boh!

Passei o dia inteiro em casa sem fazer la-da. Sabe o que é nada? Mirco trabalhou o dia inteiro e eu fiquei em casa rodando pra cima e pra baixo sem fazer nada. Tinha feito faxina ontem à tarde, porque cheguei cedo em casa, e hoje não tinha nada pra fazer. Quer dizer, tinha; passei roupa e dei uma geral na sala, mas depois poderia estudado. Mas não conseguia me concentrar nem pra ler (estou lendo um Roth, The Ghost Writer, que não está me entusiasmando muito não), quanto menos pra escrever, então não fiz nada. Deixei a televisão ligada e fiquei pensando na morte da bezerra, deitada no sofá.

Fazer nada de vez em quando é absolutamente crucial.

ano novo, casa nova

Então hoje o que aconteceu foi o seguinte:

Mirco comprou apartamento.

Digo Mirco porque eu não tenho um tostão furado, vocês sabem.

O prédio ainda não tá pronto; vai ficar em fevereiro do ano que vem, mas o esqueleto já tá de pé. Lógico que todos os apartamentos já tinham sido vendidos ainda na planta, mas um salame que tinha dado a entrada e ficado na esperança da mãe dar a grana pra pagar o resto acabou voltando aos prontos pedindo a entrada de volta, porque a mãe do pimpolho (de 40 anos – o pimpolho, não a mãe) resolveu não patrocinar mais nada. Ficamos sabendo da construção do prédio porque o Gianni viu um anúncio no mural da piscina de Bastia; ligamos e calhou de ter só esse apartamento que o salame tinha acabado de devolver. Não pensamos muito e compramos (o –amos é metafórico, mas vocês entende).

O apartamento tem três quartos e 100 metros quadrados, mais 32 metros de varandão delicioso. Fizemos algumas modificações na planta pra poder ter uma cozinha com janela; o construtor disse que ninguém mais faz cozinha fechada, mas só angolo cottura (sala e cozinha juntos, como aqui em casa) porque ninguém mais cozinha em casa. Todo mundo explorando a cozinha da mamma, cês sabem. Mas pra certas coisas somos convencionais e não queremos sofá fedendo a molho de cogumelos, então tivemos que inventar umas prosopopéias arquitetônicas pra resolver o problema. Também dividimos um dos banheiros em duas partes, pra poder ter uma mini-área de serviço com tanque e máquina de lavar roupa, e isso por dois motivos: primeiro que eu não consigo conceber casa sem tanque (aqui neguinho lava pano de chão no box ou na banheira, um nojo, pra não falar da dor nas costas), segundo que cansei de congelar minhas mãozinhas tirando roupa da máquina de lavar na varanda, e agora quero a máquina den-tro-de-ca-sa. Como não queremos banheira (e aqui todo mundo fica escandalizado com isso, que nem quando eu saio de casa de cabelo molhado), ganhamos espaço no banheiro e deu pra dividir legal. O outro banheiro vai ser incluído no quarto pra virar suíte, outro conceito desconhecido por aqui. A divisão da sala é meio estúpida mas se eles fizerem do jeito que a gente quer, vai ficar legal.

Agora é apertar o cinto por muitos e muitos anos pra conseguir pagar o apartamento. Eu vou tentar pagar pelo menos a cozinha inteira, mas pra isso os meus caros alunos precisam parar de ficar doentes toda hora e faltar aula…

giochi invernali Torino 2006

Rapaz, cês tão acompanhando as Olimpíadas de Inverno? Diferente dos americanos, que se perguntam “mas por que justamente em TURIM, meus sais?”, eu achei a opção bem legal. Não conheço a cidade, mas Robertinha gosta muito, tem a Grazi por lá e a louca da Marina também – aquela biruta que eu e Valeria conhecemos no albergue da juventude em Roma. E todo mundo acha a cidade charmozinha. Fora que, vamos combinar, Roma é tudo na vida mas as outras cidades também merecem participar do circuito pop da Bota, né não. Tipo, aqui na Umbria Perugia concentra TO-DAS as atividades culturais. Tudo que começa em alguma outra cidade acaba fixando raízes em Perugia, e os outros lugares ficam a ver navios. Chato, isso. Porque romaria is money, cês sabem.

Então. Tudo isso só pra falar, pela milésima vez, que eu não faço esporte le-nhum mas amo ver qualquer coisa na televisão. Adoro principalmente a abertura dos jogos, com aqueles nomes de países estranhos. Adoro ver os nomes bizarros dos atletas, adoro ver países desconhecidos ganhando medalhas, adoro o clima multicultural. Mesmo quando se trata de esportes de inverno – porque vocês sabem que eu odeio inverno e tudo relacionado a. A patinação no gelo é uma coisa muito maneira, fico louca assistindo, apesar de achar tudo de uma cafonice ímpar (e completamente desnecessária). Morro de pena do pessoal que cai, fico com vontade de chorar de dó e acabo mudando de canal, às vezes. Mas no geral eu assisto a qualquer coisa, até esqui, que é a coisa mais chata do mundo, junto com o golfe. Pena que com o sono que eu ando sentindo, fica difícil assistir aos replays que passam tarde da noite…

hohoho

Mirco hoje me contou que na terça, depois do jantar em Scheggino (don’t ask) com Gianni e Chiara, eu, bebinha, tive um longuíssimo ataque de riso antes de dormir. E que antes do ataque de riso falei em inglês, sabe-se lá sobre qual assunto, por meia hora seguida.

