falação

Toda vez que venho ao Rio fico logorreica. Me dá uma coisa, um negócio, um treco, um troço, e quando vejo estou vomitando palavras vertiginosamente, embora mais lentamente do que o meu raciocínio, que está a mil, e falando besteira, fazendo mímica, imitando, fazendo vozes, caretas, revirando os olhos, mas sobretudo falando, falando o tempo todo, até a garganta reclamar e o fôlego faltar. Falo com o motorista de táxi, com a Dona Maria que vende coco na Epitácio Pessoa e com as babás que tomam conta das crianças, com o porteiro do prédio onde houve um incêndio, com a minha avó que está ficando surda, com os vendedores das lojas onde compro sapatos compulsivamente (OK, eu detono sapatos direto porque tenho as pernas tortas, piso errado e desgasto as solas de maneira desigual, ando dez pras duas e bato os calcanhares um no outro, vivo tropeçando e dando topadas), com a outra pessoa que está experimentando sapatos na mesma loja (esse ano cismei com a Outer, cacetes estrelados, que sapatos confortáveis e maneiros!) e com a qual troco pitacos, com o cara da Eldorado que dá pão de queijo de cortesia pra Carolina, com a manicure que eu nunca vi na vida e que me ajuda a decidir se boto Arranha-Céu, Tubinho ou Tapete Vermelho nas unhas.

A coisa só tem piorado desde que a Carol nasceu, pois só falo português com ela o tempo todo mas ela não responde nem ri quando eu repito uma fala de The Big Bang Theory. De modo que sinto realmente falta de dialogar em português, o que não acontecia, ou que acontecia de maneira menos intensa, antes dela nascer, quando a minha vida era 100% italiana.

O italiano gosta de falar, isso todo mundo sabe. Os umbros são um pouco mais fechados, mas se você puxar conversa dificilmente o interlocutor vai te ignorar. Mas no Rio a coisa assume outras proporções; acho que não existe carioca, nascido ou criado, que não goste de bater papo, não importa muito com quem, nem sobre o quê. O importante é falar, e o ato de intimidade imediata que isso cria.

Quando estivemos no Rio Sul com o Ettore e a Arianna, estávamos sentados num banco ali perto da New Order, no quarto piso, quando passou uma loura empurrando um Quinny com um bebê foférrimo e acompanhada de uma senhora que obviamente era sua mãe e de uma outra que falava inglês. A moça, lógico, se aproximou da Carolina, porque aquela cabelada toda que ela tem chama a atenção pra caramba e TODO MUNDO pára pra falar com ela, e logo começamos a papear. Ela se acocorou no chão, apoiou a mão no meu joelho e entramos naquela coisa de “pois é, menina, blah blah blah”, ela começou a falar de quando morava em Miami, conversamos sobre crianças que comem e que não comem, discutimos modelos de carrinhos, aqueles diálogos emocionantes sobre crianças e tal, até que as duas senhoras a chamaram e ela se levantou, deu um tchau e um sorrisão, e foi embora. Ettore e Arianna perguntaram se éramos amigas, de tão animada que tinha sido a conversa.

Tenho pra mim que essa falação toda, essa intimidade/cumplicidade imediata, tem algo a ver com o fato de que é normal passar o dia de biquini e Havaianas ou roupa de ginástica. Não dá pra ficar cheio de mumunhas e formalidades com Havaianas nos pés. O clima de praia eterna all-year-round simplesmente não é compatível com nove-horas. O Rio é a praia, até pra quem não gosta de praia, não põe biquini desde os 15 anos e não sai na rua de chinelos, como eu. A praia está entranhada na cidade, logo fala-se, muito, informalmente, alegremente, o tempo todo. Como eu amo falar, essa é uma das coisas das quais mais gosto no Rio. As outras são assunto pra outro dia.

de imigração e imigrantes

Quem ainda não sabe vai ficar sabendo logo logo do vídeo sobre a polícia francesa maltratando imigrantes. Googlem aí porque eu vi o vídeo no Twitter e não peguei o link. Aí começaram logo os comentários sobre os horrores da polícia, de estado controlador, de direitos humanos e aquela lenga-lenga de sempre. E aí eu comecei a pensar mais seriamente sobre o assunto e acho que a coisa merece ser discutida.

