Estava eu googlando acupuntura & psoriasis quando caí na caixa de comentários de um blog de um cara com psoríase. O blog era uma droga (fazia parte de uma rede de blogs de médicos católicos…), mas a caixa de comentários era muito interessante. Várias dicas sobre técnicas de respiração da ioga e coisa e tal, e entre os muitos comentários tinha um sobre a dieta Cayce-Pagano. Lá fui eu catar os nomes.
Edgar Cayce era um cara estranho, mas aparentemente bem-intencionado. Não fui procurar as explicações científicas pra história dele (tenho certeza de que existem) porque sinceramente o que me interessava era parar com essa porcaria de coceira. Então fui procurar o Dr. Pagano, e achei o livro dele na Amazon. Fiquei horas lendo os reviews do livro – atualmente não compro nem água mineral sem perder um tempinho estudando os reviews da Amazon – e resolvi tentar. Mal não podia fazer.
A teoria do Dr. Pagano, baseado nos escritos daquele doido do Cayce, é a de que o que é conhecido por “leaky gut syndrome” provavelmente é a causa da psoríase e de muitas outras doenças. A tal da leaky gut syndrome nada mais é do uma condição anormal do epitélio intestinal, que se torna poroso; determinadas toxinas, em vez de sair no cocô, voltam da luz do intestino pra corrente sanguínea através desses poros, e vão causar problemas em outros lugares do corpo. No caso da psoríase, as lesões da pele seriam uma tentativa do corpo de eliminar essas toxinas.
Como vocês estão vendo, cientificamente a coisa faz muito sentido (senão eu nem teria continuado a ler porque tenho PA-VOR de explicações esotéricas, místicas, espirituais e afins). De acordo com a experiência do Dr. Pagano, que lida com psoríase há uns 30 anos, a imensa maioria dos pacientes dele com a doença têm prisão de ventre, o que seria mais uma confirmação da validade da teoria da leaky gut syndrome. Eu não tenho nem nunca tive, mas em compensação não suo nada, ou seja, um dos meus canais de eliminação de toxinas está sobrecarregado – a água que normalmente sairia pelo suor mas não sai tem que ser eliminada por algum lugar, ou seja, os rins. Pode ser a explicação pro meu caso.
Ao longo dos anos o Dr. Pagano foi adaptando os escritos do Cayce sobre a psoríase até chegar ao que ele chama de Pagano regimen. Há chás, realinhamento da coluna, hidrocolonterapia, banhos de sais, emplastros de óleo de rícino e outras coisas aparentemente estranhas mas todas explicadas de maneira séria e científica no livro, embora não haja estudos sobre o assunto; são só as teorias do doutor, que aliás não é médico mas chiropractor, mas que obviamente entende de fisiologia. Mas a parte mais importante do esquema dele é a dieta, porque as tais toxinas são de origem alimentar; o objetivo seria primeiro eliminar todas as toxinas e depois parar de ingeri-las, e então deixar o pH do organismo levemente básico, pra facilitar a reparação do epitélio intestinal e melhorar a saúde em geral através do melhoramento do funcionamento fisiológico do organismo, que aparentemente trabalha de maneira mais eficiente e resiste melhor a doenças quando tende ao alcalino.
Ele começa com a dieta desintoxicante de três dias: três dias à base de maçã (o uvas), ou então cinco dias à base de frutas em geral, com uma sessão de hidrocolonterapia ou enema no final de cada dia, e muito iogurte natural ao final da dieta pra reconstituir a flora intestinal perdida durante esses dias. Se fossem três dias à base de ovo, de sopa, de brócolis, de salmão, de queijo, de iogurte, praticamente de qualquer coisa eu conseguiria sem problemas, mas quando se trata de fruta eu num guento. Fiz dois dias e quase morri de tanto enjoar; no terceiro pedi arrego e comecei logo com a dieta.
Comidas absolutamente proibidas:
– A família das plantas chamadas “nightshades”: tomate, beringela, batata (batata-doce pode, porque não é batata; inhame também pode, mas infelizmente aqui não tem), pimentão (que eu felizmente odeio), páprika (da qual não sinto falta; o problema é que adoro curry e curry tem páprika), tabaco (pra quem fuma).