Então fica combinado que eu não posso me empolgar com vinho branco.

coisas inúteis mas úteis

Uma das coisas mais úteis que já me deram de presente nos últimos tempos foi a toalha pra enrolar o cabelo que minha avó me deu. Simplérrimo, mas utilíssimo: tem um botão atrás da cabeça e na parte da frente um elastiquinho; você enrola a toalha estilo turbante, como todo mundo faz, e em fez de ficar com aquilo apoiado precariamente na cabeça, puxa a ponta pra trás e prende o elastiquinho no botão. Uma maravilha, rapaz!

step by step

Aproveitei a manhã livre, antes da Begonia chegar, pra dar um pulo no Ipercoop e comprar um aparelho de step pra mim. Tava na oferta, lógico – eu só compro coisas na oferta que não sou boba – e é pequeno, enfio debaixo de uma cadeira na sala e ele fica ali quietinho, azul, me esperando. Os amortecedores fazem um certo barulho funf-funf, mas por 38 euros eu queria o quê? De qualquer maneira, vai servir pra eu me mexer um pouquinho durante a metade do ano em que não posso botar o nariz pra fora sem morrer de frio. Dinheirinho bem gasto.

saco

O coronel na televisão diz que hoje chega uma frente fria siberiana, que vai ser imediatamente seguida de uma da Groenlândia, e no finzinho do mês outra do mesmo lugar vai emendar com a segunda. Olho pra fora e vejo floquinhos de neve enlouquecidos, voando de lado. Ainda não é neve que cai das nuvens, mas neve que o vento raivoso nos traz do Subasio e das colinas de Bettona. Na estrada pra Foligno, começa a nevar mais seriamente, do céu mesmo, mas nunca chega a acumular no chão. Meu medo é pra mais tarde, porque a neve derretida vira gelo com as temperaturas da noite, e dirigir assim é como patinar no gelo.

Com esse tempo horrível, fazer qualquer tipo de movimento dentro do carro é impossível. Virar o pescoço encachecolado pra fazer uma manobra é um malabarismo irrealizável. O cinto de segurança tem que passar por baixo do cachecol pra não me enforcar. A boina de lã começa a coçar na testa, mas com a luva grossíssima não consigo encontrar o ponto crítico pra me coçar. O carro leva três horas pra esquentar, e até lá o nariz, vermelho, fica escorrendo. Tudo o que eu pego com as mãos enluvadas cai. Abençoado seja o fone de ouvido do celular, porque é impossível apertar um só botão do telefone com os dedões enfiados em luvas de camurça com recheio de pelo…

Eu definitivamente ODEIO frio.

hospital

A avó do Mirco sofreu uma mini-isquemia na sexta e foi internada pra fazer exames e ficar em observação. Ontem me ofereci pra passar a tarde com ela, porque a coitada da Lucia não é exatamente a rainha do traquejo social, tendo sempre ficado enfurnada em casa cuidando da horta, dos bichos e de um marido rabujento e mandão. Nunca foi a lugar nenhum e a sua primeira experiência realmente divertida e diferente foi a viagem à Holanda em novembro do ano passado, então ficar no hospital, com uma rotina tão diferente da de casa, com companheiras de quarto que ela não conhece e comendo uma comida estranha é muito estressante.

Acabei fazendo uma supersocial com as outras velhinhas, mais faladeiras. Uma estava meio fora do ar, enorme de gorda, com uma pneumonia complicada, máscara de oxigênio no rosto, movimentos difíceis e respiração sofrida. A vizinha da Lucia era a mãe da gerente do banco do Mirco, que eu conheço bem. E a última era uma birutinha agitadíssima que não parava de falar e complementava o rancho do hospital com coisinhas que a família e amigos – porque a cada meia hora vinha alguém visitá-la – traziam de casa.

Eu gosto de velhos. Têm sempre muito a dizer, mesmo os idiotas, e um ponto de vista tão, mas tão abissalmente deslocado por causa do salto tecnológico que passou voando na frente dos olhos deles que eu acabo sempre parando pra pensar. Das quatro, a única que sabia operar um celular era a maluquinha, a única também a tingir os cabelos. Eu tinha levado coisas pra estudar, mas acabei passando cinco horas (o Mirco trabalhou o dia inteiro e só chegou às oito e meia, pra depois irmos jantar com Mario Belli e moglie) batendo altos papos com as velhinhas e dando muita risada com a birutinha. Teve até choro, quando visitas inesperadas apareciam – ou quando emprestei meu celular pra mãe da gerente e me recusei terminantemente a aceitar o pagamento pela ligação. O que, aliás, quer dizer muita coisa: quando uma minigentileza assim bobinha é difícil de compreender, é sinal de que o mundo tá afundando na bosta mesmo.