Eu sinceramente não vi violência absurda e voluntária no vídeo. Sim, houve arrastamento de crianças que estavam amarradas às costas das mães naquelas faixas coloridonas maneiras que as africanas usam muito – e que europeus não usam muito, o que pra mim significa que os policiais podem perfeitamente simplesmente não ter visto as crianças. O que eu vi foram policiais fazendo o papel deles, ou seja, removendo à força os protestantes (ou squatters, sinceramente não entendi direito a situação; só sei que essas pessoas estavam onde não deveriam estar e resistiram aos pedidos de sair dali, motivo pelo qual estavam sendo arrastadas embora). Não vi ninguém batendo em ninguém, ninguém jogando pedra nem bomba de gás em ninguém, ninguém dando porretada em ninguém. Não sei o que essas pessoas estavam fazendo ali, mas o fato é que não deveriam estar ali, e ponto final. Se você estaciona o carro onde sabe que não se pode estacionar, perde totalmente o direito de reclamar quando o rebocam, ou não?

Olha, eu detesto o Sarkozy. Acho-o ridículo, antipático, casado com uma mulher ridícula, e sobretudo parecido demais com o Berlusconi pro meu gosto. Detesto a direitona fanática xenófoba. Mas concordo com ele em muitas coisas (principalmente com a ideia maravilhosa de abolir essa palhaçada da burka no país inteiro. LIBERDADE RELIGIOSA MY ASS) e em alguns casos inclusive em termos de política de imigração. Acho de verdade que o direito à cidadania deve ser condicionado por váaaarias coisas. Totalmente de acordo com o sistema holandês: não fala a língua? Não pode pedir cidadania. Como é possível que uma pessoa que vive anos em um país e nunca se preocupa em aprender a língua local um dia se integre? E se não se integra, se não participa ativamente de nada no país porque não entende a língua, por que diabos quer a cidadania então, senão pela óbvia delícia de ter um passaporte europeu? E por que diabos mereceria a cidadania então, se a motivação está toda errada?

Não vou entrar no mérito da questão da pobreza dos imigrantes, as causas da imigração etc, porque todo mundo sabe mais ou menos o que rola, o lance das ex-colônias no caso da França, o lance da facilidade de acesso via mar no caso da Itália, o tipo de gente que imigra por causa da pobreza dos seus países e coisa e tal. O fato é que assim como os marroquinos de hoje não têm culpa do país ter sido explorado e fodido pelos franceses de antão, os franceses de hoje também não têm culpa pela exploração e fodição causadas pelos seus antepassados. De modo que estamos todos quites, ou não? E aí vem essa cambada toda de gente que não sabe fazer nada porque não teve formação nenhuma de nada se mudar pras banlieux e ficar jogando lixo na rua, traficando drogas e botando fogo em carros quando cortam a luz do prédio caindo aos pedaços onde moram. De novo: não vou entrar no mérito do por que essas pessoas não conseguem acesso a educação pra que possam ser alguém na vida e, talvez, se integrarem. Mas sei por experiência própria que muitas vezes elas simplesmente não querem nada com a Hora do Brasil.

Nenhum dos muitos marroquinos que já passaram pela oficina do Mirco tinha o seguro obrigatório do carro, apesar de serem todos legais aqui, e todos com a família também em situação legal. Isso significa que se eles batessem em alguém ou atropelassem uma pessoa que precisasse de cuidados médicos especiais e caros não cobertos pelo sistema público de saúde ou se matassem alguém em um acidente, a família da vítima receberia ZERO euros de compensação. Eu pago uma fortuna de seguro do carro todo ano, mesmo tendo um carro bunda e velho, mas se eu matar alguém num acidente o meu seguro paga uma grana pra família da vítima. É o mínimo, né não? Normalmente eles não têm absolutamente nada no nome deles, o que significa que eles podem praticamente fazer o que quiserem, pois literalmente não têm nada a perder. Uma vez achamos uma conta de luz de um dos marroquinos do Mirco jogada no chão toda amassada. O cara simplesmente não pagava as contas, que aqui chegam de 2 em 2 meses ou de 3 em 3, dependendo do serviço, e quando cortavam o serviço ele se mudava. Simples assim. Não pagam dívidas, pois a justiça não tem como correr atrás deles, penhorar bens, nada, pois bens não têm. Um marroquino pegou dinheiro emprestado do Mirco anos atrás (adiantamento de salário), tudo assinado, com documentos válidos legalmente e tal, e simplesmente parou de pagar a dívida na metade. Se o cara trabalha com carteira assinada, a justiça determina que uma percentual do salário seja automaticamente passada pro credor todos os meses. O que o fulano fez quando saiu a sentença favorável ao Mirco? Parou de trabalhar de carteira assinada, lógico. De modo que ele agora não só sonega impostos, porque trabalha por baixo dos panos (o chamado “in nero”), como também não paga a dívida com o Mirco. E isso porque estamos falando dos marroquinos, que de modo geral se comportam melhor do que os romenos, por exemplo.