– Frituras
– Frutos do mar
– Farinhas brancas
– Carnes vermelhas, carne de porco, carnes processadas (embutidos etc)
– Álcool (ele permite um copo de vinho tinto de vez em quando)
– Morango, pra quem tem artrite de psoríase
– Refrigerantes
Comidas permitidas em quantidades moderadas:
– Grãos e cereais integrais e leguminosas (todos dão subprodutos ácidos, com a exceção de quinoa, milhete e amaranto)
– Frutas secas (a única com subprodutos alcalinos é a amêndoa)
– Carnes brancas (peru, frango, peixe – de preferência os peixes oleosos); carne de carneiro uma vez na vida outra na morte, pra quem gosta (eu detesto)
– Café, pra quem toma
– Açúcar
– Leite e laticínios, sempre low-fat, desnatados etc
– Azeite
– Ovos
Combinações proibidas:
– Frutas cítricas com carboidratos
– Maçã, melão e banana combinados com outras frutas; só podem ser comidos sozinhos
Comidas permitidas à vontade:
– Frutas, todas, cruas ou cozidas (tenho pavor de ambas as formas)
– Verduras – particularmente indicadas são alface romana, aipo, espinafre, alho e mais alguma que eu esqueci e estou com preguiça de procurar no livro. Uma das refeições do dia deve ser uma saladona, com verduras cruas. A proporção deve ser três vegetais que crescem acima da terra pra cada um que cresce embaixo da terra. Frutas e verduras devem formar 80% da dieta.
E, logicamente, quando se fala de “flush out” as toxinas, há que se beber muita água.
Obviamente não é uma dieta fácil de seguir, nem em termos práticos, porque ficar lavando essa verdurada toda é um porre, nem em termos psicológicos, porque viver rodeado de coisas que você não pode comer não é mole. O meu problema em particular é a fruta, que eu abomino, mas tomo um copo de suco por dia e de resto capricho nas verduras pra compensar.
Atualmente o que eu estou fazendo é tomar sopa no almoço (e às vezes no café da manhã também) e comer a maldita da salada no jantar. Faço sopão com oitocentos verduras e alguma leguminosa, rapidinho na panela de pressão, e dá pra uns três ou quatro dias. A salada normalmente tem atum, salmão ou ovo cozido como fonte de proteína. O lanche da manhã é um suco de frutas; o lanche da tarde são cinco amêndoas e um iogurte desnatado com lecitina de soja (um dos muitos suplementos “alcalinizantes” que ele recomenda). Com toda a sinceridade, não passo a menor fome, mas a vontade de comer uma focaccia de alecrim de vez em quando é muito difícil de controlar. Espero que cortando as farinhas a coisa fique mais fácil. Não estou oficialmente em dieta no-carb, mas quando não tenho vontade, não como. E quando como é só arroz integral, ou então aquelas misturas multigrãos que eu amo, com aveia, cevada, arroz vermelho/selvagem/preto, quinoa etc.
Segundo o Dr. Pagano um flare-up – uma piora – é de se esperar, porque em um certo ponto o corpo começa a purgar as toxinas acumuladas em excesso mais ou menos ao mesmo tempo, e uma piorada é normal, mas isso não deve desencorajar o pobre paciente. Pelas fotos do livro e pelos muitos reviews positivos na Amazon, o sistema funciona. Ele diz que tem pacientes que fazem a dieta por um tempo e se livram da doença e passam a comer normalmente depois, sem problemas; outros precisam seguir a dieta à risca a vida inteira mas de vez em quando se dão ao luxo de pular a cerca; outros ainda precisam ficar nesse esquema pra sempre e cada escapada significa um retorno da doença, precisando então voltar à dieta rígida. Sinceramente, eu gostaria de me enquadrar na última categoria: talvez se o meu cérebro entender que eu sou praticamente alérgica a essas comidas (e às farinhas…) fique mais fácil seguir o regime e parar de pensar em comida o tempo todo. Porque normalmente uma escapada leva a outra, e a outra, e a outra…
Dei uma melhorada depois de poucas semanas seguindo a dieta e tomando os suplementos, mas tive uma recaída (frutos do mar em um almoço que eu sinceramente não pude evitar) e piorei de novo. Agora estou na segunda semana de dieta séria, anotando tudo pra não enganar a mim mesma, e vamos ver no que dá. I’ll keep you posted.