etiópia, onde foi prisioneiro por alguns anos, até Assis. Ele mesmo construiu, sozinho. SOZINHO. Então quando teve o terremoto a galera foi toda dormir em tendas no jardim, por semanas, até que passassem os tremores da acomodação. Ele, que confiava no seu taco, dormiu sempre em casa. Fui eu quem construiu, não cai nem que a vaca tussa. Acho ótima essa história.

Hoje no jornal vimos que o tremor foi de 3.3. Não se sabe nada do epicentro; a notícia falava de “leve terremoto na província de Perugia” e de um outro tremor mais leve na ilha de Stromboli, na Sicília. Parece que aqui foram dois tremores, um de 3.1 e o outro alguns minutos depois, de 3.3. Não sabemos qual dos dois nós sentimos. Mas, cara, a sensação é MUITO bizarra.

automobilmente azarada

O’, e não é que a Uno me deixou na mão de novo?

Voltando de uma aula particular, o carro morreu no sinal. O sinal fechou de novo e eu lá, tentando reanimar o bichinho. Ao meu lado parou um carro do Carabinieri; perguntaram se o carro tava morto e eu respondi, defuntíssimo. Pararam atrás de mim e me ajudaram a ligar o menino de novo. Mico total, de parar o trânsito ;)

E na hora de ir embora pra casa, eu cheia de pressa pra chegar logo em casa e ver CSI tomando uma sopinha básica, e quem disse que o carro liga? Na rua da escola não passa ninguém nunca, meus alunos já tinham ido embora, não tinha ninguém nas redondezas às oito e meia da noite – paese di mangioni, às horas das refeições você não vê alma viva nas ruas! Esperei quarenta minutos jogando Tetris no celular, porque a luz interna do carro é muito fraca e não dá pra ler. Chegaram Mirco e Ettore, e acabamos comendo na casa da Arianna. Bosta de vida. Minha tia é que tem razão, pobre tem é que morrer!

sintonia

Eu normalmente nem me manifesto, pra ver se funciona mesmo. Mas funciona. Quando estou com vontade de comer alguma coisa, lá pelas últimas aulas do dia, o Mirco invariavelmente manda um SMS sugerindo exatamente o que eu tava com vontade de comer. Hoje quase mandei um torpedo sugerindo uma pizza, mas deixei quieto. Cheguei em casa e lá tava um pedaço de pizza branca de alecrim me esperando. Bom :)))))

casa nova

Então lá fui eu escolher as louças dos banheiros na Marini Edilizia. Optamos pelos sanitários suspensos, que facilitam a limpeza. Brancos. Também escolhi o termostato do chuveiro colocado externamente; é mais eficiente (se alguém resolver lavar louça enquanto eu estou no banho a minha água não perde temperatura) e, em caso de problema, não é necessário quebrar a parede pra consertar. Fiquei sabendo que, como nós não queremos a maldita banheira, que é mais cara do que um box pra chuveiro, temos direito ao maior box possível. As torneiras vão ficar pra depois, assim como os pisos e azulejos; só era preciso escolher agora as louças pro idraulico (o bombeiro) poder fazer as instalações corretas.

Aliás, segunda vou me encontrar com ele na casa nova pra ver direito a disposição dos banheiros e coisa e tal – as louças suspensas precisam de uma parede mais espessa por trás, então não posso instalá-las onde me der na telha – e vou aproveitar pra perguntar se dá pra fazer ralo no chão dos banheiros. Todo mundo acha estranhíssimo, como se eu estivesse falando de, sei lá, caminhar plantando bananeira ou comer rato grelhado. Cacetes estrelados, um ralo é um ralo, será que é tão difícil assim imaginar um ralo não dentro do chuveiro, mas fora? Tão difícil imaginar alguém lavando um banheiro em vez de dar uma limpadinha com paninho e Mastro Lindo? Enfim, vamos ver o que o idraulico diz.

bizarrices

E hoje foi dia de passar a manhã em Perugia. Tinha consulta no Centro Cefalee ao meio-dia e meia, então aproveitei pra subir mais cedo e passar na agência da bolsa de estudos pra tentar resolver um pepinão (que, lógico, não consegui resolver). Como sempre, estacionei no estacionamento onde rola a feira de Ponte San Giovanni às quintas, mas quando cheguei no ponto de ônibus vi que o 3 tinha acabado de passar, então me sentei no banco de cimento pra esperar o próximo, que passaria vinte minutos depois. Um casal de meia idade vinha vindo pela calçada da outra direção, debatendo animadamente sobre o que me pareceu ser política (ele falava em metáforas e ela falava ao mesmo tempo que ele). Me perguntaram se o 3 tinha passado, respondi que o tínhamos perdido, e tirei da bolsa Il Cammello e la Corda, já quase no fim, pra ler enquanto esperava. O homem, barbudo e vestindo um terno xadrez fora de moda, esticou os zóio pra ver o que eu estava lendo. Levantei o livro com a capa virada pra ele, e ele, aaaaaaaaaah, a [editora] Sallerio! Como eu gosto da Sallerio! É bom esse aí?

Dali engrenamos num papo maluco porque a cada dois minutos ele desviava o assunto da conversa pra outra coisa. Acabei descobrindo que ele é professor de física na Università degli Studi di Perugia, e ela ensina arqueologia na universidade de Siena. Ele já morou fora, estudou nos EUA, e se comunica com os alunos por e-mail, enquanto que ela, peitudíssima e com os dentes castanhos, disse que a única tecnologia com a qual tem intimidade é a que existia até o século II d.C., e mais não lhe interessa. Conversavam animadíssimos, um corrigindo o outro, um completando a frase do outro, mudando de assunto toda hora mas sem mais deixar cair a peteca. Dei muita risada porque foi um papo completamente sem pé nem cabeça, que continuou no ônibus. Ele queria saber se Falcão, Tostão e seleção se pronunciavam “ón”; corrigi e expliquei, e ele ficou meio sem graça porque acho que passou a vida toda dizendo Falcón como se fosse entendidíssimo de português. E se a mulher não o tivesse arrastado pra fora do ônibus quando chegou no ponto deles, ele teria continuado ali, tentando dizer seleção em vez de seleçón.

Adoro esses encontros malucos tipo Forrest Gump.

viva nós

E hoje é aniversário de um sem-número de mulheres fodas, inclusive euzinha: aquela tresloucada da target=”_blank”>Daiza, que, please, precisa aparecer no próximo encontro de exiladas na Bota, da lucluc, da Carol, que tomou conta do Leguinho no meu primeiro ano aqui.

Não vamos fazer nada de especial, como sempre: almoço de Pasquetta na tia do Mirco, à tarde festinha de batizado do Alessandro na casa do Marco, depois cinema com Gianni, Chiara e Robertinha (que aliás foi contratada pela Ferrero e continua pois vivendo indefinidamente em Torino). E só. Tá bom assim.