Por isso que concordo pRenamente com o Sarkozy. Fez merda, cometeu crime, não pagou imposto, é inadimplente com o credor? Cidadania revogada. Ora bolas, vai tomar no cu! Quer ter o privilégio de ter passaporte cor de vinho? Comporte-se civilizadamente, como a maioria dos europeus se comportam. E digo privilégio não necessariamente porque passaporte europeu é uma coisa ótima de se ter, mas porque qualquer país do mundo no qual você não tenha nascido e que esteja disposto a dar a você os mesmos direitos de quem nasceu está te dando um presente, sim senhor. E fazer mau uso de presentes é uma parada muito desagradável, sabe.

e a copa, hein?

Bom, fodeu tudo, né. Sinceramente nunca acreditei muito na nossa seleção, mas o Brasil era dado como favorito aqui em todos os programas de futebol, de modo que a derrota pra Holanda foi realmente um banho de água fria.

Foi lindo ver a Argentina perder daquele jeito. E não só porque eles me são incrivelmente antipáticos e arrogantes, mas porque acho o Maradona uma das figuras mais odiosas da face da Terra e merecia um tapa na cara bem estalado. Não consigo entender isso do cara ser um ídolo mesmo sendo um idiota. Nunca fui capaz de entender a supremacia do talento (ou do esforço) sobre a integridade de caráter. O cara jogava pra cacete, granted, mas É UM FILHO DA PUTA! Drogado! Arrogante! Desonesto! Cara, se tudo isso não anula completamente o talento que ele tinha então eu não quero mais viver nesse mundo não.

Isso me lembra uma conversa que tivemos uma vez à mesa do jantar na casa da Arianna. Estávamos falando de um ex-funcionário do Mirco, que chegou a ser muito amigo dele, que é completamente maluco. O Ettore dizia que não entendia por que ele nunca namorava, porque era tão trabalhador. Oi? Ele é maluco, ma-lu-co, desequilibrado, inconsistente, louco! Quem é que atura isso? “Mas ele trabalha tanto!”, repetia o Ettore, como se isso resolvesse todos os problemas do mundo. Já ouvi coisas desse tipo de muitas outras pessoas. “Ah, ele pode ser burro/chato/desonesto/mulherengo/sujo/mau com os filhos/violento com a mulher/etc, mas é tão trabalhador!” SOCORRO! As pessoas aqui levam a primeira frase da Constituição a sério demais (“L’Italia è una repubblica fondata sul lavoro…”). Detesto esse conceito de botar o trabalho no centro do universo. Sou só eu que considero o trabalho um mal necessário? Um meio pra chegar aos fins? Coisa mais chata isso de ter uma vida tão vazia que só resta trabalhar; estou de saco cheio dessa gente ignorante. E não estou falando só dos meus sogros não, que não são capazes de contar uma história direito, muito menos de explicar o que estão vendo na televisão porque mal sabem escrever; temos amigos da nossa idade cuja vida se resume a trabalhar e nada mais importa. Gente que passa a vida juntando dinheiro sabe-se lá pra quê, já que nunca o aproveitam, e nunca o aproveitam porque não saberiam o que fazer sem trabalhar, pois nunca fizeram outra coisa. Coisa mais chataaaaaa!

sleeping 101

Tem gente que não sabe dormir. Não falo do ato de dormir em si, mas da técnica envolvida. Porque tudo nessa vida tem técnica, não é mesmo.

