capodanno

Pra mim Natal não tem sentido, e Ano Novo também não tem. Ainda mais aqui na Europa, onde o novo ano de calendário não corresponde ao novo ano escolar nem ao novo ano fiscal. Pra mim teria muito mais sentido comemorar 21 de dezembro, quando os dias finalmente páram de encurtar e ganha-se a perspectiva da primavera e do verão que estão por vir.

O réveillon foi bem sem sal, como sempre. Não faço questão nenhuma de festa, morro de sono e normalmente quero ir logo dormir sem grandes firulas. Dessa vez o jantar foi na nova velha casa do Daniele, com a família coreana da Une e mais Hiro e senhora, que estão aqui desde o dia 30 e ficam até o dia 3. Comida blé, lareira acesa, lá fora um frio do cacete, televisão que não pegava, rádio tocando músicas velhas, e tombola (bingo), o tradicional jogo de Ano Novo. Uneventful.

Como sempre, em todo o país vários idiotas se feriram com fogos de artifício. Não existe coisa mais inútil que fogos de artifício que só fazem barulho. Talvez só teto solar no carro chegue perto em termos de inutilidade, mas pelo menos não faz mal à saúde. Lembro que quando fiz estágio na emergência do Antônio Pedro uma vez tive que ajeitar a mão de um imbecil que calculou mal e não largou o morteiro antes dele explodir. Levei horas pescando pedacinhos de papelão de várias pequenas feridas nas palmas das duas mãos. Dei-lhe um esporro homérico.

Aqui todo ano é a mesma coisa. Depósitos de fogos de artifício pegam fogo. Crianças acham morteiros que não explodiram, vão lá curiosar, o bicho explode e a criança fica sem mão, sem nariz, sem orelha. Estima-se que mil gatos e mil cachorros morram por ano de ataque cardíaco por causa do barulho dos fogos. E ainda tem um agravante: sendo um país de caçadores, que naturalmente são todos idiotas, acaba também sendo um país de acidentes imbecis. Esse ano uma menina pequena levou uma bala perdida de um cretino que atirou pra cima com o fuzil de caça. No sul do país, onde neguinho consegue ser menos civilizado ainda do que no resto da Bota, praticamente todo mundo tem arma (eu disse arma, não porte de arma) e acha superlegal atirar. Já viu, né.

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All in all, 2008 foi um ano muito bom. Trabalhei bastante, fui à faculdade, me diverti, li menos do que gostaria mas mais do que teria conseguido se tivesse um emprego fixo em escritório, viajei pacas e rolaram várias outras coisas boas também. Não posso reclamar.

a pranta

Lembram que eu falei daquela planta estranha, azulada, que eu achava que não ia dar flores esse ano? Ledo engano. Não só deu as flores, como as antenas ficaram mais altas do que no ano passado. Não há dúvidas de que vou ter que trocar a bichinha de vaso, mas a Arianna falou pra eu esperar o tempo “assentar” pra não traumatizar a coitada. Agora que o tempo assentou – uma merda de tempo, mas pelo menos tá assentado, pois dificilmente voltará a esquentar – posso cuidar do assunto. Assim que eu desatolar de trabalho, lógico.

o que estava rolando no facebook antes dos resultados…

Os negritos são meus.

Dear Red States:

If you manage to steal this election too, we’ve decided we’re leaving.
We intend to form our own country, and we’re taking the other Blue
States with us. In case you aren’t aware, that includes California ,
Hawaii , Oregon , Washington , Minnesota , Wisconsin , Michigan ,
Illinois and all the Northeast. We believe this split will be
beneficial to the nation, and especially to the people of the new
country of New California .

To sum up briefly:

You get Oklahoma, Texas, and all the slave states.
We get stem cell research and the best beaches.

We get the Statue of Liberty .
You get Dollywood.

We get Intel and Microsoft.
You get WorldCom.

We get Harvard.
You get Oral Roberts University.

We get 85% of America ‘s venture capital and entrepreneurs.
You get Alabama. HOHOHOHOHOHO

You get Alito, Roberts, Scalia, and Thomas; we get Souter, Breyer,
Stephens, and Ginsberg, and Kennedy can have his choice;

We get two-thirds of the tax revenue, you get to make the red states
pay their fair share.