Quando acontece do Mirco capotar no sofá e não acordar de madrugada pra voltar pra cama, eu acordo, levanto, simplesmente puxo a ponta da coberta pro lugar e ecco, a cama está feita. Porque eu sou uma pessoa que tem técnica pra dormir, sabe. Quando mudo de posição, rolo por baixo da coberta, e não levando a coberta junto comigo, como faz o Mirco. Volta e meia acordo de madrugada porque fui mudar de posição e senti o contato direto com o edredom, porque o Mirco consegue desvincular totalmente o lençol de cobrir do edredom. A coisa me dá um nervoso sem precedentes, e lá vou eu sentar na cama e ajeitar as cobertas antes de voltar a dormir. Saco. Não precisa nem dizer que pela manhã a cama está um ninho de rato. Ódio.

Minha mãe também é assim. Quando levanta a impressão é a de estar em um quarto cheio de cobertas espalhadas por todos os lados, travesseiros e almofadas idem. Gente que não sabe dormir consegue criar a ilusão de bagunça infinita mesmo em cômodos espartanos; uma coberta amarfanhada fica parecendo dez, um travesseiro torto fica parecendo doze, e a aparência do quarto fica um horror.

Acho que vou começar a oferecer cursos. “Como dormir de modo a gastar 10 segundos pra fazer a cama no dia seguinte”. “Como rolar por baixo das cobertas e não com elas”. Será que cola?

odontoplebe

Meus queridos, meu dia chegou. Saí da reduzidíssima elite de indivíduos totalmente desprovidos de cáries desde o nascimento e entrei pra gigantesca torcida do Flamengo que é maioria cariada.

Eu não percebi nada. A coisa estranha é que não percebi nada. Quando vi, estava cariada. Fui percebendo uma sensação desagradável em algum dente inferior esquerdo, mas juro que não me toquei. Cansaço, estresse, sono atrasado, pegar no sono na cama ao lado da Carolina, com a mão dentro do berço pra ela deitar em cima e beliscar até dormir, ficando portanto várias horas depois do jantar sem escovar os dentes, you name it. O fato é que quando finalmente fui olhar dentro da boca com calma achei não uma cárie, mas uma CRATERA entre os dois últimos dentes (não sei nome de dente nenhum e nem pretendo pesquisar sobre o assunto, thank you). Dei um ataque: comé que eu não vi isso, gente? Cega! Anta! Desleixada! Sujona! Ca-ri-a-da!

Meu dentista, que tem agenesia de dois dentes da frente e portanto parece desleixado, sujão e desdentado, inspirando muito pouca confiança em quem não sabe da história, disse pra eu relaxar porque a maldita começou entre os dentes e por baixo, ou seja, ninguém, nem ele nem nenhum outro dentista e muito menos eu, teria notado a bichinha antes dela criar o dano gigante que causou. Porque, queridos, a minha estreia no mundo dos cariados não foi pra menos: a cratera quase chegou no nervo e havia risco de ter que desvitalizar o dente (!!!!!!!!!!!!!!!), e, pasmem, a cratera não estava sozinha! Havia outra cárie, praticamente gêmea, exatamente na mesma posição, mas na arcada superior. Essa era a irmã menor, digamos assim, felizmente.

Sei é que estou horrorizada. Toda vez que mastigo tenho a impressão que há buracos em todos os outros dentes da boca que a obturação vai explodir ou se desintegrar, que vou precisar de coisas cujos nomes sempre foram misteriosos pra mim – ponte, coroa, implante. Coisas de odontoplebe, sabe como é.

Não nasci pra ter doença nenhuma não, vou te contar.

a volta da morta-viva

Então.

Mamãe foi embora no sábado, depois de quase dois meses me ajudando aqui em casa com a Carol. Nesse período a Carolina passou de zumbi que nunca dorme a dorminhoca-mor, e também está comendo melhor. Está dando os primeiros passinhos sem apoio mas ainda está um pouco medrosa e às vezes se joga no chão de joelhos no meio de uma caminhada, porque afinal de contas gatinhar é bem mais fácil e rápido.

O aniversário de um ano foi superlight. Resolvemos não dar festa por vários motivos. Primeiro, porque é uma mão de obra danada, por mais que você terceirize as coisas. Segundo porque você acaba forçando uma compração de presentes que dá mais trabalho do que alegra, porque eu praticamente não gosto de NADA que ela ganha (tudo rosa, lógico, e tudo roupa, nada de brinquedos ou livros. Gente sem imaginação é foda) e tenho que sair trocando tudo depois. Terceiro porque ela ainda não anda, o que significa que não só não iria aproveitar nada como ainda provavelmente ficaria engatinhando no chão cheio de resto de comida que as crianças jogam no chão. Quarto porque ela não entende nada ainda, não tem noção do que é uma festa. Dois anos já é outra história, a criança já fala, já brinca com outras crianças (antes de uns 18 meses dificilmente rola interação entre elas), já entende melhor o que está acontecendo e se diverte, eu já vi. E quinto porque nessa merda de frio eu teria que arrumar um lugar pra enfiar a criançada, e festa em lugar fechado é um porre. A merda é que no Rio não dá por causa do calor hediondo, de modo que ano que vem vamos penar pra decidir como vamos fazer. E sexto porque temos pena dos outros pais, já que festa de criança é realmente um PORREEEEEEEEEEEEE. Pra quem não tem filho, então, é uma filial do inferno.

Mudando de pato pra ganso, andei dando umas escorregadas gastronômicas ultimamente (meu bodybugg praticamente parou de falar comigo), mas como minha massa muscular aumentou consideravelmente, e consequentemente meu metabolismo também, o efeito disso no meu peso, apesar de não estar conseguindo malhar regularmente, foi ZERO. Não engordei nada, não aumentei nada de peso nem de medidas, nada. Coisa linda, né não? A Chalene é uma mala, mas Muscle Burns Fat, ela tem razão. Como a Carolina anda dormindo bem melhor e estou com as manhãs bem light, aproveitei pra fazer um novo esquema de malhação pros próximos meses. Vou seguir a fase Lean for Life do ChaLEAN Extreme, apesar de que na verdade eu deveria refazer o programa desde o início pois ainda não estou no meu peso desejado. Mas não vou ter saco, então criei uma versão alternativa do Lean for Life, com as séries de cardio que eu gosto alternando com os polichinelos do ChaLEAN Extreme. De qualquer maneira, apesar dos escorregõs, de modo geral a minha relação com a comida mudou consideravelmente. Não sonho com comida há muito tempo, novidade total. Outra novidade é que atualmente me sinto melhor quando estou com uma fome leve e não depois de me empanturrar. Naturalmente passo mal quando escorrego, seja no tamanho da porção de peito de frango ou quando como uma fatia de pizza depois de tanto tempo comendo “clean”. Além de passar mal, me sinto lerda e sem forças no dia seguinte, mal conseguindo terminar as séries. Não bom.

Quando o tempo melhorar – essa noite nevou e tá um frio do cacete – vou comprar a cadeirinha pra levar a Carolina de bicicleta por aí. Ótimo exercício adicional, ela se distrai e aprende coisas novas, é de grátis e não polui, uma magavilha. O objetivo é estar sarada (ou relatively so) no meu aniversário. Porque o objetivo de 2009, que era passar o aniversário da Carolina com a roupa que eu quisesse e não a que coubesse, eu alcancei; caibo em todas as minhas roupas, inclusive as que comprei pouco antes de engravidar, quando estava no peso que estou agora mas que não é o peso que eu quero. Então passemos à fase dois do plano, que não é mais caber nas roupas do meu armário, mas ter que comprar outras menores. Hah! Vocês vão ver; aguardem e confiem.

TOC

Eu sou uma pessoa cheia de TOCs. Cheinha. A maioria só incomoda a mim mesma, de modo que não faço muito esforço pra me livrar deles. Exemplos de TOC domésticos:

. Fazer a cama. Não sei começar o dia se a cama estiver desfeita. A primeira coisa que eu faço quando acordo, antes mesmo de fazer xixi, é fazer a cama. Tenho pavor de cama estilo ninho de rato.

. Esvaziar a pia da cozinha. O princípio é o mesmo do TOC acima: não consigo sequer começar a fazer nada na cozinha se a pia estiver cheia de louça suja, restos de comida etc. Também não consigo ir dormir sabendo que a cozinha está uma zona; quando vem gente comer aqui em casa eu só consigo ir pra cama depois de botar toda a louça na máquina e deixar a pia vazia, as cadeiras no lugar, as sobras devidamente tupperwarizadas na geladeira etc.