Since our aggregate divorce rate is 22% lower than the Christian
Coalition’s, we get a bunch of happy families, and you get a bunch of
single moms.

Please be aware that we will be pro-choice and anti-unnecessary wars,
and we’re going to want all our citizens back from Iraq. If you need
people to fight, ask your evangelicals
. They have kids they’re
apparently willing to send to their deaths for no purpose, and they
don’t care if you don’t show pictures of their children’s caskets
coming home. We do wish you every success in your quest for victory in
Iraq , and hope that the WMDs turn up, but we’re not willing to spend
our resources in Bush’s Quagmire.

With the Blue States in hand, we will have 80% of the country’s fresh
water, more than 90% of the pineapple and lettuce, 92% of the nation’s
fresh fruit, 95% of America ‘s quality wines, 90% of all cheese, 90%
of the high tech industry, 95% of the corn and soybeans (thanks Iowa
!), most of the U.S. low-sulfur coal, all living redwoods, sequoias
and condors, all the Ivy and Seven Sister schools plus Stanford , Cal
Tech and MIT. We acknowledge that we will hate to lose pecans and
peaches, but some sacrifices have to be made.

With the Red States, on the other hand, you will have to cope with 88%
of all obese Americans (and their projected health care costs), 92% of
all U.S. mosquitoes, nearly 100% of the tornadoes, 90% of the
hurricanes, 99% of all Southern Baptists, virtually 100% of all
televangelists, Rush Limbaugh, and Bob Jones University.

We get Hollywood and Yosemite , thank you.

Additionally, 38% of those in the Red states believe Jonah was
actually swallowed by a whale, 62% believe life is sacred unless we’re
discussing the war, the death penalty or gun laws, 44% say that
evolution is only a theory, 53% believe that Saddam was involved in
9/11 and 61% of you believe you are people with higher morals then we
blue staters.
After we leave, you can elect Sarah Palin to any office
that your heart desires – who knows, maybe having a politician in
national office who believes that demons and witches have infested
different parts of the country might work out. We hope so, for your
sake.

Good luck to you all,

Your Blue State Friends

**

Thanks Ali!

wtf is sarah palin

Oquei. Logicamente não entendo nada de política americana (leia-se de política em geral), mas o que aconteceu ontem/hoje foi uma coisa tão, tão historicamente importante que não posso deixar de comentar.

É importante esclarecer duas coisas antes de sair pulando pela rua berrando yessssssss yessssssssss yesssssssssss. Primeiro: McCain não é um idiota e acho que de todas as escolhas possíveis dentre os republicanos, ele era realmente a melhor. Seu discurso de perdedor em Phoenix foi uma demonstração de educação que eu gostaria muito de ver no Brasil ou na Itália, mas é melhor esperar sentada. Segundo: Obama não vai fazer milagre. Ninguém faz.

Mas, cacetes estrelados, apesar da vitória esmagadora de Obama, eu sempre fico impressionada (e assustada) de ver pessoas fazendo escolhas tão, tão, tão obviamente erradas. I mean, Sarah Palin? SARAH PALIN? WTF? Mesmo se eu fosse republicana, JAMAIS votaria num candidato com o pé na cova que escolheu SARAH PALIN como vice! Mas de onde foi que saiu aquilo? Que mulher é essa? Eu não escolheria uma louca assim nem pro meu time de pique-pega, imagina como vice do meu país! Quando as pessoas escolhem votar no seu candidato mesmo sabendo que a vice (que muito provavelmente chegaria ao poder, dadas as condições de saúde e a idade avançada do McCain) é uma desequilibrada eu fico MUITO assustada. Ou, pior ainda, quando ninguém percebe que ela é uma desequilibrada. Daquelas de camisa-de-força.

Outra coisa: se tem algo que eu nunca, nunca vou conseguir entender (o primeiro ponto da lista das Coisas que Nunca Vou Conseguir Entender é “por que as pessoas fumam”) é por que raios os americanos têm essa obsessão com as armas. WHY THE HELL WOULD ANYONE NEED A WEAPON, LET ALONE WANT TO OWN ONE? Qual pode ser a graça de possuir uma arma? O que diabos isso muda na sua vida? De onde surgiu essa maluquice, que não existe, que eu saiba, em nenhum outro lugar do mundo?