Exemplo de TOC trabalhais:

. Tenho que ter organizado completamente o trabalho antes de começar, não importa o nível de urgência. Primeiro escrevo no Moleskine o número do trabalho e o nome do cliente, depois escrevo as mesmas coisas na folha de Excel que no final do mês faz as contas sozinho de quanto trabalhei pra cada cliente, depois abro uma pasta nova dentro do diretório do cliente com o número do trabalho, o nome do cliente final e a combinação de línguas, depois salvo os arquivos dentro da pasta nova e mudo o nome, adicionando o número do trabalho, e só depois começo.

Exemplo de TOC de higiene pessoal:

. Não consigo dormir sem o meu ritual de beleza – lavar o rosto, passar demaquilante, passar meus creminhos, lavar as mãos, passar creminho nos pés, passar creminho nas mãos.

Tenho vários outros, lógico. Obviamente em certos momentos atrapalham bastante a minha vida, lógico. Mas cada louco com a sua mania, não é mesmo.

o crucifixo

Essa semana aconteceu uma coisa extraordinária.

A Corte Europeia dos Direitos Humanos decidiu que crucifixo em sala de aula viola a liberdade de religião, e condenou o estado italiano a pagar uma quantia praticamente simbólica como indenização por danos morais à mulher que recorreu à Corte, uma finlandesa de cidadania italiana (a história completa está aqui, com a entrevista feita com a família, em italiano). Fiquei emocionada quando ouvi a notícia e mais ainda depois que soube que todo o suporte legal foi dado pelos advogados da UAAR, da qual sou sócia. Ficamos todos emocionados, embora tudo o que está acontecendo agora fosse altamente previsível.

De maneira geral, todos os políticos criticaram a decisão, lógico, porque ninguém tem coragem de ficar contra a Igreja. Berlusconi já disse que vai recorrer, claro. Vários prefeitos disseram coisas tão simpáticas quanto “podem morrer todos eles, mas o crucifixo fica”. Outros escreveram cartas aos diretores das escolas “convidando-os” a expor o crucifixo nas salas. Os argumentos de quem é contra a decisão são dois, e vamos combinar que são os clássicos argumentos de quem não pensa: 1) o cristianismo é uma tradição italiana (imediatamente neguinho comentou, no fórum da UAAR, “vamos pendurar uma pizza em cada sala de aula então!”), e 2) o crucifixo é o símbolo do laicismo italiano. Tipo assim, hellooooooooo crucifixo laico? Oquei, oquei, não dá pra discutir, lógica não é o forte dessa gente.

O problema, logicamente, não é o crucifixo propriamente dito. É um símbolo, de péssimo gosto, por sinal, e mais nada. O problema, como sempre, é o que está por trás dele. E o que está por trás é exatamente esse comportamento arrogante desses prefeitos que, em vez de obedecer a uma lei europeia que tem poder legal na Itália, e que está certa, visto que segundo a constituição italiana este país é laico, fazem comentários absurdos como esses acima. Vou contar outra historinha pra ilustrar melhor.

Há alguns dias morreu uma senhora idosa em Padova (Pádua). Declaradamente ateia e mãe de um membro ativo da UAAR, ela tinha declarado expressamente que não queria nenhum ritual religioso quando morresse. Mas o padre da paróquia local, que fica rondando o hospital onde a velha morreu, cismou que quer dar a extrema-unção. Não só cismou: disse que assim que a família relaxar a vigilância ele vai lá dar os paramentos escondido, que o hospital “é casa dele e ele faz o que quiser”.

Minha mãe diz que nesses casos é melhor deixar pra lá porque jogar aquela aguinha idiota e vomitar meia dúzia de palavras sem sentido sobre uma virgem que pariu um deus “não faz mal”. É claro que não faz mal, já que rezar tem o mesmo efeito de ler uma receita de sopa de cebola, ou um trecho do Código Civil, ou o manual da sua máquina de lavar roupa. O problema não está na reza propriamente dita, assim como não está no crucifixo propriamente dito. Está no poder intocável que esses parasitas católicos tem, no dinheiro que eles sugam, na lavagem cerebral que fazem, no atraso no qual insistem em deixar esse país (e metade do planeta) impedindo as pessoas de pensar por si mesmas e de criticar o que quer que seja. Isso tem que acabar. TEM QUE ACABAR. Essa gente horrível tem que entender que nem todo mundo pensa como eles, que nem todo mundo está cagando pro que eles dizem, que tem gente que quer que vão todos pra puta que o pariu e que parem de indoutrinar as crianças, que a religião é, de verdade, the root of all evil. Se ninguém fizer oposição nunca eles vão continuar intocáveis sempre. Toda revolta tem que começar de algum modo, e espero que esse tenha sido um sinal de que uma lenta mas decidida onda anticatólica está se formando.

O resultado do recurso vai sair em breve, e se a decisão da Corte não mudar essa vai ser a solução final pra história; não há mais possibilidade de recurso ou apelo. Se assim for, vai abrir precedentes. E o dia em que a Carolina entrar na escola, se tiver crucifixo na sala de aula o bicho vai pegar, amiguinhos.

de ChaLEAN Extreme e coisas da bota

O programa funciona assim, ó: são 90 dias no total, 3 fases de 30 dias cada. Burn Phase, Push Phase e Lean Phase. Cada fase tem 4 semanas com 5 dias de malhação e 2 de descanso. Dos 5 dias de malhação, 3 são de weight training (Burn Circuit 1, 2 e 3, Push Circuit 1, 2 e 3 etc) e 2 de cardio.

Praticamente acabei a primeira semana da Burn Phase porque amanhã é dia de descanso e a semana recomeça no sábado. Vamos às minhas impressões até agora, começando pelos pontos negativos:

. Cara, levantar peso É CHATO PRA CARALHO. Nem a Chalene consegue melhorar muito a coisa; é chato chato chato, prontophaley.

. Não tem musiquinha, lógico, porque não é aeróbica. E a falta de musiquinha faz a série ficar praticamente infinita. O tempo não passa, é um certo saquinho.

. E aí entra um outro problema: a Chalene é legal e tal, mas ela é PÉSSIMA em duas coisas, cueing e timing. Nas primeiras vezes que você faz a malhação e portanto ainda não conhece a coreografia, você perde um monte de coisas porque ela simplesmente sai pulando e não avisa qual o movimento a ser feito, pra qual lado, quantas vezes – ou seja, cueing. Como ela fala o tempo todo (aquelas coisas motivacionais de americano que a gente ignora solenemente), esquece de avisar a pobre gorda que agora ela tem que levantar os bracinhos 8 vezes pra esquerda. Também esquece de contar, e erra coreografia pra cacete, inclusive entrando errado na música – zero timing. Eu já conheço todas as séries de cor, então corrijo eu mesma e faço o mesmo número de repetições dos dois lados, mas se você for seguir exatamente o que ela faz é capaz de ficar sarada de um lado e gorda do outro ;) Tudo bem, totalmente contornável.

. O programa alimentar é impossível de seguir. É do tipo high-protein, low carb, e eu sou uma pessoa totalmente carb. Sinto MUITA falta da minha ração de 80 gramas de macarrão integral jogados na salada, da batata cozida pequena junto com o franguinho sem gordura, da minha fatia de pão integral no café da manhã. Aliás, o meu maior problema com programas rígidos assim é o café da manhã: quer acabar comigo é me privar da minha fatia de pão torrada com uma fatia fina de queijo e meia de peito de peru e meu copo de leite desnatado com uma colherinha de chá de cacau sem açúcar. Porque qualquer combinação pão + queijo pra mim é a melhor coisa do mundo, e leite com chocolate é a melhor bebida do mundo. Apesar das opções de café da manhã do programa serem bem legais (quase sempre omelete de claras com algum tipo de queijo e verduras, ou então ricota light ou cottage, que eu adoro), nada disso fica totalmente legal sem um pãozinho e um leitinho. De modo que estou penando – e ODIANDO. Como eu estava indo muito bem antes de começar o programa, comendo de tudo mas pouco e contando minhas calorias com o bodybugg, é isso que eu vou voltar a fazer. Vou só aumentar um pouco as proteínas, porque pegando peso não tem jeito mesmo; eu queria muito um shake de proteínas mas aqui no interior do Gabão essas coisas são impossíveis de achar.

. As séries de cardio são UM PORRE, cheias de jairzinhos, polichinelos e outras coisas horríveis e pré-históricas que eu absolutamente abomino, além de queimar muito menos do que os Turbo Jams. Mas não podem ser substituídos por TJ porque incluem breves intervalos de muitas repetições com pesos leves pra aumentar muscle endurance, que o TJ não tem. Então o que eu estou fazendo é fazer um TJ nos dias dos três circuitos de peso (como eu já disse, a semana tem 3 circuitos de peso e dois de cardio chatão, um seguido de alongamento e outro de abdominais), pra poder ter uma queima calórica que me permita comer decentemente. Note to self: NÃO FAZER CARDIO DEPOIS DO CIRCUITO DE PESO, SUA ANTA! Porque o corpo não aguenta. Mesmo.