Acordei antes das cinco e meia hoje e liguei a TV em tempo de assistir ao discurso do McCain, civilizadíssimo, e agora estou ouvindo o Obama falar em Chicago. Esse tipo de fair play é realmente invejável, e infelizmente impensável no Brasil e na Bota, países pouco civilizados, como se sabe. Mas visto que se trata dos EUA, os donos do mundo, a coisa toma proporções intergalácticas e o alívio de ouvir coisas tão racionais saindo da boca de pessoas tão potentes é mais profundo que um buraco negro. O gigantismo do resultado dessas eleições é uma coisa sem precedentes, e independentemente do que vai acontecer daqui pra frente, o fato é que o 44o presidente americano é um crioulo (antes que venham encher o saco: escolhi o termo de propósito pois acho que dizer que ele é negro eufemiza um pouco a coisa)! Gente, é um troço MUITO MUITO diferente de tudo, é um passo muito muito grande, é um sinal de maturidade muito muito importante, abre zilhões de precedentes. Acho que temos muita sorte de estar aqui hoje pra testemunhar um momento tão especial da história do Ocidente, que nossos filhos e netos vão estudar na escola (se é que o planeta ainda vai estar de pé até lá) e comentar como nós comentamos o fim da escravidão (pelo menos no papel), o sufrágio universal (idem), a invenção da máquina a vapor, do chocolate meio amargo em barra, da televisão, da Internet. Eventos bombásticos cuja importância se perpetua no tempo e no espaço e mudam a nossa vida pra sempre.

Eu só espero que não role uma “crioulização” do país. Explico: há muito tempo, quando eu dava aulas de inglês numa multinacional de seguros ali na Tijuca, vivia esperando os alunos saírem de reunião. Um dia, esperando um aluno, estava folheando uma revista interna deles quando dei de cara com uma entrevista com funcionários “especiais” da empresa. O depoimento que mais me tocou foi o de uma anã, que dizia o seguinte: “Uma vez um colega pediu pra eu pegar uma pasta que estava na última prateleira da estante e que eu obviamente não conseguia alcançar. A coisa foi tão natural que eu me senti honrada, pois naquele momento ele não estava me vendo como uma anã, mas como uma pessoa de altura normal. Estava sendo tratada como uma pessoa qualquer”.

É isso o que eu quero dizer. O fato de um crioulo, que na verdade é mulato visto que a mãe é branca, ter sido eleito o homem mais poderoso do mundo é uma coisa GIGANTE. E é uma coisa gigante porque isso significa que as pessoas não o vêem como crioulo, mas como um cidadão digno de representar o país que comanda o planeta (pelo menos por enquanto). Tendo sido eleito ele deixou de ser crioulo e filho de imigrante, e passou a ser uma pessoa qualquer. Espero que o seu governo seja justo e que ajude a melhorar a distribuição de renda e de conseqüência melhorar a situação dos afro-americanos, já que no mundo inteiro crioulo só toma na bunda. Mas, vejam bem, acho que é importante que o objetivo seja MELHORAR A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, e não MELHORAR A VIDA DA POPULAÇÃO AFRO-AMERICANA. A segunda coisa deve ser uma conseqüência natural da primeira, pois de outra maneira seria um governo pra gueto, e isso não é legal, mesmo sabendo que segundo as previsões daqui a uns 40 anos os brancos serão minoria no país. Mesmo assim. Governo democrático tem que ser pra todo mundo, todo mundo mesmo, e se o resultado for a melhoria na vida de uma determinada fatia da sociedade, tanto melhor – NÃO IMPORTA A COR DESSA FATIA. Não sei se estou conseguindo me explicar direito, mas eu acho que todo esse meu raciocínio vem do fato que eu sempre dei uma importância gigantesca ao ato de fazer a coisa certa pelo motivo certo. Tipo, a meu ver estacionar direito só por medo de ser multado tem muito pouco valor, se não nenhum.

Buon lavoro, Obama.