O ponto positivo:

. Funciona. De verdade. Em uma semana você sente os resultados; é uma coisa louca. No dia seguinte a um circuito de peso os quadríceps femorais gritam sem parar, socorro, socorro, é uma coisa linda. A parte posterior das coxas chora de dor, uma delícia. A sensação de satisfação, the endorphine kick que rola depois de malhar é mais duradoura porque o músculo fica dolorido muito, muito tempo depois que a parada acabou, ao contrário da aeróbica. E a sensação de poder é muito, muito boa. Você fica se achando, de verdade, e com razão: durante a malhação as pernas tremem, o suor escorre, os músculos berram, você faz um esforço a mais e aumenta o peso e consegue terminar as repetições. E aí você tem todo o direito de dizer EU SOU PHODA, FOI MAL AÊ.

Já perdi 9 quilos do meu peso máximo depois da gravidez. Semana que vem já vou conseguir entrar na minha bermuda-milestone (enquanto não couber nela significa que estou imensa), uma xadrez em tons outonais que custou 10 euros na Sisley e que uso com meia-calça e botas marrons. Vai ficar uma tchutchuca com o casaco fúcsia que comprei na H&M em Paris com a Lulu ano passado, mesmo mal podendo experimentar porque as minhas costas estavam tão largas que eu mal conseguia vestir. Experimentei outro dia pra ver se já estava fechando, e dei uma risada: está ó-te-mo, fechando facinho, acinturado, confortável – LARGO. Lindo.

. Um grupo do Facebook chamado “Uccidiamo Berlusconi” (“Matemos Berlusconi”) acabou de ultrapassar os 14.000 membros.

. Berlusconi cancelou um almoço com o rei da Jordânia porque estava com torcicolo. E no mesmo dia entrou num avião e foi pra Rússia numa viagem diplomática. Quando você acha que o cara já conseguiu ofender todo mundo, ele vai e prova que fundo do poço tem porão. Cacetes estrelados…

várias

. Semana passada eu fui aos correios de saia de linho, camisa de manga curta e chinelo de dedo, a Carol de pernas de fora pra pegar sol. Hoje tive que botar uma jaqueta pesada e enrolar a Carolina em mil camadas porque o vento tava gelado. Senhoras e senhores, acabou a mamata e a merda do inverno chegou.

. Esse país tem umas coisas muito bizarras. Uma coisa que acontece com uma frequência absurda é médicos que não são médicos. Outro dia desmascararam um pediatra que nem formado em medicina era, apesar de queridíssimo pelos pacientes e colegas, participante de congressos, pessoa de referência no hospital onde trabalhava e inclusive indicado como favorito pra tornar-se primario, o médico-chefe de um determinado departamento. Isso aconte TODA HORA, pelo menos uma vez por mês. Estima-se que cerca de 10% dos médicos italianos não sejam médicos. Que ótimo, né.

. Não vou entrar em detalhes sobre o vídeo da Maitê porque já tive uma loooonga discussão com a Barbara sobre isso no Twitter (discordamos completamente) e cansei do assunto, mas putaqueospariu, vai overreact assim lá na China! Cacetes estrelados! Na boa, o cara que bota a placa do número de casa daquele jeito é realmente um asno, principalmente se percebeu o erro (ou se alguém lhe disse que estava errado, o que é mais provável) e não corrigiu. A situação do técnico de informática realmente é tão surreal que não imagino nenhum outro país do mundo onde isso pudesse ter acontecido. Não achei NADA de ofensivo no que ela disse; a única coisa que eu não teria incluído no vídeo foi a cuspida na fonte, totalmente nada a ver, nojenta a desnecessária.

. Repitam comigo o mantra: não vou mais pegar trabalhos com mais de dez laudasssssssssmmmmmmmmmmmm não vou pegar mais trabalhos com mais de dez laudasssssssmmmmmmmmm…

. Minha bunda está doendo da malhação de ontem. Uhuuu!